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postado em: 18/12/2009
ALÉM DAS LÁGRIMAS -1ª Parte
(O Último Suspiro na Câmara de Gás)
Por Fernando de Almeida Silva
Em 1968, caminhando pelas ruas do centro velho de São Paulo, encontrei no chão um pequeno pedaço de papel que chamou a minha atenção. Nele havia um texto que me deixou maravilhado. Era uma definição sobre a guerra, a melhor que conheço. Dizia: “A guerra é o meio onde os que não se conhecem se matam, em benefício daqueles que se conhecem, e não se matam”.
Pura realidade
Quando a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) terminou, em 04 de julho de 1945, o mundo parou para chorar seus mortos. As nações envolvidas no conflito começaram a reconstruir seus campos e suas cidades devastadas por canhões, bombas, tanques, morteiros e granadas.
Para nações como Alemanha e Japão, a reconstrução, apesar de rápida e eficiente, foi estigmatizada pelas lembranças da morte e da crueldade a milhões de pessoas indefesas. E as conseqüências de sua participação no conflito ainda perduram nos dias atuais. Para outras, foi lenta e dolorosa, renascendo das cinzas de cidades devastadas e do sangue de populações dizimadas.
A Segunda Guerra Mundial é considerada o maior conflito armado de todos os tempos. Dela participaram nações de todos os continentes. De um lado, as do Eixo, lideradas pela Alemanha de Hitler e Itália de Mussolini, invadindo nações fracas e indefesas, incapazes de se defenderem sozinhas.
Do outro, as Forças Aliadas, lideradas pelos Estados Unidos da América, França, Inglaterra e Rússia, e que, a partir de 1944 contaram, também, com a participação do Brasil, no território italiano, ao lado do V Exército Americano.
Poderosos canhões, tanques, fornos crematórios, marchas e trabalhos forçados, humilhações, câmaras de gás (fixas e móveis), trabalho escravo (Arbeit Macht Frei – “O trabalho liberta”, era o que estava escrito em letras de ferro, no portão de entrada de Auschwitz, na Polônia), fome, experiências médicas macabras em prisioneiros, marcaram o cenário da guerra com atrocidades inexplicáveis à sã consciência.
Josef Mengele (1911-1979), o “médico monstro”, o “anjo da morte”, desenvolvia “experiências genéticas” no campo de Auschwitz, em mulheres judias e crianças gêmeas, em nome da Medicina. Em 1979 seus ossos foram descobertos e identificados no Brasil.
Adolf Hitler, que iniciou o conflito, invadindo a indefesa Polônia, era o monstro tresloucado que comandava tudo. Matou milhões de pessoas nas câmaras de gás – ironicamente foi um judeu, Fritz Harber, o inventor do Zyklon B, o “gás da morte” (depois as transformava em cinzas nos fornos crematórios), fuziladas, nos vários campos de extermínio que mandou construir e espalhar pela Europa, com o objetivo de limpá-la de ciganos, efeminados e, principalmente, de judeus.
Na Alemanha, de social-democratas, fizeram parte dessa “faxina” maçons, comunistas, protestantes, católicos e judeus que, à época, somavam em torno de 11 milhões na Europa. Para Adolf Hitler, qualquer sentimento de humanidade para com o inimigo, era sinal de fraqueza, daí a brutalidade de suas tropas, principalmente das SS (Schutzstaffel), o Esquadrão de Proteção ou Defesa, uma força paramilitar que era sua guarda pessoal (Leibstandarte), a “elite da raça alemã”, como diziam os nazistas, para executar as medidas mais cruéis do Partido. Hitler promete fazer do povo alemão uma “raça superior” (Herrevolk).
A Polônia foi o primeiro país da Europa a ser invadido pelos exércitos alemães, em 01 de setembro de 1939. E foi também o primeiro a sofrer os horrores da guerra. E os judeus, antes dela. Em 01 de abril de 1938, antes da guerra declarada, os judeus sentiram diretamente na carne o ódio de Hitler para com eles, quando começaram a sofrer as primeiras discriminações oficiais.
Em outubro de 1938, 17 mil judeus foram deportados para a Polônia. Um mês depois, na chamada “Noite dos Cristais”, os alemães destruíram as fachadas de todas as lojas dos judeus, numa demonstração clara e explícita de ódio e do que viria depois, com o aniquilamento de mais da metade deles na Europa. A partir daí, sistematiza-se a perseguição aos judeus, principalmente, e às nações dominadas pelos exércitos alemães.
Antes da invasão da Polônia, Hitler, o rosto mais filmado e fotografado da história, disse a seus soldados: “Fechem seus corações para a piedade! Sejam brutais! Oitenta milhões de pessoas têm de receber o que lhes cabe. Sejam duros! O mais forte sempre tem razão”. E escravizou 7,5 milhões de civis e dois milhões de prisioneiros de guerra, para trabalhar para o III Reich.
Em 22 de junho de 1941, os nazistas aprovaram o plano do violento toxicômano (usava morfina) e amante de fardas vistosas, Hermann Wilhelm Goering (1893-1946), comandante da Luftwaffe, a Força Aérea, e braço direito de Hitler, chamado a “Solução Final”, que consistia na deportação em massa e no extermínio total de todos os judeus da Europa... E da Rússia também.
Goering era o mais popular líder nazista de então e Hitler o tinha escolhido para ser seu sucessor. Eram vistos sempre juntos. Em dezembro daquele ano, a Ucrânia torna-se a primeira vítima das câmaras de gás móveis dos alemães, que criaram campos de Concentração e de Extermínio em vários pontos da Europa.
As câmaras de gás móveis eram caminhões com carrocerias hermeticamente fechadas, cheias de judeus, cuja descarga do motor era canalizada para dentro da carroceria, matando-os todos, asfixiados e envenenados com monóxido de carbono. Os de Concentração, eram destinados a prisioneiros de guerra, que se acreditavam sob a presumida proteção da Convenção de Genebra, assinada em 22 de agosto de 1864, na Suíça, e que garantia, entre outras coisas, deveres de humanidade aos feridos e prisioneiros, embora nem sempre isso lhes garantisse a vida e o tratamento mais humano de seus inimigos, principalmente alemães e japoneses.
Foram construídos campos na Alemanha, Alsácia, Áustria, Países Bálticos, República Tcheca e Polônia. Os da Alemanha eram BERGEN-BELSEN (35 mil mortos), BUCHENWALD (56 mil), DACHAU (32 mil), DORA-MITTELBAU (20 mil), FLOSSINBURG, ORANIENBURG-SACHSENHAUSEN (60 mil), NEUENGAMME e RAYENSBRUECK (90 mil); da Alsácia, NATZWILLER-STRUTHOF; na Áustria, MAUTHAUSEN; nos Países Bálticos, KAUNAS e RIGA.
O meu antigo professor de Contabilidade, na cidade de São Paulo, Jorge Frederico Walting, era de Riga, capital da Letônia, mas sua família fugiu para o Brasil durante a guerra – a Letônia foi incorporada à URSS em 1941 e só conquistou sua liberdade em 1991, pouco antes da dissolução da União Soviética. Eu brincava com o professor Walting, dizendo que ele era um “homem sem pátria”, embora tivesse se naturalizado brasileiro.
Além desses, foram construídos campos na República Tcheca, THRESIENTADT; na Polônia, AUSCHWITZ, um complexo de três campos criado por Himmler, em 27 de abril de 1940, com quatro grandes câmaras de gás. Ali morreu mais de um milhão de judeus. Era conhecido como a “fábrica da morte”, o “inferno” (onde eram assassinados seis mil judeus por dia); BIRKENAU, STUTTHOF, CHELMNO, TREBLINKA - e Sobibor (1.750 milhão de mortos), BELZEC, SOBIBOR (do sargento da SS, Gustav Franz Wagner), REGOZNIKA e MAJDANEK.
Continua...