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postado em: 14/1/2010
ALÉM DAS LÁGRIMAS - 4ª e Última Parte
(O Último Suspiro na Câmara de Gás)
Em todas as partes do mundo milhares de autores, militares e civis, escreveram relatos dolorosos da “Guerra Desnecessária”, como Winston Churchill a chamou. Churchill, que à época era Primeiro-Ministro da Inglaterra, legou ao mundo o seu testemunho do conflito, sob o título “Memórias da Segunda Guerra Mundial”. Escrito originalmente em seis volumes e posteriormente condensado em um, Churchill recebeu, por sua obra, o Prêmio Nobel de Literatura de 1953.
O Marechal-de-Campo inglês Bernard Law Montgomery (1887-1976), que comandou as forças inglesas, americanas e canadenses que desembarcaram nas praias da Normandia (costa norte da França) no chamado Dia D (Decision Day), em 06 de Junho de 1944, para libertar a França do jugo nazista, também escreveu diversos volumes de memórias da guerra. Com a ofensiva dos Aliados, em bloco, no mês de junho, em agosto Paris foi libertada. O “Dia D” foi a maior operação militar de todos os tempos, com a participação de 175 mil soldados anglo-saxões: americanos, ingleses e canadenses.
O General norte-americano George Smith Patton (1885-1945), também escreveu sobre a guerra. Suas memórias “Was as I Knew” (A Guerra que eu Conheci), foram publicadas em 1947, dois anos após sua morte, ocorrida a 21 de dezembro de 1945, num hospital de Heidelberg, vitimado por um acidente de carro em Mannheim, Alemanha. Tinha 60 anos de idade.
O General Dwight David Einsenhower (1890-1969), Comandante Supremo das Forças Aliadas que desembarcaram na Normandia, ficou rico com o seu relato da guerra “Crusade in Europe” (Cruzada na Europa), publicado em 1948. Mas um dos mais pungentes relatos da Segunda Guerra Mundial seja, possivelmente, o do escritor norte-americano Cornelius Ryan, no livro “Uma Ponte Longe Demais”, transformado em filme em 1977.
Depois da vitoriosa invasão da Normandia, os Aliados desejavam acabar a guerra o mais rápido possível. Havia, no entanto, dois problemas a superar, sendo um de logística e, outro, de convivência humana, envolvendo duas altas patentes dos exércitos Aliados. Primeiro, o suprimento das tropas era trazido da Normandia, a 644km de distância, refreando o avanço dos Aliados. Segundo, o Marechal inglês, Bernard Law Montgomery, que estava no norte, e o polêmico General norte-americano, George S. Patton, que estava no sul, se detestavam intensamente. E, para piorar, cada um queria chegar primeiro a Berlim e receber os louros da vitória.
Em setembro de 1944, o Marechal Montgomery, lança o plano da Operação Market Garden (Operação Mercado Jardim – Mercado, o elemento aéreo e, Jardim, as forças terrestres), para encerrar o conflito até dezembro e, se possível, até o Natal, invadindo a Alemanha pela Holanda e destruindo as indústrias de guerra do III Reich, no Ruhr, o coração industrial da Alemanha. Os Aliados cortariam, também, a mobilidade do III Reich, com a tomada das pontes de Eindhoven, Nijmegen e Arnhem.
Para decepção de Patton, Eisenhower aprovou o plano de Montgomery, seu desafeto. Mas, “uma combinação de política nos campos de batalha, falhas na inteligência, má sorte e difíceis condições meteorológicas levaram as tropas ao desastre”. Ao final, constatou-se que a ambiciosa Operação Mercado Jardim causou mais baixas aos Aliados, do que toda a invasão da Normandia. Mas ajudou a apressar o fim da guerra.
A Operação Mercado Jardim foi a maior operação via aérea dos Aliados depois do Dia D, quando desembarcaram na Normandia, em socorro da França. Os alemães, principalmente o Marechal-de-Campo Model (Otto Moritz Walter Model – 1891-1945) achavam que Patton comandaria o ataque (comandou o VII Exército Americano na Normandia) aos alemães, na Holanda. Mas, dando muita importância a si mesmo, Model achou que o alvo era ele. Puro engano.
Os 35 mil soldados que partiram com aviões e planadores de 24 aeroportos de vários lugares, voaram 483km e saltaram 103 atrás das linhas inimigas, cujo alvo era tomar e guardar as pontes de Eindhoven, Nijmegen e Arnhem, sobre o rio Reno, na Holanda, impedindo o avanço dos alemães. Alguns imprevistos, como o clima e o local de pouso dos paraquedistas, prejudicaram a Operação. Mas o Marechal Montgomery achou que o plano teve noventa por cento de êxito.
O cinema contou a guerra e seus horrores, através de filmes como O Julgamento em Nuremberg, Uma Ponte Longe Demais, A Lista de Schindler, Platoon, Os Canhões de Navarone, A Ponte do Rio Kwai, Adeus às Armas, Pearl Harbor, Os Doze Condenados, Tora, Tora, Tora, Lili Marlene, a série Holocausto e centenas de outros, milhares talvez.
O teatro também contou a guerra, com várias produções retratando o drama de pessoas e famílias durante o conflito. The Sound of Music (A Noviça Rebelde), é sobre a história de Maria e do Barão Von Trapp, que fugiram da Áustria ocupada com os filhos, para não servirem ao regime nazista. O musical foi transformado em filme em 1965.
A Segunda Guerra Mundial, também chamada Segunda Grande Guerra, terminou no dia 04 de julho de 1945, e nações de todos os continentes se envolveram no conflito. Mas, a 02 de maio de 1945 a Alemanha, que iniciou o conflito, invadindo a Polônia, se rende na Itália e, no dia 07, capitula. A 10 de agosto de 1945, o Japão se rende; no dia 14 do mesmo mês, capitula, e, no mês seguinte, no dia 02 de setembro de 1945, assina a rendição para os exércitos americanos, sob o comando do general Douglas MacArthur (1880-1964), autor de “Reminicences”, suas memórias de guerra, comandante das forças americanas no Pacífico, a bordo do encouraçado americano Missouri, fundeado na baía de Tóquio. E o III Reich: Wehrmatch (Exército), Luftwaffe (Força Aérea), Kriegsmarine (Marinha) e as Waffen-SS, que para Hitler duraria mil anos, durou apenas 12.
Estima-se que a guerra ceifou cerca de 42 milhões de pessoas. E que o número real oscile entre 35 milhões a 60 milhões de mortos. Só a antiga União Soviética perdeu 17 milhões, entre soldados e civis. Todavia, acredita-se que o saldo final da guerra foi muito mais cruel e devastador do que o registrado pelas estatísticas da história: 55 milhões de mortos (incluindo o “Soldado Desconhecido”, que até hoje não se sabe de que nação era), 35 milhões de feridos, 20 milhões de órfãos, seis milhões de judeus dizimados e 190 milhões de refugiados. De 1947 até 1952, foram mais de um milhão de refugiados, vagando esperançosos por mais de 80 países, à procura de um novo lar.
O Brasil perdeu 39 navios e teve um total de 1426 brasileiros mortos, incluindo os que lutaram nos campos da Itália, onde ficaram 451 combatentes, num cemitério de Pistóia. O primeiro brasileiro a morrer na guerra foi o conferente de navio, José Francisco Fraga, em 22 de março de 1941, metralhado no passadiço do navio TAUBATÉ, por um avião alemão, quando o Brasil nem cogitava entrar na guerra.
Entre 1941 e 1942 os submarinos alemães torpedearam 34 navios mercantes brasileiros, até nos Estados Unidos da América. O submarino alemão U-507, sob o comando do capitão-de-fragata Harro Schacht, de 34 anos, foi o mais enfático em sua ânsia de atacar navios brasileiros e matar sua tripulação: na noite de 15 de agosto de 1942 o U-507 afundou na costa nordestina o Baependi, matando 276 pessoas (36 se salvaram); o navio Araraquara, matando 131 pessoas (11 escaparam); e o Aníbal Benévolo, matando 144 pessoas (ninguém se salvou). Em apenas uma única noite, 551 brasileiros, homens, mulheres e crianças, morreram no mar.
Citando apenas algumas nações que participaram do cenário de horror, morreram 9,5 milhões de civis na União Soviética, três milhões na Alemanha, três milhões na Polônia, 330 mil na França, 150 mil na Itália, além de seis milhões de judeus.
E, finalmente, o mundo acordou do pesadelo da guerra naquele inesquecível dia 04 de julho de 1945, abrindo os olhos para uma nova era. A geografia política da Europa tinha mudado. Algumas nações deixaram de existir e outras surgiram sobre os escombros e o sangue derramado de milhões de combatentes... E inocentes que morreram.
As nações envolvidas no conflito começaram a enterrar e a reverenciar seus heróis e remover os escombros das cidades destruídas, para reconstruí-las sobre as lágrimas dos que choravam seus mortos. Milhões de famílias inteiras morreram e milhões perderam tudo. E os que não morreram, continuaram a chorar (como nas câmaras de gás) seus mortos, e a vagar pelos campos sombrios das recordações, com profunda dor e tristeza.
Essa era uma dor tão cruel, tão terrível, tão devastadora, tão difícil de explicar, suportar e esquecer, que foi além das lágrimas diante das rajadas de metralhadoras, dos pelotões de fuzilamento, ou do último suspiro numa câmara de gás.