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postado em: 1/10/2010
SAUDADE DO FUTURO
II Parte – Quem era João?
João, o Apóstolo, era filho do pescador Zebedeu e Salomé, irmã da mãe de Jesus. Zebedeu era homem de posses, pois tinha empregados a seu serviço, conforme o relato de S. Marcos 1:20. De acordo com os relatos de S. Lucas e S. Marcos (Lc. 8:3, S. Mc. 15:40) a mãe de João, Salomé, prestava assistência a Jesus.
João era mais novo que seu irmão Tiago. Outras características do caráter e de importância do apóstolo para o grupo e a pregação do Evangelho, por suas credenciais, permitem compreender como ele se relacionava de maneira mais próxima que os outros apóstolos, de Jesus, segundo o Dicionário da Bíblia, de Watson:
1. Acompanhou Jesus à Galiléia e às Bodas de Cana – Jo. 2:1-11.
2. Foi Chamado por Jesus – Mt. 4:21 e 22, Mc. 1:19 e 20.
3. Por ter comportamento forte, foi chamado por Jesus de “Filho do Trovão” – Mt. 10:32.
4. Um dos três que Jesus chamou para estar junto à filha de Jairo – Mt. 5:37.
5. Foi testemunha na transfiguração de Jesus – Mt. 17:1, Mc. 9:2, Lc. 9:28.
6. Esteve com Jesus no Getsêmani – Mt. 26:37, Mc. 14:33.
7. Esteve com Jesus na última ceia – Jo. 13:23.
8. Esteve no Calvário, nas últimas horas de Jesus – Jo. 18:15, 19:27.
9. Foi ao sepulcro ver Jesus – Jo. 21.
10. Viu Jesus ressuscitado – L. 24:33-43.
11. Foi companheiro de Pedro no trabalho da igreja primitiva.
12. Foi preso pelos judeus.
13. Foi à Samaria ajudar Filipe.
14. Fez sua primeira viagem missionária – Jo. 15:6, Gál. 2:9.
15. Escreveu o Apocalipse, o Evangelho de João e as Epístolas João I, II e III.
16. Foi Mestre de Policarpo, Pápias e Inácio.
17. Há registros que informam que ele, no fim da vida, era levado por seus discípulos para assistir aos cultos.
18. Viveu 100 anos aproximadamente. Seu Irmão Tiago foi morto à espada, pelo rei Herodes - Lc. 21:2.
João, o Evangelista (como Pápias chamava a todos os Apóstolos), o Apóstolo do Amor, conforme testemunho do próprio Pápias (? – 163 d.C.? 70 – 140 d.C?), um dos pais da Igreja e bispo de Hierápolis, tinha ódio ao mal. Hierápolis era uma antiga cidade da Frígia, na Ásia Menor. Atualmente, com o nome de Pambukcallesi (ou Pamukkale), é uma cidade turca, a 22 quilômetros de Laodicéia. Mas, ainda há vestígios das ruínas das antigas edificações de sua origem, séculos antes. Tornou-se célebre pelas suas termas e pelo culto à deusa Cibele (Cíbele), designada como “Mãe dos Deuses” ou Deusa-mãe, e simbolizava a fertilidade da natureza. O culto a ela espalhou-se por diversos territórios da Grécia Antiga, até chegar a Roma.
Cibele foi introduzida em Roma no dia 12 de abril de 203 a. C., na época das chamadas “Guerras Púnicas”, trazida de Pessinos, terra do rei Midas, tendo sido instalada no Templo da Vitória, no Palatino, um templo em sua homenagem, que Augusto mandou restaurar em 191 a.C.. A “Fé Cybelina” permaneceu a “única” religião de Roma até a introdução do Mitraismo, originário da Índia. O culto a Cibele predominou no Império Romano até o quarto século, mesmo após sua divisão em dois: Império Romano do Ocidente e Império Romano do Oriente quando, então, declinou.
As chamadas “Guerras Púnicas” foram três guerras contra a República Romana e a República de Cartago, na África, que duraram 118 anos, e aconteceram entre os anos 264 a.C e 146 a.C.. Foram chamadas de “Púnicas”, por derivarem do nome que os romanos davam aos cartagineses: Punici, de Poenici (de ascendência fenícia). As causas das guerras foram rivalidades entre Roma e Cartago, pela hegemonia política e militar do mar Mediterrâneo. Ao fim das guerras, Cartago foi totalmente destruída.
Chamada de “religião de mistérios”, o Mitraísmo saiu da Índia, passou pela Pérsia e aportou no Império Romano. Nasceu, possivelmente, no século II a.C. no Mediterrâneo Oriental, difundindo-se depois pelo Império Romano. Alcançou sua máxima expansão nos séculos III d.C e IV d.C., tendo-se tornado um forte concorrente do cristianismo. Muitos soldados romanos aceitaram o Mitraísmo, declarado ilegal pelo imperador romano Teodósio I, o Grande (346-395), em 391, que se convertera ao cristianismo em 380.
Pápias (do grego Παπίας) de Hierápolis (c. 70 a 140 d.C), considerado uma das figuras mais misteriosas da antiguidade, embora Eusébio, em sua História Eclesiástica, o considerasse um pensador medíocre e de “espírito mesquinho”, devido a suas inclinações milenaristas, foi companheiro de São Policarpo de Esmirna e discípulo do apóstolo João (Inácio também foi).
Segundo o padre, teólogo e escritor católico, Irineu (discípulo de Policarpo) de Lião (c. 130? – 202), que nasceu na província romana da Ásia Proconsular, a parte mais ocidental da atual Turquia, Pápias teria conhecido em Esmirna (Ásia Menor) e sido amigo de Policarpo, discípulo de João. Durante a perseguição ordenada por Marco Aurélio (121-181), Irineu era sacerdote na igreja de Lião, que os romanos chamavam de Lugdunum, na Gália (atual França). Retornando à Gália, após sua estada em Roma (177 ou 178), sucedeu a Potino, como bispo de Lião.
Por volta do ano 130, Pápias escreveu sua obra principal, intitulada “Explicações das Sentenças do Senhor” ou “Interpretações das Palavras do Senhor”, em cinco volumes, relatando os feitos de Jesus e seus seguidores, dos quais restam apenas 13 fragmentos. A obra de Pápias desapareceu dos catálogos da Biblioteca do Mosteiro de Estames, por volta do ano 1341, especialmente aqueles que falam da origem dos evangelhos de Mateus e Marcos, citados nas obras de Irineu de Lião e Eusébio Pânfilo de Cesaréia, o maior historiador antigo dos judeus.
Quanto a Pápias conhecer e ser amigo de João, não se tem certeza disso. Sabe-se que foi contemporâneo e amigo de Inácio (67 – 110 d.C), bispo de Antioquia, que no ano 110 foi dilacerado pelos leões, no Coliseu de Roma, no reinado de Trajano (52-117); e de Policarpo de Esmirna. Inácio é o autor e o primeiro a usar o termo “Igreja Católica”, “para designar a verdadeira igreja de Jesus Cristo”, segundo ele.
Eusébio afirma que “Pápias fora discípulo de ‘outro João’, o ‘presbítero’ e não do apóstolo João” (HE, III, 39,15ss). Afirma-se, também, que a base dos escritos de Pápias tem como origem a tradição oral dos discípulos e apóstolos de Jesus. Ele “foi o primeiro a afirmar que Jesus não tinha irmãos carnais”. Segundo Altaner, ele teria “apenas compilado, provavelmente, escritos lendários e trechos de apocalipse judaico, tardios, oriundos do ambiente de presbíteros da Ásia Menor”. Em compensação, foi o primeiro escritor a aplicar a palavra clássica, exegese, interpretação, comentário, que mais tarde possibilitou aos teólogos, a análise e interpretação dos textos bíblicos (VT e NT), dando origem à Hermenêutica (derivada de Hermes, o deus da eloqüência para os gregos). A Hermenêutica cria e estabelece as normas, para explicar o sentido do texto, e a exegese determina como aplicar essas normas.
João constituiu Policarpo bispo de Esmirna, uma cidade no sudoeste da atual Turquia. E este, ao tentar fazer um acordo com o papa sírio Aniceto (155 – 166), no século I, sobre a controvérsia do dia de celebrar a Páscoa (a data de celebração da Páscoa foi estabelecida no célebre Concílio de Cesaréia, “no domingo que segue o 14º dia da lua de março”), tem a desdita de encontrar-se, em Roma, com o heresiarca Marciano. Quando Marciano perguntou a Policarpo, se sabia quem ele (Marciano) era, Policarpo respondeu-lhe: “Sim, eu te conheço. És o Primogênito de Satanás”.
Marciano e Valentino faziam oposição à igreja, que Inácio denominou de “Católica”: Valentino, nas questões sobre a Humanidade de Cristo, que dizia estar dividida em três; Marciano, na crença de que o Deus dos judeus era diferente do Deus dos cristãos. Ao receber da Igreja a ordem de retratar-se de suas divergências sobre a Páscoa e amaldiçoar Jesus Cristo, Policarpo respondeu:
“Há oitenta anos que o sirvo; jamais ele me fez mal algum; como poderei eu blasfemar contra meu Rei e Salvador?”.
Policarpo, morto em Esmirna, é o martirizado (como as chamas se desviavam dele, apunhalaram-no, para que morresse logo) mais antigo de que se tem notícia. E. Schwartz acredita que sua morte se deu no dia 22 de fevereiro de 156. Perseguido pelo imperador romano Marco Aurélio, o papa sírio Aniceto (155 – 166), também é martirizado no dia 7 de abril de 166.
O arqueólogo e estudioso do Novo Testamento britânico William Mitchell Ramsay (1851–1939), que a partir de 1880 fez várias viagens à Ásia Menor e é autor de numerosas publicações sobre a História da Igreja nesse continente, em 1905 publicou The Letters to the Seven Churches, of Asia (Cartas às Sete Igrejas da Ásia), na qual afirma (capítulos XIX e XX), que a data da morte de Policarpo teria sido no ano 155 ou 156.