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postado em: 22/6/2012
A Sublimidade da Alma
Fernando de Almeida Silva
www.iasdemfoco.net
Editor Associado
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Tudo que é sublime é louvável. Mas, nem tudo que é louvável é sublime, pelo menos é o que entendo, tendo como referência os anseios do coração e a sublimidade da alma, que buscam conforto e sossego nas estações intermediárias da vida, para felicidade de quem a procura. A mesma alma que busca conforto para o coração e foge das tristezas e desilusões da vida, vê-se às voltas com a aflição dos esquecidos, a fim de confortá-los na provação dos caminhos.
A sublimidade da alma encanta a vida daquele a quem a alegria e a ternura procura encontrar, trazendo paz ao coração, como está escrito nas Escrituras Sagradas. E, nunca entenderemos o significado das palavras de compaixão de Deus e de Seu filho Jesus Cristo, se não permitirmos que elas entrem em nosso coração e ali permaneçam para sempre, para alívio da dor e do sofrimento atroz. Elas se explicam por si mesmas e pela intuição misteriosa da proteção que suplicamos de Deus, para sustentação e prática da fé.
A sublimidade da alma é como a voz silenciosa do coração, que ouvimos todos os dias, em um instante mágico de calma e paz, através dos olhos da compaixão. É como a esperança e o dia de amanhã, que nós nunca vemos, mas sabemos que existem e estão nos olhando através do espelho imaculado da alma.
É como contemplar o alvorecer de um novo dia, todo encharcado de luz, e ver a alegria brincando com a gota de orvalho na flor, diante de nossos olhos, maravilhados de esperança. É sentir o ar puro do vale, que respiramos todos os dias, sem se deter na agonia da pressa da escuridão. E cada dia que nasce e morre depois, é como o sereno da madrugada que cai devagarzinho, sem profanar o silêncio do amanhecer e os encantos inexplicáveis da luz. São como as estrelas, que choram lágrimas de luz todas as noites, mesmo sabendo que haverá outro dia e outra noite, para brilharem na escuridão.
A sublimidade é assim: situa-se entre a essência do dia, que nasce, e a esperança da noite, que morre para o tempo poder passar. E sempre haverá outro dia e outra noite; outro viajante e outro vilarejo esquecido à beira do caminho do vale silencioso, no sopé da montanha, entrelaçados de compaixão e espera, como uma criança que brinca e ri com o perigo à sua frente, mas que a inocência dos anos não lhe deixa ver.
A sublimidade é esse distanciamento do ódio, da maledicência, da hipocrisia, do egoísmo cruel que os invejosos cultivam, para encantar àqueles cujos sentimentos sufocam os desejos imaculados da alma, deixados no coração pelos anos inesquecíveis da vida.
É por isso que eu queria ter a força e ser a grandeza das árvores da floresta, para suportar o frio e o ímpeto dos vendavais. Queria perder o temor do medo escondido que há em mim, protegido atrás de cada árvore da floresta, para não morrer sem amar. Mas, como posso ter a força e ser a grandeza da floresta, escondido e faminto atrás de cada árvore, escutando o vento gemer, à chegada dos vendavais, temendo fechar os olhos e com medo de morrer? E, como posso suportar o frio do inverno sem o calor do verão dos anos que vêm e vão, anunciando o crepúsculo das estações da minha vida? Por acaso, a grandeza da alma é superior aos sofrimentos do entardecer da própria alma? É o sofrimento do pobre nossa aflição maior, pelo dia de amanhã? É a genuflexão da prece, a permanência e a certeza da fé e do mistério do milagre realizado? Não posso conspurcar a sublimidade da alma que dilacera meu coração, sem antes diluir-me de tristeza e dor pelo peregrino cansado que prefere caminhar sozinho, mas reclama da solidão dos caminhos que o levam ao vilarejo esquecido do vale silencioso, no sopé da montanha. Não posso cantar a canção da esperança da vida para o homem que desdenha dos caminhos por onde passa; da condição da floresta, do vilarejo que encontrou e da habitação onde passou a noite.
Eu poderia levantar pela manhã cada dia e sorrir de contentamento pela beleza de cada flor, pelo sossego de cada vilarejo esquecido à beira de cada caminho, de cada vale silencioso no sopé de cada montanha que me vê passar. E se na minha amargura solitária eu me distanciar dos caminhos que me levam pelo vale silencioso, no sopé da montanha, então jamais verei o nascer e o morrer do Sol, com alegria no coração. E, não sentirei o perfume e nem verei a beleza das flores à beira do caminho do vale silencioso, no sopé da montanha. E se eu não puder contemplar o horizonte das estações da minha vida, da janela da minha habitação, então seria melhor que eu esquecesse a sublimidade da alma, o perfume e a beleza das flores, e morresse de ternura ensangüentada no crepúsculo de cada dia, com inveja do amanhecer.
E não deveria ser assim.
Se a vida e a sublimidade da alma andassem de mãos dadas, não haveria viagem sem rumo, nem destino sem esperança; e nem viajante solitário à procura de um vilarejo esquecido à beira do caminho do vale silencioso, no sopé da montanha. E ninguém morreria de tristeza e de amor, se cada um se deixasse diluir-se no âmago do supremo instante da beleza de sua própria vida e da sublimidade da alma, para renascer cada dia. E, se eu andar pelas ruas e calçadas do vilarejo esquecido no meio do vale, não serei como o viajante que caminha à procura de um lugar onde passar a noite, mas com medo de escuridão. É como morrer durante o sono, extenuado de amor e paixão, acreditando que está no paraíso. É como continuar o caminho nas primeiras horas da manhã, como se lá adiante não existisse outra habitação e outro vilarejo esquecido à beira do caminho do vale silencioso, no sopé da montanha, para dormir e sonhar. Para esse viajante, a indiferença é a solidão que o acompanha pelos caminhos dos vales esquecidos e dos sonhos inacabados, pedidos na escuridão da memória.
O que adianta encontrar abrigo e dormir tranqüilo se, ao acordar pela manhã, reclamar do canto alegre dos pássaros que encheu de música a habitação do vale silencioso, no sopé da montanha, onde passou a noite? E, o que dizer do viajante que segue murmurando pelo caminho, porque a noite era silenciosa demais, a habitação simples e o vilarejo distante e esquecido, embora tenha lhe proporcionado um sono tranqüilo e reparador? E, ainda mais: como chegar às portas da sublimidade da alma, mas reclamando do canto alegre dos pássaros no vilarejo esquecido à beira do caminho do vale silencioso, no sopé da montanha, que deixou para trás?
Para este viajante, a sublimidade não estava lá. E, mesmo que estivesse lá, a cegueira da ingratidão não o deixaria vê-la diante de si, porque sua alma estava escondida atrás do espelho da ilusão da vida, destituída de esperança e fé.
Não conheço ingratidão maior que essa.
Eu queria ser o silêncio desse vilarejo esquecido à beira do caminho do vale silencioso, no sopé da montanha, para abrir o sorriso da alma à alegria da esperança no coração de cada criança, de cada mulher, de cada homem temente de fé, em busca de Deus e à procura de paz.
Eu queria ser o romantismo encantador das estrelas, a presença sutil do luar, a vigília eterna da noite. Queria ser a melodia triste do esquecimento tardio desse vilarejo esquecido à beira do caminho do vale silencioso, no sopé da montanha, e fazer dormir todas as crianças felizes de amor, todas as mulheres formosas de alegria e todos os homens agradecidos de sonhos, que alimenta a esperança na solidão dos caminhos.
Eu queria ser o brilho das estrelas, que choram pingos de luz na imensidão do Universo. Queria ser a promessa de não morrer, seja por um suspiro de amor perdido, um sorriso de surpresa alegre ou uma flor se abrindo à luz, mas fulgurante e suprema, como uma pintura que o dedo de Deus pintou no coração de cada criança, de cada mulher e de cada homem, no alvorecer da vida de cada um.
A sublimidade da alma é evidente na beleza da vida, mesmo no vilarejo esquecido à beira do caminho do vale silencioso, no sopé da montanha. Assemelha-se à inocência do sorriso alegre, no rosto de uma criança que brinca feliz, no colo de sua mãe, deslumbrada de amor e alegria. E abre as portas aos desejos de liberdade, à semelhança do pássaro que voa pela primeira vez e descobre, para seu deleite, os encantos do horizonte à sua frente, emoldurado por montanhas e nuvens a perder de vista, sobre vales tranquilos e sossegados da alma que, à noite, sussurra pela voz do vento e nos deixa dormir e sonhar.
Se a sublimidade da alma não caminhar pelo vale silencioso, no sopé da montanha, e buscar os horizontes da alegria da vida, então minha canção será como o gemido esquecido da noite, que o coração ouve em silêncio, mas sem compreender os acordes de sua melodia. Será como a beleza da lembrança do abraço esquecido, que um dia nos deixou e partiu, mas que retorna no canto triste e sofrido do pássaro perdido, como o apelo de outros tempos, para habitar a solidão da memória e encher o coração de alegria e a vida de prazer. Sem essa compreensão da sublimidade da alma, a vida seria como um grito de socorro na escuridão vazia, cujo apelo de dor somente a noite consegue ouvir e o silêncio escutar. E de que adianta a noite ouvir e o silêncio escutar nosso grito de socorro, se ele se perde no sussurro das noites quietas, no vilarejo esquecido à beira do caminho do vale silencioso, no sopé da montanha?
Eu quero cantar uma canção de amor à sublimidade da alma, mas que seja uma canção que eu possa cantar sem sofrer. Que essa canção seja tão sublime quanto bela, como o primeiro suspiro do amanhecer, o primeiro apelo do entardecer e o primeiro gemido do anoitecer, para encher de alegria a escuridão da noite ao redor das estrelas, onde o nada é nada, o tudo é tudo e o vazio não tem fim.
Eu quero cantar uma canção de esperança, para aliviar a dor do viajante cansado que procura o vilarejo esquecido à beira do caminho do vale silencioso, no sopé da montanha, para repousar e continuar seu caminho na manhã seguinte.
Haverá, no mundo, sublimidade maior?
Mas, para o caminhante que desdenha do seu caminho, a sublimidade da alma é como uma canção vazia e sem esperança, que ele não tem prazer em cantar sozinho. Ele não sabe que, ao longo da jornada da vida, encontrará a sublimidade da alma, mesmo no vilarejo esquecido à beira do caminho do vale silencioso, no sopé da montanha, onde passará a noite para descansar. E sonhará. E descansará. E retomará seu caminho na manhã seguinte, à procura do seu destino. E, no entardecer de outro dia, em outro vilarejo esquecido à beira de outro caminho e de outro vale silencioso, no sopé de outra montanha, chegará às portas de todas as esperanças da vida para, enfim, descansar de sua última jornada. E ali dormirá e sonhará, abraçado à sublimidade da alma, que encherá seu coração de alegria e sua vida de prazer, no último vilarejo esquecido à beira do caminho do vale silencioso, no sopé da montanha.