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postado em: 22/8/2008
Por Dentro das Seitas
As investigações policiais sobre o suicídio coletivo de 39 adeptos da seita Porta do Paraíso nem tinham sido concluídas, e já havia rumores de que dezenas de outros seguidores estariam esperando a vez de “se libertar de seus corpos” e seguir o líder morto, Marshall Applewhite, na suposta viagem ao espaço.
Peças exóticas para muitos, as seitas estão crescendo de forma assustadora. É um fenômeno que produz salvadores e fanáticos por toda a parte do planeta, transformando o mundo num enorme “supermercado místico” com crenças as mais esdrúxulas possíveis.
“Vão surgir cada vez mais desses grupos. Alguns novos, e outros que já existem há anos quase na clandestinidade, como o Porta do Paraíso, e que começarão a dar as caras à medida que se aproxima a virada do milênio” afirma o professor Richard Landes, co-fundador do Centro para Estudos do Milênio, na Universidade de Boston.
Opções
Os discípulos da seita Porta do Paraíso que cometeram suicídio, no Rancho Santa Fé, deixaram uma mensagem onde diziam estar se desligando de seu corpo para embarcas numa nave que chegaria para buscá-los, vinda na trilha do cometa Hale-Bopp.
Por estranha que pareça, essa crença não é exclusiva dessa seita; é o que mostra Gustav Niebuhr, do New York Times:
“Há pelo menos cem grupos com interesse espiritual relacionado a discos voadores. Alguns consideram esses objetos voadores não identificados como mensageiros cósmicos vindos de um nível superior de existência.”
Excentricidades à parte, há crenças para todos os gostos – mesmo os mais repugnantes. É o caso dos Garbage Eaters, “os comedores de lixo”. Liderados por Jim Roberts, um ex-fuzileiro naval, os seguidores dessa seita abominam os valores materiais e reviram latas de lixo em busca de alimentos para matar a fome.
Já os discípulos da Igreja Universal e Triunfante usam túnicas brancas e vivem em abrigos subterrâneos à espera do fim do mundo quando, segundo acreditam, os “mestres superiores” chegarão de uma outra galáxia para resgatá-los. Eles adotam o mesmo sobrenome - Christ (Cristo) - e, liderados por Elizabeth Clare Prophet, veneram uma entidade que chamam de Jesus Christ Lightning Amen.
Existe, também, a seita Unarius - o nome é uma sigla; significa Entendimento Articulado Interdimensional da Ciência Universal - liderada por Charles Spiegel. De fala mansa, mas com um enorme poder de persuasão, esse velhinho de 76 anos conseguiu convencer 90 mil americanos de que “ele foi Napoleão Bonaparte, numa reencarnação anterior”.
A alta proliferação de seitas não é privilégio ou castigo de americanos. No Brasil, como mostrou recentemente a revista “IstoÉ”, a geografia das seitas é ampla. Inclui desde os conhecidos Borboletas Azuis, da Paraíba - cujos adeptos esperaram o fim do mundo através de um dilúvio, no dia 13 de maio de 1980 - às menos citadas Céu do Mar, do Rio de Janeiro, União Vegetal, do Acre, e Lineamento Universal Superior e Suprema Ordem Universal da Santíssima Trindade, ambas do Paraná.
Pequeno e Inofensivo
Há muitas aberrações. No entanto, ao abordar o assunto, é preciso cautela para não incorrer em atos de “terrorismo eclesiástico” ou caça às bruxas - condenando qualquer agremiação religiosa diferente dos nossos padrões. Não é por ser pequeno que um grupo religioso se torna inconsistente e herético. E o fato de mostrarem- se estranhos aos nossos olhos não torna os seus componentes perigosos.
O termo “seita”, hoje em dia, é bastante empregado num sentido depreciativo; às vezes atingindo até religiões tradicionais. Isso ocorre por ignorância conceitual - desconhecimento do verdadeiro significado da palavra “seita” - ou por motivações preconceituosas.
Nesse último caso, nos deparamos com uma maioria que discrimina e rechaça uma minoria. Muitas vezes, combatendo até mesmo o seu direito de existir - como minoria.
É bom lembrar que o próprio cristianismo foi, em seu início, rotulado e perseguido como seita herética. Paulo, outrora um dos maiores perseguidores dos cristãos, faz menção a esse fato ao apresentar sua defesa perante Félix, procurador da província romana da Judéia: “Porém, confesso-te isto que, segundo o Caminho, a que chamam seita, assim eu sirvo ao Deus de nossos pais, acreditando em todas as coisas que estejam de acordo com a lei, e nos escritos dos profetas” (Atos 24:14).
O antes implacável adepto dos fariseus - destacada seita religiosa do judaísmo - refuta a sua idéia anterior de que por ser diferente um grupo religioso constitui algo estranho e nocivo que precisa ser erradicado (ver Atos 26:9).
Ao mesmo tempo, Paulo reafirma sua convicção de que, embora naquele momento fizesse parte de uma minoria, nem por isso estava em desacordo com os princípios da Palavra de Deus.
Prova dos nove
Segundo o Dr. Charles Braden, professor aposentado da Universidade Northwestern, “as seitas, de modo geral, representam uma busca sincera de milhões de pessoas que procuram respostas para as mais profundas e legítimas aspirações do espírito humano, que a maioria delas não encontrou nas igrejas estabelecidas”.
O problema, como lembra o provérbio, é que “nem tudo que reluz é ouro”. Não é por ser satisfatória que qualquer resposta é válida. Como diz o especialista Walter Martin, no livro O Império das Seitas, as seitas devem ser examinadas “à luz da revelação divina que possuímos, a Palavra de Deus, a qual pode pesá-las na balança de precisão da verdade absoluta”.
Segundo os escritores Josh McDowell e Don Stewart. no livro Entendendo as Seitas, muitas seitas promovem a falsa idéia de que Deus lhes revelou algo especial. Em geral, são “verdades” que nunca antes haviam sido reveladas, mas que ultrapassam e contradizem todas as revelações anteriores.
É ai que mora o perigo. Não basta falar bonito ou ser convincente (JimJones, David Koresh, Reverendo Moon e outros fizeram ou fazem isso com maestria) é preciso estar cem por cento de acordo com a Bíblia:”À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva” (Isaías 8:20).
Jesus Cristo lembrou ainda que a conduta e os resultados visíveis na própria vida desses líderes religiosos seriam um dos maiores aferidores da verdade que eles pretendem apresentar: ‘Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis” (Mateus 7:20).
Combustível das seitas
A esta altura, seria relevante formular — e responder - às seguintes perguntas: por que essas seitas estão surgindo e crescendo de forma assustadora? Por que tantas pessoas estão abraçando ensinos tão estranhos?
Existem várias razões, mas as principais são estas:
1. A busca da esperança.
As pessoas estão procurando alguma coisa a que possam se apegar e, muitas vezes, apóiam-se na primeira crença que aparece. Esse foi o caso de John Travolta: “Eu sentia que alguma coisa errada estava acontecendo. Quando fui apresentado à Cientologia, pensei: ‘É isso e vou usá-la’.
Segundo Arnold Bloch, um psicoterapeuta que trabalha com dezenas de discípulos desses grupos, ‘há momentos em que todos nós podemos estar suscetíveis à sedução da reconfortante filosofia de um culto qualquer. Se a sua teologia é bem colocada, ela acaba tendo um apelo para pessoas que estejam passando por um vazio espiritual ou sofram uma dor psicológica.”
2. Anseio por mudanças e atração pelo que é “novo”.
A decepção das pessoas com as religiões tradicionais causa um forte anseio por algo novo. Desde a antiguidade, o ser humano demonstra uma forte atração pelas novidades no campo religioso:”Pois todos os de Atenas, e os estrangeiros residentes, de outra coisa não cuidavam senão dizer ou ouvir as últimas novidades” (Atos 17:21).
3. Apego às respostas fáceis.
A revista Veja publicou um artigo intitulado A moda da Nova Era em que afirma: “A busca de respostas fáceis para perguntas difíceis, que rondam a humanidade desde o início dos tempos, alimenta esses movimentos:’ Falando sobre o “supermercado apocalíptico” que há no Sul da Califórnia, Estados Unidos, o jornalista José Meireiles comenta: “A área tornou-se um campo propício para os gurus: ali, alguém que venda respostas sempre encontra alguém com perguntas.”
4. Substituição da fé bíblica por crenças.
Quando o sociólogo Robert Belha fazia pesquisa para um livro, nos Estados Unidos, encontrou muitas pessoas que se descreveram não como religiosas, mas espirituais. “Isso significa”, afirmou o sociólogo,”que elas não gostam de religiões institucionalizadas, igrejas, mas de todos os tipos de OVNIs e cristais.”
A Bíblia, em tons proféticos, sinaliza essa substituição: “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina ... e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (II Timóteo 4:3-4).
Contemplando o cenário religioso por ocasião da Sua vinda, Jesus indaga:
“Contudo, quando vier o Filho do homem, achará porventura fé na Terra?” (Lucas 18:8). Por certo, Jesus não estava se referindo a crenças ou grupos religiosos (segundo o teólogo Peter Unruh, eles são mais de 22 mil), mas, sim, à fé bíblica baseada num relacionamento de confiança no verdadeiro Deus e obediência a Ele.
Neste final de milênio, mais do que nunca, as pessoas estão à procura de coisas fantásticas e misteriosas. Mas Jesus lembra que a única experiência religiosa que conduz a Deus é aquela que vem de Deus.
Autor: Elizeu C. Lira, editor do IASD Em Foco
Fonte: Revista “Sinais dos Tempos”, novembro de 1997.