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postado em: 5/9/2008
O Remanescente e os Dissidentes
Qualquer pessoa, mesmo portadora de conhecimento superficial da história adventista, pode identificar a falta de originalidade que caracteriza os métodos utilizados por aqueles que se opõem ao adventismo atualmente.
O panfletismo, a propaganda obscura e o terrorismo verbal continuam sendo o maior trunfo. Deploravelmente, tais ataques são dirigidos para uma audiência mais vulnerável, composta daqueles cuja incredulidade é excedida apenas pela incapacidade de discernir.
A tentativa não é levar o evangelho aos que estão fora do círculo de Cristo. O esforço maior não é expandir o reino de Deus, em cumprimento da grande comissão evangélica. O que consome as energias e se converte na obsessão dos reformadores equivocados, é “pescar dentro do aquário”. Envenenar outros irmãos mais frágeis, na própria igreja, com a divulgação de um “evangelho” ao reverso, constituído de más novas, das faltas e escândalos — imaginários, exagerados ou reais — envolvendo pastores, líderes e instituições.
O alvo deste ‘friendly fire’ são aqueles irmãos que mais facilmente podem ser levados a se escandalizar e passar a ver com suspeita a Igreja e seus líderes. A expressão ‘friendly fire’ (fogo amigo) é um nome irônico dado às baixas causadas entre combatentes que lutam do mesmo lado. Por ignorância, falha humana ou técnica, ou pouca visibilidade, os disparos alvejam companheiros do mesmo exército. Na guerra do Golfo, segundo informações de que dispomos, um quarto de todas as baixas no exército americano foram causadas por soldados americanos.
Se o método não é novo, também não é novo o espírito da empreitada. Os precedentes históricos têm raízes de larga abrangência. Em tempos imemoriais, eles incluem os belicosos amalequitas, a ofensiva tribo que, embora contra-parente dos israelitas, no caminho de Canaã, colocou- se na retaguarda, quando Israel “ia cansado e afadigado” (Deut. 25:17 e 18), e impiedosamente causou trágicas baixas entre os mais indefesos e fracos.
Em tempos mais recentes, há aproximadamente 40 anos, Francis D. Nichol, então editor da Review and Herald, publicou uma série de artigos expondo os vários grupos independentes da época, buscando seguidores entre irmãos adventistas. As acusações feitas pelos dissidentes de então, o método e a estratégia, em nada diferem daquilo que estamos presenciando hoje, nos jornais, panfletos, revistas, cartas circulares, livros e tapes dos “amalequitas” modernos. Os nomes mudaram; mas, de resto, pouco mudou.
O que torna os dissidentes atuais um tanto mais “eficientes” e multiplica a influência deles são os recursos da tecnologia moderna à sua disposição. Qualquer pessoa hoje, com um computador e com algum conhecimento da lnternet e website, facilmente encontra os canais de divulgação do seu ministério de crítica e acusação.
William Johnsson corretamente observa que “se não houvesse a Igreja Adventista do Sétimo Dia, estes [acusadores) não poderiam existir... Eles se valem da obra edificada por tantos anos de trabalho e lágrima. O termo é duro, mas adequado, assim, deixe-me dizê-lo em amor: eles são parasitas da Igreja; sobrevivendo às custas daqueles que por uma razão ou outra, foram persuadidos por suas publicações... eles sempre se apresentam em uma luz favorável, como leais, fundamentalistas, adventistas históricos.
Alguns usam o título de ‘pastor’ embora não tenham qualquer credencial reconhecida pela Igreja. Alguns ocultam que nem mesmo são membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia [1] É provável que nem todos esses detalhes se ajustem a todos os dissidentes, mas eles oferecem um perfil da estratégia comum.
Tudo isso é muito trágico. É deplorável mesmo, que num tempo quando mais do que nunca o corpo de Cristo deveria estar unido, o grande inimigo, o inspirador e originador de toda dissensão consiga fazer-nos diluir e malbaratar atenção e energia em questões que apenas nos desviam para os seus atalhos, bifurcações e becos sem saída.
É deplorável que o manto de Cristo seja assim rasgado, como resultado, muitas vezes, de teorias infundadas, ou, outras vezes, de ressentimentos e amarguras pessoais, transportados para o nível institucional.
É trágico que o precário argumento ad hominen se torne a arma comum, dirigindo o ataque ao caráter do oponente, sem ouvir seus argumentos, razões ou defesa; ou que, de outra forma, apele às emoções, aos preconceitos e interesses particulares daqueles que os ouvem. E assim, o que se busca é apenas “ganhar o caso”, sem qualquer respeito a princípios ou à ética cristã.
A mentalidade “antilíder”, tão comum em nossa cultura, ameaça invadir a Igreja. Tal disposição, que desafia e rejeita a autoridade, deleita-se em apontar as falhas dos líderes, a ponto de os cansar e levá-los ao desânimo, com o negativismo e a “mentalidade de morcego”, que apenas vê o mundo de cabeça para baixo. A falha desses analistas é não perceberem que a atitude de apontar problemas e criticar falhas está muito longe de ser sinônimo de sugerir soluções inteligentes, criativas e, sobretudo, que reflitam o espírito de Cristo.
O individualismo é o fermento cultural dos tempos. Individualismo obsessivo gera o pluralismo que, por sua vez, conduz ao relativismo. Combinadas, tais atitudes tornam a sociedade e a Igreja quase ingovernáveis, transformando a tarefa dos líderes em algo virtualmente impossível.
Vivemos nos dias da cultura centralizada no eu. Como indica William Johnsson, “meus prazeres, aquilo que eu gosto, aquilo que eu não gosto, minha gratificação pessoal governa o tempo em que vivemos. Esqueça-se do futuro... Esqueça-se quem vai pagar depois, esqueça-se das regras, esqueça-se de Deus. ‘Não ouse atravessar no meu caminho.’ Se me parecer bem, é isto que eu quero e agora, e é isto que eu vou conseguir”. [2]
Essa mentalidade, entretanto, corre em direta linha de colisão com aquilo que Deus deseja realizar de belo e novo através da igreja. Enquanto Deus busca preparar um corpo universal, com uma missão universal, a idéia dos separatistas é fragmentar a igreja, dividi-la em átomos isolados sem qualquer elemento unificador. “Cada um por si”, vivendo e morrendo em si mesmo, recebendo e utilizando os recursos dentro dos seus próprios limites individuais, como células cancerosas, que se independem do sistema, para o seu colapso e morte.
Aqueles que se alimentam dos escândalos explorados pelos dissidentes devem aprender duas lições fundamentais. Primeira, apenas porque alguém resolveu fazer relatos de “corrupção”, “imoralidade” ou coisa do gênero, não significa que tais notícias sejam verdadeiras. Devemos lembrar, ainda, que mesmo que as informações sejam verídicas, elas não representam a Igreja adventista ou o ministério adventista. Devemos ter em mente ainda que o ânimo cristão não deve deixar-se apagar por causa dos maus exemplos de alguns, não importa quem sejam eles. Os cristãos não seguem a outros cristãos mas a Cristo.
Segunda lição a ser aprendida, os que recebem o bombardeio da propaganda dissidente devem estar conscientes de que aqueles que se regozijam com as falhas dos outros, de alguma forma se esqueceram da instrução bíblica: “o amor não se alegra com a injustiça..;” (1 Cor. 13:6).
E fácil levantar o dedo acusador, espalhar as falhas alheias, fabricando-as ou exagerando-as maliciosamente, muitas vezes sob o pretexto de “defesa da verdade”. Difícil é construir, é erguer pessoas. Mas é precisamente isso que Deus espera dos filhos do Reino. Quando a graça de Cristo irrompe no coração, ela transforma a esfera dos relacionamentos humanos; torna-nos mais humanos, misericordiosos e pacificadores.
Cristo não deixou aberto para os Seus discípulos o caminho do revanchismo e da retaliação. Seu exemplo fechou para sempre tal avenida, indicando-nos que os cristãos alcançam reformas profundas quando eles agem como “sal e luz”. A justiça deles não é vista em termos de escrupulosidade semelhante à dos escribas e fariseus.
Os males da Igreja e na vida dos seus ministros já são em si mesmos escabrosos o suficiente, e não necessitam de maior divulgação. De fato, expô-los pode parecer às vezes politicamente correto, mas dificilmente é algo de natureza cristã. Com extraordinária percepção, Ellen White aconselha que “[os males encontrados na Igreja] são mais para serem deplorados do que acusados” [3]. Em outro texto, ela afirma: “Desviai vossos olhos do que é escuro e desanimador, e contemplai a Jesus, o nosso grande Líder.” [4]
Os que se escandalizam com as falhas de líderes estão sugerindo que eles mesmos nunca leram a Bíblia. O testemunho bíblico não deixa qualquer dúvida de que o povo de Deus e seus líderes, tanto no antigo como no Novo Testamento, constantemente falharam em viver os ideais divinos para eles. O refrão sobre os reis de Israel, representantes diretos de Deus, no sentido de que “fizeram o que era mal aos olhos do Senhor”, se repete constantemente na narrativa bíblica. Os escritos de Ellen White têm muito a dizer sobre problemas nos primórdios da Igreja em Battle Creek.
AqueIes que têm qualquer dúvida quanto à existência de pecados entre o povo de Deus devem ler cuidadosamente a primeira carta de Paulo aos coríntios. Leiam o próprio registro dos heróis da fé, em Hebreus II, e sem dúvida concluirão que o único herói da Igreja é Jesus Cristo, que apela, aceita e transforma a vida dos faltosos sem Se desanimar deles e sem publicar a lista dos seus pecados.
Robert Spangler, um dos mais dignos e respeitados representantes do ministério adventista, foi por muitos anos editor de Ministry. Faleceu, não faz muito tempo, num trágico acidente automobilístico, numa das estradas de Los Angeles. Num livro, que foi publicado depois de sua morte, ele descreve com extraordinário candor seus próprios sentimentos no início de seu ministério. Suas palavras, que constituem o testemunho de um pastor a outros pastores, são permeadas por uma aura de indizível tristeza. Diz ele:
“Ao permitir-nos transitar através do vale do vinagre, a doçura daquilo que Cristo está realizando por meio da Sua Igreja passa despercebida. A mente vê aquilo em que foi treinada a permanecer. Malícia, ceticismo e cinismo são males difíceis de serem vencidos. Com tristeza, eu confesso que no início do meu ministério alimentei-me das faltas dos líderes da Igreja. Lembro-me de uma carta hostil que escrevi ao meu velho amigo E. D. Nichol. Sua doce resposta desarmou-me completamente. Aquilo que eu tentava demonstrar não estava completamente errado, mas errados estavam meu espírito e atitude.
“Na medida em que os anos se passaram, encontrei-me alimentando-me mais e mais dos problemas da Igreja. Não os criticava publicamente, mas em meu coração descobria um afastamento dos meus irmãos, que me deixava vazio. Meu relacionamento com Jesus Cristo tornou-se extremamente frágil. As devoções pessoais eram freqüentemente interrompidas por irritações sobre algo que eu sabia estar acontecendo na Igreja. O dia chegou quando concluí que minha alma estava em perigo. Eu estava construindo barreiras entre meu próprio coração, os outros obreiros e o meu Deus. Gradualmente, através da ajuda do Senhor, aprendi a buscar o bem e o melhor. Ainda tenho um longo caminho a percorrer, mas agradeço a Deus pela direção na qual Ele tem estado a guiar-me.” [5]
Inquestionavelmente, a Igreja tem problemas e líderes cometem faltas que necessitam ser reconhecidas e resolvidas. Consultada quanto ao uso incorreto de dízimos e ofertas, por líderes da Igreja, Ellen White sugeriu três princípios básicos para se tratar com essa e outras distorções: “Façais a vossa queixa de maneira clara e aberta, no espírito correto, e às pessoas certas. Mas não vos afasteis da obra de Deus, provando-vos infiéis, porque outros não estão agindo corretamente.” [6]
Portanto se, por um lado, os cristãos não recorrem à conveniência do silêncio, por outro lado, o fórum para a discussão de problemas na vida da Igreja não é o recurso das circulares, dos jornais e cartas anônimas. A solução desses males não é encontrada na semeadura do cinismo, da crítica e da incredulidade. Tal atitude violenta a experiência espiritual daqueles que devotam seu talento e energia a esse propósito.
Devemos nos lembrar também das outras vítimas. Profundas impressões são feitas na mente daqueles que ouvem e lêem tais relatórios. Questões são suscitadas e dúvidas fortalecidas. E, afinal, quem responderá por aqueles que foram desencorajados e ficaram pelo caminho? Pelos que foram desviados por aqueles que não foram responsáveis no uso da sua influência? Quem poderá erradicar o veneno que foi neles injetado?
Ellen White não teve qualquer ilusão quanto à humanidade e natureza caída daqueles que formam a Igreja. Em sua fase militante, o corpo de Cristo é freqüentemente maculado pela poeira da caminhada. Entretanto, o otimismo da voz profética é inabalável: “Embora existam males na Igreja, e tenham de existir até ao fim do mundo, a Igreja destes últimos dias há de ser a luz do mundo poluído e desmoralizado pelo pecado. A Igreja, débil e defeituosa, precisando ser repreendida, advertida e aconselhada, é o único objeto na Terra, ao qual Cristo confere Sua suprema consideração.” [7]
Sem provisão teológica
Um último aspecto deve ainda ser abordado em nossa discussão. Para fechar o círculo deste artigo, retornamos à questão inicial do remanescente. Aqueles melhor orientados teologicamente podem argumentar que a História revela ter sido precisamente o fracasso dos que foram originalmente chamados que provocou a necessidade do remanescente.
A Israel foram feitas, sob condições, promessas de que ele permaneceria como povo escolhido. Ao fracassar, Deus suscitou a Igreja cristã. Quando esta se tornou corrompida em doutrinas e práticas, Ele levantou os reformadores para se separarem e formarem o corpo protestante. Então estes também falharam em avançar na luz que lhes foi concedida, e o Senhor suscitou o movimento adventista com uma missão especial para o fim da História, O modelo é consistente: até aqui os fiéis saíram do remanescente apostatado para constituírem um novo remanescente. Quer isto dizer que o ciclo de chamado, apostasia e novo chamado continua aberto indefinidamente?
É precisamente aqui que o cenário impõe uma nova dinâmica. Obviamente esse ciclo deve ser quebrado em algum ponto; do contrário, por causa da natureza humana, ele ocorreria constantemente sem qualquer resolução final. Notemos que o fracasso de Israel ou da própria Igreja não tomou Deus de surpresa. A antecipação divina já fizera provisão para a tragédia da apostasia, tanto de Israel, da Igreja cristã, como da própria reforma protestante. Contudo, não existe qualquer provisão profética para um novo remanescente em substituição ao movimento adventista. Isso é evidente no Apocalipse (capítulos 3 e 12). Sete Igrejas, e não mais, simbolizam a trajetória da Igreja através da Era Cristã. Laodicéia, a Igreja morna, o povo do juízo, com todos os seus defeitos e fraquezas, fecha o círculo. Qualquer outra conclusão significa estar em descompasso com o tambor da revelação.
Então, como tratará Deus com os problemas da Igreja, se não há provisão profética para um remanescente do remanescente? Para embaraço dos dissidentes, Deus introduz aqui uma nova estratégia. O Senhor claramente delineou como Ele há de administrar a crise final da Igreja, mas Sua agenda, devemos entender, não inclui a probabilidade de um novo movimento separando-se dela. No passado, como foi visto, o chamado foi para que os fiéis se separassem do corpo apostatado. Mas, esse processo, repetimos, não pode continuar indefinidamente. Nas cenas finais da História, ao contrário das reformas tradicionais, são os infiéis, não os fiéis, que deixarão a Igreja.
A sacudidura tomará o lugar do clássico chamado para sair. Esses dois métodos de separação devem ser claramente diferenciados e entendidos. “Haverá uma sacudidura [peneiramento]. A palha deve, no tempo certo, ser separada do trigo. Porque a iniqüidade aumenta, o amor de muitos se esfria. Este é precisamente o tempo quando o genuíno deverá ser mais forte.” [8]
Qual o resultado final desse peneiramento? A palha, representando os infiéis e insinceros que presentemente são encontrados na Igreja, será separada do trigo, símbolo dos cristãos genuínos. O grupo classificado como “morno” (Apoc. 3: 15 e 16), para constrangimento da Igreja, presente hoje em Laodicéia, há então de desaparecer para sempre, quer identificando-se com o “quente”, ou assumindo o grupo dos “frios”. A polarização é inevitável, e não poderia ser diferente.
Como um ato de sabotagem, o inimigo traz o joio para dentro da Igreja (Mat. 13:24-30, 36-43). “Enquanto o Senhor traz para a Igreja aqueles que são verdadeiramente conversos, Satanás, ao mesmo tempo, traz pessoas que não são verdadeiramente convertidas para a sua [da Igreja] comunhão.” [9] Contudo, como Ellen White indica, esse estado de coisas há de sofrer uma alteração radical: “A sacudidura deve em breve acontecer para purificar a igreja.” [10]
Quem são os que deixarão a Igreja, sob a ação da sacudidura, identificados de forma geral sob as figuras do “joio”, “palha” e “mornos”? Ellen White, em seus vários escritos sugere uma ampla identificação: “os auto-enganados”, “os descuidados e indiferentes”, “os ambiciosos e egoístas”, “os que se recusam a sacrificar”, “os orientados pelo mundanismo”, “os que transigem e comprometem a verdade”, “os desobedientes”, “os invejosos e críticos”, “os fuxiqueiros, os que acusam e condenam”, “a classe conservadora superficial”, “os que não controlam o apetite”, “aqueles que promovem a desunião”, “os estudantes superficiais da Bíblia”, “aqueles que perderam a fé no dom profético”. [11]
Aqui, dois fatos são evidentes: primeiro, a ampla variedade do catálogo; e, segundo, todas as categorias estão hoje representadas na Igreja.
Ellen White estabelece ainda uma clara convergência entre esses dois aspectos, observando que, “ao aproximar-se a tempestade, uma classe numerosa que tem professado fé na mensagem do terceiro anjo, mas não tem sido santificada pela obediência á verdade, abandona sua posição, passando para as fileiras do adversário”. [12]
Novamente, a ênfase é colocada no fato de que são os infiéis que abandonarão a Igreja: “Logo o povo de Deus será testado por severas provações e uma grande proporção daqueles que agora parecem ser genuínos e verdadeiros, provar-se-á metal inútil. Em lugar de serem fortalecidos e confirmados pela oposição, ameaças e abusos, eles, covardemente, tomarão o lado dos oponentes. ... Permanecer em defesa da verdade e da justiça — quando a maioria nos há de abandonar — para lutar as batalhas do Senhor, quando os campeões serão poucos, esse será o nosso teste. Neste tempo devemos tirar calor da frieza de outros, coragem da covardia deles, e lealdade de sua traição.” [13]
A purificação da Igreja virá no tempo indicado, mas não através das reformas e reformulações inventadas e promulgadas pelos dissidentes. A Igreja será purificada afinal, mas o movimento será precisamente o inverso daquilo que aconteceu ao longo dos desdobramentos da História. Sairão os insinceros, enquanto os fiéis permanecerão na comunhão da Igreja. E exatamente por isso, não há provisão divina para um novo remanescente. Aqueles que hoje buscam pureza eclesiástica através da crítica e da acusação, e finalmente se afastam do corpo remanescente de Cristo, cometem um colossal erro de cálculo.
Enquanto aguardamos a resolução final da História e a purificação da Igreja, devemos nos lembrar de que “Deus não deu a nenhum dos Seus servos a obra de punir aqueles que não dão ouvidos às Suas advertências e reprovações. Quando o Espírito Santo habita no coração, Ele guiará o agente humano a ver os seus próprios defeitos de caráter, a ter piedade das fraquezas dos outros, a perdoar como ele deseja ser perdoado. Será misericordioso, cortês e semelhante a Cristo”. [14]
Vitória assegurada
O caráter não é construído nas crises, mas é revelado por elas. Os frutos continuam sendo o grande teste da natureza da árvore e, certamente, se o Senhor não pode mudar-nos o caráter, dificilmente Ele poderá mudar nosso destino final.
Cada dia, nossa submissão ou rebelião à voz do Espírito está definindo as formas de nossa construção eterna. Ninguém precisa ser enganado pelas aparências. “Quando homens se levantam pretendendo ter uma mensagem de Deus, mas em vez de combaterem contra os principados e potestades, e os príncipes das trevas deste mundo, eles formam um falso esquadrão, virando as armas da guerra contra a igreja militante, tende medo deles. Não possuem as credenciais divinas. Deus não lhes deu tal responsabilidade no trabalho.” [15]
Falhará a Igreja? Independente de como os críticos e analistas do negativismo percebam a condição do remanescente de Deus, o Senhor está no controle. Fracasso de nossa parte em crer neste fato nos levará ao desencorajamento ou ao sentimento de que necessitamos “fazer justiça” com as nossas mãos. Mas essas são tentações que devem ser resistidas. “ A Igreja pode parecer quase a cair, mas ela não cairá. Ela permanece, enquanto os pecadores em Sião serão peneirados — a paIha será separada do precioso grão. Este é um terrível processo, contudo ele deve acontecer.”
A garantia da igreja não reside na habilidade ou perfeição dos homens, mas na direção de Deus.
O remanescente de Deus não fracassará, mesmo quando as aparências sugerem outra conclusão. Podemos afirmar tal convicção porque ela está ancorada em quatro fatos basilares:
Primeiro, Cristo é o cabeça da Igreja. Isso evidentemente não nos coloca além da possibilidade de fracasso individual.
Segundo, não há qualquer provisão profética para um remanescente do remanescente. Tal certeza, entretanto, não deveria levar-nos a qualquer orgulho denominacional, acomodação ou falsa segurança na prática do pecado. Ao contrário, deve conduzir-nos à crescente submissão ao Senhor da Igreja.
Terceiro, as vitórias da igreja, através das crises de sua história, crises e pressões que em sua violência e poder de ataque pareceram insuperáveis, dão-nos segurança de que as crises futuras serão administradas pela eficiência dAquele que não pode falhar.
Finalmente, o quadro profético do apocalipse quanto à Igreja dos últimos dias, é esboçado em termos de vitória (Apoc. 14:1-5; 7:9, 10, 13-17). Não há nada incerto ou duvidoso quanto ao triunfo final da Igreja, ao enfrentar o mar tormentoso dos últimos eventos.
Segundo a tradição ligada ao Titanic, o navio considerado insubmergível pelo seu capitão, E. j. Smith, mas que fatalmente desceu para o seu mergulho sem retorno nas águas gélidas do Atlântico Norte, na madrugada de 15/04/1912, no domingo seguinte à tragédia, na cidade de Southampton, de onde o navio havia saído alguns dias antes, e onde viviam muitas das vítimas daquele naufrágio, um pregador americano convidado para uma campanha evangelística, pregou um poderoso sermão sob o título “O navio que não pode afundar”.
O sermão, evidentemente, não era uma referência ao Titanic, mas a uma outra embarcação, de 1900 anos antes, também seriamente ameaçada pelas águas, cruzando o mar da Galiléia (Mat. 8:23-27). O único navio que não pode afundar, concluiu o pregador com extraordinário senso de propriedade, é aquele em que Cristo está presente.
Essa é a única segurança da Igreja ao enfrentar a procela do mar aberto, nos instantes finais de sua jornada. Nossa garantia não se encontra na habilidade ou na perfeição dos homens, na suficiência ou na fortaleza da “embarcação”, mas na presença e autoridade dAquele a quem “os ventos e o mar obedecem” (v. 27).
Autor: Amin A. Rodor, Th.D, professor de Teologia no Unasp
Fonte: Ministério, setembro/outubro de 2000 – Texto reformatado e destaques – sublinhados – feitos pelo editor do site.
Referências:
1. William G. Johnsson. The Fragmentinf of .?duentism, pãg. 61; Bolse, Idaho; Pacific Press Publishing Association. I995.
2. Idem, pág. 21.
3. Ellen G. White. Testemunhos Para Ministros. pág 513.
4. ___________, Conference Bulletin. 19/05/19 13, pág. 34. RobertJ. Spangler. nd Remember —jesus is Corning Soon, pág. 89; Associação Ministerial da Associação Geral da IASD, 1997
6. ElIen G. White. Testimonies for The Church, vol. 9, pág. 249.
7. _____________, Testemunhos Para Ministros. pág. 49
8. _____________, Eventos Finais. pág. 149.
9. ElIen G. White, Spiritual Gifts. vol. 2, pág. 284.
10. ___________ , Carta 46. 887. pág. 6.
11. ver Testimonies, vol. 4, págs. 3I. 89, 90 e 232; vol. 5, págs. 81, 211, 212 e 463. vol. I, págs. 182, 187. 251 e 288; Primeiros Escritos, págs. 50 e 269; The Upward Look. pág. 22; Review and Herald. 08/06/1901; Testemunhos Para Ministros. pág 12; Mensagens Escolhidas, vol. 3, pág. 84.
12. Ellen G. White, O Grande Conflito, pág. 608.
13. Seventh-day Adventist Bible Commentary. vol. 2, pág. 1.038.
14. Ellen G. White. Testimonies for The Church. vol. 5, pág. 136.
I5. _____________, Testemunhos Para Ministros, págs. 22 e
23.
16. ____________, Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 380.
Nota do Editor:
Da mesma forma que este artigo do Dr. Amin Rodor fortaleceu a minha fé na direção de Deus nesta Igreja, tanto ao lê-lo a primeira vez quando, agora, ao publicá-lo neste site, creio que o mesmo fortalecerá a fé de todos os sinceros que dele se aproximem com espírito humilde e dispostos a aprender de Deus – através do Seu servo. Como sempre falo: Esta é – verdadeiramente – a Igreja de Deus aqui na Terra! Sendo assim, que, pelo poder do Espírito Santo operando em nós, sejamos humildes e “moldáveis” à operação da graça santificadora em nossa vida, a fim de que nos tornemos – verdadeiramente – o povo de Deus que compõe esta Igreja, o povo remanescente!