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postado em: 25/9/2008
Pregando aos Espíritos em Prisão
Objeção: Durante o tempo entre Sua crucifixão e Sua ressurreição, Cristo pregou aos espíritos em prisão (1 Ped. 3:18-20). Isso prova que há um espírito imaterial, a pessoa real, que sai do corpo na morte.
SIM DIZ A PASSAGEM: “POIS TAMBÉM CRISTO MORREU, UMA ÚNICA VEZ, PELOS PECADOS, ... MORTO, SIM, NA CARNE, MAS VIVIFICADO
no espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão, os quais, noutro tempo, foram desobedientes quando a longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual poucos, a saber, oito pessoas, foram salvos, através da água.”
Indagamos por que crentes protestantes na imortalidade da alma devam citar esta passagem. Se ela lhes dá auxílio e conforto em uma doutrina, traz-lhes grande desconforto em duas outras doutrinas, ou antes heresias, segundo o protestantismo ortodoxo: o purgatório e a segunda oportunidade.
Se Cristo foi pregar a determinados pecadores depois da sua morte, a clara inferência é que uma segunda oportunidade, ou porta da graça, estava sendo estendida a eles. E se houve essa segunda chance, então o lugar de tortura em que estavam confinados tinha escape, e isso está perigosamente perto da doutrina do purgatório.
Além disso, se Cristo em Sua crucifixão realmente pregou a espíritos perdidos, por que escolheu apenas os espíritos daqueles que foram “desobedientes” nos dias de Noé? Nenhum outro teria direito a uma segunda oportunidade? Longe com tal interpretação das palavras de Pedro que o fariam apoiar tais heresias!
Pedro ensina o oposto da doutrina da segunda oportunidade, declarando que a pregação ocorreu “quando [ou no tempo em que a longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé”. A frase “os quais, noutro tempo, foram desobedientes” é simplesmente uma declaração explanatória interposta. Se a passagem for lida sem esta frase, o tempo da pregação pode ser visto facilmente: Ele “foi e pregou aos espíritos em prisão, ... quando a longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé.”
Mas como foi Cristo pregar a essas pessoas? O texto diz: “No qual também foi e pregou.” Ora, a palavra “qual” se refere ao Espírito. Assim, Pedro está afirmando que foi pela agência do “Espírito” que Cristo pregou a esses “espíritos em prisão” nos dias de Noé.
Cristo disse aos Seus discípulos que era o Espírito quem convenceria “o mundo do pecado” (veja João 16:7-9), e que eles deviam portanto aguardar até que fossem investidos com o Espírito antes de começarem a pregar. Quando os discípulos trouxeram convicção aos pecadores na era cristã, a verdadeira fonte da pregação era o Espírito de Deus que habitava neles.
Ora, houve um pregador de Deus nos dias antediluvianos por meio de quem o Espírito podia pregar aos homens? Sim, Pedro nos diz que Noé foi um “pregador da justiça” (II Ped. 2:5). No relato inspirado sobre o plano de Deus de destruir a Terra com um dilúvio, lemos: “Então, disse o SENHOR: O meu Espírito não agirá [pleiteará] para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos.” Gên. 6:3. Segue-se então o relato da vocação de Noé a fim de preparar-se para o dilúvio. Em outras palavras, o Espírito de Deus pregou a esses antediluvianos por intermédio de Noé, um “pregador da justiça”, esperando, em Sua longanimidade, cento e vinte anos antes de finalmente destruí-los.
Mas por que se diz que essas pessoas estavam “em prisão”? A Bíblia descreve aqueles que estão nas trevas do pecado como sendo “prisioneiros” e como estando em uma “prisão”. E, especificamente, o profeta Isaías diz que a obra de Cristo, com “o Espírito do Senhor Deus” sobre Ele, era tirar “da prisão o cativo” (veja Isa. 42:7; 61:1; cf. Luc. 4:18-21). A obra do Espírito nos tempos antediluvianos foi evidentemente a mesma que no tempo de Cristo: a pregação àqueles que eram prisioneiros do pecado, oferecendo-lhes um meio de escape.
Resta apenas uma interrogação: por que essas pessoas a quem Noé pregou foram chamadas “espíritos” se eram homens vivos sobre a Terra? Deixemos que um eminente comentarista, o Dr. Adam Clarke, responda. O fato de ele ser um crente na doutrina da imortalidade da alma torna seu testemunho sobre esta passagem especialmente valioso. Em seus comentários sobre I Pedro 3:19, depois de afirmar que a frase “foi e pregou” deve ser compreendida como significando “pelo ministério de Noé”, ele observa:
Presume-se que a palavra pneumasi, “espíritos”, ... deve significar espíritos desincorporados; mas isso certamente não se pode concluir, porque os “espíritos dos justos aperfeiçoados” (Heb. 12:23) certamente significa homens justos, e homens ainda na igreja militante; e “o Pai dos espíritos” (Heb. 12:9, Almeida Antiga) significa homens ainda no corpo; e “o Deus dos espíritos de toda a carne” (Núm. 16:22 e 27:16, Almeida Antiga) significa homens, não em um estado desincorporado.
Outro erudito, o Dr. J. Rawson Lumby, comentando I Pedro 3:17-22 em The Expositor’s Bible, observa que, durante os primeiros séculos, período em que a religião católica, com sua crença no purgatório, era dominante, a passagem foi interpretada significando que Cristo foi pregar a almas no inferno. “Mas, no tempo da Reforma, as principais autoridades expunham a pregação do Espírito de Cristo através do ministério do patriarca [Noé].”
O Dr. John Pearson, em sua Exposition of the Creed, uma obra clássica da Igreja Anglicana, observa: “É certo, portanto, que Cristo pregou àquelas pessoas que nos dias de Noé foram desobedientes; todo aquele tempo ‘a longanimidade de Deus aguardava’ e, conseqüentemente, o arrependimento era oferecido. E é tão certo que Ele nunca lhes pregou depois que elas morreram.”
Por que devíamos ser solicitados a explicar essa passagem em harmonia com nossas opiniões sendo que eminentes teólogos que crêem na imortalidade da alma admitem que a doutrina da imortalidade da alma não é aqui ensinada?
- Extraído de Francis D. Nichol, Respostas a Objeções, págs. 312-314.
Nota do Editor IASD Em Foco:
O que o erudito Dr. Francis D. Nichol deixa claro e patente é que mesmo os mais notórios e notáveis entre os defensores da imortalidade da alma não vêem ela sendo ensinada nesta passagem. Desta forma, como pudemos ver, a explicação é simples, racional e lógica e, como tal, não se trata de nenhuma pregação espírita – mas, sim, da pregação do evangelho aos “espíritos em prisão” (prisão do pecado) nos dias de Noé.