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postado em: 25/9/2008
Partir e Estar Com Cristo
Objeção e/ou Dúvida: Paulo afirmou que, quando ele morresse, iria imediatamente estar com Cristo (veja Fil. 1:21-23).
Diz a passagem: “porquanto, para mim, o viver é cristo, e o morrer é lucro. Entretanto, se o viver na carne traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher. Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor” (Fil. 1:21-23).
Se não houvesse nenhum outro texto na Bíblia que tratasse do assunto da recompensa final dos justos, o leitor poderia ser perdoado por concluir que Paulo esperava, imediatamente após a morte, entrar no Céu.
Admitimos isso francamente. Mas queremos acrescentar que, se uma frase isolada em algum texto das Escrituras deve ser vista isoladamente, a Bíblia parece ensinar salvação pelas obras, orações pelos mortos e outras doutrinas que os protestantes consideram não bíblicas.
Não podemos concordar com a interpretação das palavras de Paulo dada na objeção diante de nós. Por quê? Porque faria o apóstolo contradizer-se. Paulo escreveu muito sobre o assunto de estar com Cristo. Examinemos ao menos uma parte dos seus escritos antes de tirarmos uma conclusão a respeito dessa passagem.
Em outra de suas cartas, Paulo entra em detalhe quanto ao tempo em que os justos irão “estar com o Senhor”: “Porquanto o Senhor mesmo, dada a Sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras” (I Tess. 4:16-18).
E impossível pensar que Paulo acreditava que os justos vão estar com o Senhor por ocasião da morte, sendo que ele disse especifica mente aos tessalonicenses que os justos, tanto os vivos quanto aqueles que ressuscitarão, irão “juntos” “estar com o Senhor” no segundo advento.
Disse que lhes estava escrevendo para que não fossem “ignorantes” [quanto ao estado dos mortos, a situação em que estes se encontram]. É incrível que os deixasse na ignorância quanto a estar com Cristo na morte, se ele assim acreditasse. De fato, ele disse-lhes o oposto: que os justos mortos não vão para estar com o Senhor na morte, mas aguardam a manhã da ressurreição.
Se ele acreditasse que vamos estar com o Senhor na morte, por que deixou de mencionar esse fato quando estava escrevendo especificamente para consolá-los? Ele os exortou a procurar seu consolo em um evento futuro: a ressurreição.
Os pastores de hoje que crêem em almas imortais “consolam” os enlutados com a certeza de que os amados já foram para junto do Senhor e declaram que nós os que mantemos uma opinião contrária estamos privando um entristecido do maior consolo possível. Portanto, acusam também a Paulo?
Além disso, se Paulo acreditasse que os justos vão para Deus na morte, por que ele disse à igreja de Corinto que a transformação da mortalidade para a imortalidade não ocorrerá senão na “última trombeta”? (veja 1 Cor. 15:51-54). Ou por que disse aos colossenses que, quando Cristo Se manifestar, “então, vós também sereis manifestados com Ele, em glória”? Col, 3:4.
Ou por que deveria ter dito, ao aproximar-se o tempo de sua própria “partida” pela espada do executor: “Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a Sua vinda”? (II Tim. 4:8).
Sim, e por que deveria o próprio Cristo dizer aos Seus discípulos que eles novamente estariam com Ele quando cumprisse a promessa: “Voltarei e vos receberei para Mim mesmo”? Sim, por que deveria Cristo ter focalizado a atenção dos seus perturbados discípulos inteiramente no segundo advento, se fosse verdade que todos eles iriam estar com seu Senhor imediatamente após a morte?
Essas e outras passagens que poderíamos citar estão em total contradição com a interpretação dada às palavras de Paulo na objeção acima. Devemos concluir, portanto, que a Bíblia se contradiz? Não. Em sua declaração aos filipenses, Paulo não diz quando ele espera estar com Cristo. Ele menciona brevemente seu cansaço da luta da vida e seu desejo de descansar do conflito, se isso levasse Cristo a ser “engrandecido”.
Mas, para o veterano apóstolo, que tão constantemente havia pregado o glorioso retorno de Cristo como o único evento grandioso além da sepultura, o adormecer na morte estava imediatamente ligado com o que ocorreria no despertamento da ressurreição: o ser “arrebatado” “para o encontro do Senhor”.
Não é incomum um escritor bíblico reunir eventos que estão separados por um longo espaço de tempo. Geralmente, a Bíblia não entra em detalhes, mas apresenta os pontos realmente importantes do trato de Deus com a humanidade no transcorrer dos séculos. Por exemplo, Isaías 61:1 e 2 contém uma profecia da obra que Cristo faria em Seu primeiro advento. Em Lucas 4:17-19 está o relato de Cristo lendo essa profecia para o povo e informando: “Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir.” Verso 21.
Mas um exame cuidadoso revelará que Cristo não leu toda a profecia de Isaías, embora evidentemente ela seja uma declaração conectada. Ele terminou com a frase: “Apregoar o ano aceitável do Senhor.” Mas a frase seguinte da sentença é: “E o dia da vingança do nosso Deus.” Ele não leu essa parte porque ela não devia se cumprir logo. A passagem de Isaías nem mesmo sugere que um período de tempo se interpõe entre esta frase e as precedentes. Mas outras passagens bíblicas indicam claramente tal fato, e é pelo exame de todas as outras passagens que entendemos uma profecia breve e condensada como essa de Isaías.
Ou considere a profecia do segundo advento conforme apresentada em II Pedro 3:3-13. Se nenhuma outra passagem bíblica fosse comparada com essa, poderíamos facilmente chegar à conclusão de que o segundo advento de Cristo resulta imediatamente na destruição do mundo pelo fogo. Todavia, quando comparamos II Pedro 3 com Apocalipse 20, aprendemos que um período de mil anos se interpõe entre o segundo advento e a destruição do mundo pelo fogo.
Pedro estava apenas dando um breve sumário dos extraordinários eventos iminentes. Ele passou imediatamente do grande fato do segundo advento para o próximo grande ato no drama do trato de Deus com este planeta: sua destruição pelo fogo. No caso da profecia de Pedro, assim como no da profecia de Isaías, não há necessidade de confusão se seguirmos o plano de comparar passagem com passagem para preencher os detalhes.
Ora, se Pedro pôde colocar em uma sentença (II Pedro 3:10) dois grandes eventos separados por mil anos, e Isaías pôde reunir em outra sentença (Isa. 61:2) dois importantes eventos separados por um período de tempo, por que seria estranho se Paulo seguisse esse plano e reunisse em uma sentença (Fil. 1:23) o triste evento de morrer com o glorioso evento de “estar com Cristo” no segundo advento?
Em outras passagens de Paulo que citamos, a morte do cristão está diretamente ligada com a ressurreição, no segundo advento de Cristo. Esses acontecimentos, como sabemos, estão separados por um longo espaço de tempo. Portanto, o mero fato da ligação do evento da morte com o evento de estar com o Senhor não significa necessariamente que os dois acontecimentos estão imediatamente relacionados.
Quando seguimos a norma bíblica de comparar passagem com passagem, descobrimos que os dois eventos estão amplamente separados.
- Extraído e adaptado de Francis D. Nichol, Respostas a Objeções, págs. 309-312.
Nota do Editor IASD Em Foco:
Estou postando este material e todo restante sobre questões relacionadas à mortalidade da alma, em primeiro lugar, atendendo a uma série de dúvidas de uma consulente – que me escreveu – sobre este assunto. A consulente me pareceu sincera – embora terminasse a sua mensagem de modo “inusitado”, para não dizer estranho, como se estivesse realmente “entrando em parafuso” com estas questões. Como ela pode ver, aquilo que as pessoas com quem vem estudando segundo diz há uns dois anos, devem ter lhe chamado a atenção sobre o método correto de se estudar a Bíblia: 1) Análise do texto em seu contexto: A porção maior na qual ele está inserido. Não podemos olhar para uma árvore, isoladamente, e nos esquecermos da floresta. 2) Comparar texto com texto: A Bíblia não se contradiz; ao contrário, ela é um todo harmônico que – por sua vez – funciona como a sua melhor intérprete. Como diz o Dr. Francis Nichol: “seguimos a norma bíblica de comparar passagem com passagem”. Em se fazendo isso, todo o nevoeiro de dúvidas e aparentes contradições se desfaz e, assim, as grandes verdades da Palavra de Deus aparecem diante de nós como elas realmente são: Puras, cristalinas, inconfundíveis e incontestáveis.