Digite uma palavra chave ou escolha um item em BUSCAR EM:
postado em: 24/10/2008
O Sábado é Apenas Memorial da Libertação
O sábado é judaico. Foi dado somente para os judeus e era parte da velha aliança que foi feita apenas com os judeus. Além disso, Deuteronômio 5:15 declara explicitamente que Deus ordenou aos judeus que guardassem o sábado como um memorial de sua libertação do Egito. Portanto, ele não tem nenhum significado para nós que somos cristãos gentílicos.
ESTE ARGUMENTO COBRE MUITO DO MESMO TERRENO ABRANGIDO PELA PRETENSÃO DE QUE A LEI DADA NO SINAI TINHA EM VISTA Somente os judeus. Veja a objeção 4, onde é apresentada evidência para mostrar que toda a Bíblia foi escrita por judeus, a maioria da qual é dirigida diretamente aos judeus, e a antiga e a nova aliança foram feitas com a “casa de Israel” e que o próprio Cristo declarou que “a salvação vem dos judeus”. Ainda mais, todo o protestantismo recorre à Bíblia, tanto o Antigo quanto o Novo Testamento, em busca de orientação espiritual. Todos nós reclamamos o direito à relação da nova aliança, e todos pregamos que a “salvação” que Cristo disse vir “dos judeus” é para todas as pessoas de todos os países.
Gostaríamos de fazer esta simples pergunta: por que é o sétimo dia da semana mais judaico do que o primeiro dia da semana? A Confissão de Westminster, que é a mais clara expressão do ponto de vista protestante sobre a santidade de um dia de descanso semanal, declara que o sábado, “desde o princípio do mundo até a ressurreição de Cristo, foi o último dia da semana”. Este é um período de, no mínimo, quatro mil anos. Contudo, na primeira metade desse longo período não havia judeus. Será que o sétimo dia da semana subitamente adquiriu um caráter e uma qualidade diferentes no Sinai, enquanto Deus dirigia Seu povo escolhido do Egito para a Terra Prometida?
Alguém poderia aventurar-se a dizer sim, e apoiar sua resposta pela referência àquelas declarações do Antigo Testamento de que o sábado foi uma marca distintiva e um sinal entre Deus e os filhos de Israel. Mas se esta resposta prova alguma coisa, ela prova demais, porque os mesmos relatos do Antigo Testamento que assim descrevem o sábado nos revelam também que Deus descreve a Si mesmo como sendo, de um modo muito peculiar e distintivo, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Por que não deveria o Senhor ordenar o sábado do Senhor para o próprio povo do Senhor?
O motivo por que a observância foi confinada aos judeus na última parte daquele período de quatro mil anos antes de Cristo foi que nenhum outro povo sobre a face da Terra era constituído de verdadeiros seguidores de Deus. Eles eram pagãos e idólatras, E claro que o sábado esteve intimamente relacionado com os judeus durante o tempo de sua história nacional; e, como temos notado, assim foi com tudo o mais relacionado à vontade revelada de Deus, inclusive todos os profetas de Deus e todos os escritos que constituíram a Palavra Sagrada.
“Mas”, pode replicar alguém, “a Bíblia não diz em parte alguma que o Salvador e a salvação deviam ser confinados aos judeus.” E verdade. Nem lemos em lugar nenhum que o sábado devia ser confinado aos judeus. Ao contrário, temos declarações muito específicas das Escrituras mostrando que o sábado foi designado por Deus para ter uma aplicação mundial. Enumeremos algumas delas:
1. O próprio mandamento sabático diz especificamente que não apenas os judeus deviam repousar, mas também o estrangeiro que estivesse dentro das suas portas (veja Êxodo 20:10). Os estrangeiros eram aqueles que não pertenciam à família de Israel; poderiam pertencer a qualquer outro povo ou nação.
2. Cristo afirmou que “o sábado foi estabelecido por causa do homem”. Marcos 2:27. Ele não disse “judeu”, mas “homem”, e não existe nenhuma justificação para confinar o significado da palavra “homem” aos judeus. Se limitássemos a palavra assim, logo entraríamos em grande dificuldade. Lemos que Cristo é “a verdadeira luz, que, vindo ao mundo, ilumina a todo homem”. João 1:9. Trouxe Cristo luz somente para os judeus? Além disso, o sábado foi dado para que os homens pudessem ter a bênção do descanso e a adoração do seu Criador. Por que desejaria Deus que somente uma pequena fração dos Seus seres criados — porque os judeus sempre têm sido uma parte muito pequena da população mundial — participasse da alegria do descanso e adoração?
3. Como poderia o sábado ter sido dado somente para os judeus, sendo que ele foi instituído na criação, muito tempo antes dos dias de Abraão, o pai do povo judeu? (Veja Gên. 2:2 e 3.)
4. O profeta lsaías, falando dos dias finais da história terrestre, quando “a salvação de Deus está prestes a vir”, fala da bênção que virá sobre “os estrangeiros” que guardam o sábado (veja Isa. 56:1-8).
5. Finalmente, na Nova Terra, onde haverá pessoas de todos os povos e nações, o sábado será guardado (veja Isa. 66:22 e 23).
E o que dizer de Deuteronômio 5:15, que se alega provar que o sábado foi dado somente para os judeus? O texto diz o seguinte:
“Porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o Senhor, teu Deus, te tirou dali com mão poderosa e braço estendido; pelo que o Senhor, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado.”
Note o ambiente deste texto. O quinto capítulo de Deuteronômio consiste de uma recapitulação de Moisés, com comentários apropriados, do grande evento do Sinai ocorrido quarenta anos antes, quando Deus proferiu os Dez Mandamentos. Que Moisés não estava tentando repetir literalmente os mandamentos, mas insistindo na observância desses bem conhecidos preceitos, é mostrado pelo verso 12, onde ele diz: “Guarda o dia de sábado, para o santificar, como te ordenou o Senhor, teu Deus.”
Portanto, o primeiro ponto a notar é que essa descrição dos mandamentos em Deuteronômio não pode ser tomada como substituição para a forma dos mandamentos encontrada em Êxodo 20. Em Êxodo encontramos o registro dos mandamentos conforme Deus os falou, e a este registro Moisés especificamente reportou Israel quando insistiu com eles: “Guarda o dia de sábado, para o santificar, como te ordenou o Senhor, teu Deus.”
Sejam quais forem as razões ou apelos apresentados por Moisés, devem ser considerados como uma adição e não como substituição para as razões dadas por Deus quando originalmente proferiu os mandamentos.
Deus declarou que o sétimo dia é o sábado em que todos devem descansar, porque “em seis dias fez o Senhor os céus e a Terra ... e, ao sétimo dia, descansou.” E acrescenta: “Por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou.” Exo. 20:11.
Vejamos outra vez o contexto de Deuteronômio 5. Moisés prossegue com sua paráfrase do mandamento sabático e encerra o versículo 14— que descreve como os servos e os senhores deviam descansar — acrescentando: “Para que o teu servo e a tua serva descansem como tu.” Segue-se então o verso 15, que relembra como os israelitas foram servos no Egito, etc.
Qual é, portanto, a conclusão natural a que podemos chegar? Simplesmente esta: que Moisés estava dando uma razão adicional para a guarda do mandamento sabático, especialmente aquela característica dele que tinha a ver com o descanso dos servos. Esta é a conclusão natural. E ela se torna inevitável quando são citadas certas passagens paralelas.
Pouco mais adiante, Moisés dá instrução quanto ao tratamento de um servo e como, depois de ter ele servido seis anos, deve ser libertado no sétimo e despedido com provisões liberais dos rebanhos e manadas do seu senhor. “E”, acrescentou Moisés, “lembrar-te-ás de que foste servo na terra do Egito e de que o Senhor, teu Deus, te remiu; pelo que, hoje, isso te ordeno.” Deut. 15:15. Concluiremos que a liberalidade e o amor para com os servos são um mandamento que se originou no Êxodo, que todos os que viveram antes desse tempo poderiam tratar seus servos de má vontade sem incorrer no desagrado de Deus e que somente dos judeus era exigido que mostrasse tal bondade para com os servos?
Outra vez, leiamos um mandamento mais detalhado: “Não cometereis injustiça no juízo, nem na vara, nem no peso, nem na medida. Balanças justas, pesos justos, efa justo e justo him tereis. Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos tirei da terra do Egito. Guardareis todos os Meus estatutos e todos os Meus juízos e os cumprireis. Eu sou o Senhor.” Lev. 19:35-37. Tomaremos este verso e construiremos o argumento de que o mandamento para agir justamente nos vários aspectos da vida se originou com o Exodo, que antes disso o homem podia defraudar impunemente o seu próximo e que Deus exigia somente dos judeus que se abstivessem de enganar alguém?
Ou considere esta outra declaração: “Eu sou o Senhor, que vos faço subir da terra do Egito, para que Eu seja vosso Deus; portanto, vós sereis santos, porque Eu sou santo.” Lev. 11:45. Devemos concluir disso que o mandamento para “ser santo” destinava-se somente ao Israel literal que foi feito “subir da terra do Egito”? Cremos que até mesmo o mais vigoroso opositor do sábado hesitaria em endossar tal idéia, Mas se tanto a santidade quanto a observância do sábado têm certa relação com o cativeiro egípcio, e, contudo, concordamos que todos deveriam ser santos, certamente não podemos usar o Egito como desculpa para a violação do sábado.
À luz dessas passagens e de outras que poderiam ser citadas, é evidente que a escravidão egípcia, quando os israelitas foram tratados de forma cruel e injusta, sendo depois libertados graciosamente pelo Senhor, foi citada por Moisés simplesmente como uma razão adicional para eles tratarem os outros de forma justa e amorável. A lei de lidar de maneira justa com os outros, principalmente aqueles que estão em uma condição desafortunada, tem vigorado desde o princípio do mundo; mas assumiu força e obrigação adicional quando foi aplicada àqueles que tão recentemente tinham sido obrigados a trabalhar como escravos no Egito.
Em vez de enfraquecer o mandamento sabático, Deuteronômio
5:15 simplesmente serve para mostrar quão excessivamente amplo é o mandamento e como Deus pretendia que o sábado provasse ser uma fonte de refrigério e bênção até mesmo para os servos.
- Extraído de Francis D. Nichol, Respostas a Objeções.