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postado em: 14/11/2008
Comemoração da Ressurreição & Alimentos
* Não é o domingo reconhecido como dia de descanso, consagrado ao Senhor em comemoração à Ressurreição num primeiro dia da semana (ver João 20:1; Lucas 24:1; Atos 20:7; 1 Coríntios 16:2)?
Alegação:
Com a Ressurreição tendo ocorrido no primeiro dia da semana e o aparecimento de Cristo em vários locais nesse dia, ficou estabelecido tal dia como o novo “Dia do Senhor”, em substituição ao sábado do Velho Testamento.
Ademais, em Atos 20:7 temos uma reunião num domingo com a Santa Ceia sendo celebrada, e em 1 Coríntios 16:2 as coletas para os pobres eram realizadas num domingo na igreja.
Ponderação:
Os evangelhos falam que Jesus ressuscitou no primeiro dia da semana e apareceu repetidamente aos discípulos que nem sabiam do evento. Estavam “reunidos, com medo dos judeus” (João 20:19) ou viajando para outra cidade (Lucas 24:13) naquele dia, e não celebrando o dia da Ressurreição.
Em Atos 20:7 encontramos o relatório de como Paulo teve uma reunião de despedida “no primeiro dia da semana” que, porém, era o que consideramos “sábado à noite”. O dia dos judeus se inicia no pôr do sol. Por sinal, a tradução bíblica A Bíblia na Linguagem de Hoje, da Sociedade Bíblica do Brasil, refere-se ao episódio como tendo ocorrido num “sábado à noite”. A edição equivalente em inglês, Good News for Modern Man, o confirma, chamando aquele dia “Saturday evening” [sábado à noitinha], o que também é afirmado em nota de rodapé na CEV (Contemporary English Version) da American Bible Society [Sociedade Bíblica Americana].
No contexto percebe-se que o partir do pão na ocasião referida foi apenas uma refeição regular (cf. Atos 2:46) e não a cerimônia da Santa Ceia (o que se confirma na mesma nota de rodapé da CEV, acima referida). Ademais, Paulo passou a manhã de domingo seguinte viajando, em lugar de ficar para a “escola dominical”. . . (ver vs. 13-16).
Em 1 Coríntios 16:2 Paulo instrui os cristãos a reunirem recursos para ajudar os pobres de Jerusalém, no primeiro dia da semana. Pelo original grego, porém, isso devia ser feito “em casa” (par’ eauto), não na igreja.
Também o fato de que isso foi escrito pelo ano 55 a 57 AD é significativo. O dia não recebe o título especial de “dia do Senhor”. Era apenas o “primeiro dia da semana”, que literalmente se traduziria como “primeiro [dia] em referência ao sábado” (em grego: mía twn sabbatwn).
Conclusão:
Embora haja um “dia do Senhor” (Apo. 1:10) referido no Novo Testamento, este não pode ser o domingo pois o único “dia do Senhor” reconhecido tanto no Velho quanto no Novo Testamento como dia de repouso especialmente dedicado a Deus cada semana é o sábado do sétimo dia: Isaías 58:13; Ezequiel 20:12, 20; Mateus 12:8.
O historiador Lucas fala da guarda do sábado pelas mulheres seguidoras de Cristo “segundo o mandamento” 30 anos após o episódio (Luc. 23:56) e as passagens de Atos 20:7 e 1 Coríntios 16:2, em lugar de confirmarem a observância do domingo pelos cristãos primitivos, mostram que era um dia comum para viagens e para fazer cálculos sobre quantias obtidas durante a semana anterior e separar dinheiro para uma campanha especial de coleta em favor dos pobres de Jerusalém.
Embora tanto Atos quanto 1 Coríntios hajam sido escritos décadas após a ascensão de Cristo, esses autores bíblicos referem-se ao dia sem atribuir-lhe qualquer título especial—era meramente o “primeiro dia da semana”, com o original indicando a contagem de tempo judaica.
Estes textos, como defesa do domingo são certeiros “tiros” interpretativos que saem pela culatra.
* Teve Pedro a “Visão do Lençol” (Atos 10) Dando-lhe Permissão Para Usar Toda Sorte de Alimento?
Na visão que Pedro teve, do lençol com “toda sorte de quadrúpedes, répteis da terra e aves do céu” seguido da ordem, “Levanta-te, Pedro, mata e come” fica provado que “Deus purificou” todos os alimentos outrora proibidos aos judeus. Assim, Deus quis mostrar a Pedro que as leis higiênicas, dadas a Israel, não mais se aplicam aos cristãos que agora—aleluia!—podem comer livremente porcos, urubus, cobras, ratos. . . (Atos 10).
Em primeiro lugar, não é significativo que Pedro, tendo convivido com Jesus por três anos e meio, acompanhando-O em suas jornadas pelas poeirentas estradas da Judéia, Galiléia e Samaria, partilhando refeições constantes com Ele, NÃO APRENDEU que devesse comer aqueles estranhos seres que jamais foram recomendados como alimento ideal para o homem, independentemente de fatores religiosos? Será que cobras, corvos, ratos mereceriam um lugar à mesa de um servo de Deus que é biblicamente designado como “templo do Espírito Santo” (1 Cor. 3:16, 17)? É esse o enfoque do texto?
Vejamos o contexto, onde o sentido da visão é finalmente explicado: O vs. 17 diz que Pedro “estava perplexo sobre . . . o significado da visão”. Então, não lhe pareceu evidente que o sentido fosse o de liberdade para comer de tudo. Não foi o que aprendera na convivência com Cristo, com Quem, segundo suas palavras, “comemos e bebemos depois que ressurgiu dentre os mortos” (vs. 41).
A visão simplesmente não lhe pareceu significar a liberdade de utilizar alimentos cárneos de quaisquer animais, que jamais seriam recomendados para alimentação humana por qualquer autoridade sanitária de regiões desenvolvidas sobre a Terra.
No vs. 28 é onde encontramos a solução para o enigma: “Vós bem sabeis que é proibido a um judeu ajuntar-se ou mesmo aproximar-se a alguém de outra raça; mas Deus me demonstrou que a nenhum homem considerasse comum ou imundo” (ver também Atos 11:17).
Isto é confirmado pelo vs. 34: “Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que O teme e faz o que é justo Lhe é aceitável”.
Mais tarde, o próprio Pedro faz referência evidente ao episódio ao discursar perante o concílio de Jerusalém, registrado em Atos 15, e fala de fato em “purificação”, mas não é de carnes imundas, e sim dos corações dos gentios (Atos 15:7-9).
Há mais um fator interessante que nossos objetores não parecem perceber. Seria tão impossível Pedro matar e comer animais que lhe surgem numa visão quanto o seria chupar um sorvete que aparece numa propaganda da TV! Alguém sugeriu que João numa visão comeu o livrinho que o anjo lhe deu (Apo. 10:8-10). O que ocorre, porém, é que numa visão, como num sonho, a própria pessoa sob tal condição pode ver-se a si mesma como protagonista do que observa nesse sonho ou visão. Ademais, como poderia Pedro alimentar-se de tantos animais assim? Só uma cobra sucuri alimentaria toda uma tropa!
Pedro não entendeu a visão como sendo uma licença para comer livremente de tudo, desconsiderando as regras de higiene dadas por Deus para o melhor bem de Seu povo. O sentido é mostrar-lhe que não devia ter preconceito racial, indo mesmo contra costumes estabelecidos pelo seu povo no objetivo da pregação do evangelho aos não-judeus, considerados, então, “comuns ou imundos”.
Em vez de indicar a anulação das regras alimentares que Deus estabeleceu para Seus filhos, templos do Espírito Santo, alistadas em Levítico 11, a visão de Pedro em Atos 10 confirma que ele não entendeu que tais regras estavam abolidas na dispensação cristã, décadas após a cruz.
Decerto, entre “as minhas leis” que Deus escreverá nas mentes e corações dos que aceitam os termos do Novo Concerto (Heb. 8:6-10) constam essas normas higiênicas, pois elas não tinham sentido prefigurativo, mas visavam ao melhor bem do povo de Deus.
Logo, a exploração da visão do lençol por Pedro como alguns fazem, como licença para comer de tudo, sem preocupações maiores com os aspectos sanitários, representa outro “tiro” interpretativo que sai pela culatra.
Autor: Prof. Azenilto G. Brito