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postado em: 21/11/2008
“Temer Quem Faz Perecer Alma e Corpo”
* Ao dizer, “não temais os que matam o corpo mas não podem matar a alma; temei antes Aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma quanto o corpo” (Mateus 10:28) não está o Senhor Jesus demonstrando a crença na imortalidade da alma?
Alegação:
A linguagem do texto parece por demais clara de que a alma não morre, assim tem-se a confirmação da parte do próprio Senhor Jesus Cristo de que alma não pode morrer..
Ponderação:
O texto nos informa exatamente da possibilidade de a alma vir a “perecer” no geena ao ser ali lançada. Os dualistas buscam neste texto apoio para o conceito de que a alma é uma substância imaterial, mantida em segurança e que sobrevive à morte.
Contudo, a referência ao poder de Deus de destruir a alma [psyche] e o corpo no inferno nega a noção de uma alma imortal, imaterial. Como pode a alma ser imortal se Deus a destrói com o corpo no caso dos pecadores impenitentes? Se este texto for lido à luz do sentido ampliado dado por Cristo à alma, o significado da declaração será: “não temais aqueles que podem trazer vossa existência terrena (corpo-soma) a um fim, mas não podem eliminar vosso potencial de obter a vida eterna; mas temais o Deus que é capaz de destruir vosso ser integral eternamente”.
Em nosso idioma costumamos falar em “dobrar o espírito” de uma pessoa no sentido de convencê-la de algo que contraria o que tinha em mente. Como diz um autor evangélico, “A advertência de Nosso Senhor é clara. O poder do homem para matar se detém com o corpo e o horizonte da Presente Era. A morte que o homem inflige não é final, pois Deus chamará os mortos da Terra e concederá a imortalidade aos justos. A habilidade de Deus em matar e destruir não conhece limites. Atinge mais profundamente do que o físico e vai além do presente. Deus pode matar o corpo e a alma, tanto agora quanto no além”.
É também digno de nota que Lucas reproduz a declaração de Cristo omitindo a referência a alma: “Digo-vos, pois, amigos meus: Não temais os que matam o corpo e, depois disso, nada mais podem fazer. Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: Temei aquele que depois de matar, tem poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos a esse deveis temer” (Lucas 12:4, 5).
Lucas omite a palavra alma-psyche, referindo-se, em vez disso, à pessoa integral que Deus pode destruir no inferno. É possível que a omissão do termo “alma-psyche” fosse intencional para impedir um mal-entendido na mente de leitores gentios acostumados a pensar na alma como um componente independente e imortal que sobrevive à morte. Para torná-lo claro de que nada sobrevive à destruição divina de uma pessoa, Lucas evita empregar o termo “alma-psyche” que poderia ser confusa para os seus leitores gentios.
Tal interpretação confirma-se em Lucas 9:25, onde o termo psyche-alma é omitido; “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou a causar dano a si mesmo?”. Presumivelmente, Lucas empregou aqui o pronome “ele” em lugar de alma-psyche, como usado em Marcos 8:36, porque dirigi-se a leitores gentios e desejava evitar ambiguidade, já que esses mantinham conceitos dualistas.
Quando temos em mente o sentido ampliado que Cristo faz do termo “alma”, então o sentido de Sua declaração faz-se claro. Matar o corpo significa tirar a vida presente de sobre a Terra. Mas isso não mata a alma, ou seja, a vida eterna potencial recebida por aqueles que aceitaram a provisão da salvação de Cristo. Tirar a vida presente significa pôr uma pessoa a dormir, mas uma pessoa não é finalmente destruída até a segunda morte, que se dará no geena, ou lago de fogo, chamado de “segunda morte” (Apo. 20:14 e 21:8).
A preservação da alma no ensino de Jesus Cristo não é um processo automático no poder da própria alma, mas um dom de Deus recebido por aqueles que estão dispostos a sacrificarem sua alma (a vida presente) por Ele. Esse sentido expandido de alma relaciona-se intimamente com o caráter ou personalidade de um crente. Pessoas ou forças malignas podem matar o corpo, a vida física, mas não podem destruir a alma, o caráter ou personalidade de um crente, bem como suas convicções íntimas.
Deus comprometeu-Se a preservar a individualidade, personalidade, e caráter de cada crente. Por ocasião de Sua gloriosa vinda nas nuvens do céu, Cristo ressuscitará aqueles que morreram Nele, restaurando-lhes a alma, isto é, seu caráter e personalidade distintos [Boa parte do acima exposto foi condensado da obra Imortalidade ou Ressurreição? do Dr. Samuele Bacchiocchi].
Conclusão:
O texto sob análise, em lugar de comprovar a tese da imortalidade da alma, mostra que Deus pode eliminar esta “alma” fazendo-a perecer no geena, termo original traduzido por “inferno”. A palavra “perecer” nesta passagem é a mesma que Pedro utiliza para falar tanto dos que morreram no dilúvio, quanto dos que perecerão nos fogos do juízo vindouro (ver 2 Ped. 3:6-10).
Portanto, Mateus 10:28, utilizado para defender a doutrina da imortalidade da alma, longe de comprovar tal doutrina, nega-a e constitui um “tiro” interpretativo que sai pela culatra.
Autor: Prof. Azenilto Brito