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postado em: 26/1/2014
Grandezas e Bofetadas
Juntar grandezas e bofetadas é muito estranho, pois são experiências extremas e opostas. Grandeza fala daquilo que tem a qualidade ou o caráter de grande, sublime e manifesto. É uma experiência que enriquece o “curriculum vitae” de qualquer pessoa e levanta o seu entusiasmo. Porém, aquele tapa com a mão espalmada no rosto e a curiosamente chamada bofetada com luva de pelica, ou bofetada sem mão, são experiências das mais humilhantes. Não obstante, esta associação existe. É mais comum do que se pensa. Você encontra grandezas e bofetadas na vida de Paulo. O fato de ter sido arrebatado ao terceiro céu e ouvido palavras inefáveis foi uma grandeza para o apóstolo. Porém, o espinho na carne, mensageiro de Satanás, foi uma bofetada (2Co 12.7). Você encontra grandezas no monte da transfiguração e bofetadas no vale. Lá no alto Jesus se transfigura, aparecem Moisés e Elias, e ouve-se claramente a voz de Deus. Seria bom permanecer ali. Porém, lá embaixo havia sofrimento, havia um pai desesperado e um menino perturbado e extremamente humilhado. Pedro, Tiago e João experimentaram ambas as coisas.
Você encontra grandezas e bofetadas três meses depois do êxodo, no acampamento de Israel, defronte ao monte Sinai. Deus se manifesta ao povo e lhe dá os Dez Mandamentos. Há trovões, relâmpagos e o clangor da trombeta. Moisés passa quarenta dias no monte Sinai e recebe inclusive a planta detalhada do templo móvel que deveria acompanhar o povo na caminhada pelo deserto. Absorto com toda a grandeza, Moisés parece esquecer a fraqueza humana e a influência dos quatrocentos anos de escravidão no Egito. Deus ordena-lhe que desça porque o povo havia se corrompido naquele curto intervalo de quarenta dias. Moisés desce e encontra o bezerro de ouro. Foram bofetadas tremendas.
Se você se der o trabalho de exercitar a memória, encontrará grandezas e bofetadas em sua própria vida. Não só grandezas. Não só bofetadas. Mas ambas. Ora intercaladas, ora simultâneas. Por que Deus permite grandezas e bofetadas? A Bíblia tem a resposta. O preventivo de Deus A associação das grandezas com as bofetadas é necessária para evitar uma das mais devastadoras fraquezas do homem: sua vaidade, seu orgulho, sua auto-suficiência. Esta razão é muito clara na experiência de Paulo. O espinho na carne era mensageiro de Satanás. Deus usou esse espinho e o tornou útil para que o apóstolo não se exaltasse com a grandeza das revelações. Era melhor carregar o espinho na carne a vida inteira e sentir constantemente a necessidade de Deus do que ficar arrogante, pois “a soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda” (Pv 16.18).
O preventivo de Deus -- as bofetadas do espinho na carne -- deu o efeito esperado: Paulo gastou catorze anos para contar as visões e revelações do Senhor e o fez com a maior discrição possível, movido por circunstâncias especiais, narrando também, paralelamente, a questão do mensageiro de Satanás.
Neste sentido, as bofetadas são extremamente necessárias. Sem elas, a ruína e a queda acontecem com frequência. As bofetadas produzem fraquezas e as fraquezas levam o homem à fonte de todo poder. O apóstolo aceitou e entendeu o esquema de Deus e descobriu que, “quando sou fraco, então, é que sou forte” (2Co 12.10). As grandezas sem bofetadas facilmente divinizam o homem, a seus próprios olhos e aos olhos dos outros. Humanização A associação das grandezas com as bofetadas é necessária para evitar a alienação e caracterizar a missão do filho de Deus. É bom subir ao monte da transfiguração, é bom procurar um lugar à parte da multidão para orar, é bom participar de um retiro espiritual, é bom ler livros, é bom ir para o seminário, é bom cantar louvores ao Senhor, é bom ser arrebatado ao terceiro céu e ouvir palavras inefáveis e ver coisas maravilhosas. Todavia, nas experiências de Jesus, dos profetas e dos apóstolos, a maior parte do tempo era vivida aqui embaixo, com os pés na terra, em meio aos desesperados, aos perturbados, aos endemoninhados, aos pecadores, aos publicanos e às meretrizes. É como Jesus roga: “Não peço que os tire do mundo, e sim que os guardes do mal” (Jo 17.15). Ele mesmo, “embora [fosse] Deus, não exigiu nem tampouco se apegou a seus direitos como Deus, mas pôs de lado seu imenso poder e sua glória, ocultando-se sob a forma de escravo e tornando-se como os homens” (Fp 2.6-7).
O grão de trigo precisa misturar-se com a terra e morrer. Se não morrer, fica ele só, “mas, se morrer, produz muito fruto” (Jo 12.24). Deus não quer que você viva só de grandezas. Você precisa enxergar e receber bofetadas. Você não pode ser apenas um sonhador, um teólogo, um usuário da glória de Deus, alguém que arma a sua tenda no monte Horebe ou no monte Sinai e ali permanece para sempre. É mister chorar com os que choram. As bofetadas são desafios que merecem resposta.
Algumas obras notáveis foram realizadas por pessoas que conviveram com as bofetadas e sentiram na carne a dor e a humilhação que elas produzem. Por causa dessa humanização, tais pessoas entenderam os dramas que afligem os homens e deram a vida para diminuir o sofrimento. Cálice sempre cheio A associação entre grandezas e bofetadas é necessária para manter o equilíbrio. Se até aqui dissemos que as bofetadas são bem-vindas, queremos deixar claro que as grandezas também o são. Por meio delas você se abastece, aprofunda-se, capacita-se, enche-se, transborda-se, recupera-se, alegra-se, anima-se e refaz-se.
Aqui no vale o desgaste é enorme. Desgaste com as tentações da carne e com as ciladas do diabo. Desgaste com a estrutura corrompida e com as violações da lei de Deus. Desgaste com a hipocrisia, a cerviz dura e a loucura dos homens. Desgaste com a injustiça, a opressão e o ódio assentados em cada coração. Desgaste com a incredulidade, a zombaria e a oposição dos que se perdem. Desgaste com a inveja, o ciúme e a maldade. Desgaste com a dor física, a doença e a morte. Paulo fala em desgaste em prol das almas dos que se salvam (2Co 11.28, 12.15). E Jesus fornece uma boa ilustração do desgaste no vale -- quando a mulher por doze anos portadora de uma hemorragia incurável, com a qual gastara todos os seus haveres, tocou nele e foi instantaneamente curada, Jesus declarou: “Alguém me tocou, porque senti que de mim saiu poder” (Lc 8.46).
Muita gente se esquece dos gastos com as bofetadas e não separa tempo para as grandezas. Assim não é possível sobreviver!
Fonte: http://www.ultimato.com.br