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postado em: 20/10/2014
A Igreja, o Estado e a Política Introdução Jesus Cristo, Nosso Senhor, disse que as coisas de César, são de César, e as coisas de Deus, são de Deus. Logo, não devem ser misturadas, nem sequer confundidas. Portanto, o cristão pode e deve ser um bom patriota, sem violar os seus princípios de cidadania celestial. S. Mat. 22:17-21 – “... Dai, pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus...”. Rom. 13:1-3 – “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por Ele instituídas. Por isso, quem resiste à potestade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação...”. Atos 5:27-29 – “... Porém, respondendo Pedro e os demais apóstolos, disseram: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens”. Estas passagens Bíblicas nos apresentam os princípios que devem reger a nossa conduta em relação ao Estado. O assunto da política tem sido muito polêmico em nosso meio. Não raras vezes, e ultimamente com muita freqüência, vários membros têm se enveredado por esse difícil e astucioso caminho: o caminho da política. Por isso, senti que seria muito oportuno tratar desta questão muito importante de nosso relacionamento como Igreja com o Estado e as questões políticas. Nós somos uma Igreja Mundial e, no contexto de nossa história denominacional, temos sido muito cautelosos no trato com as questões de ordem política. Temos tido sempre uma posição bem definida neste assunto. Mas mesmo assim, aqui e ali se tem cometido algumas imprudências em nosso meio. Por isso, são oportunas algumas perguntas que tentaremos responder nesse estudo: Qual é a fronteira entre a Igreja e o Estado? Qual deve ser a postura da Liderança da Igreja em questões políticas? Qual deve ser a atitude dos membros em questões políticas com relação à Igreja? Como deve ser nossa atitude quanto ao voto? Qual deve ser a posição do membro da Igreja que aspira a carreira política? A Igreja e o Estado: Fronteiras e Limites Primeira Pergunta: Qual é a fronteira entre a Igreja e o Estado? S. Mateus 22:21 – “... Dai, pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Os judeus sempre estavam tentando Cristo com seus ardis, queriam fazer-lhe comprometer-Se em alguma questão. Trouxeram-lhe uma moeda e perguntaram se era lícito pagar tributo a César, Imperador Romano. O que foi que disse Cristo ao olhar aquela inscrição? “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mat. 22:21). Aqui estavam enunciados dois princípios eternos e imutáveis: a) Um de ordem transcendental – “Dar a Deus...” o que a Deus pertence. (Maldito o homem que ousar desobedecer este princípio). b) Outro de ordem temporal – “Dar a César...” o que a César pertence. Cada um desses tem o seu lugar, a sua hora e a sua esfera claramente distintas – delimitadas. Aqui estavam as fronteiras demarcadas sem litígios, misturas, sincretismos ou confusão de qualquer espécie. Assim, Jesus deixou bem claro que nenhuma amizade comprometedora deve haver entre a Casa de César e a Casa de Deus. Mas, se Cristo, Nosso Senhor, foi tão claro em afirmar que a Casa de César estava em Roma e a Casa de Deus em Jerusalém, como se aventuram ainda hoje os homens em confundir o palácio de César com o Santuário de Deus? Pois se o Mestre disse que César era César e Deus era Deus; que o profano era profano e o sagrado era sagrado, como chegaram os homens a ponto de colocar César no santuário de Deus e Deus no palácio de César, misturando o santo com o profano e o profano com o santo? Dou graças a Deus por não existir em nossa Igreja esta confusão sincrética e profana. E enquanto ela se posicionar assim, continuará sendo a Igreja de Deus. Mas há alguma coisa ainda a se tratar com respeito aos dois princípios estabelecidos por Cristo: é que o lugar de Deus está acima do lugar de César a obediência a Deus está acima da obediência a César. Em Romanos 13:1-3, Paulo recomenda que os cristãos obedeçam às autoridades constituídas, porque elas procedem de Deus, de modo que, opondo-se a elas, os cristãos estariam resistindo a Deus. V. 7 – Ordena: “Pagai a todos o que lhes é devido; a quem honra, honra; a quem tributo, tributo; a quem respeito, respeito”. O apóstolo Pedro faz a mesma recomendação em sua carta (I S Pedro 2:13-17). Entretanto sabemos que o rei de que estava falando era Nero, o terror dos cristãos. A honra, o respeito e a obediência da qual falam os apóstolos, às autoridades e ao rei, estavam dentro da esfera de César, como ensinara Cristo, dentro dos limites terrestres. Todavia, os direitos de Deus nunca deveriam ser violados, pelos direitos de César. Isso ficou bem claro na Igreja Primitiva, quando o Sinédrio Judeu proibiu terminantemente que os cristãos pregassem a doutrina de Jesus, crucificado, ressurreto e assunto ao Céu. Naquela ocasião Pedro falou: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (Atos 5:29). “Cumpre-nos reconhecer o governo humano como uma instituição designada por Deus, e ensinar obediência ao mesmo, como um dever sagrado, dentro de sua legítima esfera. Mas, quando as suas exigências se chocam com as reivindicações de Deus, temos que obedecer a Deus, de preferência aos homens”. – Atos dos Apóstolos, pág. 69. A Liderança da Igreja e a Política Segunda Pergunta: Qual deve ser a postura da liderança da Igreja em questões políticas? “Ninguém pode servir a dois senhores...” (Mat. 6:24). Daqui se extrai a seguinte definição: Quem trabalha para Deus, não tem condições de trabalhar – simultaneamente, ao mesmo tempo – para César. “Os mestres, na Igreja ou na Escola, que se distinguem por seu zelo na política, devem ser destituídos sem demora de seu trabalho e suas responsabilidades. O dízimo não deve ser empregado para pagar ninguém para discursar sobre questões políticas. Todo mestre, ministro ou dirigente em nossas fileiras que é agitado pelo desejo de ventilar suas opiniões sobre questões políticas, deve-se converter pela crença na verdade, ou renunciar sua obra.” – Obreiros Evangélicos, pág. 393. Dou graças a Deus, também, porque os ministros e obreiros de nossa Igreja, não têm se envolvido com esta questão. E, se alguém chegou a fazer isto, dará contas a Deus... Os Membros da Igreja e a Política Terceira pergunta: Qual deve ser a atitude dos membros em questões políticas na Igreja? “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. (Mat. 22:21). “Que sociedade pode haver entre a justiça e a iniqüidade?” (II Cor. 6:14). Fora dos arredores sagrados da Igreja, o membro é livre para expressar, com responsabilidade, suas opiniões pessoais quanto às questões políticas, partidárias ou assuntos co-relacionados. Mas, dentro da Igreja ou em seus arredores, e mesmo em algum outro lugar onde nos reunimos como Igreja para tratar de assuntos espirituais, nenhuma opinião pessoal ou grupal deve ser emitida. “Existe entre os que professam crer na verdade presente alguns que serão incitados a exprimir seus sentimentos e suas preferências políticas, de maneira que se introduzirá na Igreja divisão”. – Fundamentos da Educação Cristã, pág. 475. “Por mais de uma vez Cristo foi solicitado a decidir questões políticas e jurídicas; mas, recusava-se interferir em assuntos temporais... Ele ocupava no mundo o lugar de cabeça do grande Reino Espiritual para cujo estabelecimento aqui viera...” – Obreiros Evangélicos, pág. 396. Os cristãos “não devem gastar seu tempo a falar de política e agir em favor dela; pois, assim fazendo dão oportunidade ao inimigo penetrar e causar discórdias...” – Fundamentos da Educação Cristã, pág. 483. “Não devemos como um povo envolver-nos em questões políticas...” – Mensagens Escolhidas vol. II pág. 336. A Questão do Voto Quarta pergunta: Qual deve ser nossa atitude quanto ao voto? “Dai a César o que é de César” (Mat. 22:21). Este é o princípio básico. O ato de votar fere nosso relacionamento com Deus? Não, trata-se de um dever de cidadania! É o ato de dar a César o que lhe pertence. É uma obrigação da cidadania terrestre e nada interfere em nosso relacionamento de cidadania celeste. Estava Cristo diante do tribunal de Pilatos quando falou estas palavras: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam por mim os meus servos” (João 18:36). Aqui temos o seguinte silogismo: 1o) O Reino do cristão é o Reino de Cristo 2o) O Reino de Cristo não é deste mundo. 3o) Logo, o Reino do cristão não é deste mundo. Se o reino do cristão não é o reino deste mundo, por que razão vai ele porfiar, discutir e defender o reino dos homens? Ou não se lembram mais os cristãos que Abraão “peregrinou na Terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas... porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o Artífice e Construtor?” (Heb. 11:9-10). É dentro deste princípio que o cristão deve cumprir seu dever de cidadania. Deve votar, porque este é seu dever como cidadão da pátria terrestre, mas enterrar as questões políticas. Padrão Para Determinação do Voto “Mantende secreto o vosso voto. Não acheis ser o vosso dever insistir com todo o mundo para fazer como fazeis”. – Mensagens Escolhidas, vol. II p. 337. “Primeiro falou Tiago, depois J.N. Andrews e foi por eles julgado melhor pela sua influência a favor do direito e contra o erro. Eles acham que é direito votar em favor dos homens defensores da temperança governar em nossa cidade, em vez de, por seu silêncio, correr o risco de serem eleitos homens intemperantes”. – Ibidem. “Ao passo que não devemos de maneira alguma nos envolver em questões políticas, é, contudo, nosso privilégio tomar decididamente posição em todas as questões relativas à reforma pró-temperança”. – Temperança, pág. 253. “Não podemos com segurança tomar parte em nenhum plano político. Não podemos trabalhar para agradar a homens que irão empregar sua influência para reprimir a liberdade religiosa, e por em execução medidas opressivas para compelir seus semelhantes a observar o Domingo como Sábado... O povo de Deus não deve votar para colocar tais homens em cargos oficiais pois, assim fazendo, são participantes nos pecados que eles cometem enquanto investidos desses cargos”. – Obreiros Evangélicos, pág. 392. Nos textos a cima citados, fica entendido que o cristão não deve se apaixonar por partidos políticos, nem defender uma bandeira partidária. O cristão deve, com critérios, buscar homens de caráter que possam exercer seu mandato o mais próximo possível dos princípios divinos, isso independente de partidos políticos. Creio que aqui está o padrão de escolha para darmos nosso voto. O Membro e a Política Como Carreira Profissional Quinta pergunta: Pode um cristão adventista ser político? Qual deve ser a posição de um membro da Igreja que aspira a carreira política? Para responder estas perguntas, vamos recorrer a duas fontes básicas: A Bíblia e o Espírito de Profecia. A – Na História Bíblica Olhando a galeria dos estadistas Bíblicos, encontramos duas classes no Velho Testamento: os bons e os maus exemplos. Na lista dos bons exemplos encontramos: José, governador do Egito, na dinastia dos Hicsos. Davi e Salomão, reis de Israel, num sistema Teocrático. Josafá, Ezequias e Josias, reis de Judá, também num sistema Teocrático. Daniel e seus três amigos na corte Babilônica. Ester, como rainha entre os Medo-Persas. Note que todos foram colocados circunstancialmente ou providencialmente. Nenhum buscou glória para si, mas Deus buscou cumprir neles Seu propósito. Eles foram colocados por Deus para realização de uma obra em favor de Seus filhos e de uma sociedade que, de outra forma, seria subjugada por políticos maus e sem temor ao Criador. Na lista dos reis que deixaram maus exemplos, não dá nem para se enumerar, mas conforme o Padre Antônio Vieira comenta no seu balanço da História de Israel, temos o seguinte: “Na história do Povo Hebreu houve três reinos”: O primeiro foi o reino das 12 tribos. Teve três reis e durou 120 anos. O segundo foi o reino de Judá. Teve 20 reis e durou 394 anos. O terceiro foi o reino de Israel. Teve 19 reis e durou 242 anos. Saibamos agora quantos reis se salvaram e quantos se perderam nestes reinos: No reino das 12 tribos: Dos três reis, perdeu-se Saul e se salvaram Davi e Salomão. No reino de Judá: De 20 reis, salvaram-se 5, perderam-se 13 e dois não se têm toda luz sobre seus destinos. No reino de Israel: Foram 19 reis no trono, e todos 19 se perderam. Foram 19 os reis e todos foram ímpios. – Os sermões de Vieira, pág. 122. “Por certo que não foi por falta de doutrina, nem de auxílios; tinham estes reis conhecimento do verdadeiro Deus; tinham o templo, tinham sacerdotes, tinham sacrifícios, viam milagres, ouviam profecias, recebiam favores do céu e quando era necessário, não lhes faltavam também castigo, e nada disto bastou”. – Ibidem. “Oh! Desgraçados cetros! Oh! Desgraçadas coroas! Oh! Desgraçados pais! Oh! Desgraçada descendência! Desde Jeroboão até Oséias dezenove reis coroados! (E no juízo final) dezenove reis condenados”. – Ibidem. No Novo Testamento também temos exemplos de homens cristãos que ocuparam cargos públicos importantes: Erasto, tesoureiro da cidade de Corinto – Rom. 16:23. Sérgio Paulo, procônsul de Chipre – Atos 13:4-12. Etíope, funcionário da rainha de Candace. Zaqueu era coletor de impostos. Cornélio, centurião da Corte Italiana. O Novo Testamento não estimula, mas também não condena. Deixa a critério de cada um decidir por si mesmo (ver: I Ped. 2:11). B – Na Igreja Adventista do 7o Dia Qual tem sido a postura da Igreja Adventista? Condena ou absolve? A mim me parece que tem assumido a mesma posição da Bíblia. Nem estimula, nem condena. É uma questão muito pessoal. Todavia, temos alguns trechos do Espírito de Profecia que nos dão uma clara idéia da livre escolha pessoal. Vejamos: “Seja qual for o trabalho que os pais considerem apropriado para seus filhos, quer desejem que eles se tornem, industriais, agricultores, mecânicos ou que adotem alguma outra carreira profissional, tirariam grande proveito da disciplina de um curso de estudos... Por meio da compreensão das verdades da Bíblia, estarão mais bem habilitados a ocupar posições de responsabilidades. Serão fortalecidos contra as tentações que irão assediá-los por todos os lados. Se estiverem, porém, completamente instruídos e consagrados, poderão ser chamados como Daniel, a ocupar importantes responsabilidades. Daniel foi um fiel estadista nas cortes Babilônicas...” – Fundamentos da Educação Cristã, pp. 204-205. Em 15 de novembro de 1883, em um discurso aos estudantes do Colégio Adventista de Batlle Creek, E. G. White proferiu as seguintes palavras: “Queridos jovens, qual é a meta e o propósito de vossa vida? Ambicionais uma educação para ter nome e posição no mundo? Tendes o pensamento que não vos atreveis a expressar, de estar algum dia lá em cima da grandeza intelectual; de sentar-se nas assembléias legislativas e deliberando, ajudar a ditar leis para a nação? Não há nada de mal nestas aspirações... Cada um de vós podeis chegar a distinguir-se. Como discípulo de Cristo, não se vos priva empreender ocupações temporais, porém devereis levar convosco vossa religião. Qualquer que seja a empresa para a qual vos preparareis, não abrigueis a idéia de que não tereis êxito nela, sem sacrificar os princípios. Equilibrados pelo princípio religioso, podeis ascender à altura que desejardes”. – Mensagem aos Jovens, pp.36-37. Aqui está a essência da dificuldade: ‘Ser tão fiel aos princípios, como a bússola o é ao pólo; ser tão firme como o aço.’ – Conselho Sobre Saúde, pág. 271. Conclusão Devemos obedecer às leis governamentais, até quando não se chocarem com a Lei de Deus (Atos 5:29). A liderança da Igreja (Pastores, Professores e Administradores), jamais deve se envolver em questões políticas. A Igreja como um corpo, jamais deve assumir, defender ou promover questões político-partidárias. Votar é um dever de cidadania e deve ser secreto. O padrão para a escolha do voto, deve ser votar em alguém que seja defensor da liberdade religiosa e dos nossos princípios de saúde e temperança. A escolha jamais deveria ser por partidos políticos, mas por homens de caráter nobre e defensores dos princípios de temperança. O membro como indivíduo, é livre para decidir ocupar um cargo político, desde que seja firme aos princípios de sua Igreja, que são os princípios da Bíblia e do Espírito de Profecia. Que Deus nos abençoe como Igreja, a permanecermos firmes em Cristo, e unidos em um só Corpo. Amém! Autor: Pr. Wellington Will
E-mail: [email protected]
[Artigo postado originalmente em: 4/7/2008]