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postado em: 14/7/2013
Homocracia totalitária
Eguinaldo Hélio de Souza
Um conhecido site de compartilhamento na internet possui cerca de 34 milhões de arquivos. São textos, vídeos, áudios, imagens, programas de todas as naturezas. Dificilmente um tema não será encontrado ao ser digitado em seu sistema de buscas. Entretanto, se você inserir a palavra “homossexualismo” nada encontrará dentro de seus inúmeros arquivos. Se, pelo contrário, inserir “homofobia”, uma enxurrada de informações estará a seus dispor.
A questão é porque uma palavra há pouco tão comum em nossa cultura desapareceu tão completamente e um vocábulo recém criado tomou o seu lugar? Quem é responsável por essa mudança? Que intenções existem por trás desse procedimento? Quais as implicações de tal fato? Essa mudança vocabular tem conseqüências maiores?
Na verdade, tais fatos são sintomáticos. Estão indicando uma mudança cultural significativa. Não necessariamente uma mudança natural do pensamento da sociedade e sim uma alteração imposta. A questão semântica envolvida está fundamentada em decisões e atitudes ditatoriais que não abrem espaço para o debate e não permitem discordâncias.
Os leitores do livro “1984” de George Orwell com certeza estarão bem familiarizados como essa manipulação da linguagem. Eles sabem que não se trata de mudar vocábulos, mas de manipular pensamentos e distorcer conceitos. A ditadura fictícia criada por Orwell era baseada em fatos históricos. Qualquer semelhança não era mera coincidência.
Ao dar às palavras um sentido diverso do que elas tinham, a mente era forçada a se contradizer. Era a novilíngua servindo de instrumento de dominação. A supressão de certas palavras tinha a finalidade de suprimir idéias ligadas à elas. A criação de novas palavras inseria as idéias que os dominadores queriam inculcar na mente de ouvintes e leitores, mesmo sem seu consentimento.
No romance de orwelliano, o Miniamor, ou Ministério do Amor, torturava os discordantes. O Minipaz, ou Ministério da Paz, criava e fomentava a guerra. E o Minifartura, ou Ministério da Fartura, controlava a distribuição de alimentos criando artificialmente a carência e a fome. É fácil entender o quanto essa distorção realidade-palavra era importante para o domínio e controle. O trecho abaixo mostra o protagonista ouvindo a explicação a respeito da manipulação das palavras. Foi reduzido por questão de espaço, mas é suficiente para nos fazer entender a seriedade do assunto:
- Estamos dando à língua a sua forma final - a forma que terá quando ninguém mais falar outra coisa. Quando tivermos terminado, gente como tu terá que aprendê-la de novo. Tenho a impressão de que imaginas que o nosso trabalho consiste principalmente em inventar novas palavras. Nada disso! Estamos é destruindo palavras - às dezenas, às centenas, todos os dias. Estamos reduzindo a língua à expressão mais simples. (...)
- É lindo, destruir palavras. Naturalmente, o maior desperdício é nos verbos e adjetivos, mas há centenas de substantivos que podem perfeitamente ser eliminados. Não apenas os sinônimos; os antônimos também. Afinal de contas, que justificação existe para a existência de uma palavra que é apenas o contrário de outra? (...)
- Não vês que todo o objetivo da Novilíngua é estreitar a gama do pensamento? No fim, tornaremos a crimidéia [idéia contrária aos desejos da ditatura] literalmente impossível, porque não haverá palavras para expressá-la. Todos os conceitos necessários serão expressos exatamente por uma palavra, de sentido rigidamente definido, e cada significado subsidiário eliminado, esquecido. (...) Cada ano, menos e menos palavras, e a gama da consciência sempre um pouco menor. Naturalmente, mesmo em nosso tempo, não há motivo nem desculpa para cometer uma crimidéia. É apenas uma questão de disciplina, controle da realidade. Mas no futuro não será preciso nem isso. A Revolução se completará quando a língua for perfeita. (...) Mudarão as palavras de ordem. Como será possível dizer "liberdade é escravidão” se for abolido o conceito de liberdade? Todo o mecanismo do pensamento será diferente. Com efeito, não haverá pensamento, como hoje o entendemos. Ortodoxia quer dizer não pensar... não precisar pensar. Ortodoxia é inconsciência.
É fácil perceber o perigo por trás das mudanças. Mudam-se as palavras para que as consciências sejam mudadas. Para um exemplo prático e histórico desse tipo de manipulação ideológica basta lembrar que “limpeza étnica” era o termo técnico usado pelo nazismo ao queimar, asfixiar e matar por tortura milhões de judeus. Por trás do eufemismo se escondiam ações diabólicas. As ditaduras não sobrevivem sem manipular o sentido das palavras.
Homossexualismo X Homofobia
A palavra homossexualismo foi exorcizada por uma ditadura gay incipiente que alegou ser o sufixo “ismo” um indicador de doenças. Usá-la significaria atribuir uma enfermidade ao praticante. Entretanto, esse é um preconceito contra o sufixo. Ele tem inúmeros significados que nada têm haver com doença. Podemos citar:
* Doutrinas ou sistemas: realismo, positivismo, fascismo, budismo;
* Modo de proceder ou pensar: heroísmo, servilismo;
* Forma peculiar da língua: galicismo, neologismo;
* Na terminologia científica: daltonismo, reumatismo.
De acordo com o dicionário, ismo, é um sufixo de origem grega e indica origem, crença, escola, sistema, conformação. Ou seja, palavras com essa terminação indicam que uma ideologia é seguida, que existe algo consolidado como regra ou, pelo menos, que se acredita ser uma regra. Assim temos o positivismo, catolicismo, presidencialismo, helenismo, jornalismo, etc. Meu jornalismo opinativo não é uma doença com toda certeza.
Mas que dizer da palavra homofobia?
Homofobia sim traduz a idéia de doença. Não é simplesmente um medo, mas um medo irracional e mórbido. Quando aplicado a qualquer pessoa que discorde da prática sexual entre pessoas do mesmo sexo, torna esse um doente. E mais. Além desse sentido de doença, foi acrescentado a ele o sentido de ódio e de um modo tão vil que para ser homofóbico, basta discordar. Então o indivíduo automaticamente se torna um doente e criminoso que odeia os praticantes da homossexualidade. Em um simples jogo de palavras, tudo vira de ponta cabeça.
Homossexualidade X Homoafetividade
Uma das maiores demonstrações de manipulação mental e social através da mudança de vocabulário está presente na substituição da palavra homossexualidade por homoafetividade. Foi feito como se ambas fossem sinônimos, quando na verdade são conceitos bem diferentes.
Homossexualidade (grego homos = igual + latim sexus= sexo) refere-se ao atributo, característica ou qualidade de um ser — humano ou não — que sente atração física, emocional e estética por outro ser do mesmo sexo. Como uma orientação sexual, a homossexualidade se refere a "um padrão duradouro de experiências sexuais, afetivas e românticas principalmente entre pessoas do mesmo sexo";
Homoafetividade por seu turno se refere pura e simplesmente à manifestação de afeto, ou seja, carinho e amor, por uma pessoa do mesmo sexo.
Ora, a homoafetividade ocorre entre pai e filho, entre mãe e filha, entre irmãos, parentes ou mesmo amigos do mesmo sexo sem que esteja presente qualquer prática sexual. Seria absurdo pensar tal coisa. Afeto eu tive por meu pai e o tenho naturalmente por meu filho. Todavia, praticar sexo com eles seria horrendamente impensável. Transformar em sinônimos essas duas palavras é um crime contra a consciência e contra a verdade.
Afeto é bonito e terno, expressa o sentimento de amor que Deus deu ao homem. Igualá-lo a uma prática condenada ao longo da história por meio de uma troca de palavras é um abuso que já devia há muito ter sido denunciado.
Esse jogo de palavras causa muita confusão. Há casos de jovens que se consideram homossexuais, sem nunca ter tido qualquer relação sexual com pessoa do mesmo sexo. Consideram que o fato de terem grande amizade e apreço por alguém do mesmo sexo já os classifica desse modo. A verdade é que nada é ao acaso. Tudo é friamente calculado. A intenção é confundir.
Homocracia X Democracia
Somos uma democracia, ao menos oficialmente. Em uma definição simplista, governo do povo, pelo povo, para o povo. Como o consenso é impossível, vence a maioria. A vitória de uma minoria agride o sentido da palavra “democrático”.
A maioria do povo brasileiro aprovaria a PLC 122/06? Aprovaria o “kit-gay” nas escolas? Se fosse lhe dado chance, aprovaria a decisão recente do STF de união estável para os homossexuais? Aceitariam a mordaça que da lei de homofobia que criminaliza qualquer pessoa que discorde deles por questões religiosas e de consciência? É óbvio que não. Bastaria um plebiscito para oficializar o que já dizem as enquetes. Se fosse dada uma chance verdadeira do povo se manifestar, com certeza as verbas estatais milionárias e absurdas que as paradas gays e outras atividades do gênero seriam cortadas imediatamente.
Contudo, inúmeras decisões sérias têm sido tomadas em nome de uma minoria contra uma maioria. Uma aristocracia homossexual tem assumido decisões, utilizado verbas públicas, criminalizando pessoas descentes para justificar suas escolhas abomináveis.
Sob a desculpa de um governo laico qualquer padrão moral é taxado de fanatismo religioso. Sim, a população brasileira é cristã, de alguma forma, em sua maioria. E porventura seu cristianismo invalida sua opinião? Pagar imposto pode. Exprimir sua opinião, não pode. Desde quando o laicismo estatal desconsidera um povo por suas crenças? Como já disse alguém, leis ruins são o pior tipo de tirania. Não é esse o nosso caso? A verdade é que os ativistas gays não querem apenas direitos. Eles querem poder.
Erótico versus espiritual
Termino com um texto de A.W. Tozer, um profeta, que como todos os profetas soube captar a essência de seu tempo e expô-la à luz de Deus. O que ele escreveu há cinqüenta anos mostra sua percepção do verdadeiro conflito que enfrentamos:
O período em que vivemos bem pode passar à história como a Era Erótica. O amor sexual foi elevado à posição de culto. Eros tem mais cultuadores entre os homens civilizados de hoje do que qualquer outro deus. Para milhões o erótico suplantou completamente o espiritual. (...)
Pois bem, se esse deus nos deixasse a nós, cristãos, em paz, eu por mim deixaria em paz o seu culto. Toda a sua esponjosa e fétida sujeira afundará um dia sob o seu próprio peso e será excelente combustível para as chamas do inferno, justa recompensa recebida, e que nos enche de compaixão por aqueles que são arrastados em sua ruinosa voragem. Lágrimas e silêncio talvez fossem melhores do que palavras, se as coisas fossem ligeiramente diversas do que são. Mas o culto de Eros está afetando gravemente a igreja. A religião pura de Cristo que flui como rio cristalino do coração de Deus está sendo poluída pelas águas impuras que escorrem de trás dos altares da abominação que aparecem sobre todo monte alto e sob toda árvore verde. A.W. Tozer, Erótico versus Espiritual.
Resista verbalmente
Se vamos resistir, resistiremos a partir da linguagem. Os cristãos jamais devem utilizar a palavra “homoafetivo” ou “homoafetividade”. Chame pelo nome verdadeiro – homoerótico ou homossexual. Quando o acusarem ou acusarem alguém de homofóbico, pergunte o que significa isso. Medo de homossexuais? Ódio a homossexuais? Absolutamente não temos. Apenas reprovamos o que a Bíblia reprova.
A mídia já está popularizando a expressão “casal heterossexual”. Essa expressão faz tanto sentido quanto água molhada e fogo quente. Qualquer criança sabe e qualquer dicionário confirma que um casal é macho e fêmea. Desde sempre, em qualquer cultura, em qualquer escrito, religiosos ou não, um casal foi macho e fêmea. Agora porque alguns querem realizar suas práticas sexuais sem serem criticados, subvertem milênios da história humana, não poupando a própria linguagem. Não importa o que duas pessoas do mesmo sexo façam, não importa o que digam, não importa nem mesmo o que outros dirão sobre isso. Eles jamais serão um casal.
Publicado originalmente na Revista Apologética Cristã nº 11.
Fonte: www.juliosevero.com