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postado em: 14/11/2008
A Origem do Catolicismo Romano “Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá falsos mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias destruidoras, negando até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição” (II Pedro 2.1). Nos primeiros tempos da Igreja de Jesus, surgiu o grupo dos judaizantes, crentes de origem judaica. Eles não concordavam com a simplicidade e facilidade para a obtenção da salvação e queriam exigir que todo aquele que quisesse aceitar o evangelho devesse, antes, tornar-se judeu. Esta foi a primeira dificuldade com que se depararam os apóstolos. Então estes marcaram uma reunião em Jerusalém, a fim de deliberar sobre a questão. Estiveram presentes alguns discípulos de Jesus, com destaque para Pedro e Tiago, e também os missionários que trouxeram a má notícia dos lugares por onde tinham passado. Tiago, o pastor da primeira igreja local, tomou a palavra e presidiu a reunião. Decidiram por votação enviar cartas de esclarecimento: “Mas cremos que somos salvos pela graça do Senhor Jesus, do mesmo modo que eles também. (...) Por isso, julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus, mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue” (At 15.11,19,20). Depois, os crentes começaram a ser perseguidos. Primeiro pelas autoridades judaicas. Houve proibições, prisões e mortes. Muitos tiveram de fugir de Jerusalém, e assim iam levando as mensagens do evangelho em suas pregações por onde passavam. Cláudio, o quarto imperador romano, expulsou os judeus que residiam em Roma, e como no princípio não havia muita distinção entre judeus e cristãos, estes também foram expulsos (Atos 18.2). Quase todos os imperadores romanos impuseram terríveis perseguições aos crentes. Não obstante, as congregações proliferavam, seu número multiplicava-se grandemente. Em meados do século III, houve o primeiro rompimento sério entre os cristãos, decorrente da introdução do batismo de crianças. O incidente foi denominado “desfraternização” e depois disso nunca mais houve unidade entre eles, O grupo que queria manter a pureza dos ensinamentos não aderiu à novidade. Contudo, toleravam-se mutuamente, por serem vítimas dos mesmos algozes, os imperadores romanos. Em 313 já era grande a distância que os separava, e, como era de esperar, os judaizantes, que jamais cederam em suas malévolas intenções, aproveitaram-se da oportunidade de discórdia. Por essa época, o Imperador Constantino estava em guerra contra Maxêncio e aproveitou o ensejo para engrossar as fileiras de seu exército propondo, primeiro, um ato de tolerância e, depois, acenando com promessas mais tentadoras, como cargos públicos e até a aliança Estado-Igreja. Astuto, o general disse que viu uma cruz no céu com a inscrição “In hoc signo vinces” (“Com este sinal vencerás”). É de supor a alegria de alguns crentes nominais ao saberem que não seriam mais perseguidos, que poderiam galgar cargos públicos, que seriam chamados de amigos do imperador. Ainda estavam vivas na memória daquele povo as lembranças das atrocidades de Nero, aproximadamente desde o suplício do apóstolo Paulo, e tais lembranças continuaram vívidas através dos séculos. Aos cristãos atribuíam-se quaisquer calamidades, por mais insignificantes que fossem. Eram motivo de suspeita popular, denunciados, transformados em objeto de ódio, lançados às feras, crucificados, queimados vivos, cobertos com peles de animais e lançados na arena para serem despedaçados pelos cães. Muitos, não resistindo aos sofrimentos, denunciavam os irmãos, que eram em seguida presos e supliciados. Disso resultou um grande número de crentes fiéis. Mesmo sob as mais terríveis perseguições, mantinham-se incontaminados pelo mundo. Mas, cessadas as perseguições, houve um enfraquecimento espiritual, o que facilitou o entrosamento dos cristãos daquela época com o paganismo; por fim, os judaízantes sobrepuseram-se aos irmãos. O Estado pagão nunca exigiu de seus súditos obediência à religião oficial. Portanto, para os pagãos, tanto fazia permanecer no paganismo como no cristianismo. A conversão é uma questão de foro íntimo. Todo um império não se poderia converter por uma decisão política. Assim, com o ato de tolerância de Constantino, as igrejas encheram-se de ímpios. Eram cristãos nominais. Cristãos porque o Estado o era, mas continuaram com os seus ídolos, seus costumes, suas cerimônias pagãs. A Igreja de Jesus encheu-se de idolatria, doutrinas errôneas, ritos e superstições. A religião cristã tornou-se corrupta, e a Igreja perdeu a sua pureza. “Sempre tem havido duas classes entre os que professam ser seguidores de Cristo. Enquanto uma estuda a vida de seu Salvador e se esforça por viver uma vida digna, a fim de conformar-se com o seu Modelo, a outra evita claramente a boa prática e não se incomoda com o erro”. Os da primeira classe, naturalmente, não aderiram às benesses de Constantino, e por isso foram marginalizados; os da outra classe, aproveitando-se da situação, tornaram-se, com o tempo, ferrenhos inimigos e perseguidores dos fiéis, como se verá adiante. Constantino era um visionário, um sanguinário. Quando pensou em mudar a capital do império para Bizâncio, espalhou o boato de que tinha sido ordenado, num sonho, a “transformar a matrona decrépita numa rapariga na flor de sua beleza”, no intuito de valorizar a nova cidade; quando precisou de reforço para a guerra contra Maxêncio e Licinio, disse ter visto no céu a cruz do cristianismo vencedor. Com o Edito de Milão, em 313, deu liberdade de culto e, como autoridade máxima, passou a ser o chefe da Igreja. Era costume entre os pagãos que o imperador fosse o sumo pontífice. Todos os imperadores pagãos, desde Júlio César, recebiam esse título, mais tarde transferido para o papa. Roma era considerada a capital do politeísmo, pois, desde a sua fundação, tinha acolhido uma série de tradições pagãs que a prendiam não só às vitórias das armas, mas também ao orgulho de seus dias de esplendor. De todas as partes do mundo vinham pessoas impregnadas de suas tradições pagãs. Como poderia o catolicismo medrar, engrossando suas fileiras com pessoas dessa classe, não convertidas, sob a direção de um chefe poderoso, sanguinário e não convertido? Aconteceu o que seria natural: com as vantagens materiais, começaram as bajulações. Sacerdotes do culto pagão, sem a unção do Espírito Santo, passaram a exercer o ministério cristão. Templos pagãos eram usados para o “culto cristão”. Diz-se até que a estátua de São Pedro que hoje se venera no Vaticano é a de Júpiter Tonante. Um dia, ao ouvir um sacerdote bajulador “num desses panegíricos ditados aos literatos pela pusilanimidade e tolerado pela imprudência dos imperadores, pregar que Constantino, depois de ter dominado gloriosamente sobre os homens, subiria ao céu para reinar ao lado do Filho de Deus, interrompeu exclamando: “Deixa--te de lisonjas intempestivas; não tenho necessidade de teus elogios, mas sim de tuas orações”. Conformado à doutrina que tinha abraçado, derrogou a lei contra o celibato, isentou o clero de todos os serviços públicos e de todo emprego oneroso, restringiu a faculdade de se divorciar. Por essa ocasião nasce o catolicismo do grego katholikós, termo até então aplicado ao cristianismo e que significa “universal” como era o Império Romano. Foi com o Concílio de Nicéia de 325 que surgiu o catolicismo romano, com as mazelas do paganismo. sumo pontífice, então, como já dito, não era o papa, e sim o próprio imperador. (..) Ao passo que o espírito da legislação civil se fazia cristão, a administração do império permanecia pagã. Como dantes, o soberano identificado com o Estado, continuou a possuir uma autoridade sem limites que assegurava os seus vícios de uma imensa influência; os maus costumes não deixaram de reinar na corte, teatro de intrigas (...) as crenças evangélicas foram adulteradas pelo despotismo dos teólogos coroados. Quanto às leis penais, o rapto foi punido por Constantino com extremo rigor: o culpado devia ser queimado vivo ou esquartejado no anfiteatro; se a vítima declarasse ter consentido no rapto, também era submetida ao suplício; os escravos convencidos de cumplicidade eram queimados vivos ou se lhes deitava chumbo derretido pela garganta, e nenhum crime prescrevia pelo decurso do tempo. Os efeitos ainda recaíam sobre a descendência do culpado. A formação militar e o temperamento do imperador levaram-no a atos de crueldade e de avareza, cujos efeitos o cristianismo nele não conseguiu desviar. Com essa impetuosidade, convocou e presidiu o Concilio de Nicéia. Em vez de volverem à pureza do evangelho, da suficiência dos méritos de Cristo para a salvação da humanidade, 318 eclesiásticos discutiram durante dois meses sobre se Cristo é da mesma substância que o Pai ou se é de substância apenas semelhante. É escusado dizer que os crentes que primavam pela pureza do evangelho não compareceram a esse concílio. Quão distantes já estavam esses legalistas judaizantes, pagãos e pseudocristãos das Sagradas Escrituras! Quão distantes estavam de Jesus! Frise-se que o Concílio de 325 foi convocado, presidido e teve suas resoluções impostas pelo imperador porque este temia uma cisão nessa seita, o que, segundo ele, poria em perigo a unidade do império, e essa unidade tinha de ser mantida à força. Em 326, um ano depois do concílio, Constantino vai a Roma para celebrar o vigésimo ano de seu reinado. Por intriga palaciana, manda prender seu filho Crispo, que é logo julgado, condenado e morto pelo próprio pai; matou também o filho de Licínio. Helena, mãe do imperador e avó de Crispo (a Santa Helena da Igreja Católica), profundamente abalada pela morte do neto, revela ao imperador a intriga da madrasta Fausta e diz que ela manteve um romance com alguém, no palácio, na ausência do imperador; o marido traído manda afogar a mulher num banho quente. “Esses fatos, referidos por diversos escritores, não são apoiados por suficientes provas, conquanto pareça que Constantino tirasse partido deles para mandar matar diversos personagens, mesmo entre os seus amigos”. Era essa a situação no início do século IV; esse era o chefe de Estado que acabava de assumir o comando da Igreja. Com tal estado de Coisas, com a enxurrada de pagãos, com o poder do farisaísmo dos judaizantes, com os interesses mundanos em disputa, só se poderia esperar um cristianismo tão irresponsável nos cuidados com a salvação das almas e tão interessado nas glórias mundanas, como o catolicismo romano que sobreviveu. Depois do Concílio de Nicéia de 325, Teodósio convocou o segundo, em 381, em Constantinopla; o terceiro foi Convocado por Teodósio II e por Valentiniano III, em Éfeso; o quarto reuniu- -se na Calcedônia, convocado por Marciano em 451. Leão I era o bispo de Roma nessa ocasião e é considerado o primeiro papa; o quinto concílio foi Convocado por Justiniano e realizado em Constantinopla, pela segunda vez, em 553; o sexto foi também convocado para Constantinopla por Constantino IV, no ano de 680, para condenar heresias. Durante esse concílio, o Papa Honório foi deposto e excomungado (ainda não existia a infalibilidade do papa), e estiveram presentes 174 conciliares o sétimo foi Convocado para se reunir também em Nicéia, em 787, pela Imperatriz Irene, quando o Papa Adriano 1 oficializou o culto das imagens, e reuniu 300 bispos; o Oitavo e último dos concílios convocados por imperadores reuniu-se mais uma vez em Constantinopla, em 869, por determinação de Basílio I. Só nessa data foi reconhecida a primazia do bispo de Roma sobre os demais; os bispos do Oriente não Concordaram com isso, o que ocasionou a grande separação 418 anos depois de Leão 1. Foi o último dos “Concílios do Oriente”. A hierarquia, a Igreja Católica Romana como a conhecemos hoje, é o resultado de um processo lento de modificações a partir dos primeiros dias da Igreja primitiva. Durante os três primeiros séculos, as congregações espalhadas no Oriente funcionavam em corpos independentes e separadas, sem subvenção por parte do governo e, sem qualquer intervenção do poder secular da Igreja sobre o Estado ou vice-versa. Em todo este tempo as igrejas batizavam e, segundo o testemunho dos Pais dos primeiros quatro séculos, até Gerônimo (370 AD), na Grécia, Síria, África, é mencionado um grande número de batismos de adultos, sem a apresentação de ao menos um batismo infantil. As igrejas locais multiplicavam-se muito rápido, umas mais do que as outras, é verdade, mas todas cresciam. Havia a de Jerusalém, a de Éfeso, a de Corinto... Jerusalém foi durante séculos conhecida como a “Igreja-Mãe” e tinha muitos milhares de membros. “De sorte que foram batizados os que receberam a sua palavra; e naquele dia se agregaram quase três mil almas” (At 2.41). A leitura do livro de Atos dos Apóstolos deixa claro que a grande preocupação do apóstolo Paulo era manter as igrejas fiéis ao Novo Testamento. Ele escreveu aos coríntios, aos gálatas, etc, sempre procurando doutrinar e corrigir possíveis erros. Disse: “(...) não me esquivei de vos anunciar todo o conselho de Deus. Cuidai pois de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constitui bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que Ele adquiriu com Seu próprio sangue’ (At 20.27,2 8). Ou, então, o apóstolo Pedro: “Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá falsos mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias destruidoras, negando até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição” (2Pe 2.1,2). Na verdade, essas igrejas tinham muitos pastores (bispos) e pregadores, e alguns deles começaram a usar de uma autoridade que não lhes fora dada no Novo Testamento. Um deles é mencionado pelo apóstolo João: “Escrevi alguma coisa à igreja; mas Diótrefes, que gosta de ter entre eles a primazia, não nos recebe (...) proferindo contra nós palavras maliciosas” (3Jo 9,10). Com os eventos do princípio do século IV, os judaizantes tiveram a oportunidade de lançar mão do cerimonialismo judaico, e a Igreja Católica, com seus paramentos, é prova de que foram introduzidos assim; depois, como a Bíblia dá grande ênfase ao batismo, atribuíram-lhe o poder de regeneração. Ora, se o batismo foi considerado um meio de salvação, quanto mais depressa ele fosse ministrado, tanto melhor seria. Foi mais um passo para o batismo de crianças e para se continuar enchendo as igrejas de não-crentes. Vimos então que os três primeiros grandes desvios foram a função do bispo na Igreja, a regeneração pelo batismo e o batismo de crianças. O batismo, com absoluta certeza, foi o maior motivo para perseguições e derramamento de sangue em toda a história do cristianismo. “Mais de 50 milhões de pessoas sofreram o martírio, principalmente por causa da rejeição da regeneração batismal e do batismo infantil, no período da ‘idade das trevas’, portanto 12 ou 13 séculos. Quanto à supremacia do bispo de Roma sobre os demais, ela na verdade jamais foi aceita pela Igreja do Oriente, tanto que em 869 aconteceu o “grande cisma”. Os decretos do 8.° Concilio Ecumênico, congregado, em 869, na capital do Oriente, evidenciam com inelutável segurança que, ainda vinte e quatro anos depois de forjado o pseudo-Isidoro, não tinha prevalecido no mundo cristão a infalibilidade pontifícia. Dos cânones 13, 17, 21 e 26 vê-se que o último concilio geral do Oriente continuava a dividir a Igreja entre as cinco grandes sés de Roma, Bizâncio, Alexandria, Antíoquía e Jerusalém. Nesse oitavo e último dos concílios convocados por imperadores, sendo bispo de Roma Adriano II, “foi reconhecida a primazia de Roma sobre as demais igrejas”. - Extraído de Alcides Conejeiro Peres, O Catolicismo Romano Através dos Tempos.