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postado em: 6/3/2009
A Criação – Deus é o Criador de todas as coisas e revelou nas Escrituras o relato autêntico de Sua atividade criadora. “Em seis dias, fez o Senhor os céus e a Terra” e tudo que tem vida sobre a Terra, e descansou no sétimo dia dessa primeira semana (Êxodo 20:11). Assim, Ele estabeleceu o sábado como perpétuo monumento comemorativo de Sua esmerada obra criadora. O primeiro homem e a primeira mulher foram formados à imagem de Deus como obra-prima da Criação, foi-lhes dado domínio sobre o mundo e atribuiu-se-lhes a responsabilidade de cuidar dele. Quando o mundo foi concluído, ele era “muito bom”, proclamando a glória de Deus. – Crenças Fundamentais, 6
A história bíblica da Criação é o fundamento indispensável sobre o qual se baseiam todas as demais verdades das Escrituras. É o ponto de partida para tudo o que os crentes afirmam sobre Deus, o mundo e a humanidade. Crer na Criação implica que Deus é o Criador, Senhor e Pai celestial. É um testemunho do mais profundo e essencial relacionamento da humanidade com Deus.
O relato bíblico da Criação tem resistido às investidas, tanto das antigas explanações rivais sobre os primórdios quanto da erosão dos ácidos da modernidade. Sua mensagem é particularmente apropriada na atualidade porque responde ao caos, à irracionalidade, à solidão e ao pessimismo que caracterizam a época contemporânea.
A narrativa bíblica começa com Deus, continua com Deus e termina com Deus. Podemos confiar, pois, se Deus foi a primeira palavra também será a última. O Criador está antes de tudo, acima de tudo e por detrás de tudo. Um cântico paulino que medita sobre Cristo como o agente divino da Criação expressa essa verdade: “Pois, nEle, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a Terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.” Col. 1:16 e 17.
A primeira frase das Escrituras diz que o Criador precede a toda criação. Ele é incriado, eterno e auto-suficiente. Deus não é limitado pela Criação exatamente por ser causa da Criação (Heb. 11:3).
Propósito
Não é por acaso que nas Escrituras o Criador não tem vice, assistente ou rival. Somente Ele é Deus. Na antiguidade, uma multiplicidade de deuses geralmente implicava numa variedade de padrões éticos determinados pelas características específicas de cada divindade. A Bíblia não apenas rejeita o politeísmo mas também seu corolário que é a pluralidade de padrões éticos e valores morais.
A história da Criação implica numa lei para a sociedade e numa ordem pela qual Deus atua. A mesma vontade absoluta que trouxe o mundo à existência, continua a transparecer através de requerimentos absolutos, e não relativos, que protegem o bem-estar e a felicidade dos seres criados. A ação divina é um convite a cada um de nós para demonstrar a obediência, gratidão, amor e confiança a nosso Mestre.
O relato da Criação transmite uma idéia de propósito e planejamento. Os atos criativos de Gênesis 1 são introduzidos pela expressão “Haja” (Gên. 1:3, 6, 9, 11, 14, 20, 24 e 26), a qual expressa volição. Deus claramente planejou Sua Criação e executou-a conforme Sua vontade. Uma simples Vontade (e nenhuma matéria) foi responsável pela existência de tudo.
A história da Criação me assegura que o mundo no qual vivemos resulta de um propósito e nunca de um acaso mecânico. Não estamos à mercê dos caprichos da sorte nem de um destino cego. A Bíblia sublinha a ordem e a unidade racional da existência. Exatamente porque a história da Criação nos conduz a um mundo de relações reais e ordenadas é que podemos nos dedicar à ciência com a finalidade de entendermos a nós mesmos e ao mundo.
A vida tem um objetivo e um significado. Da mesma forma que os dias da semana da Criação transcorreram em direção a um dia diferente de todos os demais, também a vida, afinada com um objetivo, é uma jornada em direção ao descanso e à paz. Gênesis 1 e 2 nos asseguram que estamos sendo conduzidos para algum lugar.
Nossa existência não é determinada por forças incoerentes que se chocam contra todos os esforços de organização. O princípio sobrenatural de nossa existência é o golpe mortal contra a suposição de que o Universo é um sistema fechado, sem causas externas. É também uma garantia do fim cataclísmico prometido nas Escrituras.
É a protologia bíblica (doutrina a respeito dos começos) que garante a escatologia bíblica (doutrina a respeito do fim). O Éden perdido se tornará no Éden restaurado. Há, portanto, um movimento coerente e racional do Sábado para o Advento.
Criador Amoroso
A Criação é uma extensão do amor do Criador. Repetidamente Ele avalia Sua obra e a considera como boa (Gên. 1:4, 10, 12, 18, 21, 25 e 31). Deus expressa Seu cuidado pelas criaturas terrestres provendo o correspondente a suas necessidades físicas, intelectuais, morais e estéticas.
Através do relacionamento de criaturas com o Criador, nossos primeiros pais poderiam crescer tanto moral quanto espiritualmente. O alimento providenciado era agradável tanto à vista quanto ao paladar. O trabalho tinha a finalidade de ocupar a mente e ainda fortalecer o corpo.
Na Criação, Deus não agiu apenas como o divino Soberano mas também como o Pai amoroso. Com infinita solicitude e intrincada capacidade, o Senhor modelou o objeto em Suas mãos sem deixar dúvidas quanto à Sua autoridade (Isa. 29:16). Então, com amor paternal aproximou-Se da obra que fizera à Sua imagem e animou-a com o fôlego de vida. A Criação, portanto, proclama que “Deus amou o mundo a ponto de dar”.
O Gênesis declara que, como seres humanos, estamos relacionados com a Criação como um todo tanto quanto com as ordens criadas. E ainda deixa claro que cada um de nós tem um status especial em razão de termos sido criados à imagem de Deus. Os seres humanos são parte da Natureza, embora não sejam dominados pela Natureza.
Em certo sentido, podemos até transcender o ciclo repetitivo no qual vivemos. Quando avaliamos o que significa ser feitos “à imagem de Deus” começamos a perceber a importância das qualidades distintivas como a consciência, auto-percepção, livre-arbítrio, liberdade, decisão, criatividade e a habilidade para avaliar e ser avaliado.
O ser criado à imagem de Deus corresponde tanto ao sexo masculino quanto ao feminino (Gên. 1:26 e 27). Portanto, dois diferentes sexos expressam o que as Escrituras qualificam de “homem”, então não há lugar para maiores discussões sobre o sexo. Claramente a raça humana foi criada para viver em comunidades e não em solidão. Como seres sociais devemos nos relacionar com as outras criaturas da mesma espécie e com o Criador.
A doutrina da Criação também reforça a unidade da raça humana. A despeito das diferenças de sexo, raça, educação ou maturidade, somos um em Deus. Essa verdade previne contra o racismo.
Ser feitos à imagem de Deus impõe o senso de responsabilidade e integridade. Como resultado de sua criação à imagem de Deus, Adão e Eva receberam a incumbência de cuidar da natureza. Portanto, receberam também uma responsabilidade ecológica. Somente essa qualidade da responsabilidade moral é que permitiu determinadas inquirições da parte de Deus, como: “Onde estás?”; “Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?” ou “Onde está Abel, teu irmão?” (Gên. 3:9 e 11; 4:9).
As mais profundas raízes possíveis de nossa identidade são providas pelo reconhecimento de que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus. Essa identidade com o divino nos investe com inalienável dignidade, inestimável valor e brilhante destino. A doutrina da Criação reforça o valor e a importância que todos nós possuímos. Nada pode nos privar dessas raízes exceto nossa rejeição.
Uma vez que toda a existência deriva de um Deus benevolente, nenhum aspecto de Sua Criação é intrinsecamente mau. A doutrina da Criação não favorece ao pessimismo característico do helenismo ou do pensamento ocidental nem ao ascetismo típico do oriente. Os seres humanos nem são pequenos deuses nem essencialmente maus. O mau é um intruso na existência do que era bom.
Em verdade, o pecado tem manchado e distorcido a Criação. Não podemos subestimar seus efeitos nocivos e ameaças sobre nós. Mas a crença na Criação livra-nos de descer a um nível mais baixo ainda de auto-estima.
Em contraste com o infinito, eterno e transcendente Criador, somos finitos, transitórios e limitadas criaturas. A história da Criação nos ensina a respeito da total dependência dos seres humanos em relação ao Criador. Colocando a natureza da vida como um dom divino, o argumento da serpente “não morrereis” (Gên. 3:4) fica desmascarado como uma mentira. A pretensa imortalidade incondicional do homem nega a doutrina da Criação.
Iniciativa de Deus
Se a criação da raça humana foi a coroa da atividade divina, o sábado foi seu alvo. No sábado, Deus cessou Sua obra criativa para estabelecer um especial relacionamento com Suas criaturas. Uma vez que Deus interferiu no tempo e na História, Ele concedeu à humanidade o sábado como um dom da Sua graça, da mesma forma que mais tarde deu Seu Filho.
O sábado, para Adão e Eva, foi o dia seguinte à sua criação. Conseqüentemente, Deus convidou nossos primeiros pais para descansar não porque tivessem realizado algo, mas porque Deus o fizera. Adão e Eva vieram para esse encontro de mãos vazias! Eles eram convidados e receptores de tudo que Deus preparara para eles.
O sábado, portanto, deixa claro que é Deus quem toma a iniciativa. Ele criou, Ele deu, Ele providenciou, Ele descansou, Ele abençoou, Ele santificou. O sétimo dia é um convite para abandonarmos a nós mesmos e a nossas obras em troca de Deus e de Suas obras. O sábado salienta a eterna verdade de que a salvação não deriva do homem mas totalmente de Deus. E, em certo sentido, é também um símbolo do evangelho!
Deus saturou o sétimo dia da semana da Criação com felicidade, alegria, contentamento e Sua divina presença (Ele abençoou e santificou o sábado). Nenhum outro dia foi assim destacado. A obra da Criação que começou com a separação entre a luz e as trevas, e entre as águas acima e abaixo do firmamento, chegou ao seu clímax com a separação entre o tempo secular e o sagrado.
Os dias da Criação conduziram a um dia totalmente diferente dos demais. E, da mesma forma que os dias apontam para um dia sagrado, a humanidade deve ser lembrada de que o alvo da vida não é o trabalho mas o descanso, a redenção.
Como um memorial da iniciativa do Criador, o sábado proclama não somente a dependência humana mas também a provisão divina em favor da paz para a vida atribulada. Longe de ser apenas um sinal de parada, o sábado é um convite para o feliz e amigável relacionamento com o Criador. Livre da tirania das coisas, podemos nos voltar do mundo da criação para a criação do mundo.
Em suma, a história da Criação provê a resposta de Deus ao senso de perda, de solidão, de incoerência, de pessimismo e resignação de nossa sociedade. A Criação destaca o fato de que nossas raízes estão nas mãos e no coração do Criador.
A Criação valoriza extraordinariamente cada ser humano, independente de sexo, raça ou idade. Ele reveste a vida de significado, racionalidade, propósito e objetivo. A Criação é a iniciativa divina de revestir os seres criados com os dons da vida, graça, alegria e satisfação.
Autor: Arthur J. Ferch, foi secretário de Campo da Divisão do Sul do Pacífico.