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postado em: 6/3/2009
Quem é Deus, Espírito Santo
Deus Espírito Santo – Deus, o Espírito Santo, desempenhou uma parte ativa com o Pai e o Filho na Criação, Encarnação e Redenção. Inspirou os escritores das Escrituras. Encheu de poder a vida de Cristo. Atrai e convence os seres humanos; e os que se mostram sensíveis são renovados e transformados por Ele, à imagem de Deus. Enviado pelo Pai e pelo Filho para estar sempre com Seus filhos, Ele concede dons espirituais à Igreja, a habilita a dar testemunho de Cristo e, em harmonia com as Escrituras, guia-a em toda a verdade. – Crenças Fundamentais, 5
Obadias temia muito o Espírito. Isso me conforta, eu não estou sozinho – porque eu tenho o mesmo temor. E é bom saber que estou em boa companhia.
Aliás, com Obadias todos estamos em boa companhia. Em contraste com o seu senhor, o rei Acabe, Obadias era um homem de princípios, completamente leal a Jeová, Deus de Israel. De acordo com I Reis 18, ele protegeu cem profetas da fúria da rainha Jezabel. Mesmo depois de Elias ter proclamado uma seca em nome do Senhor, Obadias permaneceu firme em seus princípios, enquanto servia na própria casa real toda infestada pelo culto a Baal.
Sua piedade, entretanto, não diminuiu o temor ao Espírito. Quando Elias inesperadamente apareceu diante dele numa isolada estrada em alguma parte de Israel, Obadias arrojou-se aos pés de Elias respeitosamente. Mas quando Elias mandou que ele fosse dizer a Acabe: “Eis que Elias está aí”, Obadias recuou horrorizado. “Impossível”, clamou ele. “Poderá ser que, apartando-me eu de ti, o Espírito do Senhor te leve não sei para onde, e, ... me matará” (I Reis 18:12). Obadias temia a imprevisibilidade do Espírito.
Elias tranqüilizou-o, e ele obedeceu. Mas a questão persiste: Será o Espírito tão imprevisível quanto temia Obadias? Talvez. E é exatamente isso que me incomoda. Lá no íntimo eu preferiria um mundo bitolado, dirigido por uma lei inexorável que fizesse tudo progredir ordenadamente.
Impetuoso e Indomável
A Escritura sugere que, de certa forma, o Espírito é impetuoso e indomável. Sob a direção do Espírito, uma surpresa nunca pode ser descartada. Não é preciso procurar muito longe para achar uma evidência capaz de confirmar o temor de Obadias.
O rei Saul, por exemplo, quando estava a ponto de seqüestrar Davi, foi tomado pelo Espírito e transformado num profeta (I Sam. 19:23). E isso não foi tudo. Enquanto profetizava diante de Samuel, Saul tirou sua túnica real e continuou profetizando durante todo o dia e a noite inteira (verso 24).
No Novo Testamento, o Espírito continua imprevisível. Filipe, por exemplo, estava no meio de uma bem-sucedida campanha evangelística, batizando multidões de conversos, expulsando demônios, curando coxos e paralíticos (Atos 8:6-13), quando, contrariando toda lógica, o Espírito transferiu Filipe para que pudesse ter um encontro com o solitário eunuco etíope numa perdida estrada do deserto (Atos 8:25-27).
O contato foi frutífero; o eunuco foi batizado. Mas, e o tão necessário atendimento pós-batismal? Simplesmente não existiu. O Espírito resolveu assim, e imediatamente arrebatou Filipe outra vez (verso 39).
Há também o caso de Pedro, quando estava faminto, esperando o almoço e o Espírito baixou diante dele um lençol cheio de animais imundos. “Levanta-te, Pedro! Mata e come.” Atos 10:10-14. “De modo nenhum, Senhor! Porque jamais comi coisa alguma comum e imunda.” Então o Espírito ordenou a Pedro que fosse visitar a Cornélio, um gentio, coisa que Pedro nunca antes fizera (versos 19, 20 e 28).
Na realidade, parece que o Espírito aprecia deveras as surpresas – embaraçantes e inusitadas surpresas. Será isso o que a doutrina do Espírito significa para o corpo de Cristo?
Não exatamente. Alguém ainda poderia argumentar que os exemplos acima raramente se aplicam a pessoas comuns; são casos extremos envolvendo crises particulares de mensageiros de Deus especificamente chamados: reis, profetas e apóstolos. Se isso é verdade, onde nas Escrituras podemos observar a atuação do Espírito Santo no cotidiano de pessoas comuns?
João 14-17 é um bom lugar para começar essa observação. As palavras são simples e descrevem a obra do Espírito de uma forma pouco dramática. Tais capítulos aparecem destacados na descrição da doutrina do Espírito entre as crenças fundamentais adventistas. As palavras de Jesus, nesse caso, enfatizam a obra do Espírito Santo como a presença pessoal de Deus no meio do Seu povo. Ou seja, o que Deus faz por mim, Ele o faz através do Seu Espírito.
O Espírito de Deus atua em meu coração, me atrai a Ele, me transforma, concede dons e me conduz na compreensão da verdade. Tudo isso é obra do Espírito – e essa constatação é uma mensagem encorajadora.
O Espírito e a Missão de Jesus
Quanto mais medito na obra do Espírito, conforme apresentada em João 14:17, mais me convenço de que nesse particular também o Espírito é perturbador – na forma positiva, claro – mas é perturbador.
Jesus prometeu a Seus discípulos que o Espírito ajudaria a lembrar-lhes Seus ensinos (João 14:26). Entretanto a plena atuação do Espírito seria experimentada apenas pelos verdadeiros discípulos de Jesus, aqueles que guardam o “novo” mandamento de Jesus de amar uns aos outros (João 13:34; cf. 14:15-17). O mundo deveria distinguir os discípulos de Cristo pela sua fidelidade a esse mandamento.
Agora, se continuarmos buscando as implicações das palavras de Jesus, poderemos entender quão profunda a necessidade do Espírito atualmente, mesmo para os crentes comuns. Jesus disse que se permanecermos nEle, tudo que pedirmos nos será dado (João 15:7). Que maravilha!
Então suponhamos que nosso pedido seja o dom do supremo amor de uns pelos outros. Onde poderíamos chegar? Jesus disse que isso nos levaria à convicção a respeito “do pecado, da justiça e do juízo”. João 16:8.
Ele vinculou o pecado com a rejeição de Seu próprio ministério (João 16:9); o juízo tem que ver com a condenação do “príncipe deste mundo” (verso 11). Portanto, é o próprio ministério de Jesus que condena “o príncipe deste mundo”. Ou seja, o que Jesus fez em Seu ministério foi exatamente o que o “príncipe deste mundo” se recusou a fazer. As implicações são claras.
Na sinagoga de Sua cidade natal, Nazaré, Jesus delineou Sua missão. Citando Isaías, Ele anunciou que o Espírito O ungira para pregar boas-novas aos pobres, curar os de coração quebrantado, proclamar liberdade aos cativos, dar vista aos cegos, e trazer liberdade para os oprimidos (Isa. 61:1; Luc. 4:18). Ou seja, Jesus veio para socorrer os sofredores, os desesperadamente carentes.
Agora, consideremos uma passagem do Antigo Testamento que descreve o julgamento do “príncipe deste mundo”. O Salmo 82 pinta uma cena de julgamento na qual Deus condena os “deuses”. Esse texto peculiar utiliza a mesma palavra hebraica (Elohim) para se referir a Deus, o governador e juiz de todo o Universo, e para os “deuses”, os seres sobrenaturais subordinados a Deus, aos quais Ele tem confiado as nações do mundo (Dan. 10:13, 20 e 21; Deut. 32:8 e 9).
Esse sentido duplo para a palavra Elohim não é anômalo no Antigo Testamento. De nossa perspectiva cristã, podemos entender tais “deuses” como sendo Satanás e seus anjos maus como os príncipes deste mundo.
E por que tais “deuses” ou príncipes são condenados em juízo? Pelo fato de terem julgado injustamente, terem mostrado parcialidade em relação aos maus, por não fazerem justiça aos órfãos, por não respeitarem os direitos dos aflitos e dos pobres, por não virem em auxílio dos fracos e necessitados (Sal. 82:2-4). Por terem falhado em socorrer aos que estão em flagrante necessidade, Deus pronuncia a sentença de morte aos “deuses”.
Um Caminho Melhor
Quando Jesus esteve no deserto, Satanás ofereceu todo o mundo para Jesus tão-somente se Ele Se prostrasse e o adorasse. Jesus recusou a oferta. Ele conhecia um caminho melhor para recuperar o mundo para Deus: através de uma poderosa demonstração de amor.
Em Seu ministério, Jesus implementou tal plano. Quando os 70 retornaram do exercício missionário regozijantes porque “os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome”, Jesus exclamou: “Eu via Satanás caindo do Céu como um relâmpago” (Luc. 10:17 e 18). Um ministério de amor aos necessitados é o que proclama a queda de Satanás.
E seguramente Lucas queria significar algo sobre a essência da missão de Jesus quando colocou logo após a história dos 70 a pergunta do intérprete da lei: “Que farei para herdar a vida eterna?” (Luc. 10:25).
“Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração... e... o teu próximo como a ti mesmo” (verso 27), respondeu Jesus.
“Quem é o meu próximo?” (verso 29), perguntou de novo o advogado.
Jesus respondeu com uma história, uma história bem conhecida de todos nós. Somente o “bom” samaritano reconhecia que o reino de Deus estava acima de tudo. Ele deu ao moribundo a assistência que desejaria receber caso as posições fossem invertidas. Ele amava a seu próximo como a si mesmo.
Não seria essa, depois da ascensão de Jesus, a tarefa do Espírito: lembrar-nos de amar a nosso próximo? Temo que sim. E deixe-me explicar por que disse temo – e isso ainda vai ajudar a clarificar o que eu quis dizer quando afirmei que a doutrina do Espírito Santo é perturbadora.
Tenho uma amiga que recentemente passou a atuar como voluntária, um dia por semana, numa organização de assistência social. Ela me descreveu sua experiência como “o dia semanal da culpa”. Por quê? Porque o contraste entre o mundo dos necessitados e o nosso relativo conforto é algo que incomoda e enerva.
Num mundo de pecado, o Espírito espanta o nosso conforto. Desejamos viver em meio à natureza ou entre boa vizinhança para que nossos filhos não sejam influenciados pelas tentações do mundo. E muitas vezes usamos nossos recursos para garantir um isolamento dos males do mundo – e também dos necessitados!
Freqüentemente comentamos sobre nossas posses como se fosse algo merecido. E nos esquecemos de que a habilidade para conseguir tais recursos é um dom de Deus – para ser repartido com a humanidade sofredora.
Sim, como Obadias, temo o Espírito de Deus. Não exatamente quanto ao mesmo problema. Não me preocupa se o Espírito de Deus irá ou não conduzir secretamente algum santo de um lugar para outro. O que me preocupa é a possibilidade de o Espírito me mostrar mais do mundo do que eu posso suportar.
A escritora Elllen G. White aparentemente experimentou o mesmo temor, porque ela escreveu: “Nosso mundo é um vasto hospital, ou seja, um cenário de miséria em que não ousamos permitir mesmo que os nossos pensamentos se demorem. Compreendêssemos nós o que ele é na realidade, e o peso que sobre nós sentiríamos seria terribilíssimo.” – Educação, pág. 264.
Cada vez que me assento diante do meu computador ainda penso nos milhares de pessoas que não sabem ler nem escrever. Moro numa casa com ar-condicionado, mas quantos vivem ao relento? Temos belas igrejas, escolas e escritórios – será que os estamos usando para beneficiar o mundo?
De certa forma, o Espírito é misericordiosamente seletivo, desviando-nos o olhar daquilo que não podemos resolver. Por outro lado, para aqueles de nós que vivemos confortavelmente, o Espírito também é misericordiosamente importuno. Oxalá em mais ocasiões o Espírito venha nos tirar das praias, dos feriados, da preguiça, para nos mostrar o mundo em suas cores reais.
Acho que eu não deveria vencer meu temor do Espírito. Unicamente através do Espírito pode a Igreja ser despertada para a sua missão. Quem de nós gostaria de ouvir: “Apartai-vos de Mim, malditos” (Mat. 25:41)?
Envia, Senhor, o Teu Espírito para nos perturbar. Mas, Senhor, não mais do que podemos suportar.
Autor: Alden Thompson, Foi vice-diretor do Walla Walla College, Estados Unidos