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postado em: 5/4/2009
O Remanescente e Sua Missão – A Igreja universal se compõe de todos os que verdadeiramente crêem em Cristo; mas, nos últimos dias, em tempo de ampla apostasia, um remanescente tem sido chamado para fora, a fim de guardar os mandamentos de Deus e a fé de Jesus. Este remanescente anuncia a chegada da hora do juízo, proclama a salvação por meio de Cristo e prediz a aproximação de Seu segundo advento. Essa proclamação é simbolizada pelos três anjos de Apocalipse 14; coincide com a obra de julgamento no Céu e resulta numa obra de arrependimento e reforma na Terra. Todo crente é convidado a ter uma parte pessoal neste testemunho mundial. – Crenças Fundamentais, 12
A palavra remanescente me lembra os restos deixados na geladeira ou uma antiga saia cinzenta.
Para ser mais econômicos, procurávamos comprar naquelas lojas de retalhos ou restos, que expunham os pedaços de tecidos em grandes mesas abarrotadas e os vendiam por peso. Com muita determinação, eu revirava aqueles montes na esperança de encontrar um pedaço suficientemente grande para fazer uma camisa para o menino ou mesmo uma saia para mim.
Uma vez, fiquei tão feliz quando encontrei dois pedaços que pareciam da mesma peça, que triunfantemente os comprei e fui logo para casa cortar uma saia pregueada.
Era uma roupa para trabalho, e até que ficou vistosa. Mas depois de algumas lavadas, a cor dos dois retalhos foi se tornando cada vez mais diferente, até que minha saia ficou com duas cores tão diversas que não serviu mais nem para ser dada às Dorcas! Afinal, eu a tinha feito de dois restos de tecido; e o que mais poderia esperar?
Essa e outras experiências pitorescas me vêem à mente com a idéia de remanescente. Por exemplo, a emoção de encontrar ainda algumas boas maçãs num caixote de feira; a delícia de encontrar, em algum bolso, uma certa quantidade de dinheiro quando a única esperança era só o próximo pagamento. Ou, as últimas gotinhas de um apreciado perfume; ou, os minutos finais para permanecer com a pessoa amada, antes de o avião partir. Que preciosas sobras ou remanescentes!
Escolhidos e Especiais
Que espécies de restos os autores bíblicos tinham em mente quando usaram o termo que depois foi traduzido por remanescente?
No Antigo Testamento, em caso de alguma catástrofe, os que sobreviviam eram chamados de remanescentes. Mas sobreviver era apenas uma parte da idéia. Os que restavam se tornavam especiais, preciosos, os escolhidos de Deus.
A esses, Deus reservou uma promessa: se tornariam os herdeiros do concerto. O remanescente não era uma sobra de material imprestável; era o povo especial de Deus, salvo da destruição, destinado à glória – de Deus e deles mesmos.
No Novo Testamento, Paulo aplica o termo aos judeus que aceitaram a Cristo (Rom. 11:5). João fala dos remanescentes como aqueles que guardam os mandamentos de Jesus (Apoc. 12:17) quando isso deixa de ser uma tarefa agradável. Portanto, remanescente não é apenas o resto, mas quem permanece vivo, amando e obedecendo.
Como se pode perceber, os meus remanescentes são muito mais limitados que os remanescentes de que fala a Bíblia. O povo remanescente de Deus tem uma missão, algo que se espera dele. Longe de serem as últimas maçãs utilizáveis de uma caixa, esse remanescente pode dar origem a muitos outros remanescentes – aliás, crescer e multiplicar é sua missão.
Um Remanescente Que Cresce
Quando eu era criança, ouvia com mais freqüência chamarem os adventistas de “povo remanescente de Deus”. Precisamos aceitar que remanescente não significa peça de museu, mas algo precioso, e mais, algo esplêndido. Pode até ser que eu tenha essa idéia por causa de meu pai.
Papai foi batizado na “igreja remanescente” depois que um acidente tolo ceifou a vida do seu primogênito. Na Igreja Adventista, ele encontrou a Deus e a humanidade: o caminho para a vida eterna e a comunhão com o povo de Deus. Depois disso, trazer outras pessoas para esse relacionamento se tornou a coisa mais natural, como se repartir as bênçãos de Deus fosse uma qualidade adicionada à sua vida por se tornar um remanescente.
Ele me ensinou como dar estudos bíblicos. (Eu estava com apenas 12 anos, quando decorei o esboço do meu primeiro estudo para ensiná-lo a alguém; e papai estava ali, ao meu lado, operando o projetor.) Já mamãe costumava me levar com ela para ajudá-la a limpar a casa de uma vizinha bem velhinha.
Dessa maneira, pude logo aprender que ser um remanescente não traz apenas privilégios mas também a responsabilidade de contar o que sabemos aos outros, bem como ajudá-los em suas necessidades.
Anos depois, meus alunos desafiaram minhas noções sobre a tarefa evangelística do remanescente. “Por que – diziam eles – é necessário tornar adventistas os outros cristãos? Esse não é um evangelismo ultrapassado? Distribuir alimentos ou ajudar as pessoas pode ser a melhor forma de evangelismo para a atualidade. E, já que Deus conhece o coração, Ele pode perfeitamente salvar até quem jamais teve uma chance de aceitá-Lo!”
Entretanto, preferi continuar aceitando o fervor missionário de meu pai (naturalmente indo além de decorar alguns esboços de estudos bíblicos). Agora, quero apresentar o meu conceito sobre a missão do remanescente.
A Comissão Evangélica
Jesus instruiu Seus discípulos sobre o que fazer após Sua partida. A chamada “comissão evangélica” está relatada de diferentes formas em todos os quatro evangelhos (Mat. 28:18-20; Mar. 16:14-20; Luc. 24:44-53; João 21:21-23) e em Atos 1:8. As passagens incluem as seguintes idéias: ir, fazer discípulos, batizar, pregar, ensinar, testemunhar e realizar milagres.
Os seguidores de Cristo deveriam concluir essa comissão, em Seu poder e com Sua assistência, até o fim. As instruções ainda são aplicáveis. A comissão evangélica, juntamente com o relato do que a igreja do Novo Testamento fez, permite sumarizar nossa missão nos seguintes três tópicos:
• Proclamação. Refere-se ao evangelismo individual ou através dos meios de comunicação de massa. Inclui o ensino, o diálogo e a obra da imprensa. Serve para informar a mente e inspirar a alma.
• Serviço. Corresponde a toda ajuda que pode ser dispensada a alguém para atender a sua necessidade física, social ou intelectual (educação, saúde, prevenção, assistência ou promoção social).
• Comunhão. Adiciona a dimensão humana à missão (é o lado freqüentemente esquecido). É o calor e o carinho. Depois de saciar a fome e pregar o evangelho, vamos fruir a companhia dos que pensam como nós.
Quando falta um desses aspectos, a missão fica incompleta. A tarefa do remanescente é uma missão completa para a pessoa integral. A missão deve atender a necessidade – como uma roupa cortada especialmente para aquela pessoa. Agir assim é a tarefa do remanescente.
Desde que a missão envolve todo o remanescente, não se espera que uma pessoa só possa realizar tudo. Necessitamos uma variedade de especialistas: Alguns para pregar, outros para distribuir alimentos, outros para dirigir uma Escola Bíblica de Férias. Não apenas a missão necessita de cada um; cada pessoa necessita da missão. Multiplicar o remanescente é a mais estimulante experiência reservada aos adventistas do sétimo dia nesta década.
Da Bíblia (Rom. 1:20; 2:14-16) aprendemos que pessoas nunca antes atingidas pelo evangelho podem ser salvas. Ellen White afirma: “Há, entre os gentios, almas que servem a Deus ignorantemente, a quem a luz nunca foi levada por instrumentos humanos; todavia não perecerão.” – O Desejado de Todas as Nações, pág. 638.
Então, por que deveríamos nós seres humanos participar da missão – proclamação, serviço e comunhão – se Deus pode salvar pessoas sem nossa participação? Para mim, há várias razões:
• Primeira. Deus mandou fazer assim. Na comissão evangélica, Jesus ordena Seus seguidores a ir, pregar, batizar e ensinar. Não justifica, nem explica mais nada. Fazer discípulos é uma parte da experiência de seguir a Cristo.
• Segunda. Se tomarmos Romanos 10:13-15 ao pé da letra, não poderemos nos esquivar da responsabilidade de enviar um pregador a todo aquele que puder ouvir e buscar o Senhor. Ellen White escreveu que “a pregação do evangelho é o instrumento escolhido por Deus para a salvação das almas”. – Testimonies, vol. 5, pág. 87.
• Terceira. A missão deveria ser algo natural para o cristão. Uma pessoa cheia do amor de Cristo extravasará amor a Deus e à humanidade. A missão é uma parte natural da experiência cristã.
• Quarta. A obra missionária – no lar ou fora, pessoal ou pública – é uma necessidade para o crente. Sendo o exercício da alma, ela promove a saúde espiritual e o bem-estar de todo o remanescente. Uma igreja que cresce geralmente tem poucos problemas internos. Seria possível que Deus tivesse nos envolvido na missão mais por causa de nossas necessidades humanas do que por causa de Sua tarefa?
• Quinta. Há uma recompensa por participar na missão. Não somente cantamos sobre estrelas em nossas coroas, como lemos as palavras de Jesus: “Muito bem, servo bom e fiel... entra no gozo do teu Senhor.” Mat. 25:23. Ganhamos satisfação aqui e agora, ao participar da obra do remanescente. E ainda lemos de um “eterno peso de glória” (II Cor. 4:17) para aqueles que fizerem bem a sua parte.
• Sexta. A missão do remanescente serve para vindicar a Deus. A salvação tem uma dimensão cósmica que inclui mais do que a redenção pessoal. Não apenas diante do homem, mas diante de todo o Universo expectante deve ser demonstrado que o modo de Deus atuar é não somente o melhor mas o único. O fiel remanescente tem o privilégio de participar na vindicação do caráter de Deus.
• Sétima. Embora Deus possa prover a salvação mesmo para aqueles que jamais ouviram falar de Seu amor e poder, Ele não pode provê-los dos benefícios de se tornarem cristãos antes da volta de Cristo!
A salvação consiste de duas partes: vida eterna por todo o sempre e vida eterna aqui e agora. Jesus veio para que pudéssemos ter vida abundante já – alegria, paz, saúde, segurança e bem-estar espiritual, além da esperança eterna. Se não executarmos nosso trabalho, Deus não terá menos habitantes no Céu, porque Ele tem maneiras de conduzir as pessoas ao Seu reino. Mas, por outro lado, nos alijamos da maior aventura. E limitando as boas novas de salvação a nós mesmos, também estaremos fazendo com que muitos percam as bênçãos e desafios da participação no remanescente.
Aumentando o Remanescente
Ah, se pelo menos as últimas gotas do precioso perfume pudessem fazer mais do que simplesmente aromatizar... Ah, se as últimas notas de dinheiro nossas pudessem se reproduzir...
Acontece que são apenas sobras; não podem se reproduzir por si mesmos. Entretanto, o precioso remanescente de Deus pode crescer. Ele não está fadado a ser pequeno e insignificante. O remanescente deve ser ampliado, de forma que muitos se juntarão alegremente na proclamação, serviço e comunhão. A missão é encher o mundo com amor, esperança e alegria. É um privilégio aguardar em atividade o grande dia do segundo advento de Jesus.
O que a missão do remanescente significa para mim? A diferença entre vazio e propósito. A diferença entre egoísmo e partilha. A diferença entre estagnação e crescimento. A diferença entre derrota e sucesso. E particularmente a grande diferença entre um remanescente e um resto.
Sem sua missão, o remanescente não passaria de um retalho perdido numa banca de liquidação. Graças a Deus pela missão confiada ao remanescente!
Autora: Nancy J. Vyhmeister, foi professora no Seminário Teológico Adventista do Extremo Oriente.