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postado em: 26/6/2009
A Conduta Cristã
Conduta Cristã – Somos chamados para ser um povo piedoso que pensa, sente e age de acordo com os princípios do Céu. Para que o Espírito recrie em nós o caráter de nosso Senhor, só nos envolvemos naquelas coisas que produzirão em nossa vida pureza, saúde e alegria semelhantes às de Cristo. Isso significa que nossas diversões e entretenimentos devem corresponder aos mais altos padrões do gosto e beleza cristãos. Embora reconheçamos diferenças culturais, nosso vestuário deve ser simples, modesto e de bom gosto, apropriado àqueles cuja verdadeira beleza não consiste no adorno exterior, mas no ornamento imperecível de um espírito manso e tranqüilo. Significa também que, sendo o nosso corpo o templo do Espírito Santo, devemos cuidar dele inteligentemente. Junto com adequado exercício e repouso, devemos adotar a alimentação mais saudável possível e abster-nos dos alimentos imundos identificados nas Escrituras. Visto que as bebidas alcoólicas, o fumo e o uso irresponsável de medicamentos e narcóticos são prejudiciais a nosso corpo, também devemos abster-nos dessas coisas. Em vez disso, devemos empenhar-nos em tudo que submeta nossos pensamentos e nosso corpo à disciplina de Cristo, o qual deseja nossa integridade, alegria e bem-estar. – Crenças Fundamentais, 21
Em geral receber um convite para jantar é motivo de prazer. Mas em alguns casos pode ser motivo para ansiedade. Posso me lembrar de um desses, no tempo em que estava iniciando minha faculdade.
Alguns de nós que estávamos envolvidos com o diretório acadêmico decidimos convidar os líderes estudantis de uma escola das proximidades para visitar nosso campus. Mostramos as instalações e depois oferecemos refrescos. Foi um gesto de boa vontade, com o objetivo de superar certo isolamento a que estava submetida a escola adventista. Como resultado, tivemos momentos agradáveis trocando experiências sobre a vida escolar.
Pouco tempo depois, as pessoas com quem fizemos amizade devolveram a gentileza nos convidando para um jantar no campus da sua escola. Aí começou nossa ansiedade.
A preocupação principal era com o que nos iriam servir. O que nos dariam, por exemplo, como prato principal? Não tínhamos idéia de nenhuma forma diplomática de explicar com antecedência todas as nossas variadas e complexas restrições dietéticas. Por isso, fomos, mas muito preocupados.
Para nossa maior surpresa, as pessoas que nos haviam convidado instruíram de antemão o chefe da cozinha para que preparasse uma “refeição adventista”. E o chefe já havia preparado excelentes receitas vegetarianas, tudo muito saboroso. A seleção de bebidas também revelava conhecimento das convicções adventistas.
Foi uma experiência curiosa, da qual não me esqueci. Assim como diversas outras, grandes e pequenas, que sempre contribuíram para me lembrar de que ser adventista geralmente significa ser “diferente”.
Uma Lista Muito Longa
Durante a refeição, uma estudante da outra escola mencionou que lhe parecia que a doutrina afetava praticamente todos os aspectos da vida diária de um adventista. E ela começou a listar exemplos relacionados com o vestir, uso de adornos, recreações e hábitos alimentares, conforme ela houvera descoberto. Com pouco esforço, eu poderia ter aumentado ainda um pouco mais a lista dela!
Na realidade, o que eu disse àquela jovem era que os adventistas sempre estiveram convencidos de que a fé cristã é prática; ou seja, ela tem que fazer diferença no nosso dia-a-dia. E isso inclui nossa responsabilidade quanto a manter o bem-estar físico, já que nosso corpo é o templo do Espírito Santo (I Cor. 6:19 e 20). Cremos que o que comemos ou vestimos, e como gastamos nosso tempo e dinheiro, deve refletir nosso chamado para ser discípulos de Jesus. Desejamos ser pessoas preparadas para o lar celestial, em condições de convidar outras para se prepararem e fazer "tudo para a glória de Deus” (I Cor. 10:31).
Falei dessa forma, e realmente cria assim. E hoje creio mais ainda. Mas eu não seria honesto se não admitisse que, mesmo crescendo num lar adventista, nem sempre tenha considerado louváveis os aspectos distintivos da nossa fé. Ser diferente pode causar dificuldades, como naquele jantar oferecido pela outra escola. Às vezes, temos que esperar alguns anos para ver claramente os benefícios físicos e espirituais de uma vida pura.
Lembro-me de que não gostava de admitir que no futuro eu iria entender melhor as coisas. Mas tenho que confessar que hoje, com mais experiência, estou mais e mais convencido de que entre as boas razões para ser um adventista está a nossa ênfase na pureza da vida cristã.
Quando noto, por exemplo, os efeitos devastadores do tabaco (cigarro) na vida de alguns conhecidos meus, tenho que dar graças por ter recebido um lastro espiritual suficiente para não ser tentado por um vício desses.
Reconhecer que nossa adoração espiritual envolve a totalidade do ser humano é aceitar uma mensagem que o mundo, com sua fome e poluição, necessita agora mais do que em qualquer outra época (Rom. 12:1 e 2).
Alguns Riscos
É claro que, além de todos os benefícios, nossa ênfase na pureza de comportamento envolve alguns riscos. Um dos mais freqüentes é o medo de estabelecer contato social com pessoas que não partilham dos mesmos padrões – exatamente aqueles que mais necessitam do nosso contato e influência. É comum a tentação de evitar a inquietação que pode acompanhar o convite daqueles que vivem de acordo com outros valores.
Outro risco é o legalismo, a idéia de que a estrita observância de altos padrões pode garantir a vida eterna. Essa crença sedutora é, na realidade, o ensino central de diversas falsas religiões. (O Desejado de Todas as Nações, págs. 35 e 36.)
Apesar desses riscos, é importante mostrar como podem ser enfatizados os elevados padrões de comportamento cristão em relação com o evangelho da graça de Deus. A genuína maturidade do caráter deveria ser o alvo de cada cristão. Essa maturidade requer cuidadosa reflexão sobre as fontes e formas de nossos padrões. Com isso em mente, gostaria de oferecer três breves observações que considero importantes e fundamentadas na Bíblia:
1. Para ser verdadeiramente cristão, o comportamento tem que ser movido pelo poder do amor divino.
“O amor de Cristo nos constrange” (II Cor. 5:14). “Nós amamos porque Ele [Deus] nos amou primeiro” (I João 4:19).
Conforme Jesus ensinou claramente no Sermão da Montanha (Mat. 5-7), a estrita retidão de comportamento externo destituída da motivação do amor não é a regra do reino de Deus. Somente depois de aceitar a graça e o amor de Deus em Cristo Jesus é que nosso procedimento pode ser verdadeiramente cristão.
A aceitação da obra de Cristo em favor da nossa salvação é o que prepara o terreno para um comportamento moral capaz de corresponder ao amor de Deus. Tendo sido inundado pela gratidão e pela abundância do amor de Deus, o cristão está preparado para agir por amor.
Por outro lado, sem a graça de Deus, qualquer ênfase em altos padrões de comportamento é mais do que ineficaz; geralmente se torna destrutiva. Tende a despertar sentimentos de orgulho em função dos êxitos morais ou desespero por causa das falências morais. Creio que a única forma de sermos curados do legalismo é reconhecer nossa pobreza espiritual e aceitar o sempre disponível perdão divino. Rom. 1-6.
2. A maturidade cristã envolve ação baseada em princípios.
Ellen White nos encorajou a “adotar os amplos princípios da Palavra de Deus como o fundamento do caráter”. Testimonies, vol. 4, pág. 562.
A compreensão dos amplos princípios das Escrituras nos protege contra a intolerância moral. Jesus disse aos fariseus: “Hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas” (Mat. 23:23).
Os amplos princípios bíblicos, começando com o princípio do amor, ajudam a estabelecer prioridades para que as pequenas coisas não recebam mais importância do que aquelas que realmente devem merecer nossa melhor atenção.
Adotar os elevados padrões de vestuário, modéstia, regime alimentar e recreação, deve ser uma bênção verdadeira. Mas essas observâncias podem se tornar motivo de piadas por parte de pessoas que manifestam posições racistas ou não se sensibilizam diante dos tremendos desafios da violência, pobreza e da fome. Discutir as questiúnculas do regime alimentar sem se preocupar com quem está morrendo de fome é uma enorme contradição. Vez após vez, a Bíblia nos convida a ajustarmos nosso foco sobre as questões verdadeiramente centrais.
A compreensão dos princípios bíblicos centrais requer muito estudo e reflexão. Quando Jesus exaltou a confiança infantil, estava apelando por um espírito de humildade (Mat. 18:1-4) e não desprezando o valor da obediência. Uma criança tem de ser ensinada a obedecer antes que possa questionar se isso é ou não possível. Mas esse não é o alvo da maturidade cristã.
Vou tomar uma ilustração da minha casa. Tenho duas pequenas de 9 anos em casa. São semelhantes em muitos aspectos. Geralmente me obedecem – na maior parte do tempo. E quando me desobedecem, deixam transparecer o senso de culpa. Mas, apesar de tudo isso, minhas expectativas são bem diferentes para as duas. Uma está se preparando para se tornar uma pessoa moralmente responsável. A outra, jamais. Essa chocante diferença decorre do enorme abismo entre as duas em termos de capacidade para entender as razões para se comportar de uma ou outra forma. Minha filha de 9 anos pergunta: Por quê? Minha cachorrinha de 9 anos não pergunta.
Por isso creio que Ellen White afirmou: “A disciplina de um ser humano que haja atingido os anos da inteligência, deve diferir do ensino de um animal irracional.” Educação, pág. 288. Se o “bom comportamento” fosse a única coisa em termos de moralidade, então seria muito mais fácil treinar um animal do que educar uma criança. Mas para que os verdadeiros princípios possam atuar em um ser moralmente maduro, o dom da razão não pode ser desconsiderado. Creio que esse deveria ser um alvo de cada norma cristã.
3. A maturidade cristã envolve aplicar as regras em função dos relacionamentos pessoais.
Quando Jesus disse que “o sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado” (Mar. 2:27), estabeleceu uma verdade que pode ser aplicada a todos os padrões de comportamento. Aplicar normas de comportamento de forma a destruir pessoas deve ser algo fortemente desestimulado.
Esse conceito de que normas de comportamento devem ser usadas em favor de construir relacionamentos inclui a sensibilidade às diferenças culturais. Um óbvio exemplo tem a ver com os hábitos de vestuário. A Bíblia ensina a modéstia em termos de vestuário e aparência pessoal (I Ped. 3:1-4; I Cor. 11:4-6). Esse é um princípio geral. Mas o que conta como modéstia, em qualquer aplicação particular desse princípio, deve ficar dentro do limite das práticas culturais. Por essa razão, nossa declaração de crenças fundamentais, nesse ponto, recomenda o vestuário “simples e modesto e de bom gosto, embora reconheçamos as diferenças culturais”.
Esse detalhe é particularmente importante, pois fazemos parte de um movimento mundial. Agora mesmo enquanto escrevo este texto estou inserido em uma cultura diferente daquela na qual nasci. Aliás, é comum eu achar que se determinada coisa está bem em relação à minha cultura, então deve estar bem para todos. Mas a verdade transcultural do amor e da graça de Deus deveria transformar os últimos traços de toda essa arrogância cultural. Acho que em parte era isso que Paulo estava querendo dizer quando afirmou que seu desejo era identificar-se com todos os grupos de pessoas para que pudessem ganhá-los para o evangelho (I Cor. 9:19-23).
Muito mais poderia (e deveria) ser dito a respeito da maturidade do comportamento cristão. Mas acho que uma declaração curta e direta pode ser o suficiente: Como um cristão, creio que o mais elevado padrão para o meu comportamento não é uma regra nem um princípio; é a vida do Senhor Jesus, a quem todos os padrões devem estar subordinados.
Somente Jesus deu-nos o “exemplo para [que pudéssemos seguir] os Seus passos, [pois Ele] não cometeu pecado” (I Ped. 2:21 e 22).
Autor: Gerald Winslow, foi professor de teologia no Colégio Walla Walla, nos Estados Unidos.