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postado em: 29/10/2010
Seguro de vida: falta de confiança em Deus?
Desde que surgiu o Movimento Adventista, seus membros têm discutido se devem ou não fazer qualquer tipo de seguro, especialmente seguro de vida.
Embora a Igreja não tenha tomado posição oficial sobre o assunto, muitos membros entendem que o seguro de vida é incompatível com o tipo de confiança que um cristão sincero deve ter em Deus. Pastores têm pregado sobre o tema, incentivando os membros a cancelar suas apólices.
Inicialmente as discussões entre os líderes adventistas eram sobre seguros de todos os tipos, mas com o passar do tempo os riscos envolvidos os levaram a aceitar a ideia de segurar as propriedades contra incêndio, tempestade e furto. A mudança de atitude ocorreu por volta de 1860, quando a Igreja começou a incorporar propriedades em seu nome. Naquele tempo o risco de incêndio era especialmente ameaçador, pois as casas, em geral, eram de madeira, o aquecimento era fornecido por carvão ou fogões à lenha, e a luz geralmente provinha de lamparinas.
EIlen G. White concordava com os seguros de proteção à propriedade, o que é ilustrado por suas cartas. Em 1880 ela escreveu ao seu filho, W. C. White: "Gostaria que você pusesse no seguro a casa de Healdsburg. Converse com Lucinda sobre o assunto. Estou preocupada com isso." Carta 17, 1880.
Quatro anos mais tarde ela escreveu: "O irmão Palmer diz que lhe escreveu com respeito ao seguro. Se a casa não está segurada, isto deve ser feito em seguida." Carta 40, 1884.
Esse conselho estava em harmonia com suas repetidas instruções de que todos os passos deviam ser dados para salvaguardar a propriedade. Quando ela ainda era viva, seu filho W. C. White respondeu a uma pergunta sobre seguro contra incêndio, escrevendo:
"Não encontramos nos escritos de mamãe qualquer condenação à prática de segurar nossa propriedade contra incêndio. Mamãe sempre considerou isto muito diferente de seguro de vida. Ela mantém seus próprios prédios devidamente segurados, e tem incentivado algumas de nossas instituições a fazerem o mesmo." - Carta, W. C. White, 5 de agosto de 1912.
Ellen White e os seguros de vida
Os seguros de vida, porém, eram vistos de modo diferente pela Sra. White. Em seu testemunho nº 12, intitulado "Seguros de Vida", publicado em 1867, e reproduzido na íntegra em Testemunhos Seletos, vol. 1, págs. 176 e 177, ela diz entre outras coisas:
"Foi-me mostrado que os adventistas observadores do sábado não se devem meter em seguros de vida. Isto é um comércio com o mundo, que o Senhor não aprova ...
“O seguro de vida é um método mundano que leva nossos irmãos a nele se meterem a fim de se apartarem da simplicidade e pureza do evangelho ... Deus tomou providências em favor de Seu povo. Tem por eles especial cuidado, e eles não devem desconfiar de Sua providência, metendo-se em um plano juntamente com o mundo ...
“Os que se ligam a esse método mundano, depositam meios que pertencem a Deus, que Ele lhes confiou para que empreguem em Sua causa, para promover o avançamento de Sua obra. Poucos, porém, obterão quaisquer lucros do seguro de vida, e sem a bênção de Deus mesmo esses se demonstrarão prejuízo em vez de benefício. Aqueles a quem Deus fez mordomos Seus, não têm direito de colocar nas fileiras do inimigo os recursos que Ele lhes confiou para usar em Sua causa ...
"Satanás leva seus agentes a introduzirem várias invenções e patentes, e outros empreendimentos, para que os adventistas do sétimo dia que estão ansiosos de enriquecer, caiam em tentação ... Por meio desses diferentes veículos, está Satanás drenando habilmente a bolsa do povo de Deus, e assim pesa sobre eles o desagrado do Senhor."
Uma leitura cuidadosa nos permitirá descobrir cinco razões pelas quais Ellen White se opôs aos seguros de vida:
1. Os crentes se envolvem excessivamente com o mundo.
2. É incentivado um espírito mundano e secular, contrário à simplicidade e finalidade única do serviço cristão.
3. Diminui nossa percepção da providência divina.
4. Representa uma negação da verdadeira mordomia perante Deus, por desviar os Seus fundos para negócios de risco com objetivo de lucro.
5. Manifesta ganância comparável à especulação em direitos a patentes e invenções.
Uma análise do raciocínio de Ellen White deixa claro que ela considerava a participação nos seguros de vida como uma ameaça à experiência espiritual, e viciosa, por se tratar de um negócio de risco. Após esse artigo, em 1867, a Sra. White fez apenas referências ocasionais aos seguros de vida, em seus escritos, não apresentando qualquer evolução filosófica do tema.
As declarações de Ellen White nos levam à conclusão de que os seguros de vida, da maneira como eram feitos em sua época, eram contrários aos princípios cristãos, tanto do ponto de vista espiritual como do de mordomia sobre os bens do Senhor.
Os seguros no século dezenove
O período que se seguiu à Guerra Civil americana foi apropriadamente descrito como uma era de desenfreado oportunismo e especulação, praticamente não controlados pelo governo. Esquemas para enriquecer rapidamente estavam na ordem do dia, mas muitas vezes terminavam em fracasso financeiro.
A nascente indústria de seguros se achava imbuída do espírito de risco da época. Companhias de seguro de pouca solidez financeira faliam de repente, deixando suas apólices totalmente sem valor. Os clientes eram muitas vezes tratados com injustiça e até mesmo fraudulentamente. Apólices eram feitas em nome de pessoas estranhas, e o público era incentivado a investir na esperança de lucrar com a morte do segurado.
Os abusos desse sistema levaram o público a exigir que as Companhias de Seguro fossem regulamentadas pelo governo. A partir de 1906, leis estaduais e federais foram emitidas com o objetivo de limitar as fraudes e exigir que as seguradoras adotassem práticas corretas.
Em nossos dias, as indústrias de seguros são regulamentadas por leis e órgãos do governo, e diferem em muitos aspectos das seguradoras do final do século passado. Portanto, os conselhos de Ellen G. White contra os seguros de vida precisam ser entendidos à luz das práticas correntes em seus dias.
Provisão para tempos de necessidade
Tanto as Escrituras como os escritos de Ellen White consideram como ordem divina a responsabilidade cristã de proteger os seus queridos. Baseado na autoridade do quinto mandamento, “Honra a teu pai e tua mãe”, o apóstolo Paulo salienta a importância desse princípio nos seguintes termos:
“Mas, se alguma viúva tem filhos, ou netos, aprendam, primeiro a exercer piedade para com a sua própria casa, e a recompensar a seus progenitores, pois isto é aceitável diante de Deus. Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos de sua própria casa, tem negado a fé, e é pior do que o descrente” (I Tim. 5:4 e 8).
Repetidas vezes Ellen White encareceu a importância de fazer provisão para necessidades futuras. Segue um exemplo:
“Os recursos que tendes conseguido não têm sido sábia e economicamente gastos, de maneira a deixar margem para, no caso de virdes a ficar doente, não ficar vossa família privada dos meios que trazeis para o seu sustento. Vossa família deve ter algo de que lançar mão no caso de serdes levado a situação de apertura.” - O Lar Adventista, págs. 395 e 396.
Ela apoiava a compra de mercadorias de qualidade e o cuidado das mesmas. Falou em favor da aquisição de casa própria, quando possível, e aprovou a acumulação de reservas razoáveis para usar em caso de necessidade. (Ver Testimonies, vol. 7, págs. 291 e 292).
Conclusão
Nas condições atuais, as perguntas que se impõem são as seguintes: Os seguros de vida oferecem meios, de enfrentar emergências, que são compatíveis com os princípios cristãos? Podem eles ajudar a enfrentar crises surgidas por incapacitação ou morte do assalariado, sem enfraquecer a fé ou a confiança na providência divina? Podem eles ajudar alguém a assumir a responsabilidade, dada por Deus, de proteger os inocentes sobreviventes de tragédias neste mundo perigoso?
Em 1957 foi publicado um resumo de 50 páginas, apresentando as conclusões a que chegou uma comissão de estudos, da Associação Geral e dos Depositários de EIlen White, sobre os seguros de vida. Suas propostas, baseadas em judiciosa investigação, proveem sólida interpretação dos princípios envolvidos, os quais incluem o seguinte:
1. O Espírito de Profecia ensina, sem hesitação, que o cristão deve preparar-se para os “maus dias”. Deve reconhecer que chegará o dia em que os rendimentos serão parcos ou mesmo nulos: E ao contemplarmos o futuro, devemos ter, se possível, um montante razoável de bens ou reservas em dinheiro para fazermos face a tais necessidades, para que “não seja preciso depender da caridade alheia”.
2. É conveniente contar com a segurança de uma modesta casa própria e moderados investimentos financeiros, dinheiro no banco, investimento na Obra do Senhor ou outro investimento sólido.
3. É conveniente beneficiar-nos da proteção oferecida pelo seguro contra incêndio e seguro do automóvel.
4. Os conselhos do Espírito de Profecia sobre seguros de vida, na década de 1860, foram dados numa época em que estes não eram fiscalizados, e muitas vezes atendiam a interesses suspeitos – uma espécie de jogo para enriquecer rapidamente.
5. Na maioria dos planos de seguros de vida, é mantido o princípio de colocar uma parte de lado, para os dias de necessidade e para ajudar a levar as cargas uns dos outros. O círculo se estende para além da família ou da igreja, incluindo um grande número de pessoas, igualando os encargos e minimizando as despesas.
6. O seguro de saúde é outro plano para nivelar o que de outro modo seria uma despesa muito grande. Também nesse caso um grande número de pessoas ajuda a levar as cargas uns dos outros.
7. O Fundo Mútuo para Funerais, do qual participam muitas pessoas, através de pagamentos periódicos ou taxas pagas por ocasião da morte de um membro, é uma maneira de repartir as despesas, de tal modo que um leva a carga do outro.
8. A Previdência Social é reconhecida pela Igreja como um plano, através do qual o empregador e o assalariado se unem para sistematicamente fazer uma reserva, a ser utilizada em caso de invalidez, aposentadoria ou morte.
9. A Igreja Adventista do Sétimo Dia, embora oficialmente não procure incentivar ou dissuadir seus membros no tocante aos vários tipos de seguros, tem, através de votos tomados no Concílio Anual da Comissão da Associação Geral, dado a sua aprovação aos planos previdenciários e de benefícios.
RUBEM M. SCHEFFEL, editor jubilado da Casa Publicadora Brasileira