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postado em: 2/9/2013
“Dia Santo ou Feriado?”
Seminário do Dia do Senhor-IV
Dr. Samuele Bacchiocchi Professor Jubilado de História Eclesiástica e Teologia Universidade Andrews, Berrien Springs, Mich., EUA
Introdução
[Dr. Carl Coffmann, Chefe do Depto. de Religião da Universidade Andrews]:
Damos-lhes as boas-vindas para a última seção deste Seminário do Dia do Senhor. É nossa oração que estes estudos tenham trazido real enriquecimento espiritual para as suas vidas.
O Dr. Bacchiocchi escolheu um intrigante título para a sua quarta apresentação, “Dia Santo ou Feriado?”
Nosso orador compartilhará alguns pontos de destaque em seus anos de pesquisa na Universidade do Vaticano e como a mudança ocorreu do sábado para o domingo no cristianismo primitivo, e como essa mudança afetou a qualidade do viver cristão de milhões de pessoas ao longo dos séculos. Kerry McCombs cantará novamente, desta vez um dos favoritos da Igreja Cristã, “Manso e Suave Jesus está Chamando”, acompanhado pela esposa Tammy.
Unam-se comigo em oração, pois tanto precisamos responder ao terno chamado de Nosso Salvador e ao virmos à parte em Seu santo dia para receber Sua bendita paz e descanso.
“Querido Pai, fizestes tanto por nós. Concedeste-nos um maravilhoso Salvador que deseja nos perdoar e restaurar à Sua semelhança. Deste-nos um maravilhoso dia de repouso, o sábado. Ajuda cada um de nós a encontrar em Jesus e no sábado a paz e descanso celestiais para nossa vida de que tanto carecemos hoje. Muito obrigado por nos ajudar, em nome de Jesus, amém.”
[Apresentação da música anunciada]
Muito obrigado Karry e Tammy por outra maravilhosa mensagem em cântico, um cântico que tão adequadamente nos recorda o dia santo de Deus, o dia quando o Salvador suave e ternamente nos convida a nos dispormos voluntariamente a Ele para experimentar mais livre e plenamente sua paz e descanso em nossa vida.
Bem-vindos, amigos, a esta última seção deste Seminário do Dia do Senhor. Para mim tem sido um real privilégio compartilhar com vocês alguns pensamentos de como podemos tornar a celebração do santo dia de Deus uma experiência de renovação pessoal, descanso e refrigério.
Nesta última apresentação gostaria de compartilhar com vocês alguns dos pontos altos da pesquisa que tive o privilégio de empreender na Universidade do Vaticano exatamente sobre esse intrigante tema de como ocorreu a mudança no dia do Senhor, do sábado para o domingo no cristianismo primitivo. Mas antes de iniciar minha apresentação formal hoje gostaria de tomar alguns momentos para mencionar esses pontos altos de minha experiência no Vaticano em benefício daqueles que não estiveram presente na primeira apresentação.
Talvez a melhor forma de sumariar minha experiência no Vaticano é por caracterizá-la como uma providência, por um lado e satisfação recompensadora, por outro. Por exemplo, minha admissão na Pontifícia Universidade Gregoriana foi um problema real porque nunca antes, em 431 anos de sua história, um não-católico havia sido ali admitido. Então, podem imaginar como levou muitos meses para que minha solicitação de matrícula fosse processada e, finalmente, me concederem dispensa especial, isenção especial para assinar a Profissão de Fé Católica e também de freqüentar seus exercícios religiosos. Alguns de vocês, estudantes, até podem achar que eu tive sorte de não ter que assistir às capelas no Vaticano, não é mesmo?
Não só minha admissão, mas também minha presença no Vaticano foi um problema. Por quê? Porque as autoridades da universidade temiam que eu fosse me valer das aulas e corredores para propagar minha fé, e assim, no dia em que me aceitaram, pediram-me para fazer um solene voto (eles não podiam fazer um voto monástico), prometer solenemente que não utilizaria suas instalações para propósitos de propaganda. E isso é o que eu prometi naquele dia. E fiz isso, mas sabem o que aconteceu? Eu lhes disse que só falaria se fosse interrogado, mas na verdade eles me interrogavam o tempo todo porque meus colegas de classe ficavam se indagando a que ordem religiosa eu pertenceria, uma vez que eu não trajava nenhuma veste monástica. Então me perguntavam o tempo todo, “a que ordem religiosa você pertence”? E quando eu lhes dizia que pertencia à ordem adventista eles queriam saber mais sobre essa ordem especial, porque imaginavam que se tratava de uma das muitas ordens católicas.
Bem, não só minha admissão e presença, mas também minha pesquisa no Vaticano foi um problema porque eu decidi investigar o próprio assunto tão controvertido da mudança do santo dia de Deus no cristianismo primitivo. Bem, ao enfrentar esse problema desafiador, pela graça de Deus, eu experimentei uma das maiores satisfações de minha vida. Primeiramente, diria, a satisfação de conseguir novos lampejos, não só quanto a qual é o dia santo de Deus, mas também quanto ao que deve significar para a vida cristã hoje. Eu honestamente posso lhes dizer com franqueza que esses cinco anos que passei ali no Vaticano, trabalhando na biblioteca do Vaticano, examinando todos aqueles antigos documentos hebreus e cristãos, não só confirmaram minha convicção quanto à validade do princípio da observância do sábado no sétimo dia, mas me ajudaram a descobrir o valor e benefício e bênção da guarda do sábado. Eu posso verdadeiramente lhes dizer e confessar-lhes que como resultado dessa pesquisa vim a descobrir o sábado, não como um dia de frustração, mas um dia de celebração, não como um dia negativo, mas um dia de alegria, um dia para nos aproximarmos de Deus, dos semelhantes, um dia para experimentar renovação física, moral e espiritual em nossa vida pessoal.
Bem, também tive a satisfação de compartilhar minha fé ali no Vaticano com meus professores, meus colegas de classe. Eu lhes disse na primeira apresentação como pude convidar alguns de meus colegas sacerdotes e monges para assistirem a nossa igreja em Roma. De fato, pude convidar toda a classe de graduandos para nossa casa para uma festa de despedida. Eu lhes disse que não iríamos oferecer bebidas alcoólicas. Mas disseram-me que isso não seria um problema, pois poderiam cuidar disso eles próprios!
Eles não estavam brincando. Quando chegaram, aquela noite, estavam muito bem equipados. Tinham uma garrafa numa mão, outro trazia o acordeão, o bandolim para terem um bom tempo cantando e bebendo. E logo começaram a cantar alguns cânticos românticos italianos, e eu mal podia crer, porque monges e sacerdotes não têm namoradas, como sabem. Assim, eu tive que lhes perguntar: “Amigos, como podem cantar a respeito da amada quando não têm uma?” Um deles me respondeu que essa era a maneira como sublimavam o seu amor.
“Bem”, eu disse, “isso pode ser suficientemente bom para vocês, meus amigos, não para mim.” Mas isso me deu oportunidade, ao chegarmos ao fim da reunião, de dar a cada um deles uma cópia de cortesia de minha dissertação como uma última lembrança do abençoado tempo que tivemos juntos.
Sim, eu também tive a satisfação de ter dois livros publicados no Vaticano; primeiro, a minha dissertação doutoral, Do Sábado Para o Domingo, que conta a história da mudança do santo dia do Senhor no cristianismo primitivo. Devo mencionar que esse livro tem a distinção de ser a primeira obra jamais publicada pela gráfica do Vaticano escrito por um não-católico, contudo publicado com o Imprimatur, que é o endosso oficial, concedido por três diferentes autoridades católicas. Também tive a satisfação de ter um segundo livro publicado no Vaticano, Divine Rest for Human Restlesness [Descanso Divino Para a Inquietude Humana] que apresenta o valor e benefícios da observância do sábado para nossa vida hoje.
Talvez a maior satisfação foi ter o oportunidade de receber do Papa Paulo VI duas medalhas que trouxe novamente para que aqueles que não as viram na primeira apresentação possam vê-las hoje. Esta é a medalha de prata para a distinção magna cum laude em meu trabalho acadêmico, e esta é a medalha de ouro, pela distinção summa cum laude, em meu trabalho de pesquisa sobre esse princípio bíblico tão importante de observância do sábado que o mundo cristão tem em grande medida esquecido.
Se algum de vocês quiser examinar mais de perto essas peças de “santa prata” e “santo ouro” do “santo Pai” eu terei o prazer de lhes mostrar de bem perto.
Também tive a satisfação de receber um diploma muito incomum. Vou pedir à minha esposa para novamente vir à frente e segurar o diploma por um instante enquanto eu conto rapidamente a história dele. Em certo modo eu gosto que minha esposa o segure porque creio que ela tem um legítimo direito à metade do diploma, sabem por quê? Não fosse por seu apoio moral e espiritual eu não o teria conseguido. Assim, creio que este diploma pertence a nós ambos.
Agora, o que há de especial a respeito deste diploma? Este é o segundo diploma que prepararam para mim porque eu recusei aceitar o primeiro, ou seja, o diploma padronizado da Universidade, sabem por quê? É que no primeiro diploma a declaração inicial dizia que eu havia assinado a profissão de fé católica, o que não era verdade. Assim eu lhes disse, “temo que não possa aceitar este diploma”, e o deão reconheceu a validade de minha objeção, assim deu ao calígrafo do Vaticano a ordem de preparar um belo diploma, escrito à mão, concedido por autoridade do Papa Paulo VI e assinado por um número de distintas autoridades católicas.
Quando eu fui receber o meu diploma eles me disseram: “Quero que saiba que este é o diploma mais bonito que o Vaticano já produziu”. Louvado seja Deus! Muito obrigado.
Também tive a satisfação, e já disse que foi a maior satisfação de todas, poder compartilhar a minha fé através da página impressa com líderes e eruditos cristãos de diferentes persuasões em muitas partes do mundo. Eu gostaria de ter tempo hoje para compartilhar com vocês as centenas, milhares de cartas que tenho empilhadas em meu escritório de eruditos de diferentes persuasões que leram esta publicação oportuna sobre o sábado e me escreveram para expressar sua preocupação e interesse por recuperar os valores e bênçãos da observância do dia de descanso para a vida pessoal.
Talvez eu poderia compartilhar uma carta com vocês que recebi do Dr. Don W. Wordlord, do Seminário Teológico McCormick (ele é professor de culto e pregação nessa instituição). Após ler o meu livro ele me enviou uma avaliação muito simpática, dizendo, por exemplo, “o seu livro quieta e vigorosamente nos desafia, como cristãos, que temos eliminado a observância do sábado, a reconsiderar de seu ponto de vista positivo a experiência redentora que nos é disponível, a nós crentes, cada semana, nessas 24 horas concedidas por Deus”.
E ele prossegue dizendo, “Nossas almas fragmentadas, penetradas, dissecadas por um cacófono de contracultura (ele sabe usar bem a língua inglesa, não é mesmo?) clama pelo alívio e realinhamento que nos aguarda no dia de sábado. Muito obrigado por nos ajudar a unir-nos a Adão nesse ritmo de renovação”.
Eu posso lhes assegurar que é muito gratificante receber endossos como este de eruditos que reconhecem que hoje precisamos da liberação, do realinhamento do dia do sábado em nosso mundo cheio de tensão e inquietude.
Eu tive a grande satisfação não só de receber centenas de cartas como estas, mas também de receber convites de organizações religiosas e acadêmicas para compartilhar com eles a mensagem do sábado para hoje. Talvez eu poderia compartilhar uma experiência em particular, qual seja, o convite que recebi da Aliança do Dia do Senhor dos Estados Unidos. Após ler o meu último livro, “Do Sábado Para o Domingo”, o Dr. Wesberry, diretor executivo da Aliança do Dia do Senhor dos Estados Unidos escreveu uma carta muito graciosa, primeiramente agradecendo pelo livro e então, no terceiro parágrafo, dizendo que “seria uma grande alegria reunir-me com o irmão se uma tal reunião pudesse ser arranjada. Tal conversação”, diz ele, “haverá de aumentar meus conhecimentos e dar-me idéias adicionais sobre como o Dia do Senhor deve ser observado”. Então, no último parágrafo ele diz: “Se puder propor o tempo e lugar para uma reunião entre nós ser-me-ia grande honra reunir-me e conversar com o senhor”.
Mamma mia! Quando recebi esta carta fiquei tão emocionado... De vez em quando eu sinto muita emoção. Aqui estava o diretor-executivo da Aliança do Dia do Senhor dos Estados Unidos expressando o desejo de conversar comigo para aprender mais sobre como o Dia do Senhor poderia ser observado. Pudemos fazer arranjos com ele vir à Universidade Andrews e passou conosco uma celebração do sábado, participando de nossa Escola Sabatina. Ele foi nosso convidado de honra em casa. Vocês precisam vê-lo comendo nossa “lasanha sabática”, quase lambendo o prato. Ele perguntou o que a fazia tão gostosa, e eu lhe disse: “Dr. Wesberry, esse é o molho do sábado que o faz ter gosto tão bom”. E desde então ele me tem pedido a receita secreta do molho sabático...
À noite, quando minha esposa e eu o levamos ao aeroporto sabem o que ele nos disse? Declarou que aquele foi o mais deleitoso dia de repouso que já havia celebrado em sua vida. Então ele me fez uma pergunta. Sabem o que ele me perguntou? “Estaria o irmão disposto a vir no próximo dia 14 de fevereiro até Atlanta, Geórgia, e falar durante a reunião da nossa junta que terá a assistência de 150 membros, líderes religiosos representando 21 denominações, estaria o irmão disposto a fazer isso?”
Eu disse, “Dr. Wesberry não repita isto. Uma vez é suficiente. Eu teria a maior emoção de ir por minha própria conta”!
Eu gostaria que estivessem ali naquela noite. Tive 70 minutos para compartilhar não só os pontos altos de minha pesquisa sobre a mudança do Dia do Senhor, mas também esbocei sugestões sobre como hoje podemos revitalizar a observância do dia santo de Deus. Oh, a reação foi magnífica. Todos eles, com exceção de quatro ou cinco pessoas, levantaram-se e me deram uma ovação estupenda e 36 deles, inclusive Normal Vincent Peale, escreveram-me depois solicitando literatura para aprofundarem o seu entendimento do sábado para hoje.
Creio que este interesse da parte de tantos líderes religiosos hoje por um reexame da história, teologia e relevância prática do sábado é indicativo da prevalecente preocupação entre líderes religiosos quanto à crise do dia do Senhor. Estou certo de que estão cientes do fato de que a crise do Dia do Senhor é uma das crises mais cruciais a afetar o cristianismo hoje. Para muitos cristãos o Dia do Senhor na verdade se tornou um feriado [N.T.: em inglês, o contraste entre “holy day” (dia santo) e “holiday” (feriado), como o título da nossa apresentação sugere. Um dia para buscar prazer e ganho pessoal, em vez de buscar a presença e paz de Deus.
Estou certo de que estão cientes de que na Europa Ocidental, por exemplo, mais de 90% dos cristãos não se preocupam de ir a uma igreja, muito menos consagrar um tempo para o Senhor. Logicamente essa tendência é de grande preocupação para os dirigentes religiosos, por quê? Porque eles reconhecem que a observância do dia santo desempenha um papel vital no crescimento e sobrevivência cristãos. Este fato foi reconhecido há muito tempo pelo grande presidente americano Abraão Lincoln. Num discurso que Lincoln apresentou em 13 de novembro de 1862 ele declarou: “Ao mantermos essa interrupção do dia de repouso nós nobremente salvamos ou perdemos lamentavelmente, as regras, a última e melhor esperança pela qual o homem se eleva”.
Não é maravilhoso que um de seus maiores presidentes, Abraão Lincoln, reconhecesse que o princípio de observância do santo dia de Deus é a última e melhor esperança que pode elevar e enobrecer a humanidade? A indagação que surge é: Por que Lincoln, por que os líderes religiosos reconhecem hoje que este princípio de observância do santo dia de Deus é tão vital? Por que é tão vital? Simplesmente porque o cristianismo em essência é um relacionamento com Deus, e se esse relacionamento deve sobreviver, seja a nível humano ou humano-divino, tem que ser cultivado, não é verdade? Nenhum relacionamento sobreviverá sem que tempo seja dedicado a estar juntos, e o santo dia de Deus, o dia de sábado, propicia-nos o tempo e a oportunidade para cultivar, para aprofundar nosso relacionamento de uns com os outros. E isso significa que a apropriada observância do santo dia de Deus resulta em crescimento espiritual, bem-estar espiritual. A negligência, indiferença e profanação do santo dia de Deus resulta em declínio espiritual, morte espiritual. E se isso é verdade, então a atual tendência, a atual profanação do Dia do Senhor é indicativo da ameaça que o cristianismo defronta, não só a ameaça da extinção do santo dia de Deus, mas a ameaça do fim do próprio cristianismo.
De fato, alguns teólogos e eruditos falam que a Europa está numa era “pós-cristã”, como se o cristianismo ali já tivesse morrido. E esses líderes cristãos preocupados que pensam e se preocupam com tal problema estão propondo soluções. Eu poderia ler centenas de artigos e dissertações, como exemplo, da revista Sunday, publicada regularmente para tratar exatamente desse problema, e noto que há várias propostas freqüentemente feitas. Três delas se destacaram em minha mente. Uma é a proposta legislativa. A segunda pode ser chamada, a proposta educacional, a terceira pode se chamar, a proposta teológica para ajudar a resolver o problema da profanação do Dia do Senhor.
Legislativa: Muitos hoje crêem que o de que precisamos é uma legislação nacional que poria fora da lei todas as atividades que não sejam compatíveis com o espírito do domingo. É argumentado que essa legislação nacional poderia alcançar dois objetivos principais: 1) Preservaria o equilíbrio ecológico de nosso meio-ambiente; 2) Incentivaria ou promoveria a freqüência à igreja aos domingos. Permitam-me perguntar-lhes: o que pensam a respeito disso? Pensam realmente que uma legislação nacional seria a melhor solução para a prevalecente não-observância, indiferença e negligência do dia do Senhor? O que acham disso?
Eu pessoalmente não creio que em nossa sociedade materialista e pluralista possamos tornar as pessoas religiosas por meio de legislação coerciva. Isso se comprova na Europa, na Itália, Inglaterra, Alemanha onde há leis dominicais que proíbem todo tipo de atividade comercial e industrial. Na Itália, por exemplo, você não pode comprar gasolina aos domingos. Pode haver um posto de gasolina aberto para cada 10.
Assim, tem-se que encher o tanque no sábado se estiver viajando por lá, doutro modo estará sem combustível no domingo. Significa isso que as pessoas são mais religiosas? Não! Só três por cento das pessoas vão à igreja aos domingos; 97% vão à igreja só três vezes na vida: quando são batizadas, quando se casam e quando são sepultadas, e neste último caso nem vão por si próprias – são carregadas!
Assim, isso mostra que a legislação não é a solução para a prevalecente profanação do Dia do Senhor. E muitos líderes religiosos reconhecem isso, assim estão propondo um programa para educar, iluminar nossa comunidade quanto aos vários benefícios sociais, econômicos, ecológicos, fisiológicos que podem derivar de quando pessoas e máquinas param por um dia no domingo. De fato, um recente artigo da revista Sunday diz que se todas as lojas fechassem aos domingos isso se traduziria em economia: economia em mão de obra, economia em energia, economia que poderia ser transferida para o consumidor em termos de 15% de redução na caixa registradora.
Isso parece bastante atraente, não é mesmo? Outra vez, porém, um programa educacional como esse poderia ter sucesso? Bem, eles estão tratando duro disso. Há pouco recebi, por exemplo, alguns posters que têm sido colocados em algumas partes do país, como este que foi colocado em importantes lojas e que diz: “A abertura aos domingos vai custar-lhe todo dinheiro extra no preço final de suas compras”. Eis aqui outro que diz: “Não se engane. Se esta loja está aberta aos domingos você vai pagar maiores preços sete dias por semana”.
Uma vez, permitam-me perguntar: pode uma campanha educacional como essa realmente ter êxito em educar e convencer as pessoas a se tornarem religiosas no domingo, a assistirem a igreja de sua escolha? O que pensam?
Temo que educação uma vez mais não seja a solução porque a experiência nos ensina que as pessoas não mudam o seu estilo de vida só por causa de uma peça de bom conselho que lhes é dada, não é verdade? Em todo maço de cigarro nos EUA está claramente escrito, em preto e branco, que o Cirurgião Geral (N.T.: equivalente a Ministro da Saúde) determinou que o fumar é prejudicial para a saúde. Esta é uma boa peça de conselho dada por uma autoridade altamente respeitada no país. Contudo, o que vemos? Há mais de 37 milhões de pessoas neste país somente, que preferem consumir sua saúde em fumaça a interromper o hábito de fumar! O que isso demonstra? O que prova? Simplesmente prova que bom conselho, educação por si mesmo não é suficiente.
Creio que o que é necessário, o de que se precisa é uma profunda convicção teológica. Somente quando uma pessoa descobre que certos princípios, como o princípio da observância do sétimo dia, não é apenas um conselho humano, não é um programa educacional, mas um princípio divinamente estabelecido para assegurar nosso bem-estar físico, moral e espiritual, somente quando essa convicção se torna dominante a pessoa se sentirá compelida a agir segundo tal convicção. Muitos líderes religiosos e eruditos reconhecem a importância dessa visão teológica e, conseqüentemente, pesquisas recentes e manuais adotaram essa metodologia teológica, que é dar uma base bíblica para a observância do domingo.
De fato, a explicação prevalecente hoje, e mais de vinte dissertações foram produzidas e centenas de artigos foram escritos apresentando a explicação de que a mudança histórica do sábado para o domingo ocorreu pela autoridade de Cristo, pela autoridade dos apóstolos os quais, alegam, escolheu o primeiro dia da semana a fim de honrar a Ressurreição de Jesus Cristo por meio da celebração da Ceia do Senhor.
Caros amigos e irmãos eu passei muitos anos de minha vida buscando testar a validade dessa alegação e desejo compartilhar com vocês, no tempo muito limitado, infelizmente bastante limitado que temos, o que levou muitos anos para eu descobrir. Gostaria de pelo menos apresentar alguns dos pontos altos das conclusões de minha pesquisa.
Comecemos por examinar essa alegação da Ressurreição de Jesus. Façamos a pergunta: é verdade que a Ressurreição de Cristo, que teve lugar no primeiro dia da semana, foi o fator motivador para causar o abandono do sábado e adoção da observância dominical? Em minha pesquisa do material bíblico e patrístico descobri que essa alegação baseia-se em fantasia e não em fatos. Permitam-me apresentar pelo menos 6 razões:
1) No Novo Testamento não existe nenhuma ordem de Cristo ou dos apóstolos com respeito a uma celebração semanal ou anual da Ressurreição de Cristo. Temos várias ordens diferentes para batismo (“ide por todo o mundo e batizai”), para santa ceia (“fazei isso em memória de Mim”), para o lavapés (“eu vos dei o exemplo para que façais como eu vos fiz”), mas podem percorrer todas as páginas do Novo Testamento e não encontrará o menor indício ou sugestão de que a Ressurreição de Jesus Cristo devesse ser celebrada num domingo semanal ou num domingo de Páscoa anual.
2) Gostaria que notassem que em o Novo Testamento não há qualquer designação do dia da Ressurreição. Em outras palavras, o domingo nunca é chamado de “Dia da Ressurreição” no Novo Testamento, mas é simplesmente chamado “primeiro dia da semana”. Sabem o que eu descobri em minha pesquisa? Tivemos que esperar até o quarto século (321 DC) com os escritos de Eusébio para encontrar o primeiro uso da frase “dia da Ressurreição”. Por quê? Porque antes desse tempo o domingo não tinha sido associado com a celebração ou memorial da Ressureição, assim tal frase não existia.
3) Gostaria que notassem que a Ressureição de Jesus Cristo no domingo não assinala o encerramento do ministério terrestre de Cristo, mas a inauguração do novo ministério de Cristo. Lembram-se como o Salvador naquela sexta-feira à tarde declarou, em João 19:30: “Está consumado”? E ao ter declarado isso, Ele descansou na tumba, segundo o mandamento. Sim, a Criação havia sido completada com o divino descanso, e a redenção foi completada com o descanso do Salvador na tumba. Mas a ressurreição não assinala a complementação, mas sim o início, a inauguração do novo ministério de Cristo, que, como a inauguração da Criação, pressupõe trabalho, antes que descanso.
4) As próprias palavras que foram proferidas pelo Cristo ressurreto no dia de Sua Ressurreição contêm um convite para o trabalho, antes que ao descanso. Lembram-se como o Salvador declarou às mulheres: “Vão e digam aos discípulos para irem para a Galiléia”? Ele mandou os discípulos irem ensinar todas as declarações do Salvador ressurreto no dia da Ressurreição, o que pressupõe trabalho, não descanso.
5) Sobre a Ceia do Senhor, que muitos cristãos consideram como o centro do culto dominical em honra do Salvador ressurreto, sabem o que eu descobri estudando todos aqueles documentos dos cristãos primitivos na biblioteca do Vaticano? Descobri que a Ceia do Senhor não era celebrada exclusivamente no domingo. De fato era celebrada nas noites de diferentes dias da semana porque a lei romana proibia essas reuniões da Ceia e os cristãos precisaram mudar as datas e lugares de semana a semana, e descobri que o significado da Ceia do Senhor – qual é o significado da Ceia do Senhor? Leiamos na Bíblia: I Coríntios 11, vs. 26 onde Paulo discute o sentido da Ceia do Senhor, e ele diz: “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a RESSURREIÇÃO do Senhor, até que Ele venha. . .” É isso que ele diz? Não! O que ele disse? Anunciava, o quê? “Anunciais a MORTE do Senhor, até que Ele venha”.
Assim, podem ver que no Novo Testamento a Ceia do Senhor era vista como memorial, do quê? Da morte, a paixão de Jesus e também a Sua vinda, a parousia. O motivo da Ressurreição não está aí.
6) A Páscoa que os cristãos hoje celebram no Domingo de Páscoa em honra da Ressurreição de Cristo, eu descobri que entre os cristãos primitivos pelo menos por quatro séculos após a morte de Cristo era celebrada, não regularmente num domingo anual, mas pelo dia judaico fixo da Páscoa, em 14 de Nisã, o que significa que cairia em diferentes dias cada semana, e o significado da Páscoa não era a Ressurreição, mas a celebração da Paixão, a expiação, os sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Agora, eu poderia lhes dar muitas outras indicações. De fato, eu os instaria a lerem o capítulo 3 de minha dissertação onde toda essa questão da Ressurreição é examinada em muito maior extensão. Mas creio que indicações como essas são suficientes para mostrar que a alegação de que a Ressurreição de Jesus Cristo no primeiro dia da semana foi o fator motivador para o abandono do sábado e adoção do domingo é uma alegação totalmente infundada. É verdadeira e plenamente desacreditada tanto pela evidência bíblica quanto histórica.
Neste ponto uma pergunta surge: como se originou o domingo? Foi talvez pela autoridade da igreja de Jerusalém? De fato, este é o ponto de vista prevalecente. Muita gente diz, “Quem poderia mudar o dia de adoração, quem poderia alterar o calendário cristão? Não uma pequena e insignificante igreja, mas somente a sede, a igreja-mãe do cristianismo, a igreja de Jerusalém, seria a única que teria a autoridade máxima para realizar a mudança e impô-la sobre a cristandade.
Seria isto verdade, eu me pergunto? Parece muito racional, mas uma vez eu comecei a testar a validade dessa alegação, realizando um exaustivo estudo em profundidade da história da Igreja de Jerusalém descobri que essa alegação é inteiramente sem fundamento. O que descobri na biblioteca do Vaticano? Basicamente descobri é que a igreja em Jerusalém por pelo menos um século completo após a morte de Jesus foi composta e administrada por conversos cristãos que eram muito fiéis e comprometidos com a herança religiosa, como a observância do sábado. E permitam-me dizer, amigos, a estas alturas, que por muito tempo tem havido uma prevalecente concepção falsa de que a cruz representa uma demarcação radical, uma descontinuidade entre o judaísmo, lei, observância do sábado – cristianismo, graça e observância do domingo. Esse tem sido o entendimento tradicional.
Sinto-me feliz em lhes relatar que nesta recente pesquisa tem sido demonstrado que essa descontinuidade não se fazia presente no cristianismo primitivo e que os cristãos primitivos e muitos milhares creram, cinco mil, quatro mil, três mil, milhares e milhares mencionados no livro de Atos, não eram pessoas que relegaram, abandonaram o judaísmo e sua herança religiosa para se unirem a outra igreja, outra denominação, como pensamos em nossos dias.
Eles se tornaram simplesmente judeus crentes. Ao aceitarem a Jesus de Nazaré como o seu Messias tornaram-se judeus crentes e a tensão nos Atos dos Apóstolos é entre judeus crentes e não-crentes. Vejamos um exemplo do Novo Testamento e depois veremos um exemplo de fonte pós-bíblica. Lembrem-se que em Atos dos Apóstolos, por exemplo, quando o líder da igreja em Jerusalém deu um relatório a Paulo, registrado em Atos 21:20: “Bem vês, irmão, quantas dezenas de milhares entre os judeus que creram, e todos são zelosos da lei”. Então, como esses judeus crentes são caracterizados? “E todos são zelosos pela lei”.
Percebem este ponto? Eles eram zelosos na observância da lei, os cristãos de Jerusalém. Então eles dificilmente poderiam ter sido os pioneiros e promotores do abandono de um dos principais preceitos da lei, qual seja, o quarto mandamento. Percebem isso?
Mais tarde, documentação histórica corrobora e substancia esta conclusão. Gostaria que pudéssemos ter tempo para estudar isto em profundidade, mas o tempo é tão limitado que eu posso somente exibir brevemente um documento em particular que descobri, e que é muito iluminador. . . Mamma mia, quando descobri este documento eu fiquei tão emocionado! De vez em quando eu me emociono. Sabem, quando você se dedica à pesquisa, lê, lê e lê, e às vezes o que você lê não lança nenhuma luz, assim se torna algo aborrecido, mas quando chega um tempo em que você localiza algo que realmente lança luz, isso realmente compensa tudo o que você enfrentou antes. Permitam-me falar sobre este documento do historiador palestino chamado Epifânio. Ele viveu ao redor de 350 AD e narra toda a história da igreja de Jerusalém e fala desses cristãos de Jerusalém que deixaram a cidade antes da destruição do ano 70 AD segundo a admoestação e instrução de Cristo.
Lembram-se de como em Mat. 24:20 Jesus disse aos cristãos, que quando vissem os exércitos cercando a cidade não deviam demorar-se, mas fugir? E isso eles fizeram, e para onde foram? Para o norte, a um lugar chamado Pela, e sabem o que ocorreu? Eles estabeleceram-se ali, colonizaram o lugar e passaram a ser conhecidos como os nazarenos.
E sabem o que este Epifânio diz? Ele declara que esses nazarenos, ou seja, os diretos descendentes da igreja de Jerusalém, viveram ali no seu próprio tempo e, diz ele, que os nazarenos diferiam do resto dos cristãos por insistirem até aquele tempo na observância do sábado do sétimo dia. O documento inteiro está traduzido na pág. 157 de minha dissertação, assim poderão lê-lo por si próprios.
Quando eu descobri este documento, sabem o que eu fiz? Eu providenciei uma cópia e fui até o escritório de meu professor. Ele leu na coluna em grego e na coluna em latim e então me perguntou: “Onde encontrou isto?” Eu disse: “Estava no andar de baixo em sua biblioteca”. Eu não havia providenciado uma cópia para mim, e ele leu novamente e sabem o que ele disse? Ele declarou: “Este é o atestado de morte – em italiano ele disse: il certificato di morte – da teoria que faz de Jerusalém o lugar de nascimento da guarda do domingo.
Agora, por que ele disse isso? Porque ele era um homem muito inteligente. Ele reconheceu que se esses descendentes da igreja de Jerusalém preservaram a observância da guarda do sábado do sétimo dia até o quarto século, então dificilmente poderiam ser responsáveis pela mudança do sábado para o domingo no primeiro século, compreendem?
Tendo sido possível provar, para a satisfação de meu professor, que Jerusalém necessitava ser excluída como o local de nascimento da observância do domingo, a pergunta que permanecia em suspenso era: Onde, quando, por que essa mudança teve lugar?
Ao continuar em minha investigação descobri evidência esmagadora indicando que essa mudança histórica começou aproximadamente um século após a morte de Jesus, não em Jerusalém, mas duas mil milhas de distância na igreja em Roma durante o reinado do famoso Imperador Adriano cuja foto aparece aqui na capa da Biblical Archaeology Review de um tempo atrás, que publicou o meu artigo, “Como Ocorreu A Mudança do Sábado Para o Domingo”. Eu descobri que foi nessa ocasião, durante o tempo do Imperador Adriano, de 117 a 135, que a igreja em Roma tomou medidas para mudar o sábado para o domingo e a Páscoa de 14 de Nisã para o domingo de Páscoa.
Por que essa mudança ocorreu nessa ocasião? Basicamente porque esse foi o tempo em que o governo romano adotou medidas bastante repressivas contra os judeus, proibindo categoricamente a observância do judaísmo em geral e da observância do sábado, em particular. Por quê? Porque os judeus tinham um espírito de rebelião por toda parte. Eles estavam experimentando um reavivamento do nacionalismo. A rebelião mais popular da época foi a rebelião de Barcocheba, e quando finalmente o imperador teve êxito em reprimir essa repressão, sofrendo pesadas perdas, não só expulsou os judeus de Jerusalém, mas proibiu categoricamente, sob ameaça de morte, a observância do sábado do sétimo dia.
E eu descobri que foi nesse momento histórico crucial, quando era impopular e arriscado observar o sábado, a igreja em Roma, formada de cristãos gentios, a igreja vivendo sob o nariz, sob a atenção imediata do Imperador, decidiu que a melhor medida a adotar era mudar o sábado para o domingo, e a Páscoa de 14 de Nisã para o domingo anual, para mostrar separação, diferenciação dos judeus e de sua religião.
Como a igreja em Roma conseguiu fazer isso? Oh, como eu gostaria que estudássemos isso, juntos! É muito interessante estudar a respeito de todas as medidas teológicas, litúrgicas e sociais que foram tomadas a fim de desencorajar a observância do sábado e incentivar, em seu lugar, a guarda do domingo. Uma das medidas que se destaca foi a mudança do sábado de um dia de festa para um dia de jejum para os judeus e para os cristãos.
Então, em vez de ser um dia de alegria e celebração, tornou-se um dia de jejum e tristeza para matar o clima festivo do sábado. Eu descobri que a igreja em Roma promulgou muitos decretos determinando que o sábado devia ser um dia de jejum, quando as pessoas não deviam comer nada, por quê? Por duas razões: 1) Como disse o Papa Silvestre, a fim de demonstrar exacratione judeorum – desprezo e ódio para com os judeus. 2) A fim de aguardar ansiosamente pela vinda do domingo.
Permitam-me perguntar-lhes, amigos, é o ódio aos judeus um motivo legítimo para alterar um preceito divino? Acaso Jesus jamais declarou que se tornar impopular observar um de Meus mandamentos, tomem a liberdade de alterá-lo? Já leram isso nos evangelhos? Não, jamais encontraremos nos evangelhos tal tipo de conselho. Contudo, isso foi exatamente o que ocorreu. Foi por mera conveniência, o desejo de livrar a pele, como se diz, e aqueles que desejavam expressar separação e desprezo pelos judeus e seu sábado é o que levou ao abandono do sábado.
Mas permanece a pergunta, por que o domingo foi escolhido? Vejam, os cristãos poderiam escolher um dia diferente, como a sexta-feira, para celebrar e memorializar a Paixão e Morte de Cristo. Por que eles escolheram o domingo, o primeiro dia da semana? Um fato muito importante que influenciou a adoção específica do domingo foi, como descobri, o prevalecente culto ao sol com seu domingo relacionado. De fato, sabem o que eu descobri em minha pesquisa? Descobri que o culto ao sol, o sol invencível, o culto do solis invictus, havia se tornado muito popular, de fato chegou a ser o culto predominante de Roma antiga pelo meio do segundo século, e descobri que quando o deus-sol se tornou o deus mais importante, isso afetou o ciclo da semana romana.
Permitam-me ilustrar isto mostrando-lhes alguns calendários arqueológicos. Estou segurando aqui um calendário datado de 78 AD onde, como notarão, Saturnus é indicado como o primeiro dia da semana e Solis é tido por segundo dia. Isso significa que o sábado é o dia número 1 e o domingo é o dia de número 2. Permitam-me mostrar-lhes outro calendário onde a mesma coisa aparece. Eis outro em que os dias da semana são mostrados segundo a figura dos deuses planetários. O primeiro dia é mostrado com a figura de Saturno, o segundo dia é mostrado com a figura do sol, e seus raios, etc. talvez eu lhes possa mostrar outro calendário de Pompéia. Eu imagino que ouviram falar de Pompéia, que foi destruída em 79 AD. Neste grafite de uma parede de Pompéia, “dies” significa dia da semana, “Sat”, é indicado como o primeiro dia, e o Sol recebe o lugar do segundo dia.
Qual é o ponto que estou tentando apresentar? A questão é que no primeiro século, por volta da época em que Pompéia foi destruída, o sábado era o primeiro dia da semana; mas, sabem o que aconteceu? Isso foi algo novo para mim. Eu desconhecia tal fato. Ao tornar-se o deus-sol o mais importante do panteão romano, até mesmo o dia que se associava com o deus-sol se tornou importante. Como? Sendo promovido da posição de dia número 2 para o dia número 1, como podem ver neste calendário, o dia mais importante da semana.
Oh, quando descobri esse avanço do dia do sol, de dia número 1 para dia número 2, eu me fiz a pergunta: “É possível que quando esse avanço teve lugar no mundo pagão, os cristãos também, que vieram de um mundo pagão, que tinham conhecido e praticado a observância do sol, nesse momento crucial, quando a necessidade foi sentida para separar-se, diferenciar-se dos judeus, teria sido possível que nessa ocasião eles chegaram a escolher o chamado “dia do sol” para expressar sua fé em Cristo? E eu testei meu trabalho e descobri que, positivamente, foi isto exatamente o que aconteceu!
Gostaria de poder discutir com vocês todas as evidências indiretas da influência do culto ao sol e todas as evidências diretas. Indiretamente encontramos que o culto ao sol influenciou os cristãos a escolher a orientação do nascer do sol e por escolherem 25 de dezembro, que era o dia de nascimento do deus-sol, como nova celebração do natal cristão, ou escolher a própria imagem do deus-sol.
Eu fui até Roma para tirar esta foto. Este é o mais antigo mosaico de Cristo que veio até nós da antigüidade cristã mais remota e que foi escavada recentemente sob o confessionário de São Pedro, em que Cristo é retratado como o deus-sol com sete raios de luz sobre a cabeça, montado na carruagem da quadriga, e isso é datado de cerca de 200 AD. De fato, o primeiro retrato de Cristo tem a Sua imagem como o deus-sol porque de fato essa era uma imagem muito significativa às pessoas daquele tempo. Mais diretamente o que eu descobri foi que a adoração do sol influenciou a própria justificativa teológica da observância do domingo.
Sabem de uma coisa? A razão predominante dada nos mais antigos documentos cristãos para a observância do domingo, dos primeiros cinco séculos, é este, como Jerônimo declara: “Observamos o dia do sol porque a luz foi criada no primeiro dia da Criação”. Podem ver a conexão entre o sol, gerador da vida, e a criação da luz no primeiro dia da semana? Assim podem ver como os cristãos adotaram o dia do sol como novo dia de culto. Eles estavam coçando a cabeça para buscar algum tipo de razão bíblica, e assim, encontraram este motivo na história da Criação, que no primeiro dia a luz foi criada, e essa seria uma boa razão para explicar por que observamos o domingo. Agora, obviamente essa razão foi abandonada há muito tempo.
Para sumariar tudo, caros amigos cristãos, permitam-me lhes dizer que a conclusão que emergiu de anos de dedicada pesquisa, lá na excelente biblioteca da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, é esta: que esta mudança histórica de sábado para o domingo não ocorreu por autoridade de Cristo, nem pela autoridade dos apóstolos, nem por causa do desejo de honrar a Ressurreição de Jesus Cristo no primeiro dia da semana, mas o processo todo começou aproximadamente um século após a morte de Jesus. Como lhes disse um momento atrás, foi durante o reinado desse Imperador Adriano, aproximadamente em 135 AD, e surgiu como resultado de uma interação de fatores sociais, políticos, religiosos e pagãos, fatores que também deram origem à comemoração do Natal em 25 de dezembro.
A conclusão que emergiu dessa pesquisa toda é que quando essa mudança teve lugar, não se tratou de uma mera mudança de nomes, de sábado para domingo, não somente uma mudança de números, de sétimo para o primeiro dia, mas uma mudança de significado, uma mudança de autoridade e uma mudança de experiência.
Sim, foi a mudança de um dia de 24 horas que Deus nos concedeu para expressar comprometimento com Ele, preocupação para com os semelhantes, num dia que foi escolhido para demonstrar desprezo pelos judeus, não compromisso para com Deus. Sim, de fato, foi uma mudança de um dia que Deus nos concedeu para nos ajudar a experimentar a consciência de Sua presença e Sua paz em nossa vida, num dia que se tornou ocasião para muitas pessoas buscarem o prazer e o ganho.
Para resumir tudo, foi uma mudança de um dia santo para um feriado. E essa mudança tem afetado grandemente a qualidade do viver cristão de milhões de pessoas ao longo dos séculos, gente que tem sido privada da renovação física, moral e espiritual que o sábado tem o objetivo de proclamar.
Queridos amigos e irmãos, essa experiência de pesquisar me convenceu plenamente de que se já houve um tempo em que precisamos da renovação, do alívio e realinhamento do sábado, este tempo é hoje! Vivemos numa época em que as pessoas estão sofrendo todos os tipos de crise – crise conjugal, crise de identidade, crise racial, crise gerada pela tensão, pela inquietude, pela competição. Nesse Seminário do Dia do Senhor consideramos juntos como o sábado nos ajuda, mediante o Salvador, a encontrar um remédio divino para muitas dessas crises.
Eu desejo orar por vocês, especialmente por aqueles que pela primeira vez vieram para entender a validade da observância do sábado para a sua vida pessoal. Quero orar para que o sábado se torne verdadeiramente para nós, todos, o dia em que permitimos ao Salvador trazer descanso, paz e renovação às vidas de todos aqui.
Oremos: Agradecemos-Te, ó Deus, pela graciosa dádiva do dia de sábado, o dia em que nos convida toda semana a virmos à parte de nossos cuidados para nos colocarmos livres e disponíveis a Ti. Ensina-nos, oramos, a como fazer a celebração do dia de sábado realmente uma celebração alegre na qual experimentamos a consciência de Tua paz e descanso em nossa vida, e que essa paz e descanso do sábado ajudem a cada um de nós a experimentar paz e descanso todos os dias de nossa vida, esta é a nossa oração em nome de Jesus, amém.
ARTIGOS DO DR. BACCHIOCCHI
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Sobre o Autor Deste Artigo
Dr. Samuele Bacchiocchi (1938-2008) foi o primeiro não-católico a se formar na Pontifical Gregorian University, em Roma, tendo recebido uma medalha de ouro do Papa Paulo VI por conquistar a distinção acadêmica summa cum laude por sua tese: Do Sábado Para o Domingo: Uma investigação histórica do surgimento da observância do domingo no cristianismo primitivo. Nesse trabalho, Bacchiocchi, um adventista do sétimo dia, mostrou que não há nenhuma ordem escriturística para mudar ou eliminar a guarda do sábado e apontou o papel preponderante da Igreja Católica na efetivação dessa mudança. O professor indicou ainda o anti-judaísmo e a adoração pagã ao Sol como fatores de abandono do sábado e influência na adoção do domingo. Ele evidenciou o anti-judaísmo latente nos escritos de alguns líderes cristãos do segundo século que “testemunharam e participaram no processo de separação do judaísmo que levou a maioria dos cristãos a abandonar o sábado e adotar o domingo como novo dia de adoração”. Autor de vários livros, era professor de teologia aposentado da Andrews University, no Estado do Michigan, e faleceu em 20 de dezembro de 2008, um sábado.