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postado em: 30/7/2008
Jó e os Enigmas do Sofrimento “Ao aflito livra por meio da sua aflição, e pela opressão lhe abre os ouvidos” (Jó 36:15). “Por que eu?” Quase todo mundo faz esta pergunta em meio ao sofrimento. Em grandes ou pequenas circunstâncias — um terremoto em outro país ou no diagnóstico de uma doença — enfrentamos questões angustiantes sobre por que Deus permite que sintamos dor. Ironicamente, os cristãos em sofrimento obtêm conforto no livro de Jó. Digo “ironicamente” porque Jó levanta mais questões sobre o sofrimento do que responde. O final do livro — uma fantástica aparição pessoal de Deus — parece o cenário perfeito para um monólogo esclarecedor. Deus, porém, evita por completo o ponto central da discussão anterior. E as várias teorias sobre a origem do sofrimento, todas agradáveis ao ouvido, propostas pelos amigos de Jó são desfeitas por Deus, com um olhar severo. Este livro, relato espantoso de coisas ruins acontecendo a um homem muito bom, não contém uma teoria compacta mostrando por que as pessoas boas sofrem. Apesar disso, oferece algumas percepções rápidas sobre o problema da dor. Meu próprio estudo levou-me às conclusões que se seguem. Não respondem o problema da dor — nem mesmo Deus tentou fazer isso. Mas esses princípios jogam luz sobre certos conceitos errôneos tão comuns hoje quanto no tempo de Jó. 1. Os capítulos 1 e 2 mostram um fato importante de forma sutil: Deus não causou diretamente os problemas de Jó. Permitiu que acontecessem, mas Satanás foi o agente causador. 2. Em nenhum lugar do livro é sugerido que Deus não tenha poder ou não seja bom. Algumas pessoas (até mesmo o rabino Kushner, em seu livro muito conhecido “Quando Coisas Ruins Acontecem com Pessoas Boas”) alegam que um Deus fraco não tem poder para evitar o sofrimento humano. Outros, deístas, presumem que Ele dirige o mundo a distância, sem envolvimento pessoal. Mas o livro de Jó não discute o poder de Deus, só Sua justiça. Em seu discurso final, em que resume as conclusões, Deus apresenta ilustrações esplêndidas da Natureza para demonstrar seu poder. 3. Jó, decididamente, rejeita uma teoria: a de que o sofrimento sempre vem em resultado ao pecado. A Bíblia confirma o princípio geral de “o homem colhe o que semeia”, até mesmo nesta vida (veja Salmo 1:3, 37:25). Mas as outras pessoas não têm qualquer direito de aplicar esse princípio geral a uma pessoa em particular. Os amigos de Jó foram persuasivos ao defender que ele merecia aquela punição catastrófica. Quando Deus, porém, apresentou o veredicto final, disse para eles: “Não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó” (Jó 42:7). (Posteriormente, Jesus também falaria contra a idéia de que o sofrimento implica, automaticamente, pecado anterior. Veja João 9:1-5 e Lucas 13:1-5.) Não tendo uma crença claramente definida na vida após a morte, os amigos de Jó presumiram, erradamente, que a justiça de Deus — sua aprovação ou não das pessoas — teria que ser demonstrada nesta vida. 4. Deus não condenou as dúvidas nem o desespero de Jó, apenas sua ignorância. O dito popular “a paciência de Jó” dificilmente se encaixa com a torrente de censuras que saíram da boca dele, que não aceitou sua dor em mansidão, mas gritou em protesto contra Deus. Suas palavras fortes escandalizaram seus amigos (veja, por exemplo, 15:1-16), mas não chocaram Deus. Será que precisamos de preocupar-nos se ofendemos Deus de alguma forma em uma explosão causada pela tensão ou pela dor? De acordo com este livro, não. Num toque da maior das ironias, Deus ordenou que os amigos de Jó seguissem seu exemplo de arrependimento, logo ele que era objeto de condescendência piedosa. 5. Ninguém conhece tudo sobre o sofrimento. Jó concluiu que ele estava certo e Deus era injusto. Os amigos insistiam em que a verdade era o oposto: Deus era justo e Jó estava sendo punido por alguma coisa que fizera. Por fim, todos aprenderam que viam a situação a partir de uma perspectiva limitada, cegos à verdadeira guerra que acontecia no Céu. 6. Deus nunca fica totalmente em silêncio. Eliú defendeu este ponto de forma convincente, relembrando a Jó sonhos, visões, bênçãos passadas e até mesmo as obras diárias de Deus na natureza (capítulo 33). Deus, da mesma forma, usou a natureza como evidência de sua sabedoria e de seu poder. Embora pareça que Deus está em silêncio, algum sinal de sua presença ainda pode ser encontrado. O escritor Joseph Bayly expressou a mesma verdade: “Na escuridão, lembre-se do que aprendeu na luz.” 7. Algumas vezes os conselhos cheios de boas intenções prejudicam mais do que ajudam. O comportamento dos amigos de Jó é um exemplo clássico de como o orgulho e o sentimento de estar com a razão podem sufocar a verdadeira compaixão. Eles repetiram frases piedosas e discutiram teologia com Jó, insistindo, teimosamente, em suas idéias equivocadas sobre o sofrimento (idéias que, na verdade, continuam a perseguir a Igreja). A resposta de Jó: “Tomara vos calásseis de todo, que isso seria a vossa sabedoria!” (13:4,5). 8. Deus mudou o foco da questão central: da causa do sofrimento de Jó para a reação dele. Misteriosamente, nunca explicou o problema do sofrimento e nem informou a Jó os acontecimentos registrados nos capítulos 1 e 2 do livro. A questão principal em jogo era a fé: se Jó continuaria a confiar em Deus mesmo quando tudo deu errado. 9. O sofrimento, no propósito de Deus, pode ser redimido ou usado para um bem maior. No caso de Jó, um período de grandes lutas foi usado por Deus para chegar a uma vitória importante, até mesmo cósmica. Ao avaliar o que passou — mas só depois que já passou — podemos ver as “vantagens” obtidas por Jó por continuar a confiar em Deus. Através de seu sofrimento imerecido, Jó apontou para Jesus Cristo, que viveria uma vida perfeita, e mesmo assim enfrentaria a dor e a morte para chegar a uma grande vitória. Milhares de anos depois, as perguntas de Jó ainda permanecem. Uns sofredores ainda utilizam as palavras dele como um grito contra a aparente falta de interesse de Deus. Mas o livro de Jó afirma que Deus não está surdo aos nossos gritos, e controla este mundo, apesar de às vezes parecer que não. Deus não respondeu a todas as perguntas, mas bastou Sua presença para que as dúvidas desaparecessem. Jó aprendeu que Deus se preocupava com ele. Aprendeu, ainda, que o Todo-Poderoso controla o mundo. Isso foi suficiente para ele. Extraído de Philip Yancey, “Perguntas Que Precisam de Respostas”. Nota do Editor IASD Em Foco: Este texto do notável escritor Philip Yancey, como tudo o mais que ele tem produzido ao longo dos anos, vale pelo “conjunto da obra” e, como tal, com este essencial equilíbrio cristão, espero que seja lido e apreciado pelos leitores. No entanto, para dissipar interpretações falsas, esclareço que não é endossada aqui neste site a seguinte afirmativa do escritor: “Não tendo uma crença claramente definida na vida após a morte, os amigos de Jó presumiram, erradamente, que a justiça de Deus — sua aprovação ou não das pessoas — teria que ser demonstrada nesta vida”. Para aqueles que queiram porventura conhecer a posição doutrinária – bíblica – endossada por nós, é só consultar os seguintes artigos postados na seção “Em Defesa da Fé”: 6/2/2008 - Dez Perguntas Para Resposta Ou Séria Reflexão dos Que Crêem na Imortalidade da Alma 6/2/2008 - 10 Perguntas Específicas Sobre a Criação do Homem e Sua Natureza