Digite uma palavra chave ou escolha um item em BUSCAR EM:
postado em: 5/9/2008
As Duas Naturezas de Cristo
O Grande Mistério do Cristianismo
Pergunta:
Em uma de nossas colunas, foi comentada a união do humano e do divino em Cristo. Por favor, diga-me em que o ponto de vista adventista se harmoniza com o de outros cristãos.
Essa não é uma questão bíblica, mas sua resposta será baseada em argumentos bíblicos. Farei um resumo da visão predominante entre os cristãos e tentarei resumir o que os adventistas dizem sobre o assunto. É claro que, sendo esse um mistério tão profundo, peço a você que se sinta à vontade para discordar.
1. Controvérsias cristãs e tentativas de solução:
Muito cedo na história da Igreja Cristã, a pessoa de Cristo tornou-se um tema de debates calorosos. Alguns sugeriam que Cristo era formado por duas pessoas: um ser humano e Deus — em um corpo. Outros argumentavam que Ele possuía apenas uma mente ou espírito — o divino.
Outros, ainda, sugeriam que a natureza divina e a natureza humana estavam fundidas, resultando em um terceiro tipo de natureza, tornando Cristo nem totalmente humano, nem totalmente divino.
Numa tentativa de resolver a polêmica, um concílio eclesiástico foi convocado em 451, na cidade de Calcedônia (próxima à moderna Istambul, Turquia). O concílio elaborou um documento conhecido como Definição de Calcedônia, que afirmava, entre outras coisas, que Cristo era “totalmente Deus e totalmente homem’ tendo as duas naturezas em uma pessoa, e que “a distinção entre as naturezas” não foi “perdida, de maneira alguma, pela união” (Philip Schaff, Creeds of Christendom, v. 2, p. 62, 63). Apesar de ainda haver debates sobre a veracidade dessa definição, sua idéia fundamental é aceita pela maioria dos cristãos.
2. Os adventistas e as duas naturezas de Cristo:
Os adventistas concordam com essa definição porque encontram compatibilidade com a informação bíblica sobre a encarnação de Deus em Cristo. É verdade que a teologia desse documento vai além do que está explícito na Bíblia, mas permanece dentro dos parâmetros da revelação divina.
É fato que Cristo era totalmente divino e totalmente humano. Adoramos a Deus em carne humana, não duas pessoas — uma divina e outra humana — em um corpo. Se fosse assim, adoraríamos um ser humano!
Concordamos que “as duas naturezas foram misteriosamente combinadas, nem a humanidade diminuída pela união das duas naturezas; cada uma preservou suas peculiaridades e características essenciais” (Manuscritos, v. 16, p. 182). Certamente, na encarnação o Filho de Deus tomou sobre Si a natureza humana.
3. Implicações da união das duas naturezas:
O fato de que as duas naturezas permanecem distintas, significa que, na encarnação, havia duas vontades. Isso nos ajuda a compreender que existia a possibilidade de Jesus ter caído em tentação. Ajuda-nos, também, a compreender que, embora a natureza divina fosse onisciente, a natureza humana não era.
A natureza humana de Cristo tinha conhecimento limitado e cresceu em compreensão da natureza e missão do Filho de Deus (Lc 2:52). O elemento mistério permanece porque, mesmo havendo duas naturezas, o que a natureza humana experimentava era, também, experimentado pela natureza divina.
Deveríamos, aqui, fazer cuidadosa distinção. Por favor, siga meu raciocínio. A natureza divina experimentava os sentimentos, emoções, lutas e tentações da natureza humana. O elemento mistério permanece porque, embora houvesse duas naturezas, havia somente uma pessoa.
Assim sendo, quando a natureza humana estava com sede, a natureza divina experimentava, de uma maneira direta e única, o que significa para os humanos sentir sede, ou fome, ou ser tentado, etc. A Pessoa toda experimentava aquelas sensações.
Por outro lado, quando a natureza divina usava o poder divino para curar, a natureza humana se tornava o canal pelo qual eram alcançadas outras pessoas. Quando uma mulher doente tocou as vestes de Jesus e foi curada, Jesus reconheceu que “dEle havia saído poder” (Mc 5:30).
O poder do Filho de Deus curou a mulher, mas a natureza humana de Jesus experimentou, de maneira peculiar, o poder divino que ela própria não possuía. Esse era o resultado da união das duas naturezas.
Há ainda muitas outras implicações com essa união, mas servem para ilustrar o significado do grande mistério do Universo.
Autor: Angel Manuel Rodríguez, diretor do Instituto de Pesquisas Bíblicas na Associação Geral
Fonte: Adventist World, Novembro de 2007 – texto reformatado