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postado em: 19/9/2008
Medo de Deus A criança que convive com posturas flexíveis em ambiente acolhedor, será mais feliz O medo de Deus é a principal causa de estresse em crianças de 7 a 10 anos, constatou uma pesquisa divulgada pela mídia nacional e coordenada pela psicóloga Marilda Lipp, da Universidade Católica de Campinas. Ela entrevistou crianças de várias religiões e classes sociais, da 1 à 4 série do primeiro grau, em Campinas e Goiânia. Segundo ela, crianças com esse problema tendem a se tornar adultos inseguros ou perfeccionistas demais. “Algumas religiões exageram e acabam incutindo nelas um medo real de irem para o inferno, e crescem com a idéia de que não podem errar nunca”, explicou Marilda, no Jornal da Tarde. Sobre o medo já dizia Cervantes: “Um dos efeitos do medo é perturbar os sentidos e fazer com que as coisas não pareçam o que são.” Jama (João Antonio de Almeida), como a maioria das crianças brasileiras, viveu uma infância e adolescência sob os efeitos perturbadores de sentir medo de Deus. Ele diz que nasceu em berço católico, e a idéia que os religiosos lhe passaram foi a de um Deus apavorante. “Eu ficava extremamente angustiado achando que, lá do Céu, estava alguém com um binóculo tentando levantar os meus erros”, diz Jama, atualmente administrador de empresas e primeiro ancião de uma das igrejas de Tatuí. Com isso em mente, aos 17 anos — quando começou a aprofundar-se no estudo da literatura religiosa — ele chegou à conclusão de que o diabo tinha razão de se rebelar contra Deus. “Mas o que me atormentava mesmo era a idéia do inferno infinito. Pensava no sofrimento de uma mãe, habitando o paraíso e vendo um filho extraviado sofrendo no inferno. Achava também injusto alguém ser criado por Deus e viver 60 ou 70 anos, para depois ser castigado por Ele por toda a eternidade. Então, por que Deus criou o homem? Para sofrer? Isso me levou a odiar a Bíblia, a religião e os religiosos. Em meu senso de justiça, julgava que o máximo que alguém deveria sofrer seriam outros 70 anos”, raciocinava. O que o salvou, foi encontrar, providencialmente, O Desejado de Todas as Nações, enquanto fazia inventário para um de seus clientes. Recebendo o livro de presente, passou a examinar seu conteúdo. “Com a leitura meus conceitos mudaram, pois vi uma imagem de Deus que não conhecera antes. Mais adiante, adquiri o Grande Conflito, e houve outras mudanças. Se no Desejado tive uma idéia de como é Deus, através do Grande Conflito passei a entender sobre o que acontece quando uma pessoa morre. Pude ver como Deus é coerente.” — acrescenta Jama. Castigos na Bíblia Não podemos negar que a Bíblia está cheia de citações que falam da cólera, das maldições, do castigo e juízos de Deus. Sobre essas coisas, os ortodoxos tratam com muito interesse enquanto os modernistas fogem, preferindo os tópicos mais atrativos da Bíblia. As crianças, devido à diversidade da compreensão dos pregadores sobre o assunto, têm dificuldade para conciliar as atitudes aparentemente contraditórias de Deus: a cólera e a misericórdia, a maldição e a bênção, o castigo e o livramento. E a tarefa complementar de tirar dúvidas acaba sobrando para os pais e educadores cristãos. A explicação do teólogo Paul Tournier, no livro Culpa e Graça, é que o Deus da Bíblia é o Deus que entra na História, agindo, falando e combatendo. “Ele trava uma dura luta com o homem para arrancá-lo de sua desgraça, visando sua salvação final.” Assim como os médicos ex- traem do corpo órgãos corrompidos e irreparáveis, Deus atua para corrigir e salvar a humanidade. “Se Deus bate forte, é porque o homem também resiste fortemente”, observa Tournier. Porém, é muito difícil para uma criança compreender essas explicações teológicas. Ela é frágil diante de um dilema existencial. Ela não sabe lidar com seus erros e afunda na ansiedade. Como não desenvolveu defesas emocionais ou espirituais, rapidamente os sentimentos negativos se tornam monstros, dos quais não consegue se desvencilhar. Se Deus está associado ao castigo (porque os pais dizem que ela não vai para o Céu se não ficar boazinha), passa a ter medo da divindade e a desejar se livrar das “Suas ameaças” — ou através da fuga (delinqüência, drogas, etc,), ou da tentativa de conquistar Deus para o seu lado, assumindo uma conduta legalista. Amor gera confiança Outro problema para o cérebro infantil é a herança dos pais. A religião e os conceitos sobre Deus são heranças que passam de pai para filho. Como diz o doutor em Educação Religiosa, José Carlos Ebling: “Se os pais vêem o castigo de Deus como uma coisa injusta, os filhos o verão também.” Os pais, em primeiro lugar, precisam sentir segurança, para então transmitir segurança. Devem considerar a Deus como um amigo, em Quem podem confiar, mesmo sabendo que um dia serão julgados por Ele. “Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que no dia do juízo mantenhamos confiança” (1 João 4:17). Em segundo lugar, os pais podem influir na formação religiosa de seus filhos a fim de fortalecer a confiança de cada criança em Deus. Algumas atitudes positivas são: 1. Contar para as crianças histórias bíblicas que falem de personalidades como José, Davi, Daniel e Jesus, cuja vida vitoriosa reflete a dependência total em Deus. 2. Nas narrativas que envolvem momentos de provações, não enfatizar o objeto do medo, mas os recursos de que dispomos para vencer ao lado da verdade. Exemplo: falar do plano de Deus para a salvação da humanidade, da graça de Cristo e da proteção dos anjos. 3. Se o medo tomar conta de alguma criança por causa de uma abordagem errada, ensine-a a memorizar algumas promessas bíblicas, um cântico ou uma oração. 4. Não ridicularizar o medo das crianças com respeito a coisas sobrenaturais. 5. Os medos podem estar associados a experiências traumáticas. Nunca tranque uma criança em qualquer lugar escuro e solitário como medida punitiva. 6. Quando for necessário explicar para uma criança a destruição dos seres humanos, em episódios marcantes como o Dilúvio e as pragas do Egito, o Dr. Ebling diz que os pais ou educadores devem mostrar que essas pessoas foram julgadas e condenadas após terem feito várias vezes a escolha errada, e a porta da graça se fechou depois de muitas oportunidades. Por outro lado, o Dr. Ebling diz que a criança precisa ser disciplinada. A disciplina é necessária para que ela conheça os limites entre o que é certo e errado, entre o que deve e não deve fazer. No início da vida, os pais desempenham o papel da consciência dos filhos. A voz do pai (ou da mãe) é a consciência da criança, até que se cumpra nela o que está escrito em Isaías 30:21: “Quando te desviares para a direita e quando te desviares para a esquerda, os teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra, dizendo: Este é o caminho, andai por ele.” Expressamos nosso amor a Deus não somente em atitude confiante para com Ele, isenta de temor, mas demonstrando afetuoso interesse pelos nossos filhos. Quando o filho sente que nós, pais, realmente cuidamos dele, ele aprende (por paralelo) que Deus também o ama, ao ponto de enviar Seu filho para ser seu Salvador. O sentimento de pertencer a alguém é uma das pedras fundamentais do edifício da personalidade. Ao notar que faz parte do cuidado e atenção de outra pessoa, a criança passa a se considerar importante, de valor, e pensa: “Se sou importante para meus pais, também sou de valor para Deus.” Assim, ela aprende que o amor de Deus existiu primeiro e que todo verdadeiro amor é uma resposta à iniciativa de um Pai afetuoso a quem Jesus chamou de Aba, que em aramaico significa “paizinho querido”. “No amor não existe medo” (1 João 4:18). O amor e o medo são incompatíveis, como a água e o óleo. Podemos amar e reverenciar a Deus simultaneamente; mas não podemos nos aproximar com amor e, ao mesmo tempo, nos esconder dEle com temor (Rom. 8:14 e 15; 1 Tim.1:7). “O temor do Senhor”, para quem de fato ama a Deus, não significa nenhum temor servil, mas “o princípio da sabedoria” (Sal. 111:10), O temor do Senhor é sinônimo do profundo respeito que Isaías sentia na presença de Deus, um sentimento baseado na percepção do caráter, da grandeza e majestade de Deus. Portanto, aquele que verdadeiramente ama não tem medo de Deus nem precisa temer as maquinações dos homens. O temor do Senhor é a leal e reverente adoração como resultado de um relacionamento de confiança com o amoroso Pai celestial. Fonte: Revista Adventista, maio de 1997. Autor: Paulo Pinheiro, editor na Casa Publicadora Brasileira (CPB).