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postado em: 25/9/2008
Almas Debaixo do Altar
Objeção: Apocalipse 6:9 e 10 prova que as almas dos justos mortos estão no Céu.
Essa passagem das escrituras diz assim: “quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?”
É no mínimo interessante notar que os crentes na imortalidade natural tentem provar seu ponto de vista fazendo referência ao livro do Apocalipse. Quase sem exceção, quando os adventistas apelam para esse livro em apoio da sua doutrina, eles afirmam que o Apocalipse é místico demais para ser compreendido.
Torna-se o Apocalipse subitamente claro e compreensível quando se cogita em apoiar a crença na imortalidade? Desejam eles, nessa passagem isolada, dar um significado literal às palavras desse livro profético e simbólico? É evidente que sim, pois a plausibilidade de todo o seu argumento depende de uma interpretação literal do texto. Portanto, desejamos fazer-lhes algumas perguntas para descobrir se eles estão realmente dispostos a manter que esta é uma passagem literal.
Se as almas dos justos voam para longe na morte, a fim de entrar imediatamente na felicidade eterna na presença de Deus, como aqueles que são os mais dignos dentre eles, os mártires, deveriam estar confinados debaixo de um altar? E esse um local especialmente ideal? É evidente que não, porque essas almas parecem estar em angústia.
Por que devem elas clamar por vingança sobre seus perseguidores, que durante séculos levaram adiante essas perseguições? A doutrina da imortalidade da alma ensina que os ímpios, na morte, vão imediatamente para as chamas do inferno. Certamente os mártires não desejariam para alguém vingança mais terrível do que essa.
Os crentes na imortalidade natural defendem vigorosamente que a parábola do rico e Lázaro contada por Cristo deve ser compreendida literalmente, e não como uma parábola. Consideraremos posteriormente essa parábola, mas levantamos uma interrogação neste contexto: se o Céu e o inferno se acham tão perto um do outro que o bom homem Lázaro podia realmente ouvir dos próprios lábios do homem rico os detalhes do seu sofrimento, por que deveriam os mártires precisar clamar por vingança? Devemos compreender que essas almas não estavam satisfeitas com as cenas e sons de tortura e agonia que, segundo a teologia popular, recreavam seus olhos e ouvidos ao olharem para o inferno?
Mas por que levar adiante as perguntas? Na verdade, por que somos solicitados a refutar esta passagem das Escrituras, sendo que vários dos mais sábios teólogos declaram que a passagem não deve ser vista literalmente? Por exemplo, ao comentar Apocalipse 6:10, Albert Barnes, conhecido comentarista presbiteriano, afirma:
Não devemos supor que isso ocorreu literalmente, e que João realmente viu as almas dos mártires debaixo de altares, porque toda a representação é simbólica; nem devemos supor que os magoados e afrontados no Céu realmente orem por vingança. ... Porém, pode ser razoavelmente inferido que haverá ali uma lembrança tão real das afrontas dos perseguidos, magoados e oprimidos como se tal oração fosse realmente ali oferecida; e que o opressor tem tanto a temer da vingança divina como se aqueles a quem ele tem ferido devessem clamar no Céu ao Deus que responde à oração. ... Cada perseguidor deve temer a morte do perseguido como se ele fosse para o Céu pleitear contra ele.
Naturalmente, fazendo justiça a Barnes, devemos deixar claro que ele é um crente na imortalidade da alma e na consciência na morte. Ele até mesmo crê que de alguma forma essa passagem de Apocalipse fornece prova de tal doutrina. Mas isso de nenhum modo invalida seu claro reconhecimento de que a passagem deve ser vista de modo figurativo, não literalmente. Isso é tudo o que desejamos estabelecer do seu testemunho. Como o autor pode reconhecer isso e ainda crer que a passagem apóia a imortalidade da alma, ele não explica.
Adam Clarke, erudito metodista, ao comentar Apocalipse 6:9 e 10, diz: “Seu sangue, como o de Abel, clamava por vingança. ,., Nós às vezes dizemos: Sangue clama por sangue” (itálicos originais).
O espaço não nos permite discutir aqui o valor simbólico desse texto, que faz parte de uma profecia muito importante do Apocalipse. Nem é necessário, pois, tendo mostrado que a linguagem não deve ser compreendida literalmente, removemos toda a base do argumento.
Mesmo almas literais são quase etéreas e nebulosas demais para serem descritas ou retratadas satisfatoriamente pelos defensores da doutrina da imortalidade da alma. Seria esperar muito que eles defendam seu lado na discussão sem nada mais substancial a apresentar do que almas simbólicas debaixo de um altar simbólico soltando gritos simbólicos.
Fonte: Francis de Nichol, Respostas a Objeções, págs. 306-308.