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postado em: 2/10/2008
“Ministério da Morte, Gravado Em Pedras...”
Paulo declara que “o ministério da morte, gravado com letras em pedras”, “se desvanecia’ Portanto, a lei dos Dez Mandamentos, que foi escrita em tábuas de pedra, se desvaneceu (veja II Coríntios 3:5-11).
EXAMINEMOS O QUE PAULO REALMENTE DISSE. NA INTRODUÇÃO DA PASSAGEM QUE ESTÁ DIANTE DE NÓS, PAULO DECLARA AOS IRMÃOS DE
Corinto:
“Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens, estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações-” 11 Cor. 3:2 e 3.
Aqui está a chave para interpretar as palavras que se seguem. Sua figura de linguagem é emprestada do contraste bíblico entre a velha e a nova aliança. “Tábuas de pedra” em contraste com “tábuas do coração”, “tinta” em contraste com “o Espírito do Deus vivente”.
Paulo havia ministrado aos coríntios. Por uma transição fácil, Paulo muda para a discussão das duas alianças, acrescentando imediatamente que Cristo “nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica”.
Poderíamos encerrar aqui a discussão, porque nosso exame das duas alianças revelou claramente que a ratificação da nova aliança não significou a abolição dos Dez Mandamentos. Contudo, vamos prosseguir.
“E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que desvanecente, como não será de maior glória o ministério do Espírito? Porque, se o ministério da condenação foi glória, em muito maior proporção será glorioso o ministério da justiça. Porquanto, na verdade, o que, outrora, foi glorificado, neste respeito, já não resplandece, diante da atual sobreexcelente glória. Porque, se o que se desvanecia teve sua glória, muito mais glória tem o que é permanente. Tendo, pois, tal esperança, servimo-nos de muita ousadia no falar. E não somos como Moisés, que punha véu sobre a face, para que os filhos de Israel não atentas’ sem na terminação do que se desvanecia.” Versos 7-13.
Aqui está uma série de contrastes, visando não tanto diminuir a antiga dispensação como glorificar a nova. Paulo sempre fez um esforço deliberado para provar que Cristo e Seu ministério são a resplendente glória diante da qual a glória espiritual dos tempos anteriores empalidece.
Esse argumento por meio de contraste distingue principalmente o livro de Hebreus, o qual foi escrito para os crentes judeus que, antes de aceitarem a Cristo, tinham pensado que a glória do Sinai e o ministério da lei divina sob os sacerdotes e dirigentes judeus eram a última palavra em glória celestial. Os contrastes que Paulo procura fazer são essencialmente os mesmos que os contrastes entre a antiga e a nova aliança:
1. “O ministério da morte” versus “o ministério do espírito”.
2. “Ministério da condenação” versus “ministério da justiça”.
3. “A letra mata” versus “o espírito vivifica”.
4. “Foi glorioso” versus “excede em glória”.
5. “se desvanecia” versus “permanece”.
Os números um e dois são simplesmente expressões variantes. As perguntas que surgem diante de nós são, portanto:
1. Quais são esses dois ministérios?
2. O que significa “letra” e “espírito”?
3. Qual é essa “glória” relativa?
4. O que “se desvanecia” e o que “permanece”?
Prontamente responde o objetor: O “ministério da morte” era o que foi “gravado com letras em pedras” e é claramente os Dez Mandamentos. Mas não tão rapidamente. É correto falar de um “ministério” e uma “lei” como sinônimos? Não. É correto falar do “ministério” ou, como diríamos, a administração de uma lei. A administração da lei é o meio pelo qual ela é posta em operação e não deve ser confundida com a lei em si. Portanto, “o ministério da morte” ou “o ministério da condenação” se refere ao ministério, ou à administração, da lei que foi gravada “com letras em pedras”.
Numa simples figura de linguagem, a lei é chamada “morte” e “condenação”. Em certa ocasião, no tempo de Eliseu, os filhos dos profetas se reuniram com ele em torno de uma “panela grande” em que haviam cozido certas “colocíntidas silvestres”.
Evidentemente, as colocíntidas eram venenosas, porque um daqueles que estavam comendo gritou: “Morte na panela” (veja II Reis 4:38-40). Ele queria dizer, é claro, que havia algo na panela que causaria morte e, substituindo causa por efeito, gritou.
Paulo havia dito antes aos coríntios: “O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei.” 1 Cor. 15:56. Isto é, se não fosse a lei de Deus, que condena aqueles que a violam, não haveria pecado, e nenhuma morte como penalidade pelo pecado, porque “onde não há lei, também não há transgressão”. Rom. 4:15.
Pensando nesse fato e no fato contrastante de que “a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom”, Paulo indaga: “Acaso o bom se me tomou em morte?” Aqui ele fala da lei como sendo “morte”. Ora, como diz Paulo que escapamos deste “ministério da morte”, deste “ministério da condenação”? Abolindo a lei de Deus?
Ouça suas palavras: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado, a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.” Rom. 8:1-4.
Escapamos da “condenação” por meio de Jesus Cristo, que muda o nosso coração “a fim de que o preceito da lei” se cumpra em nós. Paulo descreve esta condição transformada como andando “segundo o Espírito”, e acrescenta que o pendor “do Espírito” dá “para a vida e paz”. Verso 6.
Aqui está uma situação de “condenação” e “morte” transformada em uma de “nenhuma condenação”, de “vida”. Em outras palavras, um ministério de condenação e morte trocado por um ministério de espírito e vida. E evidente que aqui estamos discutindo as duas alianças. E é evidente também que as palavras de Paulo em Romanos 8 são paralelas às suas palavras em II Coríntios 3. Este é o claro ensino das Escrituras.
A carta fria da lei como aparecia nas tábuas de pedra não tinha nenhum poder doador de vida. Só podia apontar acusativamente para todo homem, porque todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus. Uma administração da lei baseada unicamente em sua letra só pode resultar em morte para os transgressores. Mas a administração dela baseada no perdão, que só é possível pela atuação do Espírito de Deus no coração, resulta em vida.
O contraste entre “letra” e “espírito” não significa um contraste entre uma era de lei e uma era de libertação de toda lei. Como já notamos, quando o Espírito de Deus está no controle, os requisitos da lei são cumpridos em nosso coração.
E quanto à “glória” mencionada por Paulo? Ele fala claramente da glória relativa de dois ministérios. A justiça de Deus brilhou em espantosa e mesmo aterrorizante glória no monte Sinai ao proclamar a Sua lei. Ele estava ali como um fogo consumidor. Mas quão maior foi a glória de Deus que banhou a Terra com seus raios vivificantes quando Cristo desceu para salvar “o seu povo dos pecados deles”. Mat. 1:21.
Aqui estava a glória da justiça e da misericórdia combinadas, porque ao morrer por nossos pecados (nossa “transgressão da lei”) Cristo revelou como Deus ao mesmo tempo podia “ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus”. Rom. 3:26.
Isso nos leva à última pergunta: o que “se desvanecia” e o que “permanece”? A pergunta, na verdade, já foi respondida, A glória que acompanhou a entrega da lei é tão grandemente excedida pela glória que acompanhou a salvação dos homens de sua violação, que Paulo podia apropriadamente falar da primeira como “gloriosa” e da segunda como “a glória que excede”.
Mas justamente aqui Paulo narra um incidente em conexão com a entrega da lei no Sinai para ilustrar um ponto que ele deseja realçar nos versos que seguem esta discutida passagem. Quando Moisés desceu do monte com as tábuas de pedra em suas mãos, “resplandecia a pele do seu rosto; e temeram chegar-se a ele”. De modo que Moisés “pôs um véu sobre o rosto enquanto falava com os israelitas (veja Exo. 34:29-35).
Paulo se refere a isso. “A ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que desvanecente.” II Cor. 3:7. Ele se refere novamente a isso no verso 11, dizendo que ela “se desvanecia”; e então outra vez no verso 13, afirmando:
“E não somos como Moisés, que punha um véu sobre a face, para que os filhos de Israel não atentassem na terminação do que se desvanecia.”
Foi a glória do ministério anterior, agora findo, e não a lei administrada, que “se desvanecia”, que foi mesmo “abolida”, como por analogia histórica. Paulo lembra-lhes que foi a glória do rosto de Moisés que estava “se desvanecendo”.
O relato declara que o véu estava no rosto de Moisés, não nas tábuas de pedra; que era sua face que brilhava e não as tábuas de pedra; e que era a glória do seu rosto que desaparecia, não o brilho que sempre circunda o divinamente escrito Decálogo.
Bem observam Jamieson, Fausset e Brown, em seu comentário bíblico, quando fazem esta observação geral em seus comentários sobre II Coríntios 3:
“A lei moral dos dez mandamentos, sendo escrita pelo dedo de Deus, ainda é tão obrigatória agora como sempre; mas ponha mais espírito de ‘amor’ no evangelho do que na letra de uma obediência servil, e em uma espiritualidade mais plena e mais profunda (Mat. 5:17-48; Rom. 13:9).”
Fonte: Francis D. Nichol, Respostas a Objeções, págs. 58-62.