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postado em: 5/1/2014
A Ditadura do Espelho
Dentre os muitos males que caracterizam a sociedade moderna está a busca pelo corpo perfeito. Diariamente as bancas de jornal vendem as imagens atualizadas de sucesso. Com isso muitos indivíduos, buscando aproximar-se ao máximo dos modelos de beleza, se sacrificam, investem tempo e dinheiro, pela imagem perfeita. O problema é que todo exagero gera resultados negativos. E com eles surgem, ou são reforçadas, novas patologias. Atualmente os consultórios de psiquiatria e psicologia têm recebido muitos clientes que apresentam transtornos ligados a auto-imagem, sendo crescente o número do chamado Transtorno Dismórfico Corporal. Cabe a cada um de nós uma reflexão coerente sobre o tema, para que não caiamos nas armadilhas da modernidade, transformando o útil conselho de cuidarmos de nosso corpo numa verdadeira corpolatria. Os parágrafos a seguir nos ajudam a entender o tema: Transtorno Dismórfico Corporal: Muitos são os pais que se esforçam, em vão, para convencer seus filhos adolescentes de que eles não são tão magros e raquíticos como acreditam, ou que não têm o nariz tão enorme como se vêem, que as espinhas não são tão deformantes como eles reclamam... Os adolescentes, entretanto, não acreditam em nenhum desses argumentos, mesmo se forem ditos por centenas de pessoas... eles continuam diante do espelho reclamando suas “deformidades”. Podem ser portadores de Transtorno Dismórfico Corporal. A pessoa se vê muito mais gorda do que é de fato, não acredita nas pessoas que dizem-lhe o contrário. Portadores deste mal costumam ver gordurinhas e dobrinhas que, ou não existem, ou são fisiológicas e normais em todas as pessoas. Onde a crença de estar gordo tem características delirantes, ou seja, são irremovíveis pela argumentação lógica (foto, balança, opiniões). Choi, Pope e Olivardia analisaram a chamada Vigorexia, ou seja, uma síndrome onde as pessoas, geralmente homens, independentemente de sua musculatura (embora normalmente sejam bem desenvolvidos), têm uma opinião patológica a respeito do próprio corpo, acreditando terem uma musculatura muito pequena, fraca e frágil. Os pensamentos persistentes sobre “defeitos” na aparência corporal são praticamente delirantes, além de intrusivos à consciência, difíceis de resistir e em geral acompanhados por compulsões rituais de olhar-se no espelho constantemente, eles não são acompanhados de nenhuma crítica por parte do paciente. No Transtorno Dismórfico Corporal são mais comuns as queixas que envolvem defeitos faciais, como por exemplo, em relação à forma ou tamanho do nariz, do queixo, calvície, etc. As queixas geralmente envolvem falhas imaginadas ou, se existem são bem mais leves que o paciente imagina, na face ou na cabeça, tais como perda de cabelos, acne, rugas, cicatrizes, marcas vasculares, palidez ou rubor, inchação, assimetria ou desproporção facial, ou pêlos faciais excessivos. Outras preocupações comuns incluem o tamanho, a forma ou algum outro aspecto do nariz, dos olhos, pálpebras, sobrancelhas, orelhas, boca, lábios, dentes, mandíbula, queixo, bochechas ou cabeça. Não obstante, qualquer outra parte do corpo pode ser o foco de preocupação do paciente, inclusive podem envolver outros órgãos ou funções, como por exemplo, preocupação com o cheiro corporal que exalam, mau hálito, odor dos pés, etc. Embora a queixa seja freqüentemente específica, algumas vezes pode ser vaga e alguns pacientes podem apenas se queixar de uma “feiúra” geral. Geralmente essas pessoas também apresentam casos de Ansiedade e Depressão, como resultado dos pensamentos distorcidos. Pacientes com Transtorno Dismórfico Corporal em geral são perfeccionistas e podem ter traços de personalidade obsessivos ou esquizóides. Sendo as idéias sobre as deformidades corporais de natureza obsessiva, pode haver também um comportamento compulsivo. No caso da Vigorexia os exercícios excessivos são compulsivos, mas também a compulsão pode se manifestar através de freqüentes verificações diante do espelho, cansativos exames do suposto “defeito” que podem consumir várias horas do dia. Os pacientes freqüentemente pensam que os outros podem estar observando com especial depreciação sua suposta deformidade, talvez comentando a respeito dela ou ridicularizando-a. Incidência
Os transtornos derivados da excessiva preocupação com o corpo estão se convertendo em uma verdadeira epidemia. Desejar com muito ardor uma imagem perfeita não significa sofrer de uma doença mental, mas aumenta as possibilidades de que este transtorno emocional apareça. Ainda que haja hipóteses biológicas para o Transtorno Dismórfico Corporal, como por exemplo, eventuais alterações nos desequilíbrios nos níveis de serotonina e outros neurotransmissores cerebrais, não cabem dúvidas de que os fatores sócio-culturais e educativos têm uma grande influência em sua incidência. O Transtorno Dismórfico Corporal parece ser diagnosticado com freqüência aproximadamente igual em homens e mulheres, iniciando-se em geral na adolescência de forma gradual ou súbita e seu curso é flutuante e crônico. Porém, os portadores do tipo Vigorexia (Transtorno Dismórfico Muscular) são, em sua maioria, homens entre 18 e 35 anos, os quais começam a dedicar demasiado tempo (entre 3 e 4 horas diárias) as atividades de modelação físicas, resultando em algum tipo de prejuízo sócio-ocupacional. A idade de início mais comum do Transtorno Dismórfico Corporal também é no final da adolescência ou início da idade adulta. A média de idade está em torno dos 20 anos, não sendo raro que o diagnóstico seja feito mais tardiamente. Segundo dados de Pope, entre 9 milhões de norte-americanos que freqüentam academias de ginástica, existe perto de um milhão de pessoas afetadas por um transtorno de ordem emocional que os impede ver-se como são na realidade, e normalmente esse transtorno é o Transtorno Dismórfico Corporal (ou Muscular). Uma das conseqüências do Transtorno Dismórfico Corporal é a esquiva das atividades costumeiras, a qual pode levar a um extremo isolamento social e resultar, em casos graves, no abandono do trabalho ou da escola. Também há dificuldades em fazer amizades e iniciar ou manter relacionamentos amorosos. Ideação suicida ou suicídio consumado também podem ocorrer, assim como repetidas hospitalizações. Além disso, esses pacientes freqüentemente buscam e recebem tratamentos médicos gerais, dentários e cirúrgicos para a correção de imaginados defeitos. Esses tratamentos mal indicados costumam piorar o transtorno, levando a uma intensificação ou novas preocupações, as quais podem resultar em procedimentos mal sucedidos adicionais. Causas Ainda que não se tenham dúvidas sobre a importância do elemento sociocultural no desenvolvimento e na incidência da Transtorno Dismórfico Muscular, também parece que a patologia está relacionada com desequilíbrios de diversos neurotransmissores do sistema nervoso central, mais precisamente da serotonina. O tratamento se dá através da conjugação de cuidados médicos e psicoterápicos. A psicoterapia é fundamental, o objetivo é modificar a conduta da pessoa, recuperando sua autoestima e superando o medo do fracasso social. - in. PsiqWeb Internet, disponível em http://virtualpsy.locaweb.com.br/, revisto em 2008
Fonte: http://virgilionascimento.blogspot.com.br