Digite uma palavra chave ou escolha um item em BUSCAR EM:
postado em: 8/9/2015
A Ressurreição da Vocação
“O ladrão vem apenas para matar, roubar e destruir; Eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente” (João 10:10).
A Bíblia Sagrada, do começo ao fim, fala de vida. No princípio de todas as coisas estava a Árvore da Vida para que o ser humano se apropriasse da qualidade de vida divina e se tornasse participante da natureza de Deus. No final, em Apocalipse, estão diante de Deus o Rio da Vida e a Árvore da Vida que restaurarão em todo o Universo os estragos causados pela morte.
Todavia, não podemos nos esquecer de que ao lado da vida, na história entre Deus e a humanidade, está a morte. A morte representa o esfacelamento do mundo em suas três dimensões: cósmica, sistêmica e moral. No texto do Evangelho, Jesus está claramente falando de uma dimensão específica da vida onde a morte entrou: o sistema (religioso) de sua época. A cegueira espiritual não permite a celebração do milagre da vida, pois é incapaz de enxergar os atos de bondade e compaixão motivados pelo Espírito de Deus: a boa música, as histórias de vida, o trabalho honesto, as palavras de carinho e o amor puro.
A vida plena proposta por Jesus tem como fundamento a perspectiva da ressurreição. Viver de forma plena é experimentar na existência o poder da ressurreição e fazer viver novamente, de forma apaixonada, o que está morto dentro de nós, dilacerado, separado, destruído, confuso e sem rumo, incluindo uma dimensão essencial: a nossa vocação.
A vocação é o conjunto daquilo que somos – aptidões, interesses, motivações, intenções e paixões – e que nos impulsiona para a vida. No entanto, em nossa jornada, percebemos a morte entrando em nossa área vocacional. Somos roubados por um sistema corrompido, destruídos por paixões desastrosas e mortos, isto é, paralisados (como se ficássemos adormecidos e inoperantes) pelo deus desta presente era.
É importante percebermos que sempre haverá uma luta, uma disputa interna e externa entre a vida e a morte vocacional. Uma história contada pelo teólogo Eugene Peterson diz respeito a um rapaz que desejava ser escritor. Seus pais, no entanto, insistiram durante muito tempo que ele deveria seguir a carreira médica, desta forma, ele iria “impedir a morte de muitas pessoas e ganhar muito dinheiro”. Mas, sua vocação, seu desejo, seu ímpeto, sua intenção e paixão eram por ser escritor. O conflito estava instalado e a morte rondava à porta. Com o tempo, a pressão familiar levou o rapaz a tomar uma atitude – algo dentro dele não permitiu que a vida vocacional fosse pelo esgoto e a morte se instalasse – e num dado momento, como se de dentro dele um novo big-bang explodisse em lampejos da graça de Deus, ele exclamou: “Mãe, eu não quero impedir que as pessoas morram; quero mostrar-lhes como viver!”
Talvez a nossa vocação esteja, como na história do profeta Jonas, encerrada dentro do ventre de um peixe. Isto é, a morte certa, a vida roubada e os sonhos destruídos são tudo o que restou de uma jornada mal sucedida. Mas é desse lugar que a esperança e o poder da ressurreição surgem. As palavras de Jesus no evangelho tomam um sentido existencial real. Ele veio para que tenhamos vida, e vida plena. Ressuscitar a nossa vocação é nos colocar de volta no mundo com o nosso coração re-apaixonado pela vida. Pela graça de Deus experimentamos seu Amor e o nosso coração é novamente aquecido. Nos sentimos livres e vivos num mundo mal e caótico, mas permeado pelos atos redentores de Deus, nos quais, no cumprimento de nossa vocação, somos cooperadores.
Na ressurreição da vocação encontra-se a experiência de apaixonar-se novamente pela vida, pelas pessoas, pelo bem, pelo trabalho, pela carreira e pela esperança de ver o mundo novo (O Reino de Deus) entre nós. Desejamos e acreditamos nisto quando nossa vocação ressuscita, quando o mundo se enche (como nas palavras da profecia) diante dos nossos olhos, do conhecimento e da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar.
© 2012 Andrey Mendonça
Via: http://ew-willianlira.blogspot.com.br