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postado em: 18/9/2015
Informação ou conhecimento?
Fiquei bastante intrigada nesses dias com a notícia de que todos os produtos do supermercado devem conter a informação sobre os impostos devidos ao governo, embutidos no preço. Como bem observou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, essa nova resolução é impraticável, já que isso aumentará o custo dos produtos, o que reverterá sobre o preço.
Tirando esse aspecto bastante paradoxal, há outro detalhe que penso ser digno de nota: essa informação é útil? Não é só pelo aspecto de que sejam raros os consumidores que leem as informações contidas na embalagem dos produtos (quem sabe eu pudesse me limitar a dizer que sejam “raros os consumidores que leem”....), mas mesmo que eles leiam, que efeito essa informação terá na vida do consumidor? Pois, se essa pergunta não é feita, a informação valerá pela mera informação, e não como conhecimento útil.
Na prática, pouco ou nenhum efeito terá a informação sobre o fato de pagarmos impostos absurdos toda vez que vamos ao supermercado. Poderíamos comparar essa resolução com aquela do “ficha limpa”. Neste último caso, a informação, ao atingir o eleitor, terá efeitos visíveis e concretos.
Mas que efeito se poderá esperar da informação sobre o imposto do produto? Quem sabe ficaremos mais apreensivos e se tivermos os meios de influenciar a cobrança de impostos, quem sabe essa informação mude alguma coisa.
Você pode me dizer que sou cética, que a informação sempre é válida, que as pessoas, ao se conscientizarem de certas realidades, poderão alterá-la.
O que me incomoda nessa teoria é a crença de que só a informação possa alterar a realidade. Mas enquanto tal informação não for canalizada para se tornar conhecimento, de nada ela adiantará para alterar a realidade. Somos diariamente bombardeados por informações. Mas quantas delas alterarão nossa vidas na prática?
Quantas são as pessoas que na sociedade da informação reduzem o conhecimento ao dado? Cremos piamente que “a voz do povo é a voz de Deus”. E se o povo estiver errado? E se a crença na democracia for uma falsa impressão de justiça, que é um passo além da democracia? E quantos sabem o que a democracia significa na prática?
No mundo cristão, quantos são os cristãos que confundem conhecimento com informação? Quantos são os que vão à igreja à espera de informação, e não de conhecimento transformador? E quantos são os pastores que atendem a tal expectativa para manter o seu público interessado? E quantos são os pregadores, eles mesmos, que confundem conhecimento e informação?
Se a informação fosse conhecimento, a igreja seria logo substituída pela pregação virtual. E onde fica a comunhão? Não sou contrária à sociedade da informação, mas sou muito mais favorável à sociedade do conhecimento.
Enquanto a informação é como o dado colhido no laboratório pelo médico, o conhecimento é a prescrição completa que o médico formulará com ajuda dos dados. A diferença entre as duas coisas é significativa. Conhecimento tem a ver com intimidade, com convivência com diálogo e com transformação.
Gabriele Greggersen
É mestre e doutora em educação (USP) e doutoranda em estudos da tradução (UFSC). É autora de O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Costuma se identificar como missionária no mundo acadêmico. É criadora e editora do site www.cslewis.com.br
Fonte: http://www.ultimato.com.br