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postado em: 9/11/2015
O Domador
Por Nando da Costa Lima
Aconteceu num revéillon…
Corinto Pranchão queria receber seus convidados do mesmo jeito que os “quatrocentões” paulistas recebiam antigamente. Ele passou a vida perseguindo a fortuna, só conseguiu aos 45 anos ao se casar com Marineide, vinte anos mais velha. Estavam aproveitando o fim de ano pra comemorar o primeiro ano de casamento, tudo tinha de ser de primeira. Até o peru veio dos States! O caviar russo e o champanhe francês faziam o maior contraste ao mau gosto da decoração da casa.
Gerôncio foi o primeiro a chegar na recepção, encostou na mesa de comidas e mandou ver. Aproveitou que não tinha ninguém olhando e comeu como se estivesse em casa, lembrava um porco em cima de um cocho de ração. Só saiu dali quando a casa estava cheia, de longe ele enxergou Lina, tinha mais de um ano que tentava se aproximar daquela princesa. Até flores ele mandou, mesmo os amigos falando que aquilo não era coisa de homem, ele só estava ali porque sabia que ela viria. Tinha até decorado a prosa, como Lina era inteligente, ia falar de ecologia, política, música. Naquela noite querendo ou não ela ia ter que escutar seu papo de enciclopédia.
Na festa tudo corria bem, o dono da casa já tinha dado o preço de tudo que tinha na mesa, e um grupo de “puxa saco” já apontava seu nome como candidato a deputado na próxima. Sua mulher, que usava um longo rosa com um laço verde-cana na cintura, se desdobrava pra atender os convidados. Era uma mancada após outra, a mulher do prefeito perguntou onde era o toillet, ela levou para a mesa de frios e disse que toillet não tinha, mas caviar, pernil e peru tinha que dava pra encher o bucho.
Um deputado falou, demagogicamente, que quando via tanta comida se lembrava dos morimbundos, ela rebateu dizendo que os “marimbondo” que tinha lá o marido já tinha colocado inseticida. Apesar dessas e outras, tudo ia bem na festa dos Pranchão. Tinha ate música ao vivo. Gerôncio se entusiasmou com a valsa tocada a pedidos do dono da casa e caminhou pra cima de Lina já valsando, não podia perder aquela chance de tê-la nos braços.
Quando estava perto dela deu aquela dor de barriga que a gente logo entende que o único remédio é um vaso sanitário. Gerôncio se entortou todo e correu pro banheiro e ficou mais de meia hora fazendo força; nesse tempo nem ele pôde entender como aquilo saiu de dentro dele, devia ter sido aquelas comidas de ricos! Deu mais de vinte descargas e o rebelde permanecia no lugar, nem mexia! O jeito era deixar aquilo lá, ninguém ia saber que tinha sido ele.
Quando começou a abrir a porta do banheiro escutou a voz de Lina, era ela que tava na fila há mais de 10 minutos! Gerôncio quase entra em desespero, bateu a porta e começou a imaginar um meio de se livrar daquele inconveniente. Descarga não adiantava, pensou em pegar e enrolar num papel higiênico e jogar no cesto. Não deu! Além de o papel ter terminado, aquilo não ia caber no cesto.
Nesse meio tempo Lina começou a bater na porta, tava apertada. Aí o homem endoidou, numa atitude desesperada abriu o armário do banheiro na tentativa de achar alguma coisa pra lhe ajudar a se livrar daquele troço (ou trôço, como queira). Só tinha duas escovas de dente escritas no cabo “Amorzinho” e “Amorzão”, não deu outra! Pegou as duas, ficou de joelho em frente ao vaso e triturou o rebelde até este ficar em condições de descer com uma simples descarga.
Não foi maldade, foi a única maneira que ele encontrou para sair daquela. Não fez por perversidade, tanto é que depois que usou as escovas como triturador, lavou-as, enxugou e colocou no mesmo lugar. Ninguém notou nada, e Lina passou a noite nos braços do “Domador”. Apelido dado a Gerôncio depois que o fato veio à tona. Portanto, se você pretende algum dia receber em alto estilo, cuidado! Há sempre um domador pronto pra atacar. Guarde as escovas de dente num lugar mais difícil…
Fonte: http://www.blogdaresenhageral.com.br