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postado em: 15/12/2015
Casamento: Relacionamento Incompatível?
Viver uma vida à dois é um desafio. Em meu primeiro livro, “Casamento: O Que É Isso?” (2000), no primeiro capítulo defino casamento e coloco que ele é algo incompatível porque é uma união de duas pessoas diferentes. Gênero diferente; desejos diferentes; formas de pensar diferentes; visão da vida talvez diferente; às vezes religião diferente, ou maneiras de viver a religião que pode ser bem diferente; um funciona com lógica matemática e outro com ilógica (não é falta de inteligência); um enxerga o detalhe e outro enxerga o global; um adora romance e o outro se sente incomodado com muito romance; um é muito sentimental e o outro muito racional, um veio de uma família onde todos se comunicam com frequência e o outro veio de uma família onde há rara comunicação; um adora sexo e o outro não; um quer parentes em casa com frequência e o outro detesta isso; um é impulsivo e o outro pensativo; um é arrumado e o outro é bagunçado; um é acelerado e o outro é lento; um gosta de praia e ou outro de montanha; um fala demais e o outro é calado demais; um quer fazer as coisas sempre junto com o cônjuge e o outro não; um quer sexo todos os dias e ou outro uma vez ao mês está bom; um tem orgasmo rápido e o outro demora muito, e fora as diferenças de gostos para música, comida, filmes, local onde passar férias, que podem ser opostos entre os cônjuges… etc. Como é que vai dar certo?
Além disso, cada um leva para dentro do casamento problemas emocionais vividos durante a infância, que podem ser complicados ou não, mas que influenciam a vida dentro do casamento de forma inevitável. Por exemplo, uma mulher que teve um pai autoritário e mandão, é comum se casar com um homem também autoritário, e este homem pode ter vindo de uma infância em que seu pai, ou mãe, pode ter sido dominador(a), daí ele vem a casar-se com uma mulher passiva a quem quer dominar. No fundo ele quer uma mulher “forte” que cuide dele (que pode ser mesmo mais forte que ele no autocontrole emocional), mas ele geralmente não deixa isto ocorrer porque parece que há uma necessidade inconsciente de repetir a história passada, ou seja, repetir o papel autoritário do pai ou da mãe. A esposa dele também pode ter necessidade de continuar num papel passivo aprendido no passado em sua família de origem, quando no fundo ela quer independência.
Outro exemplo pode ser o de um indivíduo que viveu com pais superprotetores e entra no casamento com esta tendência de superproteger, o que pode esconder (muito ou pouco, de maneira disfarçada ou explicitamente) seu próprio desejo de ser superprotegido. Se esta pessoa obsessiva com proteção não receber a mesma carga de proteção do cônjuge para ela mesma ou para os filhos, possivelmente criticará este cônjuge por não superproteger. Dirá que o que quer não é superproteção, mas cuidado normal. Mas pode ser superproteção negada por ela. Superproteção não é o mesmo que amor e nem é o mesmo que cuidar bem de alguém. Superproteção pode ser uma manifestação de ansiedade. E significa que a pessoa que superprotege não acredita que a(s) pessoa(s) alvo(s) de sua proteção exagerada tem condições de lidar com o problema atual. Não acredita nas capacidades da outra pessoa.
Então, imagine uma esposa superprotetora vivendo com um marido que não superprotege. O que ocorrerá? Ela o terá como indiferente, frio, enquanto que o problema pode ser mais dela do que dele. Mas se ela não exergar isto…
No casamento se está lidando o tempo todo com fatores inconscientes. Os impulsos inconscientes fluem e interferem na vida à dois. Se cada um não melhorar a consciência de si mesmo, e procurar entender como é que dificuldades emocionais vividas na família de origem durante a infância afetam o relacionamento atual, duvido que o casamento possa se tornar agradável e harmonioso. Na melhor das hipóteses se tornará superficial. Um irá tolerar o outro, o que é diferente de harmonia agradável.
Há cônjuges super ansiosos e esta ansiedade excessiva perturba o relacionamento conjugal se não for administrada. Mas há muitas outras maneiras de problemas emocionais pessoais interferirem na vida do casal. Na verdade, é muito difícil separar onde termina o problema emocional ou psicológico pessoal e onde começa o problema emocional do casal.
Gosto muito de um pensamento que diz: “Primeiro de tudo… olhe-se a si mesmo. Depois … olhe-se de novo.” É difícil isto. Mas na vida conjugal (e em outros relacionamentos) é importante parar de ficar culpando o outro por sua infelicidade, e fazer algo para melhorar seus problemas emocionais que você trouxe para dentro do seu casamento. Na pior das hipóteses, você se sentirá melhor consigo mesmo, independentemente se seu cônjuge amadurece ou não. Paz interior e serenidade é algo muito pessoal. E, no fundo, nossa maior luta é com a gente mesmo. Mas se cada cônjuge não perceber isto, irá ficar perturbando o outro o tempo todo. Daí fica incompatível viver juntos.
Autor: Dr. Cesar Vasconcellos de Souza
Dr. Cesar Vasconcellos de Souza, médico psiquiatra e psicoterapeuta, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, membro da American Psychosomatic Society, consultor psiquiatra da revista Vida & Saúde onde mantém coluna mensal, professor de Saúde Mental, visitante, do College of Health Evangelism e "Institute of Medical Ministry" do Wildwood Lifestyle Center and Hospital, Estados Unidos, Diretor Médico do Portal Natural, autor dos livros "Casamento: o que é isso?" e "Consultório Psicológico".
Fonte: http://www.portalnatural.com.br