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postado em: 18/12/2015
O Anel e os Dedos
Acabei de ver, agora, os jornais da noite na TV. Pela primeira vez, em muitos dias, o noticiário estava repleto de declarações, discursos e propostas de suas excelências. Depois do susto inicial, diante da onda de protestos que ganhou as ruas e o telhado do Congresso, eles, enfim, resolveram também se manifestar.
Quero prevenir a você que me lê, que tenho escrito meus comentários e reflexões no calor dos acontecimentos, sem censura nem revisão, o que pode favorecer a que cometa erros, tanto gramaticais quanto de avaliação e até de conteúdo. Numa coisa não erro; no desejo de fazer valer o princípio defendido por um dos meus gurus, o Millôr Fernandes, que dizia: “livre pensar é só pensar”, e compartilhar com vocês o meu pensamento.
Ontem, logo após a fala da Dilma, destaquei que, entre as cinco propostas apresentadas, a que mais me agradava era a do plebiscito para convocar uma Constituinte exclusiva que deflagrasse a sonhada Reforma Política. Pois foi justamente essa proposta que recebeu fogo pesado de quem, nos últimos dias, esteve calado e escondido.
A pulga, qual gigante despertado, pulou atrás da minha orelha...
Todas as outras propostas, as quatro da Dilma e as dezenas do Movimento das Ruas, dependem de uma Reforma Política, já que queremos manter o Estado Democrático de Direito, tão duramente conquistado pelas gerações que hoje, de cabelos brancos, vibram com a meninada na rua. Não queremos golpes, nem salvadores da Pátria, queremos mudar, dentro das regras, respeitando a Constituição. E é aí que o bicho pega...
Tudo que queremos mudar tem que ser aprovado pelo Congresso - Senado e Câmara - casas legislativas eleitas para deliberar e decidir em nome dos interesses do povo, além de fiscalizar a atuação dos outros poderes. Só que...
Na geleia geral de partidos em que se transformou a política brasileira, os eleitos não defendem os interesses do eleitor, mas, na maioria das vezes, de um grupo, instituição, ou empresa que financiaram a sua campanha. O eleitor vota num candidato e elege uma Igreja, um conglomerado financeiro, uma rede de Rádio ou de Televisão e até um time de futebol.
Há no Congresso, a bancada da bola, a ruralista, a dos bancos, a bancada evangélica e outras mais, que usam o eleitor como intermediário dos seus interesses corporativos que, frequentemente e curiosamente, são bem diferentes do interesse do próprio eleitor. O resultado é essa maluquice, por exemplo, de ver o país inteiro em ebulição, nas ruas, e lá, dentro da Câmara, os deputados discutindo projeto de “cura gay”. Isso me lembra aquela piada do professor de Ciências que, durante uma aula de Astronomia, é alertado por um aluno de que está havendo um eclipse total do sol, lá fora. E o professor, apontando para o quadro: “acende a luz e presta atenção na aula, menino!”
Inúmeros projetos de reforma política estão, há anos, dormindo nas gavetas de suas excelências. Afinal, pra que mexer em bolso que está ganhando? Agora dizem que um Plebiscito ou uma Constituinte exclusiva vão “atrasar” as reformas...
Atrasar como, cara-pálida?
Continuo, no calor da luta, achando que, se eles reagiram contra, é porque é coisa boa. O Renan Calheiros até saiu da sua tumba política para defender Passe Livre para todos os estudantes, coisa que, dias atrás, era absolutamente impossível, sequer, de se cogitar.
No embalo, o garotão Aécio foi à tribuna na tentativa de surfar na onda que, segundo seus marqueteiros, pode levá-lo, quem sabe, a um segundo turno na eleição presidencial do ano que vem.
Epa! Lembrei; no ano que vem tem Copa do Mundo e Eleição. Quer dizer que tudo que está acontecendo hoje, dentro e ao redor dos estádios, é só ensaio para o que ainda virá?
É esse o medo de suas excelências. É por isso que eles, agora, se mostram dispostos a entregar alguns poucos anéis, desde que possam conservar os muitos dedos...
Eduardo Machado
(publicado originalmente em 25/06/2013)
Fonte: http://ew-willianlira.blogspot.com.br
Nota do Editor
Embora não concordemos com tudo o que o autor afirma, estamos postando o texto acima e outros para suscitar um saudável debate sobre os limites cristãos no envolvimento político, engajamento, participação em protestos e manifestações contra a corrupção, violência, insensibilidade das autoridades, etc. Uma coisa é certa: Ser cristão não é ser um alienado e/ou compactuar com tiranos, ladrões de colarinho branco, injustiças sociais e com um sistema iníquo que potencializa e perpetua a miséria, a ignorância e doença e espalha a morte!