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postado em: 1/7/2016
Deus se revela a nós, compartilha do mundo juntamente conosco. A nossa humanidade busca um sentido da santificação espiritual; a humanidade também quer ir a Deus. Sem querer ser agostiniano, muitos traços de nossa espiritualidade vem do contexto católico, onde os processos de espiritualidade vêm da prática dos dogmas. Esquecemo-nos de que Deus se fez humano para fazer parte da nossa humanidade.
A teologia da missão vai revelar que o âmago da missão é que Deus se fez humano. João diz que “Ele se fez gente, e veio morar conosco”: Deus se faz gente. Há um grande segredo nisso. Deus, no seu projeto missionário, necessitava do testemunho do Cristo vivo, caminhando no meio dos seres humanos. Com isso se justifica o envio de Mateus 28, como o grande complemento da missão de Cristo.
“Assim como o Pai me enviou Eu envio a vós…”.
O envio é na mesma intensidade, pois Ele mesmo diz: “estão vendo as coisas que Eu faço, creia e coisas maiores vocês farão…”; o Pai se revela no Filho. Assim o Pai diz à humanidade que a lógica do mundo não é a lógica de Deus. Jesus traz uma lógica nova ao mundo, sua mensagem focava que os interesses do Pai não são os interesses do mundo. Nessa nova lógica, o foco é o comunitário, a vida comum a todos, pois os sofrimentos também são compartilhados. A lei não trazia uma visão de comunidade, pois trazia a cultura do cada um por si e Deus para todos.
Na análise da obra de Cristo vemos o contrário das lógicas humanas. São inúmeros os exemplos. João vai dizer que seriam incontáveis os livros para numerar os feitos de Cristo em meio à vida cotidiana no mundo romano. Imagine Cristo num mundo capitalista, praticando o que ele descreve na parábola do trabalhador da vinha?
Num mundo tão competitivo, onde o importante é ser o primeiro, onde até mesmo as pregações destacam o ser vitorioso , os evangelhos destacam a bondade de Deus para com o mundo. Eles revelam que o desejo de Deus é que todos tenham acesso a Sua vontade, e também usufruam dessa vontade no mundo.
No encontro de Pedro com Jesus, após a negação e a ressurreição, vemos um Pedro bastante envergonhado, rebaixado pelo ato da traição, porém Cristo pergunta: “tu me amas Pedro?”, e ele responde: “tu sabes que te amo, com minha humanidade”, e logo Cristo responde então: “apascenta minhas ovelhas”. Deus em Cristo reconhece nossa humanidade falha e pecadora, porque “Ele habitou no meio de nós”. “No mundo tereis aflição, mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo”. O cristão verdadeiro é aquele que, como Cristo, se desprende das recompensas para se dedicar ou se dar pela a humanidade.
Martin Luther King disse que quem não tem uma razão para morrer, não tem uma razão para viver. Esse mundo triunfalista que a teologia da prosperidade prega não se encaixa com a teologia da missão, pois se assim fosse como podemos definir a vida e obra dos apóstolos ou dos pais da igreja primitiva, derrotados, pecadores, portadores de maldição hereditária, fracos na batalha espiritual?
São questões que, se analisadas, poderiam devolver o avivamento à igreja atual. O desprendimento das recompensas desse mundo é uma busca contínua e verdadeira pelos propósitos do Reino de Deus. Nisso podemos encontrar o apoio das escrituras e verdadeiramente o apoio da obra de Cristo.
Vejo muitos hoje se intitularem apóstolos, mas vejo pouca ou quase nenhuma compatibilidade desses títulos com a vida dos apóstolos no contexto bíblico. O equívoco dos pregadores da vida financeira abundante é não praticar os preceitos da vida de Cristo, manifesto na vida dos apóstolos: não confere, não testemunha, não traz continuidade. Algo fica evidente: ou o testemunho de Cristo é mentiroso, ou os apóstolos dos dias atuais criaram uma nova teologia e servem a um novo Deus, pois o Deus que se fez homem e habitou no meio de nós foi humilde, não se apegou aos valores desse mundo, demonstrou em morte de cruz a união Deus com o mundo.
Será essa a pregação dos púlpitos atuais? Onde está a missão? Ir para o mundo ganhar o máximo de dinheiro, ser vitorioso, esmagar o diabo antes da hora bíblica, vencer o inferno todo e nadar na prosperidade, como se o mundo espiritual estivesse aos seus pés?
Muitos pensam, ao ouvir essa mensagem, que a missão cristã é algo sem razão alguma. Levar a mensagem do Reino só tem sentido quando há uma recompensa. Eu pergunto: você conhece alguém que faz ou busca as coisas de Deus sem a intenção de recompensa? Ou melhor, enumere cinco pastores que você conhece que, ao invés de ganhar, pagam para pregar o evangelho.
Você conhece ou já ouviu alguma história de um pastor de uma grande igreja, de uma catedral, que tem na sua proximidade uma pequena igreja muito simples, que não é da sua denominação, que tem um pastor que até passa dificuldades para pregar o evangelho, e lhe foi em socorro, de forma humilde, batendo-lhe na porta com alimentos e roupas, e que junto com aquele irmão chora e ora e compartilha a Graça de Deus, lhe deixando a verdadeira Paz do Senhor?
A igreja nasce do envio trinitário, dessa missão de Deus na festa de Pentecostes. Ela vive a essência missionária de sua origem no seguimento de Jesus, anunciando o Reino e convocando a humanidade para o encontro com Deus. A missão vem de Deus e volta para Deus.
Precisamos rever nossos conceitos sobre o que é milagre, o que é Reino de Deus e o que é ser mensageiro desse Reino.
A grande discussão nos meios teológicos na Europa é a pergunta: o que seria do cristianismo, se os projetos egocêntricos do mundo ocidental tivessem vencido o projeto missiológico cristão?
Fonte: pedrasclamam.wordpress.com