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postado em: 7/11/2011
Por que a China não será o próximo império?
Os Estados Unidos atravessam mais uma crise do tamanho de sua dimensão continental. Ninguém segura esse país... rumo à bancarrota. Será? Os países do andar de baixo já cantam: "O Tio Sam não é mais aquele, olha a cara dele". E todos apontam para o dragão chinês tomando o cetro americano. Mas a China apresenta hoje condições para ser o próximo império?
Olhando para outros fatores que não exclusivamente o crescimento econômico, posso dizer que a China não assumirá o trono. Eis as razões.
Durante muito tempo, os EUA consumiram mais do que produziram e a China produziu mais do que consumiu. Quem gasta mais do que tem, vira um endividado. Quem produz mais do que consome, tem superávits na balança. O problema é que, para por a casa em ordem, o Tio Sam tem que frear a gastança. Assim, o excesso de produção chinês precisa encontrar um outro mercado. Com a Europa em crise, quem vai comprar da China? Os emergentes?
A China mostra características (atualmente) de ser uma bolha econômica com 200 milhões de miseráveis encaminhando-se para os centros urbanos mais favorecidos. O governo vai ter que levar esses milhões para passear no shopping e ainda continuar negociando bem no mercado externo.
Historicamente, as nações hegemônicas têm sua cultura e sua língua copiadas. Entretanto, a China só absorve sem reciclar. Suas escolas de música redescobrem a música clássica ocidental (seu principal pianista, Lang Lang, é célebre pelas interpretações de música erudita europeia), os jovens chineses se encantam pela cultura pop em língua inglesa, a fantástica cultura chinesa não possui traços facilmente assimiláveis, e por fim, a barreira do alfabeto é quase insuperável.
As nações imperialistas costumam exportar seu sistema de governo junto com seu sistema financeiro, mas a China é politicamente fechada e faz uma mistura do mais agressivo capitalismo com um socialismo de fachada. Os países ocidentais não vão incorrer nesse retrocesso.
A religião dos antigos (Portugal e Espanha) e novos (Inglaterra e Estados Unidos) imperialistas é fortemente missionária. As religiões chinesas não são religiões de salvação - aliás, são consideradas mais um excepcional conjunto de ensinamentos gerais. Pode-se pensar que o mundo caminha para uma cosmovisão mundial ateísta, mas o crescimento evangélico nos países emergentes dá a entender um outro rumo. Além disso, o "boom" new age, que misturava filosofia oriental com ritualismo tribal-chique, parece estar passando.
Outra questão: e se os Estados Unidos resolverem terceirizar sua produção em outro lugar (com mão de obra barata, claro), o que será da China? A repressão social chinesa e a cultura de reverência à hierarquia contribuem para a desmobilização de movimentos sociais e trabalhistas, o que permite o barateamento, senão a escravização, do trabalhador. Mas até quando?
Abro parênteses para falar de algo que as viúvas de Steve Jobs não vão gostar de ler. Mas sabe quanto custaria um iPod se ele fosse montado por trabalhadores com salários justos? O blog Edge Economy fez as contas e assegurou que o preço de um iPod Classic seria 57 dólares mais caro do que é hoje! Talvez as capas de revistas que colocaram o genial "inventor" Steve no Céu pusessem o executivo Jobs em um cenário nada celestial. [confira outras contas aqui]
Há quem diga que o mundo está tão terceirizado, que as nações se tornaram tão interdependentes, que ficou difícil para um só país ser um líder sozinho. Os governos e as grandes empresas não dependem tanto de um grande centro ou de uma única voz. Nossa sociedade seria, então, multicentralizada, com diversos setores coordenando uma cadeia produtiva. Em vez de ser um império dominante, os EUA passariam a dividir o comando com outros países, principalmente a China. O G-8 seria ampliado e atuaria como um pool de governos dando as cartas.
Claro que todos os argumentos acima estão baseados no decurso histórico e na conjuntura atual. Como dizia uma canção do finado grupo Metrô nos anos 80, "no balanço das horas, tudo pode mudar". Se a China será outra, não sei. Mas que os Estados Unidos vão se mostrar diferente, não duvido.
Penso que os Estados Unidos reverterão seu atual quadro de saúde econômica. Para isso, terão que fazer concessões e operar uma plástica no american way of life tal como o conhecemos.
SOBRE O AUTOR
JOEZER MENDONÇA
Joêzer Mendonça é Mestre em Música pela UNESP. Escreve sobre música, mídias e religião. Edita o blog Nota na Pauta www.notanapauta.blogspot.com. Twitter: @notanapauta