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postado em: 7/11/2011
Manoel dC Reflexões de um peregrino na véspera de seu aniversário. Não sou melhor do que ninguém. Sou um simples passageiro do tempo, nada mais. Um sobrevivente que luta sofregamente pela vida, “carregando no costado” 53 anos, um pouco mais de meio século de existência. Sinto-me um peregrino a caminho do céu, que se vê muitas vezes, anacrônico, inadequado e perdido no mundo, como no meio de densa tempestade de areia no deserto da vida, me vendo às vezes sem direção, sem norte e sem companhia, mesmo rodeado de gente querida que me estime muito. Não sou melhor do quer ninguém. Vejo-me como um cristão comum em meio a milhões de outros inconformados, um profeta fora de lugar, um provocador de inquietações, com certa dosagem de subversão para conspirar contra o status quo da religião legalista e contra a injustiça na sociedade enfermiça. Não sou melhor do que ninguém, por isso minha teologia é inclusiva e graciosa, não contendo o teor triunfalista dos que levantam a bandeira da versão gospel do “corpo fechado”, baseada na hermenêutica capenga que interpreta o “caiam mil ao meu lado, não serei atingido” do salmo 91 como o cristão sendo uma espécie de super-homem inatingível e “os outros” que tropecem e caem no inferno. Como não sou melhor do que ninguém, minha teologia passa pela Graça Comum que admite que Deus faz nascer o Sol sobre justos e injustos, bem como também, por inferência, faz cair a chuva e as nuvens sombrias sobre todos, indistintamente, incluindo a enfermidade, a morte física e toda dor que isso implica. Não sou melhor do que ninguém. Assim, sou um cristão que em nada se sente especial em relação aos outros romeiros que vagueiam pelo vale árido que é esse planeta chamado Terra. E caminhando passo a passo ao lado desses milhões de valorosos companheiros de mochila, mesmo dotado de equipamento de segurança e bússola de orientação, ainda sim, posso ser alvejado por meteoritos de dificuldades que me infligem dor, dúvidas, choro e angústia junto com meus outros companheiros de crepúsculo. Não sou melhor do que ninguém, por isso, confessando minha vulnerabilidade, e se não fosse a ação libertadora e soberana do Senhor Jesus na minha vida, posso ser contagiado por qualquer um dos milhões de vírus e bactérias invisíveis que permeiam o ar como qualquer outro mortal, e ser acometido por enfermidades as mais variadas, mesmo aquelas que fazem estremecer o corpo e arrepiar a espinha cervical de qualquer um. Não sou melhor do que ninguém, e posso ser surpreendido por acidentes nas ruas ou estradas como qualquer um, ser assaltado nas calçadas, passar por qualquer tipo de coerção física ou moral, igualzinho a qualquer pessoa que vive nesse tempo de violência generalizada e receber todas as consequências que resultam de uma cidade socialmente necrosada e o que isso possa acarretar, como cidadão que mora aqui. Não sou melhor do que ninguém, portanto admito minha limitação cultural, intelectual, espiritual e econômica, que não tenho todas as respostas na ponta da língua, que ainda não tenho casa própria, e que não viajei pelos principais países do mundo e nunca pus os pés na Terra Santa. Não estou vinculado a nenhuma denominação histórica, e não tenho aval de nenhum figurão denominacional que me dê qualquer segurança futura ou garantia de suporte que me venha a ser confortável no presente. Sinto-me e quero continuar me sentindo como um cidadão comum que dependa exclusivamente da graça de Deus. E quero continuar assim. Não sou melhor do que ninguém. Por isso, quero dar passos decididos adiante, tendo uma postura de quem espera a morte inevitável com serena certeza do porvir com Jesus, mantendo a reverência, a esperança e a alegria, antevendo a eclosão do raiar de um novo dia, e a abertura do portal que me transportará para a eternidade para sentar à mesa, na presença de Jesus. Não sou melhor do que ninguém, e por causa disso, tenho e preciso de pessoas ao meu redor que me amam, me apoiam e me acolhem. Li essa semana um livro de Jo Nesbø que dizia em um diálogo que o problema não é eu me sentir só no mundo, mas não ter ninguém no mundo, que se importe comigo. E amigos verdadeiros que se importam comigo de fato são raros, mas eu os tenho... E como não sou mesmo melhor do que ninguém, por fim compartilho com meus amigos os meus parcos pertences, o pouco que carrego em minha mochila de peregrino: sementes de grão de mostarda para quem quer conspirar pelo Reino junto comigo, mantas de acolhimento R15, um abrigo no coração, e mantimentos de esperança, força de vontade e fé que nos darão alento renovado e novas forças para continuar a jornada, e avançar mais um pouquinho o Reino, e contando com a ajuda imprescindível do Espírito Santo, junto com meus companheiros de caminhada, prosseguir assim, enquanto Deus nos conservar com vida.
Fonte: http://www.genizahvirtual.com/
Nota do Editor
Embora não concorde com tudo o que Manoel dC crê e escreve neste belo texto, eu me vejo quase 100% “na sua pele” nesta descrição do jornadear cristão por esta Terra – na qual eu, e tenho certeza de que a maioria dos amados leitores, me sinto um peregrino, estrangeiro e, porque não dizer: Um peixe fora d’água.