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postado em: 28/11/2011
Todas as religiões são iguais?
Porém, o conceito não faz jus às diferenças nítidas entre as principais correntes religiosas. Nivelar a diversidade de pensamentos religiosos parece causar mais má compreensão do que contribuir decisivamente para um entendimento aclarado de casa crença.
Pensemos na questão da inspiração. Muitas culturas religiosas, do xamanismo ao hinduísmo, admitem ideias similares de comunicação dos deuses e com os homens. Entretanto, o modelo bíblico de inspiração é bem diverso das culturas místicas, basicamente porque o conceito equilibrado entre Imanência e transcendência de Deus não ocasiona uma adoração baseada em experiência de transe.
Em outras palavras: existe a ideia básica de que a divindade se comunica. Porém, além da superfície, encontramos as divergências, que pode ser expressa em algumas perguntas-chave: por que a divindade se comunica? Como se dá essa comunicação? O quê a forma da comunicação nos informa sobre a característica da divindade?
Alguém poderia contra-argumentar, afirmando que mesmo no cristianismo entramos correntes místicas, muito próximas às de outras expressões religiosas. Estudos já foram escritos aproximando cultos pentecostais de rituais animistas na África (principalmente na questão do fenômeno da glossolalia, ou o falar em línguas).
Entretanto, o fato de haver ramos místicos nas três grandes religiões monoteístas (e não apenas no cristianismo!) não quer dizer que esses ramos sejam o estágio primitivo dessas religiões mas, sim, tratam-se de interpretações posteriores. Muito do que li de um pensador sufista no livro "A travessia dourada", faria um fiel seguidor de Alá ficar roxo de raiva! E, pelo que sei, quando os poetas místicos islâmicos surgiram eram duramente perseguidos como hereges...
Tanto o modelo bíblico é diferente no que toca ao transe místico que, no caso de grupos cristãos que concebem a Deus de forma mais "imanente" (carismáticos e pentecostais), há uma tendência de desvalorizar a Revelação em detrimento da experiência mística.
E o que dizer de livros que possuem uma linguagem peculiar, muito próximo aos sonhos e que nos fazem lembrar o misticismo primitivo? Em especial, o Apocalipse bíblico não seria fruto de uma experiência mística como a encontrada entre os índios norte-americanos, por exemplo?
A estranheza dos livros apocalípticos da Bíblia (sim, há mais de um) não nos leva a um subjetivismo radical, não-lúcido ou mesmo psicodélico; as profecias de Ezequiel, Daniel (algumas), Zacarias e Apocalipse, para citar alguns exemplos, se utilizam de símbolos, que os respectivos autores explicam ao longo de seus livros ou que, ao menos, podem ser entendidas quando se faz um estudo de outros livros bíblicos enquadrados no mesmo gênero literário.
Por essas considerações, pensamos que a maneira mais coerente de se estudar as religiões em particular é não adotar aproximações forçadas que distorçam o que cada adorador defende. No caso específico do monoteísmo bíblico, notamos os aspectos nos quais ele diverge radicalmente do misticismo religioso. Deus quando Se comunica fala à mente sem a violência do transe ou sem que para isso o receptor precise adotar alucinógenos para mediar a experiência.
Seria pouco dizer que a comunicação que o Deus da Bíblia entretém seja puramente racional, porque ela abrange a totalidade da pessoa humana, emocionando, informando, transformando, guiando. Enfim, trata-se de uma experiência sem paralelos.
SOBRE O AUTOR
DOUGLAS REIS
Formado em Teologia pelo Unasp, campus Engenheiro Coelho, SP, desde 2002. Atua como pastor-capelão do Colégio Adventista de São Francisco do Sul, SC. Mantém o blog www.questaodeconfianca.blogspot.com. É autor dos livros Paixão Cega (CPB) e Marcados pelo Futuro (ADOS).