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postado em: 5/7/2012
A Morte do “E” no Púlpito
O púlpito sempre foi instrumento de Deus para alimentar seus filhos e ensiná-los a praticar Sua Palavra. A igreja sempre contou em seu rol de pregadores com homens muito capacitados que elevaram o padrão de exposição da Palavra e honraram a Cristo com pregações estritamente bíblicas e cristocêntricas. Milhares de homens se dobraram diante daqueles que assumiram seus púlpitos no poder do Espírito Santo e através de suas pregações trouxeram Deus para a ambiência eclesiástica, gerando muitas vezes o pavor e o temor de um encontro com o Criador face a face. Jonathan Edwards lia seus sermões à luz de velas e aqueles que o ouviam tremiam diante das suas mensagens. Charles Haddon Spurgeon ficou mais conhecido que o primeiro ministro inglês do seu tempo.
A igreja moderna e principalmente a brasileira vem sofrendo com ausência e mesmo inadimplência de seus pregadores. Aqui não coloco todos no mesmo saco e faço, sim, diferença entre aqueles que ainda trabalham na arte da pregação e o fazem com esmero, zelo e prontidão. Parabenizo aqueles que se dedicam a tal tarefa com preparo, consciência e fidelidade à Palavra. Mas infelizmente vemos um número cada vez maior de pregadores totalmente despreparados e que aviltam a Palavra não a honrando como Palavra de Deus. Homens que aboliram os estudos sistemáticos e a leitura da Bíblia como referência de seus sermões.
Hoje em dia o púlpito foi substituído em muitas igrejas e passou a ser o altar dos levitas e adoradores dos sacrifícios financeiros (doutrina das sementes de Mike Murdoke e seus correlatos) que tomaram conta do altar. Tem-se em consideração que o ato de servir no púlpito é para aquele que começa a falar qualquer coisa ou mesmo grita numa explosão de histeria. Gostaria de apontar algumas causas que levam à morte do e no púlpito no meio evangélico. Com certeza as causas aqui apontadas não têm a pretensão de serem finais e exaustivas, mas um incentivo para que outros estendam estes pensamentos.
1. Púlpitos Fracos Implicam em Fraca Espiritualidade Nos Membros das Igrejas.
Não existe qualquer compatibilidade entre púlpitos fracos e uma igreja espiritualmente sadia. Ambos se excluem mutuamente. Uma igreja em que seus pregadores se mostram preparados e cheios do Espírito Santo são instrumentos poderosos de Deus para seu fortalecimento. Creio que um percentual elevado de igrejas esteja morrendo de inanição espiritual por lhes faltarem púlpitos fortes e comprometidos com a Palavra. Por mais que uma pregação se mostre espiritual e poderosa se for não cristocêntrica não passará de um metal que soa ou como o sino que tine. E. M. Bounds disse em seu livro Poder Através da Oração: “Pregadores mortos tiram de si sermões mortos e sermões mortos matam”.
Precisamos resgatar o antigo conceito de Spurgeon que dizia que no púlpito os homens devem trovejar a Palavra de Deus e abalar a segurança dos acomodados. Quando um pastor subir para pregar em um púlpito a congregação deveria admirar e ansiar por estes momentos. Mas o que temos visto em vários locais são pastores que cumprem suas obrigações e sobem vazios em seus púlpitos e descem de lá murchos. Nossas igrejas precisam de reavivamento e este está intimamente ligado ao púlpito. Uma igreja quase nunca ultrapassará a estatura de seu pastor e púlpito.
Louvores nunca substituirão a pregação da Palavra, mas a geração de hoje comprou a ideia que se houver louvor pode ficar sem a pregação da Palavra.
2. O Desprezo Pelo Preparo das Pregações.
Há uma geração de pregadores que entende que pregar é somente subir a um púlpito e abrir a boca que Deus falará através deles, como se esforço em estudar e preparar um sermão fosse incompatível com unção do Espírito Santo. Como se o Espírito Santo não utilizasse o preparo como ferramenta em suas mãos. Mas a grande verdade é que encontramos um numero cada vez maior de pastores e pregadores que cultivam em alta escala a preguiça e se escondem atrás de uma pseudo-espiritualidade. John Stott usou uma ilustração para desmascarar essa preguiça e inadimplência nos púlpitos. Ele contou uma história de um superintendente de uma denominação que apareceu de repente em uma igreja. O pastor quando o viu foi até ele e disse o seguinte: “Eu fiz um voto de depender exclusivamente do Espírito Santo em minhas pregações e, por isso, deixei de preparar meus sermões como fazia tempos atrás.
No meio do sermão, o superintendente saiu da igreja. O pastor terminou rapidamente o sermão e foi atrás do seu superior, e não o encontrou. Entrou no gabinete pastoral preocupado com o ocorrido e, para sua surpresa, encontrou um bilhete que dizia: “Volte a preparar seus sermões eu o absolvo do seu voto”.
Outro pregador gabava-se de gastar o mesmo tempo de deslocamento de sua casa até a igreja para preparar seus sermões. Ele morava nos fundos da igreja. Cansados de sermões pobres os diáconos juntamente com a diretoria da igreja compraram uma casa pastoral a 20 km da igreja.
Nunca tivemos tantos livros traduzidos e produzidos no Brasil como hoje. Obras antes inacessíveis aos pastores hoje são entregue em suas casas pelos distribuidores. Mas tenho encontrado pouquíssimos pastores freqüentando livrarias evangélicas, aqui em Belo Horizonte. Tenho visto, sim, pastores totalmente desatualizados e descontextualizados, alheios às tendências teológicas. Alguns anos atrás perguntei a um pastor amigo quanto tempo fazia que ele havia lido o último livro de teologia. Ele me disse com grande tranquilidade que havia 29 anos que lera um livro de teologia. Como pregar com segurança se se desconhece os conceitos e definições de teologia? Não é raro encontrarmos pastores citando datas, eventos, nomes etc. erroneamente em seus sermões, pois não estudaram o suficiente. Isso se constitui em uma vergonha para a igreja.
Pastor precisa conhecer o mínimo das línguas originais. Precisa possuir uma boa biblioteca onde encontrará material suficiente para preparar seus sermões. Precisa gerenciar melhor seu tempo para se dedicar às diversas leituras e principalmente à leitura da Palavra. Precisa praticar as disciplinas espirituais que o levarão mais perto do trono do Altíssimo, para que quando subir no púlpito de sua igreja ele seja boca de Deus.
3. Excesso de Pragmatismo.
Há pouco escutei um pregador neopentecostal afirmar que em um culto uma pessoa endemoninhada correu para agredir alguém em que pregava. Ele não tinha como deter o agressor então disse: “Que haja uma muralha de fogo entre os dois”. Então o pretenso endemoninhado parou estático mediante sua fala. Ele concluiu dizendo: “Irmãos, não está na Bíblia, mas funciona”. Isso é pragmatismo elevado à enésima potência. Absurdo dos absurdos.
Para muitos líderes se funciona deve ser bíblico e espiritual. Não importam se as praticas não encontram respaldo escriturístico. Não se incomodam se as praticas contradizem a Palavra de Deus. Já sacrificaram a Palavra no altar do pragmatismo há muito tempo. Mas a grande contradição é que pastores devem ser homens da Palavra. São Jerônimo, um grande doutor da Igreja, que dedicou uma parte da sua vida ao trabalho de revisar as traduções (latim) das Sagradas Escrituras. Ele era apaixonado pelas Sagradas Escrituras, e iluminado pelo Espírito Santo para efetivar este árduo serviço a Igreja e a humanidade, dizia: “Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo!”.
Creio que esta historia refere-se a Rui Barbosa. Rui Barbosa (um dos homens mais brilhantes do período inicial da Republica Brasileira) disse ao seu empregado: “Traga-me o livro!”. O rapaz foi e providenciou um dos livros de cabeceira do patrão, que logo interrompeu dizendo novamente: “não, esse não, traga-me o livro!”. Depois de uma e outra tentativa, o grande intelectual brasileiro teve de explicar: “Traga-me a Bíblia, pois os outros livros são livros, mas a Bíblia é o livro dos livros!”
Toda prática que não tiver seus alicerces na Palavra deverá ser expurgada de nosso meio. Não interessa se dá resultado ou não. Feriu a Palavra não deve encontrar apoio em nosso meio.
Precisamos como pastores abandonar a prática espúria de pregarmos sobre a Palavra e não pregarmos a Palavra. Precisamos como pastores enfatizar a Bíblia em nossas congregações, pois somente assim teremos uma igreja vigorosa e sadia para enfrentar essa onda avassaladora de heresias e idolatria que varre a igreja nos dias atuais.
Quando falta pregação com unção do alto encontramos expressões chulas. Muitos pregadores dizem: “Quanto mais glória ai no meio do povo, mais a gloria do Céu desce”. Nossos cultos estão impregnados de sensacionalismo e emocionalismo. [Para muitos] Se não houver profecia estática o culto não foi benção e a igreja é muito fria. Se não tiver muito choro, arrepios e outras coisas mais Deus não se manifestou. Não estou dizendo que nossos cultos sejam desprovidos de sentimento e emoção, mas que essas coisas não podem constituir o centro do culto. Muitas vezes sairemos dos cultos com a sensação que precisamos confessar pecados, consertar relacionamentos e vivermos mais a Palavra. Creio firmemente que quando o Senhor se manifesta em uma de nossas reuniões dificilmente nos comportaremos como pedras de gelo. Antes, pelo contrário, cada célula de nosso organismo será sacudida pela presença do Santo.
4. O Impasse Entre Pastor/Mestre e Pregador/Estrela
A principal função do pastor é instruir os membros de sua igreja na Palavra. Hoje encontramos astros e estrelas gospel fazendo do púlpito um picadeiro. Chamam mais atenção para si do que para a Palavra. São astros na constelação gospel. Nos dizeres de Spurgeon tais pregadores divertem bodes, mas não pastoreiam ovelhas. Fazem o povo rir e anunciam-lhes exatamente aquilo que querem ouvir. Afagam-lhes o ego e satisfazem seus desejos mundanos. Paulo nos diz que chegariam tempos onde os homens buscariam doutores conforme suas necessidades. Quando o pastor se apossa do púlpito e transmite a Palavra certamente causará espanto em muitos e perderá alguns membros de sua igreja, mas impactará as almas sedentas de Deus e lhes proporcionará água limpa e cristalina para suas sedes.
O púlpito morre quando a Estrela sai de cena e entram as estrelas impondo sobre os cristãos seus carismas e suas pessoas.
Quando se valoriza mais as reações sensoriais do que a Palavra então o sermão expositivo, que foi marca da igreja durante séculos, deixa de ser praticado e a igreja fica desnutrida e anêmica. Deus usa sua Palavra para salvar, dar crescimento e sustentar o homem. Nada, além disso. Pregador que muda o tom de voz para impressionar, que se utiliza de visões de demônios para chamar atenção da congregação, que excita o povo a gritar e pular loucamente, é irresponsável e merece nosso desprezo.
Instrução na Palavra sustentará a igreja na hora da angústia que está para chegar. O pastor/mestre será fundamental diante das anomalias que se aproximam. Feliz da igreja onde o dom de Pastor/Mestre se faz presente.
Creio firmemente que púlpitos fortes e pregações e pastores bíblicos serão instrumentos de Deus, como sempre foram, para trazer a igreja de volta para o caminho de santidade e vida.
Soli Deo Gloria
Autor: Pr. Luiz Fernando R. de Souza
Fonte: http://ministerioforcaparaviver.blogspot.com.br/
Nota do Editor
Embora não tenha entendido muito a razão do título, postamos este artigo pela qualidade de conteúdo e relevância do assunto. Precisamos, urgentemente, voltar à verdadeira pregação – bíblica, restauradora, vivificante! Como dizia um velho pregador: “Há pessoas que são um dilúvio de palavras, num deserto de idéias!” Chega de oferecer “palha seca” aos famintos espirituais que anseiam pelo Pão Celestial (Jesus)!!!