Salmo 34 – Como Alcançar a Longevidade?

 

Introdução (1-3)

Este cântico de louvor é um acróstico: cada verso inicia com as letras em sequência do alfabeto hebraico. Quanto ao conteúdo, é um cântico de Ação de Graças, semelhante no pensamento ao livro de Provérbios. Pode ser descrito como um salmo didático, que nos ensina lições extraordinárias, lições que procedem da experiência pessoal de Davi, o suave cantor de Israel, que muito mais do que todos, sabe o que é ser atribulado, mas que sabe também o que é ser liberto.

Davi se introduz com uma promessa de que louvará a Deus. Verso 1: "Bendirei o Senhor em todo o tempo, o seu louvor estará sempre nos meus lábios." Não basta louvar a Deus apenas em alguns momentos em que estamos emocionados diante das muitas maravilhas divinas. É um estilo de vida louvar a Deus em todo o tempo, ininterruptamente, porque isso passa a ser parte de nossa atitude mental. Não pode ser diferente, se você está com o coração cheio da Sua graça e amor.

Então, o salmista apresenta o resultado de louvar a Deus em todo o tempo: o seu louvor ajudará outros a conhecerem a Deus e estes passarão a louvá-lO também. A resolução de louvar a Deus continuamente é a base para levar outros a magnificar e exaltar o Senhor. V. 2: "Gloriar-se-á no Senhor a minha alma; os humildes o ouvirão e se alegrarão."

Muitos se gloriam nas suas aquisições, nos seus carros novos, em suas casas ou terras férteis. Outros se gloriam no seu conhecimento, nas suas aquisições intelectuais, nos seus doutorados. Outros ainda se gloriam nos seus talentos, nas suas habilidades, nos seus recursos humanos. E há até os que se gloriam no seu cônjuge, no seu casamento, e nos seus filhos.  Mas o salmista aqui se gloria no Senhor: toda a sua glória, todo o seu valor, todo o seu mérito, toda a sua riqueza estava em Deus. A glória do seu passado, a realidade do seu presente e a esperança do seu futuro estavam centralizadas em Jeová, o Deus da aliança.

Mas enquanto Davi fala em se gloriar, ele destaca que isso não deveria se confundir com orgulho porque louvar a Deus é uma atividade dos humildes: "os humildes o ouvirão e se alegrarão." A humildade é essencial para louvar a Deus, porque esse louvor exige a necessidade de reconhecer, não só a nossa pecaminosidade completa e a incapacidade de nos salvar, como também exige a necessidade de reconhecer as virtudes e qualidades de um Deus Criador, Mantenedor e Salvador. Portanto, Jesus Cristo inicia o seu maior discurso com um glorioso estímulo aos humildes: "Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus." (Mt 5:3).

Então, Davi faz um convite universal, no v. 3: "Engrandecei o Senhor comigo, e todos à uma lhe exaltemos o nome." Este convite é dirigido a todos. Não importa quão pobres sejam os adoradores. Não importa quão desprezados sejam os que O louvam. Não importa quão pecadores sejam os que O buscam. Se eles começarem a louvar a Deus, eles deixarão os seus pecados e se voltarão para Aquele que é poderoso para salvar, bendizendo-O por Sua gloriosa salvação. 

Os justos que louvam a Deus buscam 3 coisas: LIBERTAÇÃO, LONGEVIDADE E APROVAÇÃO.  

I – OS JUSTOS BuscaM Libertação (4-10)

V. 4: "Busquei o Senhor, e Ele me acolheu." Davi buscava a Deus continuamente, tanto nas horas boas, como nos momentos difíceis. Buscava ao Senhor quando estava feliz, mas também O buscava quando se sentia muito infeliz. Buscava o Seu Libertador quando estava alegre, mas também O buscava quando se sentia triste. E o seu testemunho é de que ele nunca foi decepcionado; pelo contrário, sempre foi acolhido. Assim como Davi, temos que buscar ao Senhor nosso Deus em todas as circunstâncias, porque Ele sempre nos acolherá.

1. Deus nos liberta do temor. Davi podia comprovar esse fato. Ele pôde testificar: O Senhor "livrou-me de todos os meus temores" (verso 4). Davi tinha muitos temores. Temor de animais selvagens, temor de pessoas invejosas, temor de gente hipócrita no palácio, temor de traidores, temor da guerra, temor de seus muitos inimigos, temor de falsos amigos, temor de não ser perdoado, temor de perder a salvação, temor de ser abandonado por Deus. Mas o Senhor o livrou de todos esses temores, e como Ele fez com o Seu servo, pode fazer com você.

Vivemos em um mundo de temor. O homem moderno vive acicatado pelo temor. O homem de nosso tempo vive atormentado pelo medo. O homem tem medo do escuro, da sexta-feira 13, tem medo de perder o emprego, teme um colapso cardíaco, tem medo da velhice, tem medo da vida, tem medo da morte, e teme o que virá depois da morte, e teme se perder no fogo do inferno. Mas Deus prometeu livrá-lo de todos esses temores. Disse Davi: O Senhor "livrou-me de todos os meus temores". (v. 4).

2. Deus nos liberta do vexame: V. 5: "Contemplai-O e sereis iluminados, e o vosso rosto jamais sofrerá vexame." O sentimento de vergonha é inato no ser humano decente, naquele que tem caráter. Note o sentimento dos cristãos romanos, em relação ao tempo de sua vida pregressa: "Quando éreis escravos do pecado, ... Naquele tempo, que resultados colhestes? Somente as coisas de que, agora, vos envergonhais; porque o fim delas é morte." Rm 6: 20-21.

Davi também olhava para o seu passado e temia que os outros lançassem em seu rosto os seus erros e pecados. Se não, vejamos. Ele tinha cometido adultério com a mulher de Urias, esposa de um de seus mais valorosos oficiais. Para piorar a situação, Davi, longe de Deus, planejou e executou a morte de Urias, a fim de ocultar o seu pecado. Pouco depois, Amnon, filho de Davi, se apaixonou por sua irmã Tamar e, arquitetando um plano diabólico, praticou um pecado de incesto e estupro contra ela, arruinando a sua vida e a vida dela.

Ora, o povo reclamava por justiça, e Davi foi tentar censurar o pecado de Amnon, seu filho, atribuindo-lhe o castigo merecido. Mas quando Davi foi lhe falar em castigo, Amnon riu de sua cara e lhe lançou os seus próprios pecados em rosto. Pode imaginar a vergonha de Davi diante dos seus oficiais, com o rosto ruborizado, sem nenhuma moral para repreender o filho, ao dizer-lhe que era digno de morte, quando o filho era menos culpado que o próprio pai que agora o ameaçava?

Davi sentiu um grande complexo de inferioridade por causa de seus pecados. Nós também sentimos muitos complexos de inferioridade por causa do sexo, por causa da cor, ou a profissão, pela falta de conhecimento, pela falta de habilidade, mas também sentimos um grande complexo de inferioridade por causa de nossos pecados.

Mas agora, Davi nos fala como evitar a vergonha: "Contemplai-O e sereis iluminados, e o vosso rosto jamais sofrerá vexame." Em outras palavras: "Buscai a Deus, contemplai-O, e então, vocês serão iluminados com a luz fulgurante de Sua glória; então, nunca sofrereis a vergonha de seus pecados, porque estes serão perdoados e esquecidos."  

Contemplar a Deus não significa passar 4 horas em meditação vazia, como sugere a doutrina do yoga. Contemplar a Deus significa meditar no Seu caráter, nos Seus atributos e no Seu poder. O Seu caráter é justo, santo e bom. Os Seus atributos são a imortalidade, a imutabilidade e a eternidade. Já o Seu poder se mede pela onisciência, onipresença e onipotência.

Quando contemplamos a Deus desse modo, somos iluminados, conforme nos disse Davi, e somos transformados, conforme disse Paulo: "E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito." (2Co 3:18).

Quando contemplamos a Deus, somos transformados à semelhança do Seu caráter, e somos iluminados de tal modo que vencemos toda a espécie de complexos. Nessa feliz contemplação, nós teremos a solução de todos os problemas espirituais e psicológicos. Conhece pessoas que ficam com o rosto vermelho facilmente? Aqui está o segredo para vencer esse tipo de constrangimento: Contemplar a Deus pela fé, a fim de ver não os nossos pecados, mas o próprio Libertador. Disse Paulo: "Olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus." (Hb 12:2).

"Olhar firmemente" é contemplar. Temos que contemplar mais Aquele que é o Autor e Consumador de nossa fé, Jesus, o qual morreu numa ignominiosa cruz para que não precisássemos sentir ignomínia, vergonha de nada, mas para que fôssemos capazes de levantar a cabeça e sairmos vitoriosos em nossa vida espiritual.

3. Deus nos liberta da dúvida: V. 6: "Clamou este aflito, e o Senhor o ouviu." Davi duvidou de que seria ouvido por Deus em sua oração de angústia. A sua dúvida é provada por seu forte clamor buscando a Deus em momentos em que parecia que Ele estava muito longe, cuidando de Suas galáxias. Mas as suas dúvidas acabavam porque, quando Davi clamava Deus o ouvia, e Se fazia entender em Suas claras respostas ao Seu servo aflito.  

Assim pode acontecer conosco. Assim ocorrerá com você: quando você clamar com fé, com inteireza e confiança, Deus o ouvirá. Naturalmente, Deus ouve todas as suas orações, mas aqui "ouvir" significa atender, responder, tornar-se propício. Nossas dúvidas devem ser todas dirimidas, porque Ele nos ouve, atende e Se torna propício para conosco, abrindo um mar de esperanças, mesmo quando estamos desesperados, sem ver nenhuma saída para os nossos intrincados problemas.

4. Deus nos liberta da tribulação. Davi passou muitas vezes pela experiência de que Deus "o livrou de todas as suas tribulações". Muitas foram as suas tribulações, mas Deus o livrou de todas. A palavra "todas" é significativa. Não somos libertos de algumas tribulações; não somos libertos apenas de umas poucas tribulações. Não somos deixados sozinhos quando as tempestades da tribulação nos afligem, porque o Senhor nos livra de "todas" as nossas tribulações.

Ou podem vir angústias, aflições de espírito, melancolia de alma. Podem nos visitar as provações, os testes em nossa vida familiar, ou no trabalho, ou mesmo na vida espiritual. Deus nos prova a todo o momento, a fim de desenvolvermos um caráter à Sua semelhança. Mas Ele promete nos valer em todas as nossas tribulações.

5. Deus nos liberta do perigo: V. 7 "O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que O temem e os livra." A Bíblia nos informa em muitos lugares que o Anjo do Senhor foi o próprio Jesus Cristo, que andava entre o Seu povo no Antigo Testamento. Deus enviou o Seu Anjo para Josué, antes da destruição de Jericó. E ele viu um homem  diante dele com uma grande espada reluzente, e lhe perguntou:  "És tu dos nossos ou dos nossos adversários?" E o Anjo lhe respondeu: "Não; sou Príncipe do Exército do Senhor e acabo de chegar." Era o Senhor Jesus Cristo que Se manifestava diante dele, em forma de um anjo, e aceitou a sua adoração. (Js 5:13-15; At 5:31). Com efeito, Deus manda o Seu Anjo para nos visitar e proteger. Mas esse texto (Sl 34:7) também se aplica à verdade de que cada um de nós tem o seu anjo da guarda.

Davi sofreu muitos perigos. Sua experiência começou quando cuidava de seu rebanho e teve de enfrentar um leão e logo um urso; depois, teve de enfrentar o perigo de lutar com o gigante Golias; então, teve de se livrar do rei Saul que lhe atirou uma lança tentando matá-lo, movido de inveja; e tratou de persegui-lo de morte, caçando a sua vida como a um bandido, tentando destruí-lo. Davi enfrentou o perigo nas guerras combatendo os inimigos de fora, perigos entre inimigos de dentro dos limites de Israel, perigos entre os seus próprios filhos, sendo perseguido por Absalão, que, além de cometer os crimes incestuosos com suas mulheres, tentou matá-lo para lhe usurpar o trono. Mas o anjo do Senhor se acampou ao seu redor, e o livrou de todos esses perigos, dando-lhe a força descomunal para salvá-lo, preservando-lhe a vida e o trono até ditosa velhice.

Paulo, como Davi, passou por muitos perigos: "Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um; fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar; em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez." (2Co 11:24-27).

Vivemos em um tempo de muitos perigos, muito mais do que em épocas antigas, por mais perigosas que fossem. Enfrentamos hoje perigos na natureza, perigos de enchentes, de ciclones, de furações, de terremotos, de maremotos, de tsunamis como jamais houve em outras épocas. Temos o perigo de pessoas, em roubos, assaltos à mão armada, estupros, pedofilia, incesto e assassinatos. Temos perigos políticos que geram as guerras, as revoluções e os levantes, além de roubos em grande escala da riqueza pública. Temos perigos dentro e fora de casa. Enfrentamos o perigo em uma loja comercial, num banco ou andando numa praça com nossos filhos, ou passeando em nosso carro com a família.

Mas a grande promessa é de que Deus enviará o Seu anjo para nos livrar de qualquer perigo, se nós, ao invés de colocar o temor mórbido no homem, colocarmos o nosso temor saudável em Deus. O Seu anjo nos cercará com as asas de Sua proteção a fim de nos preservar a vida.

6. Deus nos liberta da necessidade: V. 8: "Oh! Provai e vede que o Senhor é bom". As bondades de Deus são a certeza de que não passaremos nenhuma necessidade. Somos desafiados a testar ao Senhor, a fim de provar que, de fato, a bênção é reservada aos que põem nEle a sua confiança, e experimentam a felicidade. Portanto, é "bem-aventurado o homem que nEle se refugia" quando surge a necessidade ameaçadora.

Podem vir privações. Isto significa que a pobreza pode bater à nossa porta. Um problema financeiro na China ou na Grécia, um decisão do governo nas poupanças (como em 1990), uma guerra inoportuna, um sequestro, um assalto à mão armada, e lá se vão as nossas economias de uma vida toda. De uma hora para outra, os ricos podem se tornar pobres, e os pobres tornam-se miseráveis. Mas Deus nos liberta das privações e necessidades.

O salmista continua enfatizando esse aspecto, e nos estimula a temer ao Senhor em vista de Suas bondades, e ilustra o fato na própria natureza: V. 9 e 10: "Temei o Senhor, vós os seus santos, pois nada falta aos que O temem. Os leõezinhos sofrem necessidade e passam fome, porém aos que buscam o Senhor bem nenhum lhes faltará."

II – OS JUSTOS BuscaM A longevidade (11-14)

Davi tem uma orientação para dar aos filhos de Deus. V. 11: "Vinde, filhos e escutai-me; eu vos ensinarei." Aqui ele se coloca na posição de pai e professor, pela experiência que já demonstrou de tantas tribulações na sua vida. A matéria é o seu conhecimento experimental que lhe deu o direito de ensinar aos outros. O auditório é composto por aqueles que são chamados de filhos, pessoas humildes e capazes de aprender, discípulos de todas as idades. O método é através de perguntas e respostas didáticas como fazem os homens sábios, na sua simplicidade. O tema é a vida, não a vida física simplesmente, herdada de um processo biológico, mas a vida espiritual e como pode ser prolongada e bem vivida, em paz e felicidade. 

 Aqui está o convite do salmista: V. 11: "Vinde, ... eu vos ensinarei o temor do Senhor." O grande tema geral é o temor de Deus. Este é um tema que engloba toda a nossa vida espiritual. O temor do Senhor está enraizado na vida de todos os que Lhe pertencem e desejam fazer a Sua vontade.

No verso 12, temos a pergunta retórica: "Quem é o homem que ama a vida e quer longevidade para ver o bem?" Aqui está a proposição: quem ama a vida deseja saber como viver mais e melhor. "Quem de vós ama tanto a vida que deseja longevidade, mais vida ainda?" Longevidade não só para viver e apreciar a vida, mas para viver uma vida eterna na companhia de um Deus amorável.

Anote as 3 simples regras do suave cantor de Israel:

1 – Domínio das palavras: V. 13: "Refreia a língua do mal e os lábios de falarem dolosamente." Todos têm a capacidade de falar, mas nem todos dominam a arte de falar bem. Temos que ter o domínio da linguagem, refreando a língua do mal. Mas não é fácil dominar a arte de falar, dominar as palavras. Tiago falou desse assunto: "Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também todo o corpo." (Tg 3:2). Porque virão muitas consequências desastrosas, se nós não atentarmos cedo na vida para esta simples regra.

Mas então, onde está o segredo para dominarmos a arte de falar bem e refrearmos a língua do mal? Jesus Cristo fez a mesma pergunta nestas palavras: "Como podeis falar coisas boas, sendo maus?" O seu auditório ficou esperando que Ele mesmo desse a resposta. E Ele completou: "Porque a boca fala do que está cheio o coração." (Mt 12:34). Então, eles concluíram que o problema está no coração; resolvendo o problema do coração, podemos refrear a língua do mal.

O coração é um símbolo de nossa mente. A língua está sempre pronta para falar aquilo que está na mente. Se temos a mente cheia do mal, do que é que falaremos? Portanto, precisamos renovar o nosso coração, a nossa mente. Paulo disse: "Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." (Rm 12:2). Renovamos a nossa mente quando lemos a Bíblia, e somos iluminados pelo Espírito Santo. Temos que encher a nossa mente com as coisas espirituais. Então, teremos domínio de nossa língua e falaremos as palavras de Deus.

2 – Domínio dos atos: V. 14: "Aparta-te do mal e pratica o que é bom." Temos uma luta que não termina senão apenas na morte. Temos uma natureza má, cheia de paixões, tendências para o mal. Assim nasceram todos os habitantes desta terra. Mas podemos, mercê de Deus, dominar as paixões de nossa natureza pecaminosa. Podemos dominar os nossos atos. 

Temos muitos exemplos na Escritura de homens justos que se desviavam do mal e praticavam o que era bom. José do Egito, um padrão de pureza e retidão de vida, não só fugia literalmente do pecado, como salvou aquela nação da extinção pela fome. O patriarca Jó foi descrito como um "homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal." (Jó 1:1). Disse o mesmo Jó que Deus falou ao homem: "Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento." (Jó 28:28).

Disse também Jesus Cristo que é do coração que vem todo o mal: "Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura." (Mc 7:21-22). Portanto, assim como más palavras procedem de um coração mau, assim procedem os maus atos de um coração maligno. Desse modo, concluímos como antes: o problema está no coração; se o coração for consertado, daí procederão só boas práticas e boas ações. Nós estaremos nos desviando do mal e praticando o que é bom.

3 – Domínio dos pensamentos. V. 14: "Procura a paz e empenha-te por alcançá-la." Isto significa que devemos buscar a paz de tal modo que não desistimos até que a encontremos. Deus é a Fonte da paz, chamado o "Deus da paz" (Rm 15:33), e temos de buscar a paz em Deus porque só Ele a pode dar. Ele primeiro nos dá a paz judicial, que significa o perdão dos pecados. Isto se consegue através da justificação, que nos vem quando recebemos a Jesus Cristo, o "Príncipe da Paz" (Is 9:6). "Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo" (Rm 5:1). Depois como resultado, Ele nos dá a paz mental.

Paz é uma virtude da mente ligada em Deus. É a harmonia do pensamento humano com o divino: quando todos os pensamentos estão em harmonia, temos paz com Deus, paz conosco mesmos e paz com os semelhantes. Esta é uma virtude que está diretamente relacionada com a mente humana.

É por isso que Satanás está muito preocupado em dominar as mentes de homens e mulheres. Porque, se ele conseguir isso, então conseguirá dominá-los completamente. Se Satanás tiver o domínio da mente, poderá dominar as palavras e os atos do homem. Desse modo, não haverá limites para o mal.

Portanto, precisamos do temor de Deus a fim de receber o Seu poder que nos capacita a dominar a mente e em consequência os nossos pensamentos. E o conselho de Davi é para que dominemos os pensamentos, as palavras e os atos: Refreando a língua, desviando-nos do mal, e buscando a paz, como base fundamental de tudo o mais. Temos que seguir as regras de Davi que é uma regra tríplice: boas palavras, bons atos, e bons pensamentos. Palavras sem dolo, atos do bem, e pensamentos de paz.

A ordem é um costume oriental e hebraico de colocar o principal no fim, quando nós ocidentais colocamos o principal no início: pensamentos, palavras e atos. O que Davi quer dizer é que, se temos dificuldades com as palavras, se temos dificuldades com os atos, na sua prática, então, temos que avaliar os nossos pensamentos. Portanto, ele coloca isso em último lugar, didaticamente, em um grande clímax: cuide dos pensamentos, harmoniosamente, e tudo estará bem. Este é o máximo domínio que está à nossa disposição.

Aqui está o segredo da longevidade, o segredo da vida longa. E a base está no temor de Deus. Muito tem se feito em busca da longevidade. Esse tema tem despertado o interesse de todos os povos. Todos querem viver muito e com muita felicidade, porque longevidade só tem graça se estiver ao lado da felicidade. Mas longevidade e felicidade só podem ser conquistadas se tivermos a Deus como o centro de nossa vida e de nossos pensamentos. Se nós tivermos o nosso "eu" como o centro de tudo, logo haverá desarmonia nos pensamentos, não estaremos em paz com o nosso mundo, nem com as pessoas próximas ou distantes, e não estaremos em paz nem conosco mesmos. O resultado será degenerescência e morte, não vida prolongada.

III – OS JUSTOS BuscaM a Aprovação (15-18)

1 – Os justos buscam a aprovação de Deus: V. 15: "Os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos ao seu clamor." Muitas vezes teremos de clamar a Deus e buscar a Sua aprovação. Às vezes estamos angustiados com muitos problemas e muitos conflitos em nossa vida. Quando buscamos ao Senhor e a Sua aprovação, somos surpreendidos com o fato maravilhoso de que Ele já tem os Seus olhos repousando sobre nós e os Seus ouvidos atentos ao nosso clamor.

Mas isso não acontece com os ímpios sobre quem impende a desaprovação divina. V. 16: "O rosto do Senhor está contra os que praticam o mal, para lhes extirpar da terra a memória." O rosto de Deus Se demonstra a favor ou contra uma pessoa consciente e livre para agir. Se ele age pelas práticas do bem, Deus se lhe mostrará com Seu rosto favorável. Mas se ele pratica o mal conscientemente, a terrível desaprovação divina virá contra ele e logo, se ele não se arrepender, a sua memória será apagada e extinta da terra.

2 – Os justos clamam a Deus. V. 17: "Clamam os justos, e o Senhor os escuta e os livra de todas as suas tribulações." Este verso é uma repetição do que Davi havia dito no v. 6, onde ele declara que esta foi a sua experiência. Se Deus podia cuidar de Davi desse modo tão amorável, Ele também pode cuidar de nós da mesma forma, quando clamarmos com inteireza de coração.  

Assim também somos estimulados a clamar ao Senhor. Não basta apresentar diante de Deus uma oração vazia, desconcentrada e sem alma. Você tem que colocar todo o seu coração e toda a sua esperança em Deus ao clamar em oração fervente. É preciso erguer a voz com sentimento e interesse real. E a promessa é de que seremos ouvidos, atendidos e libertos de todas as tribulações.

3 – Os justos sentem a presença de Deus. V. 18-19: "Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido. Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor de todas o livra." Aqui está a definição do que é um justo: ele sente a presença divina. Ele tem uma noção muito clara da presença de Deus consigo mesmo. Ao passar por muita opressão ocasionada pelos ímpios, ele tem o seu coração quebrantado e oprimido porque é humano e padece, mas tem a consoladora certeza da presença divina. Ele sabe que Deus o livrará de todas as suas aflições. Consola-se com a convicção de que Deus sabe de tudo o que se passa com ele e o salvará.

4 – Os justos são protegidos de Deus: V. 20: "Preserva-lhe todos os ossos, nem um deles sequer será quebrado." Esta é uma vívida figura de completa preservação. Esta afirmação foi literalmente cumprida na experiência de Cristo, após a Sua morte (Jo 19:36). Os Seus ossos não Lhe foram quebrados, por não ser isto necessário, porque Ele já estava morto, segundo interpretação do costume da época, mas isso ocorreu com os outros dois crucificados, cujas pernas foram-lhe quebradas. Portanto, este salmo tem nesta parte uma aplicação messiânica.

Davi sentiu a proteção física de modo extraordinário, sendo perseguido pela lança de Saul, pelas flechas do inimigo e pela espada dos soldados gentílicos que também buscavam a sua morte. Ele foi preservado e seus ossos não foram quebrados. Assim, os justos serão preservados, no tempo de angústia: nenhum osso lhes será quebrado. Mas isto não acontecerá com os ímpios: "Deus tirou do Egito a Israel, cujas forças são como as do boi selvagem; consumirá as nações, seus inimigos, e quebrará seus ossos, e, com as suas setas, os atravessará." (Nm 24:8).

Mas esta é a promessa de Deus para aqueles que O servem: "O Senhor te guiará continuamente, fartará a tua alma até em lugares áridos e fortificará os teus ossos; serás como um jardim regado e como um manancial cujas águas jamais faltam." (Isaías 58:11). 

CONCLUSÃO (21-22)

Os dois últimos versos do salmo 34 podem ser considerados como uma conclusão e um resumo de todo o salmo: Só há duas classes de pessoas: os justos que são absolvidos, e os ímpios que serão condenados. Este é um dos principais temas de todo o livro dos Salmos: o justo que será salvo da perseguição do ímpio que por sua vez será condenado, e sua memória extinta para sempre. Isto acontecerá com o ímpio, porque "o infortúnio matará o ímpio, e os que odeiam o justo serão condenados". (v. 21).

1 – Os ímpios serão condenados. Aqui está a própria razão por que serão condenados os ímpios: eles "odeiam o justo". De fato, não serão condenados os ímpios à morte, basicamente, porque cometem alguns pecados, como assassinatos, ou adultérios, porque isto também aconteceu com alguns homens de Deus. Os ímpios serão condenados porque "odeiam os justos" que são protegidos por Deus, e odeiam a Deus porque protege os justos. Se não podemos amar os filhos de Deus a quem vemos, como poderíamos amar a Deus a quem não vemos? (1Jo 4:20). Os ímpios estão condenados porque odeiam os justos. E quem odeia é assassino e está em trevas. (1Jo 3:15; 2:11).

2 – Mas os justos serão justificados: V. 22 "O Senhor resgata a alma dos seus servos, e dos que nEle confiam nenhum será condenado." Davi compreendia o Evangelho: Deus resgata a alma dos que O servem, daqueles que confiam nEle, pela fé em Seu poder, providência, proteção e, finalmente na Sua salvação. Os justos são chamados "justos" porque já foram justificados e perdoados no passado, vivem uma vida justa no presente e porque no futuro serão também justificados diante do tribunal divino.

Davi sabia muito bem a definição do Evangelho: são as boas novas que podem nos tornar sábios e justificados para a salvação. Como disse Paulo: "Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus." "Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós." Rm 8:1,33-34.

E como é com você meu prezado amigo? Este salmo pôde falar ao seu coração? Você tem a aprovação de Deus e já foi muitas vezes liberto de muitas tribulações? Deus enviará o Seu Anjo para protegê-lo, o próprio Salvador Jesus Cristo. Você sente a presença de Deus com você agora mesmo? Você se sente justificado diante de Deus tendo os seus pecados perdoados? Aquele que confia em Deus e aceita o Seu plano de salvação será justificado, jamais será condenado. Você está ansiando por longevidade, vida longa e feliz? Saiba que isso depende de sua ligação com Deus que dá o poder para dominar os pensamentos, palavras e atos. 

Portanto, aceite a Jesus Cristo como Salvador pessoal. Busque a Deus e a Sua Libertação. Busque a Vida verdadeira, que está no temor do Senhor, e domine pelo Seu poder os seus pensamentos, palavras e atos. Busque a Sua aprovação. Você terá paz e felicidade, e muita vida, a própria vida eterna.

 

Pr. Roberto Biagini

Mestrado em Teologia

15/08/2012

[email protected]