ECLESIASTES 03
Itamar de Paula Marques
INTRODUÇÃO
O TEMPO E A ETERNIDADE
Agostinho de Hipona disse certa vez: O que é o tempo? Se nada me perguntam, eu sei, porém se quero explicar a alguém, não sei. Eclesiastes não explica. Não é uma abstração completa para se explicar. O tempo é a própria vida, onde ocorrem os eventos. A diferença do pensamento grego que associa o tempo com a morte. O pensamento hebraico associa o tempo com a vida. No pensamento hebraico o tempo está associado com os eventos.
Há tempo para tudo, 3:1. Para Eclesiastes, dentro da carne de nossa existência, na terra, que recebemos o primeiro dom de Deus, o tempo, os eventos de nossa vida. Tudo deu hebraico: nathán formoso há seu tempo, 3: 11. Eclesiastes menciona que Ele tem dado hebraico: nathán a eternidade no coração deles. 3: 11. Recebemos aqui em nosso tempo, um sentido de eternidade. Não obstante a sombra hebraico: hébel, sopro, vapor arruína o dom, o problema do mal e da morte rompe a harmonia. Os eventos são tanto positivos como negativos, a vida está em tensão com a morte. Dentro de nossa vida limitada, o dom de Deus nos propõe a optar entre a vida e a morte, entre o tempo e a eternidade[1].
O capítulo 3 do livro de Eclesiastes é uma demonstração clara do nível de sabedoria que Salomão atingiu; edificada sobre a base sólida de profunda observação e reflexão. Embora essas reflexões tenham sido plasmadas à luz dos derradeiros anos da sua existência, não deixam de refletir o elevado grau de ponderação e certa ousadia ao tratar do arriscado assunto sobre o tempo. O conceito de tempo, ignorado nas emanações culturais dos povos antigos, perambulou de maneira habitual na mente de Salomão, e ele mesmo o deu a conhecer em linguagem acessível, pelos exemplos da periodicidade e repetitividade de fenômenos naturais. Ao destacar esses fatos, Salomão enfatiza a ação da natureza e coloca em corolário a ação do homem. A importância dessa ação humana reside na condição de ser avaliado, julgado. O "Pregador" sente-se, agora, à vontade para referir-se claramente à pessoa de Deus, como o único Ser capaz de exercer julgamento. Se os atos do homem não forem julgados, então, qual é a vantagem deste em relação aos animais?[2]
O TEMPO APROPRIADO
Segundo o Midrash, a análise do tempo para cada coisa, enumerada por Salomão, tem um significado mais profundo do que aparenta. Por exemplo: um tempo para nascer e outro para morrer transmite a mensagem de que feliz é aquele para quem a hora da morte é igual ao do nascimento, isto é que chega à morte é tão puro quando nasceu[3].
EXEGESE
A morte
Metade das ocupações do homem é sinistra, metade de suas ações são gestos de luto. A morte já deixou a sua marca sobre a vida. Esta é uma seqüência de atos desconexos versos1 a 8, sem meta versos 9 a 13 a não ser a morte, que, por sua vez, não tem sentido versos 14 a 22[4].
1 - Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu.
Para tudo existe uma época determinada, e para cada acontecimento há um tempo apropriado:
HÁ - O tempo é de ouro, queridos jovens. Não deveis pôr em risco as vossas almas semeando joio. Não vos podeis permitir descuidos quanto aos companheiros que escolheis. Atentai para o que há de nobre no caráter dos outros, e esses traços se vos tornarão uma força moral no resistir ao pecado e escolher o bem. Ponde alto o ideal. Vossos pais e mestres, que amam e temem a Deus, podem acompanhar-vos dia e noite com orações; eles vos podem advertir e suplicar. Mas tudo isto será em vão se escolherdes companheiros descuidados. Se não virdes nenhum perigo real, e pensardes que tendes tanto o direito de proceder bem como o de proceder mal, segundo vos parecer, não discernireis que o fermento da impiedade vos está perigosamente infeccionando e corrompendo o espírito[5].
MOMENTO - Hebraico: um tempo determinado; de uma raiz que significa determinar, decretar. Não só se trata de um tempo conveniente, senão determinado. Deus ordenou certos tempos ou estações, para os diversos fenômenos naturais. Lamentações 3: 37; Tiago 4: 15[6].
PROPÓSITO - De uma palavra hebraica que etimologicamente significa deleitar-se em, achar prazer em. Portanto, esta expressão significa basicamente aquilo no que um se deleita. Esta mesma voz se traduz delícia. Salmo 1: 2; Isaias 58: 13, gosto Isaias 58: 3, complacência. Salmo 16: 3; Malaquias 1: 10[7].
TEMPO - De um vocábulo comum hebraico usado para tempo e que com freqüência significa o começo de um lapso[8]. Nos últimos versículos do capítulo anterior falava-se acerca do dom de Deus no contexto da Criação. O tempo é o primeiro dom da Criação. Haja luz, e houve luz... tarde e manhã... dia, Gênesis 1: 3 e 5. É significativo que a primeira vez que se usa o verbo dar ma Bíblia está inserido no tema da Criação; do firmamento que governam o tempo a luz, e as colocou, Hebraico: nathán. Deus o firmamento e os luminares para governarem o dia e a noite e para separar o dia da noite, e para separar a luz das trevas. Gênesis 1: 17 a 19.
Na primeira aplicação de Eclesiastes acerca do dom de Deus em todos os tempos de nossa vida. Usa outra vez a palavra todos, hebraico: kol. Porém, em lugar de estar relacionada com tudo é vaidade agora está unida ao tempo. A frase todo kol tem seu tempo em tudo kol o que acontece debaixo do sol tem seu tempo determinado. Este não se refere à ética, não quer dizer que há momento apropriado para que a gente atue. Não são tempos manipulados por seres humanos, não decidimos sobre a morte ou a vida, 3: 1. O texto não trata de determinismo. Contém uma declaração que cada evento da vida é um dom de Deus. Tudo tem seu tempo, 3: 1. Esta verdade é desenvolvida nos sete versículos seguintes 3: 2 a 8 mediante um formoso cântico que equilibra os opostos em sete frases rítmicas.
A primeira associação de pensamentos: nascer - morrer; plantar - arrancar nos coloca no contexto da bênção e maldição original em Gênesis 3. A mulher disse: Multiplicarei as dores das tua gravidez, na dor darás luz a teus filhos. Ao homem disse: Maldito o solo por causa de ti, com sofrimento dele te nutrirás todos os dias de tua vida. Ele produzirá para ti espinhos e cardos, e comerás a erva dos campos, com o suor de teu rosto comerás o teu pão até que retornes ao solo, pois dele foste tirado. Pois tu és pó e ao pó tornarás. Gênesis 3: 16 a 19. Este poema sobre o tempo deve ser lido desde a perspectiva de uma reflexão posterior a Criação após a queda abaixo da maldição.
A primeira lição desta declaração é que Deus está no comando de tudo. Há somente um Deus. No contexto bíblico esta é uma forte afirmação ao monoteísmo E agora, vede bem: Eu Sou Eu e fora de mim não há outro Deus. Sou Eu que mato e faço viver, Sou eu que firo e torno a curar. Deuteronômio 32: 39. Houve aqueles que tiveram tentados e foram levados a crenças politeístas e creram em muitos deuses, deuses bons e deuses maus, deuses da luz e deuses das trevas. Para estas pessoas a Bíblia apresenta o único Deus. A fim de que saiba desde o nascente do sol até o poente que, fora de mim, não há ninguém: Eu Sou Iahweh e não há nenhum outro! Eu formo a luz e crio as trevas, asseguro o bem estar e crio a desgraça: sim Eu, Iahweh faço tudo isto. Isaias 45: 6 e 7.
Ainda hoje dentro de nossos círculos religiosos monoteístas, há muitos que se dedicam a outros deuses como o deus do prazer, deus do dinheiro, deus do êxito. Esquecem que Deus está presente quando negociamos, quando comemos, quando pensamos que Ele não nos vê. Há pessoas que temem o poder do mal, de Satanás que seguem falando a respeito dele, e fazem da religião supersticiosa, cheia de precauções angustiosas, amuletos e formas de ritual. Esta afirmação de que Deus está no controle de tudo é significativo para tais pessoas. É de máxima importância para nós todos. Em nossos dias de confusão, muitos querem agradar a todos e saborear cada deus, para estarem seguros e não perderem algo interessante.
O Salmo 23 nos lembra que Ele está ali, ainda que eu ande pelo vale da sombra e da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo. Salmo 23: 4. Ele está ali com um dom, concretamente presente, sua vara fisicamente me toca e me consola. Deus está presente quando não sinto, quando não vejo, quando sofro e quando experimento dolorosamente o silêncio. Entretanto Tu és um Deus que se esconde ó Deus e Israel, o Salvador, Isaias 45: 6. Esta encarnação de Deus em meio ao hébel, e a vaidade de nossas vidas, é a experiência real do Emanoel, Deus conosco. É Deus quem caminha comigo, e fala comigo onde quer que vá e em tudo que faça.
Neste vai e vem de felicidade e dor, contém uma dupla lição para nossa vida. Saber que depois do gozo vem à dor é de um incentivo para aproveitar o momento presente de felicidade e vivê-lo plenamente. Não queremos perdê-lo porque passará. Por outro lado saber que após a dor virá um momento de alegria nos ajuda a suportar aflição. Sua ira dura um momento, seu favor a vida inteira; de tarde vêm o pranto, de manhã gritos de alegria. Salmo 30: 5.
Crer que ambas as classes de tempo estão nas mãos de Deus nos ajuda a confiar Nele todo o tempo. Vivenciar os dons de Deus não somente porque nos faz bem, mas porque somos atraídos a Ele, isto também é dom de Deus. Gozar os bons dons de Deus é uma experiência de gratidão.
Quando saboreio uma fruta deliciosa, quando sinto o perfume de uma flor, quando relaxo ao sol, quando respondo a um amor verdadeiro, quando há sorriso em meus lábios, quando vejo algo belo estou testificando do amor de Deus. Do mesmo modo sucede para o mal. No momento de dor e aflição, ajuda a crer que há um propósito para a dor. Como José viu um propósito para sua aflição. Os mal que tinham intenção de fazer-me, o desígnio de Deus o mudou em bem, a fim de cumprir o que se realiza hoje. Gênesis 50: 20. Pelo contrário, se obstinares a calar agora, de outro lugar se levantará para os judeus salvação e libertação. Ester 4: 14. Um antigo rabino recebeu o nome de Gam zo lê tova traduzido significa: ainda isto é para o bem, por causa de sua fé. Cada vez que enfrentava dificuldades, sempre respondia com as palavras: ainda isto é para o bem. Esta frase tem sido repetida por muitos judeus frente à tragédia. Como disse Paulo: E nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio. Romanos 8: 28[9].
DEBAIXO DO CÉU - Seguem-se quatorze pares de oposições que abrangem todo o agir do ser humano no seu duplo aspecto, positivo e negativo. Metade de nossa existência é negativa e voltada para a morte[10].
O Deus do Tempo
Nas culturas antigas, a noção de tempo é bastante difusa. Os filólogos até afirmam não existir, nas línguas do passado, um termo equivalente a tempo. Essa afirmação é válida também para o povo hebreu, pois na língua hebraica do período do AT, a noção de tempo confunde-se com a de: época, momento, dia, eternidade. O autor de Eclesiastes utiliza o vocábulo ‘eth, que na Bíblia é traduzido por tempo, mas sua raiz é ‘adah, ir, passar. O uso desse termo sugere que a idéia de tempo é suplantada pela idéia do ser, o qual define o conceito de tempo como o ser que passa ou o passar do tempo.
A noção do tempo que passa está presente na própria função verbal da língua hebraica, onde a ação é expressa em dois modos: o completo e o incompleto. O modo completo indica que a ação do verbo foi realizada totalmente, foi cumprida e encontra-se no passado. O modo incompleto assinala que a ação verbal ainda não foi cumprida plenamente ou que aguarda sua realização. Tal modo corresponde ao presente e ao futuro. Dessa maneira, ao fazer uso da sua língua para manifestar seus pensamentos diante do seu interlocutor, o israelita, sempre estará evocando uma ação que já passou ou que ainda passará no tempo. No restante dos séculos da História antiga e durante o período Medieval, alguns pensadores ocidentais procuraram decifrar o dilema criado com essa concepção: É o tempo que passa ou, são os seres objetos que passam pelo tempo? O que prevalece é a idéia na qual o tempo é identificado com o ser. Afinal, se não há seres objetos, não há tempo e, a recíproca também é válida.
Não devemos esquecer que Salomão dirige sua alocução a pessoas que precisam reconhecer a necessidade de salvação ou da vida eterna após a morte. Seu auditório, ou seus leitores, conhecem, pela observação, a repetitividade dos fenômenos naturais. Essa aceitação reflete o domínio do pensamento oriental em relação à característica cíclica desses fenômenos. O Pregador ilustra sua ponderação a respeito do passar do tempo mencionando alguns exemplos habituais, com a certeza de ser bem compreendido: Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou;... tempo de chorar e tempo de rir;... Tempo de amar e tempo de aborrecer;... Eclesiastes 3: 2 a 8.
Essa relação de fenômenos e efeitos de características antinomias, mencionada por Salomão, demonstra a noção que o rei tinha sobre o tempo, baseada na concepção do passar do tempo. Mas a noção de Salomão sobre o tempo é mais completa. Não acaba nesse passar de efeitos ou movimento de objetos. O rei de Israel esboça a imagem de um Ser permanente, imutável, não sujeito à ação de passar; pois Sua própria existência determina outra qualidade de tempo: o tempo absoluto, a eternidade. Esse ser é o Deus verdadeiro. Nele, o tempo não passa, não tem princípio nem fim, não há passado nem futuro. Ele é eterno e eternos são Seus propósitos para o homem. Então, Salomão em forma enfática afirma que tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem... Eclesiastes 3: 11. Ele é o Deus do tempo.
Cinco séculos mais tarde, desde aquela difusão de frases relativas ao tempo, emitidas por Salomão, filósofos gregos exprimiram em linguagem erudita, embora timidamente, a noção de tempo, em grande medida semelhante à noção concebida pelo rei de Israel. Aristóteles, por exemplo, considera a unicidade de tempo e movimento. Basta manter em mente uma imagem de movimento para ter certeza de que houve tempo, e essa relação permite adotar o tempo como medido do movimento. Platão fundamenta sua noção não no passar, mas no estar do tempo. Para esse pensador ateniense, o tempo é manifestação de uma presença que não passa. O tempo é um ser estável e deve a existência a si própria.
Quase no fim da Idade Média, vários pensadores, em diferentes épocas, sugeriram a existência de duas idéias sobre o tempo: o absoluto e o relativo ou de relação. O tempo absoluto é uma realidade completa em si mesma, ocorre sem relação com nada, é independente dos outros seres objetos. O tempo relativo é aparente e comum, medida sensível da duração dos seres através do movimento, é chamado também de relação, porque os movimentos seguem uma relação de ordem. O Pregador, ao enunciar o ciclo de fenômenos naturais, fazia referência ao tempo relativo e, ao propalar a eternidade de Deus, o fazia para referir-se ao tempo absoluto.
O Deus de Israel, como Deus do tempo, ou o tempo absoluto, determina os eventos do tempo relativo. Esse determinismo de fatos a ocorrer é verificado na exposição das Suas promessas, no cumprimento das cláusulas da aliança, no simbolismo profético do movimento das nações, na enumeração dos acontecimentos do tempo do fim, na ratificação sobre a realidade da segunda vinda de Jesus, na esperança de vivenciar a justiça no Juízo final, na encarnação do Filho de Deus. Tudo tem o seu tempo determinado. Assim o confirma o apóstolo: Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou Seu Filho. Gálatas 4: 4[11].
A Coisa Mais Importante
Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.
Desejo fazer-lhe uma pergunta para reflexão: Que coisa você tem considerado a mais valiosa no decorrer da sua vida? Dinheiro, saúde, caráter, casa, carro? Vejamos: riquezas, casa ou outros bens que tenhamos adquirido podem, por algum imprevisto, fugir de nossas mãos. Com trabalho e habilidade, porém, podemos reconquistar tudo de novo. O caráter, ainda que maculado, pode ser restaurado com a graça de Deus, oração e força de vontade. Igualmente a saúde, que, mesmo debilitada temporariamente, pode ser recobrada mediante cuidados médicos e empenho de nossa parte.
Mas, então, o que pode superar a tudo isso em valor e importância? Com todas as letras maiúsculas, eis a resposta: o TEMPO! Diferente das demais coisas, o tempo perdido é irrecuperável. O tempo que passou só servirá para lembranças de oportunidades aproveitadas ou perdidas, mas jamais para o seu reaproveitamento.
Por outro lado, o futuro ainda não existe. Ele virá, mas ainda não nos está disponível para vivermos. O presente é o único espaço de tempo ao nosso alcance para aprimorarmos nosso caráter. Assim, os anos são uma contínua sucessão de momentos e dias que fazem nosso hoje, amanhã e depois, até o fim de nossa vida. São as oportunidades que Deus nos dá para tomarmos decisões importantes. O que faremos?
Paulo deu ênfase ao valor desse momento único, quando disse: Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais o vosso coração... Pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje. Hebreus 3: 7, 8 e 13.
Assim sendo, entesoure cada momento desse novo ano que lhe está disponível. Use-o sabiamente à medida que ele for passando e faça um emprego bastante criterioso e sempre melhor de cada hora que passa, desde a manhã até a noite, pois o tempo é o maior tesouro que Deus nos dá.
Tenhamos, pois, um ano muito abençoado e cheio de esperança. Rendamos nossa vida ao Senhor de forma absoluta e irrevogável, certos de que Ele irá à nossa frente para nos guiar pelo caminho por onde tivermos que andar.
REFLEXÃO: Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio. Salmo 90: 12[12].
2 - Tempo de nascer, e tempo de morrer; e tempo de plantar, e tempo de arrancar a planta.
Um tempo para nascer, e outro para morrer; um tempo para plantar, e outro para erradicar o que foi plantado.
DE NASCER - Alguns consideram esta forma verbal como ativa, e por tal razão poderia traduzir-se: um tempo para dar a luz. No entanto, a maioria dos eruditos sustenta que deve entender-se como uma forma intransitiva; por isso prefiram a forma de nascer[13].
DE MORRER - Nascer e morrer são, não duvide, os dois acontecimentos mais importantes da vida. Mas ninguém pode determinar o tempo de sua entrada no mundo, e, em circunstâncias ordinárias, pouco pode fazer quanto ao tempo de sua saída[14].
DE PLANTAR - Esta expressão concorda com a que a precede. Plantar equivale a dar a luz, e arrancar a morrer. Uma expressão referente à vida humana; e a outra, à vida vegetal[15].
ERRADICAR - Hebraico: desarraigar. Chega o tempo quando há de arrancar o que há de melhor das árvores frutíferas[16].
3 - Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de destruir, e tempo de construir.
Um tempo para exterminar o outro, e outro para curar; um tempo para destruir e outro para construir.
DE MATAR - Os comentaristas não estão de acordo quanto a que se refere Salomão aqui, se a guerra ou a outras circunstâncias. É possível que tivesse em mente a execução dos criminosos e as medidas que devem tomar-se para proteger as comunidades em caso de perigo. Ou estivesse pensando num animal doméstico ferido, cujo ferimento era de tal grau que, ante a impossibilidade de curá-lo era mais misericordioso matá-lo que o deixar sofrer[17].
DE DESTRUIR - Há um tempo quando convém demolir os edifícios para substituí-los por outros. Durante milênios foi habitual no Oriente utilizar uma e outra vez as ruínas de uma civilização como materiais para construir uma nova. Salomão aqui se refira aos seus grandes projetos de construções[18].
4 - Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de gemer, e tempo de bailar.
Um tempo para chorar, e outro para sorrir; um tempo para lamentar e outro para dançar.
DE CHORAR - Às vezes é melhor expressar as emoções que as reprimir. Israel chorou amargamente no exílio Salmo137: 1. Também chegará no dia quando o povo de Deus sorrirá Salmo 52: 1 a 6[19].
DE GEMER - Termo específico para referir-se às ruidosas lamentações públicas e às expressões de dor manifestadas pelos orientais II Samuel 3: 31; Jeremias 4: 8; 9: 17 a 22; 49: 3[20].
DE BAILAR - Na Antigüidade, sobretudo no Próximo Oriente, a dança era uma parte importante das cerimônias religiosas e festivas II Samuel 6: 14 e 16; I Crônicas 15: 29; Mateus 11: 17[21].
Comentário de Êxodo 15: 20: Tomou um pandeiro. O instrumento tocado por Mirian e as mulheres que a acompanhavam foi um pandeiro ou um tambor de mão. Os eruditos modernos especializados em instrumentos musicais antigos favorecem a segunda tradução. A mesma palavra para pandeiro, tof, usa-se no hebraico moderno e em árabe para designar um tambor de mão. Antigos desenhos egípcios deste instrumento o mostram como fato de um aro de madeira e dois couros, mas sem sinetes nem paletas.
É golpeado pela mão do que toca. Na Bíblia, este instrumento geralmente aparece como tocado por mulheres Juízes 11: 34; I Samuel 18: 6; Salmo 68: 25, como foram no Egito, mas a vezes também por homens I Samuel 10: 5. Com freqüência era acompanhado por canto e dança provavelmente para acentuar o compasso, e era considerado como um instrumento de gozo. No AT geralmente se relaciona com festas e louvores.
Todas as mulheres. A separação de homens e mulheres em distintos grupos era um costume egípcio, bem como também o era a realização de danças por grupos de homens e mulheres que acompanhavam seus movimentos com música. Este costume parece ter sido adotado pelos hebreus durante sua longa permanência em Egito. Em tempos posteriores encontramos às mulheres hebréias tomando parte nas celebrações de uma vitória quando iam com música e canto ao encontro dos exércitos que regressavam Juízes 11: 34; 21: 21; I Samuel 18: 6 e 7; 29: 5.
Danças. O emprego de danças nas cerimônias religiosas, tão contrário às idéias ocidentais do decoro, sempre foi aceitável para a mentalidade e os sentimentos orientais. Vários exemplos de danças religiosas se encontram nas narrações do AT. Davi dançou diante do arca quando a levava a Jerusalém II Samuel 6: 16, a filha de Jefté foi dançando ao encontro de seu pai vitorioso Juízes 11: 34 e as virgens de Siló celebraram uma festa nessa forma Juízes 21: 21. A dança também é mencionada com aprovação pelo salmista Salmo 149: 3; 150: 4. Ha dança nos tempos bíblicos era uma manifestação externa de gozo santo, que se realizava com o mesmo espírito com que se elevavam cantos de louvor ou orações de agradecimento. Era um ato de culto, e Deus a aceitava como tal João 6: 37. Os bailes sociais modernos não têm a menor semelhança com as danças religiosas dos tempos bíblicos, pois nelas não se misturavam homens e mulheres, e o único propósito dos participantes era expressar amor, dedicação e agradecimento a Deus. A dança antiga era uma parte integral do ritual do culto[22].
Comentário de Êxodo 32: 19. Quando ele chegou. As cerimônias religiosas da maioria das nações da Antigüidade incluíam danças como parte do culto. Entre os hebreus, estas eram algumas vezes solenes e dignas, como a dança de Davi II Samuel 6: 14, e outras festivas e gozosas. Entre os pagãos, e especialmente entre as nações orientais, tais danças tinham um caráter relaxado e lascivo. Os bailarinos egípcios eram expertos do tipo mais degradado, e sua dança era sensual e indecente. Na Síria, na Ásia Menor e na Babilônia, a dança constituía uma orgia desenfreada. Este era o tipo de baile que se tinham entregado os israelitas, o que explica a tremenda ira de Moisés. Era idolatria da pior classe. Não é estranho que arrojasse as tábuas de pedras violentamente ao solo e as quebrasse. Ao fazê-lo indicou que bem como eles tinham quebrantado seu pacto com Deus, assim também Deus tinha quebrantado seu pacto com eles[23].
5 - Tempo de atirar pedras, e tempo de recolher pedras; tempo de abraçar, e tempo de se separar.
Um tempo para jogar pedras, e outro para junta-las; um tempo para abraçar, e outro para se conter de fazê-lo.
TEMPO DE ATIRAR PEDRAS - Se refira a limpar o campo das pedras que estorvavam o cultivo, para usá-las depois na construção de cercas entre as propriedades, ou muros de contenção, para os campos e os vinhedos Isaias 5: 2 e 5[24].
DE ABRAÇAR - Um eufemismo para expressar a relação conjugal entre casais Provérbios 5: 20, ou uma expressão figurada para referir-se à ociosidade Eclesiastes 4: 5: o néscio cruza suas mãos[25].
6 - Tempo e buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de jogar fora.
Um tempo para buscar, e outro para abandonar.
DE PERDER - De dar por perdido, o que guardaria equilíbrio com procurar. É provável que se faça referência aqui ao animal que se tinha extraviado do rebanho ou a manada. A demasiada e intensa busca poderia provocar uma reação de desagrado dos vizinhos, ou ainda ser inútil[26].
JOGAR FORA - Esta expressão se ilustra nas passagens seguintes: II Reis 7: 15; Provérbios 11: 24 e 25; Jonas 1: 5; Mateus 16: 25; Atos 27: 18 e 19 e 38[27].
7 - Tempo de rasgar, e tempo de costurar; tempo de calar, e tempo de falar.
Um tempo para rasgar e outro para cozer; um tempo para manter silêncio, e outro para se pronunciar.
DE RASGAR - Quando Rúben voltou a cisterna, eis que José não estava mais ali! Ele rasgou suas vestes. Gênesis. 37: 29; Rasgar sua própria veste era um antigo costume que expressava grande pesar e dor[28]. Então Davi apanhou suas vestes e as rasgou, e todos os homens que o acompanhavam fizeram o mesmo.
Comentário II Samuel 1: 11. RASGOU-OS - Este ato revelou a verdadeira grandeza do futuro rei de Israel. Davi se lamentou com uma dor genuína. Ainda que Saul tivesse tentado matar seu suposto rival, Davi não acariciava nenhum mau sentimento contra ele. Esta reação de Davi não é a resposta natural do coração humano, senão uma indicação do amor e da compaixão de Deus que pode abrigar uma alma humana. Como verdadeiro israelita, Davi chorou a morte do rei, e como amigo, lamentou a perda de Jônatas por quem sentia um profundo afeto[29].
Comentário I Reis 11: 11. Então Iahweh disse a Salomão: Já que procedeste assim e não guardaste a minha aliança e as prescrições que te dei, vou tirar-te o teu reino e dá-lo a um de seus servos. RASGAREI TEU REINO - Salomão tinha pecado gravemente, mas Deus se dignou falar-lhe. A mensagem foi diferente do que recebeu nos dias de sua juventude e inocência. Então o Senhor se lhe apareceu com uma promessa de bênção; esta vez foi com uma severa advertência dos males que devia arcar essa desobediência. Perderia o reino que tinha sido dado a seu pai[30].
Quando viu o rei de pé sobre o estrado, à entrada os chefes e os tocadores de trombeta perto do rei, todo o povo da terra gritando de alegria e tocando trombetas e os cantores com instrumentos musicais dirigindo o canto dos hinos, Atalia rasgou as vestes e bradou: Traição! Traição. II Crônicas 23: 13.
Então Jó se levantou, rasgou seu manto, rapou sua cabeça, caiu por terra, inclinou-se no chão. Jó 1: 20.
Quando levantaram os olhos, a certa distância, não o reconheceu mais. Levantando a voz. Romperam em prantos; rasgaram seus mantos e, a seguir, espalharam pó sobre a cabeça. Jó 2: 12[31]. Rito de penitência e, sobretudo de luto.
DE CALAR - Há circunstâncias quando o silêncio é ouro. Disse então Moisés a Aarão: Foi isso que Iahweh declarou, quando disse: Aqueles que se aproximam de mim, mostro a minha santidade, e diante de todo povo mostro a minha glória. Aarão permaneceu calado. Levítico 10: 3[32].
8 - Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
Um tempo para amar, e outro para odiar; um tempo para guerra, e outro para paz.
DE AMAR - Compare-se com as palavras de Cristo. Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Mateus 5: 43 e 44[33].
DE GUERRA - A exatidão desta declaração se capta se entende no fato de que, à batalha do grande dia do Senhor ainda vindoura Apocalipse 16: 15 a 17, seguirão a paz eterna Apocalipse 21 e 22[34].
A importância da pontualidade...
Certo padre recebia um jantar de despedida pelos 25 anos de trabalho ininterrupto à frente de uma paróquia. Um político da região e membro da comunidade foi convidado para entregar o presente e proferir um pequeno discurso. O político se atrasou. O sacerdote, então, decidiu proferir umas palavras:
- A primeira impressão que tive da paróquia foi com a primeira confissão que ouvi. Pensei que o bispo tinha me enviado a um lugar terrível, pois a primeira pessoa que se confessou me disse que tinha roubado um aparelho de TV, que tinha roubado dinheiro dos seus pais, também tinha roubado a firma onde trabalhava, além de ter aventuras amorosas com a esposa do chefe. Também em outras ocasiões se dedicava ao tráfico e a venda de drogas e para concluir, confessou que tinha transmitido uma doença à própria irmã. Fiquei assustadíssimo...
- Mas com o passar do tempo, entretanto, fui conhecendo mais gente que em nada se parecia com aquele homem... Inclusive vivi a realidade de uma paróquia cheia de gente responsável, com valores, comprometida com sua fé e desta maneira, tenho vivido os 25 anos mais maravilhosos do meu sacerdócio.'
Justo nesse momento chega o político, e foi lhe dada a palavra para entregar o presente da comunidade, prestando a homenagem ao padre. Pediu desculpas pelo atraso e começou o discurso dizendo:
- Nunca vou esquecer o dia em que o padre chegou à nossa paróquia... Como poderia? Tive a honra de ser o primeiro a se confessar com ele...'
Moral da história: NUNCA CHEGUE ATRASADO!
ILUSTRAÇÃO
APROVEITAR AS OPORTUNIDADES
Já ancorado na Antártida, ouvi ruídos que pareciam de fritura. Pensei: será que até aqui existem chineses fritando pastéis?
Eram cristais de água doce congelada que faziam aquele som quando entravam em contato com a água salgada.
O efeito visual era belíssimo.
Pensei em fotografar, mas falei para mim mesmo: Calma, você terá muito tempo para isso... Nos 367 dias que se seguiram, o fenômeno não se repetiu.
Algumas oportunidades são únicas. Amyr Klink
Como diz o Dalai Lama: Só existem dois dias no ano em que nada pode ser feito. Um se chama ONTEM e o outro AMANHÃ.
Portanto HOJE é o dia certo para AMAR, ACREDITAR, FAZER e principalmente VIVER[35].
Antes Tarde...
Antes de falar, escute
Antes de escrever, pense.
Antes de gastar, ganhe.
Antes de julgar, perdoe.
Antes de desistir, tente.
Na busca por mim, descobri a verdade.
Na busca pela verdade, descobri o amor.
Na busca pelo amor, descobri Deus.
E em Deus, tenho encontrado tudo.
Enquanto navega pela vida, não evite tempestade e águas bravias.
Apenas deixe-as passar. Apenas navegue.
Sempre se lembre: mares calmos não fazem bons marinheiros.
O mais importante em qualquer jogo não é vencer, mas participar.
Da mesma forma, o mais importante na vida não é o triunfo, mas o empenho.
O essencial não é ter vencido, mas ter lutado bem.
Quando cometer um erro, não olhe para trás por muito tempo.
Analise as coisas e então olhe para diante.
Erros são lições de sabedoria.
O passado não pode ser mudado.
O futuro ainda não está em seu poder.
As pessoas esquecerão o que você disse.
As pessoas esquecerão o que você fez.
Mas elas nunca esquecerão como você as fez sentir.
A partir de hoje, trate a todos que encontrar como se fossem estar morto à meia-noite.
Ofereça a eles toda atenção, gentileza e compreensão de que você for capaz,
E faça isso sem pensar em qualquer retribuição.
Sua vida nunca mais será a mesma novamente.
Hoje é um novo dia!
Muitos vão aproveitar completamente.
Por que não você?[36]
9 - Que proveito o trabalhador tira de sua fadiga?
Que proveito advém para aquele que labuta em sua tarefa?
QUE PROVEITO - A pergunta de Salomão exige uma resposta negativa. Para que se afana o homem por melhorar sua condição na vida, quando fica frustrado vez por vez? Deve aprender que quem coloca as provas ao longo do caminho da vida é um Pai amante, que disciplina seus filhos terrenos para o bem eterno deles Hebreus 12: 11; Apocalipse 3: 19 a 21[37].
Comentário capítulo 1: 3. Hebraico: yithron. Vocábulo que aparece mais nove vezes neste livro capítulos 2: 11 e 13; 3: 9; 5: 9, 16; 7: 12; 10: 10, 11, e se traduz de diversas maneiras: ultrapassa, proveito, aproveitou, excede e proveitosa. Yithron deriva de um verbo que significa permanecer em cima, o substantivo que deriva dele contém a idéia de restante, e depois, excesso, abundância; em hebraico, superioridade, vantagem. O ser humano se esforça perpetuamente, mas sem obter um resultado permanente.
É possível que a metáfora que usa Salomão a tivesse tomado do mundo dos negócios com suas atividades incessantes, cujo propósito é um ganho que valha a pena ver comentário capítulo 2: 11. Mas com freqüência uma pessoa passa sua vida construindo algo que depois derruba seu sucessor. A inutilidade e a insegurança caracterizam todo esforço humano.
O pronome interrogativo que? Propõe uma resposta negativa decisiva. Poderia comparar-se com as palavras de Mateus 16: 26, onde literalmente pergunta o Mestre: Que aproveitará ao homem, se ganhar todo mundo, e perder sua alma? A resposta antecipada pelo Pregador é nada[38].
10 - Observo a tarefa que Deus deu aos homens para que dela se ocupem:
Apercebi-me das tarefas estabelecidas por Deus para ocupação do homem.
TAREFA - A rígida disciplina da vida, necessária para o que procura a imortalidade Romanos 2: 6 e 7, é administrada por um Pai onipotente e amante. No entanto, o ser humano está em liberdade de escolher sua própria forma de vida, de desenvolver seu próprio caráter e de decidir seu próprio destino eterno. Pode-se defrontar com sucesso às dificuldades reais da vida unicamente sob a direção de Deus[39].
Comentário capítulo 1: 13. Para que se ocupem nele. Deus implantou no ser humano o afã de pesquisar. É uma tarefa laboriosa que requer esforço das faculdades físicas e mentais[40].
11 - Tudo o que ele fez é apropriado ao seu tempo. Também colocou no coração do homem o conjunto do tempo, sem que o homem possa atinar com a obra que Deus realiza desde o princípio até o fim.
Tornou bela cada coisa conforme seu tempo. E pôs em seu coração a ânsia de compreender o que Ele fez, do princípio até o fim.
APROPRIADO - Compare-se com o relato da obra da criação de Deus Gênesis 1: 31. Todo o criado não só era bom, senão também belo e esteticamente agradável; não só perfeito para seu uso prático, senão de bela aparência para a vista e o gosto. E estas características se aplicavam a toda, e em grande maneira[41].
TEMPO - Ou: Deus pôs a eternidade em seu coração, mas esta frase não tem o sentido que ela vai assumir, mais tarde, no vocabulário cristão. Ela se limita a dizer: Deus deu ao coração pensamento do homem o conjunto da duração, permitindo-lhe refletir sobre a seqüência dos fatos e dominar o momento presente. Mas o autor acrescenta que essa concepção engana: ela não revela o sentido da vida[42].
Literalmente: duração. Não o conceito abstrato, simples coordenada do movimento, mas a soma de tudo, o conjunto dos acontecimentos e o sentido da história. Eclesiastes talvez explore aqui a ambigüidade da raiz hebraica que significa: tanto escondido, em segredo, como mundo, eternidade. Além da beleza do universo, Deus permite ao homem perceber, pela sua inteligência, o sentido da história[43].
COLOCOU - Hebraico: dado. Devesse destacar-se este significado, já que sugere a bondade de Deus ao satisfazer as necessidades humanas[44].
NO CORAÇÃO DO HOMEM - Em seus pensamentos. O propósito de Deus é que a humanidade compreenda que o mundo atual não constitui a substância de sua existência. O ser humano está vinculado a dois mundos: fisicamente, ao presente, mas mental, emocional e psicologicamente, ao mundo eterno. Ainda que sua mentalidade esteja nublada pelo pecado, o homem parece dar-se conta, ainda que imprecisamente, que devesse continuar vivendo além dos estreitos limites desta vida insatisfatória[45].
POSSA ATINAR - O intelecto humano não pode de por si entrar no intrincado das maravilhas criadas por Deus nem nos mistérios da eternidade que ele não quis revelar-nos. Este fato nada mais deve induzir-nos a procurar uma união mais íntima com o Criador[46].
Pode-se traduzir também sem que o homem não pudesse descobrir a obra... Em outras palavras, o homem só pode ter visão parcial do tempo e da história: Permanecem veladas as intenções divinas, à espera de uma revelação especial[47].
DO PRINCÍPIO ATÉ O FIM - Hebraico: olam. No pensamento humano está implantada uma preocupação profunda pelo futuro. Este entendimento do infinito do tempo e do espaço provoca um desgosto pela natureza transitória das coisas desta vida.
Comentário de Êxodo 12: 14. Por estatuto perpétuo. Do Hebraico: olam, cuja tradução literal seria perpetuamente. Como a libertação de Israel era de significado perpétuo, a comemoração do acontecimento tinha de ser perpétua para os israelitas, enquanto continuassem sendo o povo escolhido de Deus. Como um símbolo, tinha de permanecer em vigência até a vinda da realidade simbolizada, Jesus Cristo, quem teria de trazer libertação do pecado. A duração de perpétuo, olam, está condicionada à natureza daquilo a que se aplique. Pode referir-se ao que não tem nem princípio nem fim como, por exemplo, Deus mesmo, ou ao mesmo tempo em que tem um começo, mas não tem fim: como a vida eterna dos redimidos, ou pode significar um período mais curto de tempo, que tanto tem princípio como fim. Aqui tem este último significado. Instituída no tempo do Êxodo, a páscoa, hebraico: pessah continuaria em vigência até a crucifixão[48].
Comentário de Êxodo 21: 6. Para sempre. De olám, literalmente tempo oculto, é um tempo de duração indefinida. Seus limites ou são bem desconhecidos ou não se especificam, e devem ser determinados pela natureza da pessoa, coisa ou circunstância a que se aplicam. Num sentido absoluto, ao aplicar-se a Deus, olám, eterno Gênesis 21: 33 significa perpétuo, pois Deus é eterno; sem princípio nem fim. Num sentido mais restrito, os santos ressuscitados entram para a vida eterna, olám Daniel 12: 2 que ainda que tenha início, é sem fim devido à dádiva da imortalidade. Num sentido ainda mais limitado, olám pode ter tanto um começo definido como um fim definido, qualquer dos quais pode ser incerto no momento de falar. Por exemplo, Jonas esteve no ventre do peixe para sempre, Jonas 2: 6 devido a que nesse momento não sabiam quando sairia se é que sairia. Neste caso, para sempre se converteu em só três dias e três noites. Jonas 1: 17.
Nossas palavras sempre e para sempre por si mesmas não implicam um tempo sem começo ou sem fim. Por exemplo, poderia dizer-se de um homem que sempre viveu no lugar de seu nascimento. O fato de que finalmente morresse ali, de nenhuma maneira invalida a declaração de que sempre viveu ali. Assim também, ao casar-se o esposo e a esposa se prometem fidelidade para sempre, é dizer enquanto ambos os vivam. Se à morte de um o outro se voltasse a casar, ninguém o acusaria de quebrantar o voto que fez quando se casou por primeira vez. Não se justifica ler a palavra hebraica olám mais do que implica o contexto.
Quanto ao escravo, já tinha servido a seu amo por um período definido e limitado de seis anos. Agora, por sua própria vontade, ia começar um termo de serviço de duração indefinida. É óbvio que o contrato terminaria, ou se estenderia até morte do escravo, acontecimento que por suposto não podia ser predito. Este período indefinido de serviço se descreve adequadamente como olám, que aqui se traduz mais como perpetuidade.
Os tradutores da LXX traduziram a palavra hebraica olám como aión, seu equivalente grego. O que se disse de olám é igualmente certo de aión. Não se justifica em absoluto o tratar de determinar a longevidade de tempo implicada, ou de atribuir à pessoa ou coisa descrita a propriedade de continuar interminavelmente, tendo como base olám ou aión. Em cada caso, a duração de olám ou aión depende exclusivamente do contexto em que se use, e de um modo especial deve considerar-se a natureza da pessoa ou coisa a que se aplique a palavra[49].
Rashi comenta que o Eterno concede alguma sabedoria a cada ser humano, mas a nenhum a proporciona em tal quantidade que ele tenha condições de compreender totalmente Seus atos e prever quando vai terminar sua vida. Desta forma, não sabendo o que lhe vai acontecer, o homem inseguro se arrepende de seus erros e pratica a Teshuvá o sincero arrependimento e retorno a Deus[50].
12 - E compreendi que não há felicidade para o homem a não ser a de alegrar-se e fazer o bem durante sua vida.
Percebi que nada lhe é melhor que se regozijar na prática do bem por toda extensão de sua vida.
PARA O HOMEM - Hebraico: ba'adom 2: 24; para eles: bom, hebraico[51].
Isto é, os filhos dos homens[52].
13 - E, que o homem coma e beba, desfrutando do produto de todo o seu trabalho, é dom de Deus.
Também que, comer, beber e poder se alegrar com seu trabalho, é uma dádiva divina.
E QUE - Sugere-se um ponto adicional que o autor não deseja que se lhe passe por alto ao leitor[53].
COMA E BEBA - Uma vida ascética é contrária à vontade de Deus, quem deu à humanidade muitas coisas boas para que delas desfrute com moderação[54].
DOM DE DEUS - Embora não chegue a compreender todo o mistério da existência, nem gozar plenamente da beleza da criação o homem recebe de Deus uma parte da felicidade[55].
14 - Compreendi que tudo o que Deus faz é para sempre. A isso nada se pode acrescentar, e disso nada se pode tirar. Deus assim faz para que o temam.
Compreendi que tudo o que foi feito por Deus é eterno. Nada podemos acrescentar ou subtrair, e nos impregna do Seu temor.
SEMPRE - Segundo a teoria da retribuição, a morte é o castigo do pecado. Para Coélet, a morte faz parte simplesmente da condição humana; a virtude e a justiça nada têm a ver com isso. A sorte do homem é igual à do animal. E mesmo no âmbito da justiça reina a lei do mais forte versos 16 e 18. Entretanto, Deus prefere o fraco verso15b[56].
Salomão afirma agora a imutabilidade da vontade divina, que atua nos assuntos humanos Salmo 33: 11; Isaias 46: 10[57].
PARA QUE O TEMAM - Não um temor humilhante, reverente, baseado num intelecto que conhece bem os atributos divinos Salmo 40: 3; 64: 9 e a forma em que a vontade divina obra na terra Isaias 45: 18; Malaquias 3: 6; Apocalipse 15: 3 e 4[58].
Comentário de Deuteronômio 4: 10. Para temer. Temer a Deus significa ter por ele um respeito profundo e reverente. Êxodo 19: 10 a 13; 20: 20 e respeitar devidamente a vontade de Deus. Deuteronômio 8: 6; Provérbios 3: 7; Eclesiastes 12: 13; Isaias 11: 2 e 3; 33: 6[59].
Comentário de Deuteronômio 6: 5. Amarás. A palavra hebraica traduzida amar é um termo geral que também sugere as idéias de desejo, afeto, inclinação, como também a mais íntima união de duas almas. A relação do crente com Deus se baseia no amor I João 4: 19, e o amor é o princípio fundamental de sua lei. O amar perfeitamente é obedecer de todo coração. João 14: 15; 15: 10.
Teu coração. O cristianismo exige tudo o que o homem é e tem: sua mente, seus afetos e sua capacidade de ação I Tessalonicenses 5: 23. A palavra que se traduz coração se refere em geral aos motivos, os afetos, os sentimentos, os desejos e a vontade. É a fonte de ação e o centro do pensamento e dos sentimentos Êxodo 31: 6; 36: 2; 2 Crônicas 9: 23; Eclesiastes 2: 23. A palavra traduzida alma indica o princípio animador do homem, ou da vida, mas também incluem os apetites e os desejos do corpo Números 21: 5. Em Provérbios 23: 2 traduzem-se apetite e desejo em Eclesiastes 6: 7.
A palavra traduzida forças prove de um verbo que significa aumentar. O substantivo significa abundância, e pode referir-se ao que um homem possa acumular durante esta vida[60].
As leis imutáveis do universo despertam o temor religioso no ser humano. Apesar de criticar a tese clássica dos sábios, segundo o qual é feliz quem teme a Deus 8: 12. Eclesiastes exorta seu discípulo ao temor de Deus 5: 6; 7: 18. O autor do epílogo produz um eco disso 12: 13. O temor de Deus é o início da sabedoria Provérbios 1: 7; 9: 10[61].
A Eternidade no Coração
Em diversas línguas o termo coração, além de ser usado para designar um órgão vital da anatomia humana, é usado para referir aspectos da vida mental e espiritual da pessoa. No hebraico bíblico, o vocábulo leb, coração, é utilizado pelos diferentes escritores do texto sagrado com a intenção de indicar de modo preciso as faculdades humanas. É o coração a sede dos sentimentos, lugar ou fonte da inteligência, o espaço da mente em que se fazem escolhas, localidade em que, com majestade, assenta-se a vontade. A palavra coração é também utilizada para indicar a essência do ser humano, que, na linguagem bíblica, é representada pela expressão o homem interior. O coração é o lar onde reside o Espírito Santo, mas quando Deus é rejeitado, o coração é o lugar em que as faculdades mentais tornam-se deliberadamente pervertidas.
Ao estruturar a frase encontrada em Eclesiastes 3: 11: Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem..., Salomão procura conduzir seus ouvintes para meditar na origem do Universo, a criação do mundo. O sentido da oração dita pelo Pregador deixa em forma eminente o atributo criador de Deus: Tudo fez formoso. Nas palavras seguintes, exalta outro atributo divino: a eternidade que, na composição da frase, encontra-se escondida na referência que ele faz ao tempo. O Deus do tempo, o único Ser que tem existência em Si mesmo, cuja existência imutável se manifesta no tempo absoluto; ao criar tudo, determinou a realidade do tempo relativo, onde acontece a existência dos seres criados.
As asseverações seguintes, feitas por Salomão, são efetuadas mediante a utilização da forma verbal pôs, para esclarecer que a intenção do Criador não era determinar um tempo relativo para o homem recém-criado; mas sim, dar a este a oportunidade de viver na eternidade, ou existir no tempo absoluto. Essa prerrogativa, no entanto, estava sujeita a uma função única do ser humano: a capacidade de decidir. Decidir obedecer a Deus ou não. Aqui, o "Pregador" destaca a afirmação de que o homem possui a capacidade de escolha, o livre-arbítrio e, para indicar onde se situa essa função mental, o faz utilizando o vocábulo metafórico coração.
Na criação, o homem teve a eternidade no coração. Existir no tempo absoluto, na eternidade, estava na sua capacidade de escolha. A realidade presente é uma evidência de que a escolha foi errada, prevaleceu a desobediência, e o homem vive, agora, no tempo relativo, sujeito à morte. Mas o rei de Israel emite expressões animadoras, palavras de esperança. Alguma frase mais adiante, faz alusão à maldade e injustiça do homem em declarado contraste com aquele que procura a justiça, e logo conclui: Então, disse comigo: Deus julgará o justo e o perverso; pois há tempo para todo propósito e para toda obra. Eclesiastes 3: 16 e 17. Esse tempo é a culminação do mal e o início da eternidade. Consolidam-se ali duas realidades: Jesus e o Juízo[62].
15 - O que existe, já havia existido; o que existirá, já existe, pois Deus procura o perseguido.
Tanto o que já se passou como o que virá a ocorrer já existiu, e o Eterno os faz voltar a acontecer.
O QUE EXISTE - Este versículo afirma como são completas e permanentes as obras de Deus. E neste sentido não há para ele passado nem futuro: a eternidade sempre é presente Apocalipse 1: 8[63].
PERSEGUIDO - Esse o sentido dado pelo Midraxe Coélet Rabba[64].
O perseguido; Hebraico: radaf, ir após, caçar, perseguir. Traduz-se como seguir-lhes. Josué 8: 16, e perseguirei Jeremias 29: 18. A idéia aqui é que todas as coisas do passado estão presentes diante de Deus como se fossem atuais. O projeto de seu pensamento para o passado tão facilmente encarado como em termos do presente ou do futuro. Se este é o significado, então o perseguido se refere aos ciclos das idades passadas, personificadas como se perseguissem umas a outras[65].
16 - Observo outra coisa debaixo do sol: no lugar do direito encontra-se o delito, no lugar do justo a encontra-se o ímpio;
Constatei também que, sob o sol, ao lado da justiça há perversidade, e ao lado da retidão, iniqüidade.
LUGAR DO DIREITO - Grego: Targ; justiça, hebraico[66].
Ou seja, o lugar dedicado à administração de justiça. O suborno e a corrupção permitiram que a impiedade reinasse nos mesmos átrios da dispensação da Injustiça[67].
DELITO - Da mesma palavra hebraica traduzida impiedade. Em ambos os casos é preferível o vocábulo impiedade. Mediante o termo justiça, Salomão se refere ao juiz, que deveria ser a encarnação ou personificação do proceder justo. A primeira expressão indica o lugar; a segunda, a pessoa que com autoridade ocupa esse lugar[68].
O PROBLEMA DO MAL
Esta fé otimista sugere um quadro idílico e harmonioso da vida, tendo todo tempo em seu lugar devido. Apesar deste princípio, sabemos que a vida não é assim. A vida é absurda e este mundo injusto. Em contraste com a fé serena que tudo tem um objetivo, Eclesiastes observa que o mundo está transtornado. Observo outra coisa debaixo do sol: no lugar do direito encontra-se o delito, no lugar do justo encontra-se o ímpio. 3: 16. A boa fé do crente que transcende a dor ao confiar nas intenções de Deus começa a debilitar-se. O sistema claro e tranqüilo do bom teólogo que vê significado em tudo e explica todas as tragédias, repentinamente se esvai.
Não é que Eclesiastes se contradiz. Não é que exista outra fonte literária que transmita outro conceito negando a percepção da fé. Eclesiastes testifica ambas, a verdadeira fé não nos impede de ver claramente a injustiça e o absurdo da vida. Se crermos que Deus está no controle e que está presente mesmo no vale da escuridão, e que o mal está no mundo devemos confrontá-lo como tal. A fé não é cega. Pelo contrário, a fé implica uma lucidez e uma sensibilidade essencial contra o mal deste mundo. De outro modo não é fé. Fé é crer apesar do que vemos, e não porque não vemos. Há pessoas que continuam negando a realidade do mal em nome de Deus, sempre cantando aleluias e mostrando um eterno sorriso nos lábios, vivendo uma crisálida asséptica. Estas pessoas piedosas não demonstram fé; mas exibem uma consciência débil e uma falta de inteligência. Ao justo e ao ímpio Deus os julgará, porque aqui há um tempo para todo propósito e um lugar para cada ação, 3: 17. Esta declaração é feita imediatamente após observar o problema do mal, mostrando que o juízo é a única resposta apropriada. O problema não se atenderá aqui sobre a terra, durante o tempo e sua vida. O aqui onde Deus julgará no verso 17, Deus está. A palavra aqui no verso 17 hebraico sham está paralela com Deus, como a seguinte tradução literária mostra. Ao justo e ao ímpio julgará Deus, porque há um tempo para todos os propósitos e em todas as obras ali sham. 3: 17. Em hebraico o sujeito segue o verbo. A oração deveria ser lida como segue: Deus julgará. O verbo julgar no texto se usa no tempo futuro Deus julgará. Refere-se a um momento de tempo que claramente não está ocorrendo durante esta vida.
O juízo será um evento cósmico. Este juízo afetará a todos Hebraico: Kol. Recorde que esta é uma palavra chave na história da Criação. A palavra kol designa todo mundo, tem uma aplicação universal, não é um juízo eminente. Não devemos esperar uma solução no curso de nossa existência presente. A única solução ao problema do mal é cósmica. O problema do mal é de natureza cósmica, é solucionada a um nível cósmico.
Esta perspectiva tem sido ignorada e abandonada por muitos, que perderam o sentido transcendental de Deus e a percepção da natureza cósmica dos problemas do mundo. Não é popular falar do juízo de Deus como um evento específico no tempo e no espaço, um evento cósmico que abarcará o mundo todo. Gostaríamos de pensar que poderíamos atender problema do mal por nós mesmos, e não esperar que Deus o faça. Até agora, como dolorosamente testificamos nós somos o problema e não a solução.
Certamente deveríamos afrontar nossa responsabilidade e trabalhar muito para restaurar o mundo e aliviar a dor. A fome, a injustiça e o crime deveriam ser solucionados. É nosso problema. Esta obrigação essencial que está a nossa frente é trágica, constatar que em nossa condição humana iremos perceber que o torcido não se pode endireitar. Quaisquer que sejam nossas intenções e boa vontade, a solução real do problema do mal não está em nossas mãos, mas nas Mãos de Deus.
Para nos assegurar que assimilamos a lição, Eclesiastes nos confronta com um problema absolutamente insolúvel: cruel, clara, sistemática e não negociável, a morte sempre estará ali. A referência à morte corresponde à mesma corrente de pensamento com referência ao juízo. As duas afirmações dos versos 17 e 18 têm a mesma introdução, segue outra frase: Deus os põe a prova, há-Elohim nos prove nos recorda a frase Deus há-Elohim julgará no verso 17. Ambas as frases se aplicam aos humanos. A morte e o juízo aludem ao mesmo problema do mal. A morte nos mostra a nossa real condição Pois a sorte do homem e a do animal é idêntica qarah: como morre um, assim morre o outro, e ambos têm o mesmo alento; o homem não leva vantagem sobre o animal, porque tudo é vaidade. 3: 19. O mal é descrito como vaidade. Temos visto o mesmo conceito a respeito do néscio e do sábio. Ambos morrerão 2: 15 e 16. Ali a morte é definida também como vaidade. O sábio e o néscio, o perverso e o justo, os humanos e os animais todos morrerão. O mais dramático é que associa os humanos aos animais, todos seguirão o mesmo caminho. No juízo não tem apelação. Não há uma segunda opção.
Não é uma morte falsa. O espírito que mora nos seres humanos e nos animais tem a mesma natureza: respiração ruah tem todos 3: 19. A palavra hebraica ruah, espírito significa também respiração, ar definido como vapor, vaidade hébel. Não há lugar para a idéia de imortalidade da alma. Tudo caminha para um mesmo lugar: tudo vem do pó e tudo volta ao pó 3: 20. E quanto a pergunta: Quem sabe se o alento ruah do homem sobe para o alto e se o alento ruah do animal desce para baixo, para a terra? 3: 21. Não está sugerindo um tratamento especial para o homem em relação aos animais. Observo que não há felicidade para o homem a não ser alegrar-se com suas obras: essa é a sua porção; pois quem lhe mostrará o que vai acontecer depois dele? 3: 22. O caminho da saída para a morte é um argumento importante para mostrar o absurdo da vaidade e nossa condição humana. Não há nada depois da morte. Portanto tudo é vaidade[69].
17 - E penso: ao justo e ao ímpio Deus os julgará, porque aqui há um tempo para todo propósito e um lugar para cada ação.
Comentei comigo mesmo: Ao justo e ao perverso trará Deus julgamento, pois há um tempo para ponderar cada assunto e cada feito.
DEUS OS JULGARÁ - O verbo hebraico julgar, aplicado a Deus, expressa o conceito de que ele é não só o árbitro que decidirá nos casos dos justos e dos ímpios, mas que também executará o castigo[70].
O ser humano pode agir como lhe aprouver neste mundo, mas no Olam Habá, o mundo vindouro, será julgado, e todos seus atos considerados[71].
PORQUE AQUI - Hebraico: acrescenta ali. No lugar do julgamento. Virá dia em que Deus fará justiça. O pensamento coincide com o tempo profético do dia do Senhor[72].
TODO PROPÓSITO - Termo hebraico que também se traduz como compraz Eclesiastes 5: 4; contentamento Eclesiastes 12: 1; quero Isaias. 44: 28; 46: 10; complacência Malaquias 1: 10; desejável, Malaquias 3: 12[73].
CADA AÇÃO - Comentário capítulo 1: 14. OBRAS. Os projetos e as atividades que com freqüência resultam sem valor[74].
18 - Quanto aos homens penso assim: Deus os põe à prova para mostrar-lhes que são animais.
Em relação aos filhos do homem, murmurei: Deus os escolheu, embora sejam semelhantes aos animais.
PENSO ASSIM - Uma melhor tradução de toda a cláusula seria singelamente: A respeito dos filhos dos homens[75].
PROVA - Purifique, eleja, examine, ponha a prova. Em Isaias 52: 11 esta forma verbal se traduz purificai-vos; em Daniel 11: 35, ser depurados, e em Daniel 12: 10 serão limpos. Assim expressa Salomão o desejo de que Deus prove à gente como uma medida disciplinar, a fim de limpá-la e purificá-la Jó 5: 17; 23: 10; Eclesiastes 3: 19[76].
PARA MOSTRAR-LHES - Há esperança de que as pessoas reconheçam sua condição pecaminosa e impura[77].
ANIMAIS - Para mostrar-lhes, literal: e mostra-lhes, grego, sir; e que vejam, hebraico. No fim do verso, hebraico acrescenta duas palavras, literais: eles, para eles, que talvez pudesse entender uns para os outros. Mas o contexto não favorece essa tradução: como se vê pela seqüência, a comparação com os animais não pretende sugerir a maldade, mas a impossibilidade de escapar à morte[78].
Geralmente se traduz gado. Deriva da raiz ser mudo, e se relaciona com uma palavra arábica que significa estar impedido para falar, ter um impedimento no fala[79].
No Hebraico há uma aliteração entre eles mesmos: hemma e animais: behemá. Deus prova os humanos lembrando-lhes sua origem a partir do barro: a morte é inerente à sua condição atual[80].
Homens e Animais
Os últimos versos do capítulo 3 de Eclesiastes parecem sair de um texto moderno de Sistemática Animal. Nos inúmeros volumes desta especialidade das ciências biológicas, ao analisar as características anatômicas do homem e as de um vertebrado qualquer, não se encontram diferenças radicais dos aspectos estruturais e funcionais dos órgãos, a não ser no seu tamanho relativo. Assim, sob este ponto de vista, os homens são como os animais: os hominídeos fazem parte do reino animal. O resultado dessa análise é biblicamente corroborado mediante uma sentença salomônica em forma de imprecação: ...E eles vejam que são em si mesmos como os animais. Porque o que sucede aos filhos dos homens sucede aos animais; o mesmo lhes sucede: como morre um, assim morre o outro,... Eclesiastes 3: 18 e 19.
Devemos esclarecer que o critério usado pela Sistemática Animal é exclusivamente anatômico. No entanto, o ser humano é único, pois, além de possuir partes anatômicas, está conformado por faculdades mentais e também espirituais; características que os animais não possuem. Então, para efetuar uma perfeita classificação do ser humano, seria necessário tomar em conta as características mentais e espirituais que ele possui o que nos leva a aceitar que o homem é um ser criado com peculiaridades que o fazem distinto de qualquer ser da natureza. Como tal, o homem não seria um animal, e a sua posição sistemática estaria localizada em outro reino.
No entanto, Salomão destaca que, em geral, os homens são como animais. Fundamenta sua posição relacionando o agir instintivo dos animais com o agir consciente dos seres humanos. Quando o homem age colocando no lugar do juízo.... A maldade e no lugar da justiça, maldade ainda. Eclesiastes 3: 16; certamente... Nenhuma vantagem tem o homem sobre os animais... Eclesiastes 3: 19. A diferença está no procedimento correto do homem, porque Deus julgará o justo... Eclesiastes 3: 17. O homem é diferente dos animais unicamente quando considera que seu procedimento estará sujeito a juízo. Pelo que vi não haver coisa melhor do que alegrar-se o homem nas suas obras, porque essa é a sua recompensa... Eclesiastes 3: 22[81].
19 - Pois a sorte do homem e a do animal é idêntica: como morre um, assim morre o outro, e ambos têm o mesmo alento; o homem não leva vantagem sobre o animal, porque tudo é vaidade.
Pois o que acontecer a um ou outro, conduz ao mesmo resultado, sendo a morte de um igual a do outro, tendo ambos o mesmo espírito e sendo nula a superioridade do homem sobre os animais, pois tudo é vão e fútil.
SORTE DO HOMEM - O que sucede, duas vezes e acontecimento derivam de uma palavra hebraica que significa: ocasião, sorte, fortuna, destino: do verbo encontrar, defrontar, suceder. Em Rute 2: 3 é traduzido como aconteceu; em I Samuel 6: 9, ocorreu; em I Samuel 20: 26, terá acontecido algo; e em Eclesiastes 9. 2 e 3, acontece[82].
MORTE - O inescrutável fenômeno da morte acontece a todos os seres viventes, sejam humanos ou animais. O salmista diz que o homem não permanecerá em honra; é semelhante às bestas que perecem. Salmo 49: 12. No que se refere a estar sujeito à morte, não somos superiores às bestas[83].
RUAH - Hebraico: ruah. Quando a deixa o fôlego de vida, morre a criatura vivente, seja homem ou animal[84].
Como no verso 21, esse termo não designa a alma imortal, mas o sopro vital[85].
NÃO LEVA VANTAGEM SOBRE O ANIMAL - Todas as criaturas viventes, sem distinção, morrem quando cessa a respiração. As conseqüências físicas da morte são as mesmas. No externo, o ser humano não parece ser superior; mas Deus o isentará do poder da tumba, segundo a Palavra inspirada I Corintios 15: 51 a 58[86].
20 - Tudo caminha para um mesmo lugar: tudo vem do pó e tudo volta ao pó.
Ao mesmo destino se encaminham, tendo vindo do pó e a ele retornando.
TUDO CAMINHA PARA UM MESMO LUGAR - Isto é, a tumba. Jó 7: 9 e 10[87].
Lugar aqui é um eufemismo para Sheol 6: 6; em fenício, essa palavra significa às vezes túmulo[88].
PÓ - Então Iahweh Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente. Gênesis 2: 7; Com o suor do teu rosto comerás teu pão até que retornes ao solo, pois dele foste tirado. Pois tu és pó e ao pó tornarás. Gênesis 3: 19; E muitos dos que dormem no solo poeirento acordarão, uns para a vida eterna e outros para o opróbrio, para o horror eterno. Daniel 12: 2[89].
21 - Quem sabe se o alento do homem sobe para o alto e se o alento do animal desce, para a terra?
Quem pode afirmar que o espírito do ser humano ascende ao alto e o dos animais desce a profundidade da terra?
QUEM SABE - Sem a sabedoria divina, ninguém o sabe. Conhece-se o destino do corpo, volta ao pó mediante um processo de desintegração, mas a sabedoria humana não pode assegurar que sucede com o espírito ou alento, exceto que volte A Deus que o deu. Quem sabe se o hálito dos filhos do homem sobe acima e se o hálito das bestas desce abaixo para a terra?[90].
ALENTO - Hebraico: ruah, respiração, tal como se traduz no verso 19. O princípio da vida não pertence ao reino físico, ao da carne, pois é de Deus e volta a ele. No verso 27, ruah se traduz como espírito. Note-se que tanto os humanos como os animais são animados por um mesmo ruah. Depois, se o ruah ou espírito, ou hálito humano se converte numa entidade consciente e incorpórea depois da morte, também deve suceder o mesmo com o ruah dos irracionais. Mas em nenhuma parte da Bíblia há indício algum de que depois da morte continue vivendo um espírito consciente e incorpóreo; nem também não há nenhum cristão que atribua isto aos animais. No verso 21, Salomão pergunta quem sabe quem pode provar o que o ruah humano ascenda e que o do animal desça. Salomão desconhece um processo tal e dúvida de que alguém o saiba. Mas se não é assim, que o prove. É importante distinguir entre o uso de ruah para denotar o alento literal Jó 9: 18; 19: 17 e seu uso figurado para referir-se ao princípio da vida Gênesis 6: 17; 7: 22, como é neste caso. O uso figurado de ruah para significar vida é similar ao uso figurado de sangue. ver comentário. Gênesis 4: 10; 9: 4[91].
Comentário capítulo 12: 7. O espírito. Hebraico: ruah, alento, vento, espírito. A tradução de ruah apresenta ligeiras variantes nas versões da Bíblia, mas basicamente permanece seu significado: Gênesis 2: 7; 7: 22: alento de vida, alento de espírito de vida, RVR; alento vital, BC; alento de vida, hálito de vida, hálito vital, NC, BJ. Espírito no sentido de vitalidade, Juizes 15: 19; coração, Josué 2: 11; agastamento ou ira, Juizes 8: 3, e expressa uma disposição de ânimo: triste de espírito Isaias 54: 6.
Ruah também se usa algumas vezes para indicar o princípio vital nos seres humanos e animais Salmo 146: 4; umas poucas vezes como a sede das emoções I Samuel 1: 15; a atividade do pensamento Ezequiel 11: 5; outras vezes como vontade ou coração em sentido figurado II Crônicas 29: 31; às vezes como caráter moral Ezequiel 11: 19; e dezenas de vezes para mencionar o Espírito de Deus Isaias 63: 10. Nem sequer num só dos 379 vezes em que aparece ruah no AT denota uma entidade inteligente, capaz de existir separada do corpo humano; portanto, deve ser claro que esse conceito não tem base nos ensinos bíblicos. O que aqui se diz que volta A Deus é tão só o princípio da vida dado por ele tanto aos humanos como às bestas, onde na RVR ruah se traduz respiração e alento de vida[92].
Comentário Gênesis 2: 7. Deus formou ao homem. Apresentam-se importantes detalhes adicionais quanto à criação de Adão. Permite-nos atestar, por assim dizê-lo, dentro das obras de Deus e observar sua mão que realiza o misterioso ato da criação. A palavra formar, yatsar, implica o ato de modelar e dar uma forma correspondente em desenho e aparência com o plano divino. Usa-se esta palavra ao descrever a atividade do modelador Isaias 49: 5, do artífice que confecciona ídolos Isaias 44: 10; Habacuque 2: 18 e de Deus que forma várias coisas, a luz entre outras, Isaias 45: 7, o olho humano Salmo 94: 9, o coração Salmo 33: 15 e as estações Salmo 74: 17.
Do pó da terra. A ciência confirma que o homem está composto de materiais derivados do solo, os elementos da terra. A decomposição do corpo humano após a morte, dá depoimento do mesmo fato. Os principais elementos que constituem o corpo humano são água, oxigênio, carbono, hidrogênio e nitrogênio. Existem muitos outros em proporções menores. É verdade é que o homem foi feito do pó da terra e também que voltará à terra de onde foi tomado.
ALENTO DE VIDA - Alento, neshamah. Proveniente da Fonte de toda vida, o princípio vitalizador entrou no corpo inerte de Adão. O instrumento pelo qual o fôlego de vida foi transferido a seu corpo se diz que é o alento de Deus. O mesmo pensamento aparece em Jó 33: 4: O sopro neshamah do Onipotente me deu vida. Veio ao homem, o alento é equivalente a sua vida; é a vida mesma. Isaias 2: 22. Na morte, não ficou nele alento neshamah, vida I Reis 17: 17. Este alento de vida no homem não difere em nada do alento de vida dos animais, pois todos recebem sua vida de Deus. Gênesis 7: 22. Portanto, não pode ser nem a mente nem a inteligência.
UM SER VIVENTE - Quando à forma inerte do homem se lhe comunicou este divino alento de vida, neshamah, o homem se converteu num ser vivente, néfesh. A palavra néfesh tem uma diversidade de significados:
1) alento Jó 41: 21.
2) vida I Reis 17: 21; II Samuel 18: 13.
3) coração, como sede dos sentimentos Gênesis 34: 3; Cantares 1: 7.
4) ser vivente ou pessoa. Gênesis 12: 5; 36: 6; Levítico 4: 2.
5) para fazer ressaltar um pronome pessoal. Salmo 3: 2; I Samuel 18: 1.
Note que a néfesh é feito por Deus. Jeremias 38: 16 e pode morrer Juizes 16: 30, ser morta. Números 31: 19, ser devorada metaforicamente. Ezequiel 22: 25, ser isentada Salmo 34: 22 e ser convertida Salmo 19: 7. Nenhum destes casos se aplica ao espírito, ruah, o que indica claramente a grande diferença entre os dois termos. Pelo exposto se vê que a tradução alma dada a néfesh na versão Reina-Valera, antes de sua revisão de 1960, não é apropriada se quer referir à expressão comumente usada alma imortal. Ainda que seja popular, este conceito é completamente alheio à Bíblia. Quando alma se considera como um sinônimo de ser, temos o significado de néfesh neste texto[93].
Comentário Números 5: 14. Espírito - De ruah palavra traduzida como espírito no AT. Aparece 377 vezes em hebraico e foi traduzida como espírito mais de 250 vezes na VVR. A idéia predominante nesta palavra é poder. Quando a rainha de Sabá viu o esplendor de Salomão, literalmente: não ficou mais espírito nela; ficou sem alento; ficou assombrada VVR, I Reis 10: 5. Quando Isaias fala dos cavalos de Egito como carne e não espírito, quer dizer que eram débeis comparados com Deus. Um homem que controla seu espírito é tanto forte como digno Provérbios 16: 32; 25: 28. Em Números 5: 14 o termo indica um intenso impulso ou emoção[94].
Comentário de Números 5: 2. Contaminado com o morto - A palavra aqui traduzida morto é néfesh, vertida muitas vezes como alma nas diferentes versões da Bíblia. Tem vários significados e aqui se refere a um cadáver, considerado como cerimonialmente imundo.
As três classes aqui especificadas tinham certas coisas em comum:
1) a duração da imundícia, sete dias depois da eliminação da causa.
2) o conceito de que os imundos eram um meio para contaminar a outros que se punham em contato com eles[95].
Comentário de Gênesis 35: 18. Benoni - O nascimento de Benjamim assinalou o cumprimento do desejo de Raquel expressado no nome de José, de que Deus lhe daria outro filho. Enquanto jazia no parto, chamou a este filho Benoni, filho de minha dor ou filho de minha desgraça. Tendo em conta as circunstâncias, desde seu ponto de vista era um nome muito apropriado.
Benjamim - Literalmente filho da mão direita. Yamin, direita, significa felicidade e prosperidade, e em árabe também boa fortuna. Como verdadeiro otimista, Jacó creu que seu filho menor devia ter um nome que expressasse valor e esperança. Esse nome devia lembrar-lhe o gozo que veio a seu coração com o nascimento de seu décimo segundo filho, mais do que sua dor pela perda de Raquel. O nascimento de Benjamim, em parte, compensava a morte de Raquel.
AO SAIR A ALMA - A idéia de que Moisés fala que alguma parte imaterial e consciente de Raquel, que provavelmente voou ao paraíso no momento de sua morte, não tem fundamento nas Escrituras. Ler tal significado no texto provocaria uma discrepância com muitas outras declarações específicas das Escrituras que ensinam que cessa a consciência completamente com a morte. Salmo 146: 4; Eclesiastes 9: 5, 6, 10; etc. Um dos primeiros significados da palavra néfesh, alma, é vida, como se traduziu em 119 vezes Gênesis 9: 4 e 5; Jó 2: 4, 6; etc. ou alento, como se traduz em Jó 41: 21. Gênesis 9: 5 falam de sangue de vossas vidas néfesh, o que aclara que néfesh tem sangue, e que o sangue é essencial para sua existência. Néfesh não poderia ser uma entidade imaterial. Em Gênesis 1: 20 e 30 dizem dos animais que têm néfesh, que são viventes, ou têm vida. A posse de néfesh, não dá ao homem nada que não tenham as outras formas de vida animal. Certamente, ninguém pretenderia que a morte das almas das amebas, moluscos e macacos vão a vôo rápido para o céu. Em realidade, Eclesiastes 3: 19 declaram especificamente que tanto os animais como os homens têm a mesma respiração, ruah, e que ao morrer a mesma coisa lhes sucede a ambos. De acordo com o Salmo 146: 4, duas coisas lhe passa a um homem quando morre:
1) Seu alento, ruah, abandona seu corpo;
2) Perecem seus pensamentos. O texto que consideramos é uma singela declaração de que Raquel, em seus últimos momentos conscientes e com seu último alento, deu a seu filho o nome de Benoni.
MORREU - Raquel tinha clamado a seu esposo: Dá-me filhos, ou se não me morro. Gênesis 30: 1. Ambas as coisas vieram juntas agora[96].
DESCE PARA A TERRA - Essa dúvida, levantada de passagem, basta para justificar todo o pavor à morte. A última palavra do livro é de um pessimismo menos radical: a vida do homem volta para Deus, que a concedera 12: 7[97].
22 - Observo que não há felicidade para o homem a não ser alegrar-se com suas obras: essa é a sua porção; pois quem lhe mostrará o que vai acontecer depois dele?
Compreendi que, para o homem, nada há melhor do que alegrar-se com seus feitos, pois é isto que lhe cabe, e quem lhe poderá fazer perceber o que acontecerá depois dele?
ALEGRAR-SE COM SUAS OBRAS - Encontrar contentamento e satisfação no que lhe oferece a vida. Esta é a perspectiva normal para a pessoa que não tem uma fé firmemente baseada nas coisas eternas[98].
QUEM LHE MOSTRARÁ - O que está além da tumba escapa aos alcances do conhecimento dos seres humanos, que também não pode fazer que um morto saia de seu sepulcro. Só Deus pode fazê-lo I Tessalonicenses 4: 14 a 18. Há cristãos que, a semelhança dos saduceus da Antigüidade não tem fé na ressurreição futura. Mas Deus é Deus de vivos Mateus 22: 23 a 32, e os filhos de Deus I João 3: 1 e 2 viverão de novo e eternamente. Jesus Cristo assegurou a vida eterna além da tumba I Corintios 15: 16 a 22; II Timóteo 1: 10[99].
O SENTIDO DA ETERNIDADE
O único caminho de saída para condição trágica e desesperada é outro dom de Deus. Também colocou no coração do homem o conjunto do tempo eternidade. 3: 11. Deus dá a eternidade. A mesma palavra nathán, dar se usa para ambos os dons. O dom da eternidade é a intensificação do dom do tempo. A eternidade não está fora do tempo, mas nos leva a um super tempo. A eternidade não é o fim do tempo, mas um tempo que não tem fim. A eternidade estará presente nos novos eventos. A experiência bíblica implica no absolutamente novo. A criação de Novos céus e nova terra. Isaias 65: 17; Apocalipse 21: 1 e 2. A eternidade se caracteriza pela intensificação de novos tempos. Nela o tempo está mais presente do que nunca.
Este conceito de eternidade é estranho a nossa situação presente, está além da compreensão humana, é uma qualidade divina em contraste com nossa condição humana. Deus é chamado de eterno, o que diz é eterno caminharás sobre teu ventre e comerás poeira todos os dias de sua vida. Gênesis 3: 14. A obra de Deus tem uma qualidade eterna, em contraste com a obra humana que é passageira. O passado, o presente e o futuro estão nas mãos de Deus, só Ele restaura. O verbo hebraico radaf traduzido como restaurar implica num contínuo impossível de capturar. No Salmo 23 se usa o mesmo verbo para descrever a presença eterna da bondade e misericórdia no reino de Deus. Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão radaf todos os dias de minha vida, e habitarei na casa do Senhor para todo sempre. Salmo 23: 6. A eternidade está com Deus. O dom da eternidade no coração humano origina-se em Deus, Ele dá o que Tem.
De Deus recebemos um sentido real da vida. Recebemos o que não conhecemos. Apesar de sermos finitos e de nossa natureza limitada e mortal, temos a capacidade de pensar acerca de um Deus eterno e infinito. Só Deus pode realizar esta delicada operação em nosso coração.
Enquanto sonhamos com um mundo de paz e justiça, vivemos num mundo em que não é conhecida a justiça e a paz, anelamos o sublime. De fato sentimos a eternidade dentro de nosso tempo de vaidade e miséria. Este momento especial de felicidade nos tem levado além de nossas fronteiras do tempo. Este tempo especial e santo, este sábado que nos trás um sabor de eternidade, tempo que fala de liberdade e de uma vida plena. Mas este momento é só uma faísca, não possuímos a eternidade. Podemos pensar e sonhar sobre ela. Só podemos esperar[100].
Tempo que foge
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.
Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo.
Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da idade cronológica, são imaturos.
Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de confrontação, onde tiramos fatos a limpo.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a última hora; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com seus verdadeiros amigos.
Caminhar perto delas nunca será perda de tempo.
Não escrevi, mas torno o texto minhas palavras.
LEITURA ADICIONAL
UM FINAL E GLORIOSO TRIUNFO
Ao fim dos mil anos, Cristo volta novamente à Terra. É acompanhado pelo exército dos remidos, e seguido por um cortejo de anjos. Descendo com grande majestade, ordena aos ímpios mortos que ressuscitem para receber a condenação. Surgem estes como um grande exército, inumerável como a areia do mar. Que contraste com aqueles que ressurgiram na primeira ressurreição! Os justos estavam revestidos de imortal juventude e beleza. Os ímpios trazem os traços da doença e da morte.
Todos os olhares daquela vasta multidão se voltam para contemplar a glória do Filho de Deus. A uma voz, as hostes dos ímpios exclamam: Bendito o que vem em nome do Senhor! Não é o amor para com Jesus que inspira esta declaração. É a força da verdade que faz brotar involuntariamente essas palavras de seus lábios. Os ímpios saem da sepultura tais quais a ela baixaram, com a mesma inimizade contra Cristo, e com o mesmo espírito de rebelião. Não terão um novo tempo de graça no qual remediar os defeitos da vida passada. Para nada aproveitaria isso. Uma vida inteira de pecado não lhes abrandou o coração. Um segundo tempo de graça, se lhes fosse concedido, seria ocupado, como foi o primeiro, em se esquivarem aos preceitos de Deus e contra Ele incitarem rebelião.
Cristo desce sobre o Monte das Oliveiras, donde, depois de Sua ressurreição, ascendeu, e onde anjos repetiram a promessa de Sua volta. Diz o profeta: Virá o Senhor meu Deus, e todos os santos contigo. E naquele dia estarão os Seus pés sobre o Monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém para o oriente; e o Monte das Oliveiras será fendido pelo meio... E haverá um vale muito grande. O Senhor será Rei sobre toda a Terra; naquele dia um será o Senhor, e um será o Seu nome. Zacarias 14: 5, 4 e 9. Descendo do Céu a Nova Jerusalém em seu deslumbrante resplendor, repousa sobre o lugar purificado e preparado para recebê-la, e Cristo, com Seu povo e os anjos, entram na santa cidade.
Agora Satanás se prepara para a última e grande luta pela supremacia. Enquanto despojado de seu poder e separado de sua obra de engano, o príncipe do mal se achava infeliz e abatido; mas, sendo ressuscitados os ímpios mortos, e vendo ele as vastas multidões a seu lado, revivem-lhe as esperanças, e decide-se a não render-se no grande conflito. Arregimentará sob sua bandeira todos os exércitos dos perdidos, e por meio deles se esforçará por executar seus planos. Os ímpios são cativos de Satanás. Rejeitando a Cristo, aceitaram o governo do chefe rebelde. Estão prontos para receber suas sugestões e executar-lhe as ordens. Contudo, fiel à sua astúcia original, ele não se reconhece como Satanás. Pretende ser o príncipe que é o legítimo dono do mundo, e cuja herança foi dele ilicitamente extorquida. Representa-se a si mesmo, ante seus súditos iludidos, como um redentor, assegurando-lhes que seu poder os tirou da sepultura, e que ele está prestes a resgatá-los da mais cruel tirania. Havendo sido removida a presença de Cristo, Satanás opera maravilhas para apoiar suas pretensões. Faz do fraco forte, e a todos inspira com seu próprio espírito e energia. Propõe-se guiá-los contra o acampamento dos santos e tomar posse da cidade de Deus. Com diabólica exultação aponta para os incontáveis milhões que ressuscitaram dos mortos, e declara que como seu guia é muito capaz de tomar a cidade, reavendo seu trono e reino.
Naquela vasta multidão há muitos que pertenceram à raça de grande longevidade que existiu antes do dilúvio; homens de estatura elevada e gigantesco intelecto, os quais, entregando-se ao domínio dos anjos caídos, dedicaram toda a sua habilidade e saber à exaltação própria; homens cujas maravilhosas obras de arte levaram o mundo a lhe idolatrar o gênio, mas cuja crueldade e invenções más, contaminando a Terra e desfigurando a imagem de Deus, fizeram-no exterminá-los da face de Sua criação. Há reis e generais que venceram nações, homens valentes que nunca perderam batalha, guerreiros orgulhosos, ambiciosos, cuja aproximação fazia tremer os reinos. Na morte não experimentaram mudança alguma. Ao subirem da sepultura, retomam o fio de seus pensamentos exatamente onde ele cessou. São movidos pelo mesmo desejo de vencer, que os governava quando tombaram.
Satanás consulta seus anjos, e depois esses reis, vencedores e guerreiros poderosos. Olham para a força e número ao seu lado, e declaram que o exército dentro da cidade é pequeno em comparação com o seu, podendo ser vencido. Formulam seus planos para tomar posse das riquezas e glória da Nova Jerusalém. Todos imediatamente começam a preparar-se para a batalha. Hábeis artífices constroem apetrechos de guerra. Chefes militares, famosos por seus êxitos, arregimentam em companhias e secções as multidões de homens aguerridos.
Finalmente é dada a ordem de avançar, e o inumerável exército se põe em movimento; exército tal como nunca foi constituído por conquistadores terrestres, tal como jamais poderiam igualar as forças combinadas de todas as eras, desde que a guerra existe sobre a Terra. Satanás, o mais forte dos guerreiros, toma a dianteira, e seus anjos unem as forças para esta luta final. Reis e guerreiros estão em seu séqüito, e as multidões seguem em vastas companhias, cada qual sob as ordens de seu designado chefe. Com precisão militar as fileiras cerradas avançam pela superfície da Terra, quebrada e desigual, em direção à cidade de Deus. Por ordem de Jesus são fechadas às portas da Nova Jerusalém, e os exércitos de Satanás rodeiam a cidade, preparando-se para o assalto.
Agora Cristo de novo aparece à vista de Seus inimigos. Muito acima da cidade, sobre um fundamento de ouro polido, está um trono, alto e sublime. Sobre este trono assenta-Se o Filho de Deus, e em redor Dele estão os súditos de Seu reino. O poder e majestade de Cristo nenhuma língua os pode descrever, nem pena alguma retratar. A glória do Pai eterno envolve Seu Filho. O resplendor de Sua presença enche a cidade de Deus e estende-se para além das portas, inundando a Terra inteira com seu fulgor.
Mais próximo do trono estão os que já foram zelosos na causa de Satanás, mas que, arrancados como tições do fogo, seguiram seu Salvador com devoção profunda, intensa. Em seguida estão os que aperfeiçoaram um caráter cristão em meio de falsidade e incredulidade, os que honraram a lei de Deus quando o mundo cristão a declarava nula, e os milhões de todos os séculos que se tornaram mártires pela sua fé. E além está a multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas... trajando vestidos brancos e com palmas nas suas mãos. Apocalipse 7: 9. Terminou a sua luta, a vitória está ganha. Correram no estádio e alcançaram o prêmio. O ramo de palmas em suas mãos é um símbolo de seu triunfo, as vestes brancas, um emblema da imaculada justiça de Cristo, a qual agora possuem.
Os resgatados entoam um cântico de louvor que ecoa repetidas vezes pelas abóbadas do Céu: Salvação ao nosso Deus que está assentado no trono, e ao Cordeiro. E anjos e serafins unem sua voz em adoração. Tendo os remidos contemplado o poder e malignidade de Satanás, viram, como nunca dantes, que poder algum, a não ser o de Cristo, poderia tê-los feito vencedores. Em toda aquela resplendente multidão ninguém há que atribua a salvação a si mesmo, como se houvesse prevalecido pelo próprio poder e bondade. Nada se diz do que fizeram ou sofreram; antes, o motivo de cada cântico, a nota fundamental de toda antífona, é - Salvação ao nosso Deus, e ao Cordeiro.
Na presença dos habitantes da Terra e do Céu, reunidos, é efetuada a coroação final do Filho de Deus. E agora, investido de majestade e poder supremos, o Rei dos reis pronuncia a sentença sobre os rebeldes contra Seu governo, e executa justiça sobre aqueles que transgrediram Sua lei e oprimiram Seu povo. Diz o profeta de Deus: Vi um grande trono branco, e O que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a Terra e o céu; e não se achou lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida; e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras. Apocalipse 20: 11 e 12.
Logo que se abrem os livros de registro e o olhar de Jesus incide sobre os ímpios, eles se tornam cônscios de todo pecado cometido. Vêem exatamente onde seus pés se desviaram do caminho da pureza e santidade, precisamente até onde o orgulho e rebelião os levaram na violação da lei de Deus. As sedutoras tentações que incentivaram na condescendência com o pecado, as bênçãos pervertidas, os mensageiros de Deus desprezados, as advertências rejeitadas, as ondas de misericórdia rebatidas pelo coração obstinado, impenitente, tudo aparece como que escrito com letras de fogo.
Por sobre o trono se revela a cruz; e semelhante a uma vista panorâmica aparecem as cenas da tentação e queda de Adão, e os passos sucessivos no grande plano para redimir os homens. O humilde nascimento do Salvador; Sua infância de simplicidade e obediência; Seu batismo no Jordão; o jejum e tentação no deserto; Seu ministério público, desvendando aos homens as mais preciosas bênçãos do Céu; os dias repletos de atos de amor e misericórdia, Suas noites de oração e vigília na solidão das montanhas; as tramas de inveja, ódio e maldade, com que eram retribuídos os Seus benefícios; a agonia terrível e misteriosa no Getsêmani, sob o peso esmagador dos pecados do mundo inteiro; Sua traição nas mãos da turba assassina; os tremendos acontecimentos daquela noite de horror - o Prisioneiro que não opunha resistência, abandonado por Seus discípulos mais amados, rudemente empurrados pelas ruas de Jerusalém; o Filho de Deus exultantemente exibido perante Anás, citado ao palácio do sumo sacerdote, ao tribunal de Pilatos, perante o covarde e cruel Herodes, escarnecido, insultado, torturado e condenado à morte - tudo é vividamente esboçado.
E agora, perante a multidão agitada, revelam-se as cenas finais, o paciente Sofredor trilhando o caminho do Calvário, o Príncipe do Céu suspenso na cruz; os altivos sacerdotes e a plebe zombeteira a escarnecer de Sua agonia mortal, as trevas sobrenaturais; a Terra a palpitar, as pedras despedaçadas, as sepulturas abertas, assinalando o momento em que o Redentor do mundo rendeu a vida.
O terrível espetáculo aparece exatamente como foi. Satanás, seus anjos e súditos não têm poder para se desviarem do quadro que é a sua própria obra. Cada ator relembra a parte que desempenhou. Herodes, matando as inocentes crianças de Belém, a fim de que pudesse destruir o Rei de Israel; a vil Herodias, sobre cuja alma criminosa repousa o sangue de João Batista; o fraco Pilatos, subserviente às circunstâncias; os soldados zombadores; os sacerdotes e príncipes, e a multidão furiosa que clamou: O Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos! - todos contemplam a enormidade de seu crime. Em vão procuram ocultar-se da majestade divina de Seu rosto, mais resplandecente que o Sol, enquanto os remidos lançam suas coroas aos pés do Salvador, exclamando: Ele morreu por mim!
Entre a multidão resgatada acham-se os apóstolos de Cristo, o heróico Paulo, o ardoroso Pedro, o amado e amante João, e seus fiéis irmãos, e com estes o vasto exército dos mártires, ao passo que, fora dos muros, com tudo o que é vil e abominável, estão aqueles pelos quais foram perseguidos, presos e mortos. Ali está Nero, aquele monstro de crueldade e vício, contemplando a alegria e exaltação daqueles que torturara, e em cujas aflições extremas encontraram deleite satânico. Sua mãe ali está para testemunhar o resultado de sua própria obra; para ver como os maus traços de caráter transmitidos a seu filho, as paixões incentivadas e desenvolvidas por sua influência e exemplo, produziram frutos nos crimes que fizeram o mundo estremecerem.
Ali estão sacerdotes e prelados romanistas, que pretendiam ser embaixadores de Cristo e, no entanto, empregaram a tortura, a masmorra, a fogueira para dominar a consciência de Seu povo. Ali estão os orgulhosos pontífices que se exaltaram acima de Deus e pretenderam mudar a lei do Altíssimo. Aqueles pretensos pais da igreja têm uma conta a prestar a Deus, da qual muito desejariam livrar-se. Demasiado tarde chegam a ver que o Onisciente é zeloso de Sua lei, e que de nenhuma maneira terá por inocente o culpado. Aprendem agora que Cristo identifica Seu interesse com o de Seu povo sofredor; e sentem a força de Suas palavras: Quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes. Mateus 25: 40.
O mundo ímpio todo se acha em julgamento perante o tribunal de Deus, acusado de alta traição contra o governo do Céu. Ninguém há para pleitear sua causa; estão sem desculpa; e a sentença de morte eterna é pronunciada contra eles.
É agora evidente a todos que o salário do pecado não é nobre independência e vida eterna, mas escravidão, ruína e morte. Os ímpios vêem o que perderam em virtude de sua vida de rebeldia. O peso eterno de glória mui excelente foi desprezado quando lhes foi oferecido; mas quão desejável agora se mostra! Tudo isto, exclama a alma perdida, eu poderia ter tido; mas preferi conservar estas coisas longe de mim. Oh! estranha presunção! Troquei a paz, a felicidade e a honra pela miséria, infâmia e desespero. Todos vêem que sua exclusão do Céu é justa. Por sua vida declararam: Não queremos que este Jesus reine sobre nós.
Como que extasiados, os ímpios contemplam a coroação do Filho de Deus. Vêem em Suas mãos as tábuas da lei divina, os estatutos que desprezaram e transgrediram. Testemunham o irromper de admiração, transportes e adoração por parte dos salvos, e, ao propagar-se a onda de melodia sobre as multidões fora da cidade, todos, a uma, exclamam: Grandes e maravilhosas são as Tuas obras, Senhor Deus todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei dos santos. Apocalipse 15:3; e, prostrando-se, adoram o Príncipe da vida.
Satanás parece paralisado ao contemplar a glória e majestade de Cristo. Aquele que fora um querubim cobridor lembra-se donde caiu. Ele, um serafim resplandecente, filho da alva quão mudado, quão degradado! Do conselho onde tantas honras recebera, está para sempre excluído. Vê que agora um outro se encontra perto do Pai, velando Sua glória. Viu ser colocada a coroa sobre a cabeça de Cristo por um anjo de elevada estatura e presença majestosa, e sabe que a exaltada posição deste anjo poderia ter sido sua.
A memória recorda o lar de sua inocência e pureza, a paz e contentamento que eram seus até haver condescendido em murmurar contra Deus e ter inveja de Cristo. Suas acusações, sua rebelião, seus enganos para ganhar a simpatia e apoio dos anjos, sua obstinada persistência em não fazer esforços a fim de reabilitar-se quando Deus lhe teria concedido o perdão, tudo se lhe apresenta ao vivo. Revê sua obra entre os homens e seus resultados, a inimizade do homem para com seu semelhante, a terrível destruição de vidas, o surgimento e queda de reinos, a ruína de tronos, a longa sucessão de tumultos, conflitos e revoluções. Recorda-se de seus constantes esforços para se opor à obra de Cristo, e para rebaixar cada vez mais o homem. Vê que suas tramas infernais foram impotentes para destruir os que depositaram confiança em Jesus. Olhando Satanás para o seu reino, o fruto de sua luta, vê apenas fracasso e ruína. Levara as multidões a crer que a cidade de Deus seria fácil presa; mas sabe que isto é falso. Reiteradas vezes, no transcurso do grande conflito, foi ele derrotado e obrigado a capitular. Conhece muito bem o poder e majestade do Eterno.
O objetivo do grande rebelde foi sempre justificar-se, e provar ser o governo divino responsável pela rebelião. A esse fim aplicou todo o poder de seu pujante intelecto. Trabalhou deliberada e sistematicamente, e com maravilhoso êxito, levando vastas multidões a aceitar seu modo de ver quanto ao grande conflito que há tanto tempo se vem desenvolvendo. Durante milhares de anos esse chefe conspirador tem apresentado a falsidade em lugar da verdade. Mas agora chegado é o tempo em que à rebelião deve ser finalmente derrotado, e descobertos a história e caráter de Satanás. Em seu último e grande esforço para destronar a Cristo, destruir Seu povo e tomar posse da cidade de Deus, o arquienganador foi completamente desmascarado. Os que a ele se uniram, vêem o fracasso completo de sua causa. Os seguidores de Cristo e os anjos leais contemplam a extensão total de suas maquinações contra o governo de Deus. É ele objeto de aversão universal.
Satanás vê que sua rebelião voluntária o inabilitou para o Céu. Adestrou suas faculdades para guerrear contra Deus; a pureza, paz e harmonia do Céu ser-lhe-iam suprema tortura. Suas acusações contra a misericórdia e justiça de Deus silenciaram agora. A exprobração que se esforçou por lançar sobre Iahweh repousa inteiramente sobre ele. E agora Satanás se curva e confessa a justiça de sua sentença.
Quem Te não temerá, ó Senhor, e não magnificará o Teu nome? Porque só Tu és santo; por isso todas as nações virão, e se prostrarão diante de Ti, porque os Teus juízos são manifestos. Apocalipse 15: 4. Todas as questões sobre a verdade e o erro no prolongado conflito foram agora esclarecidas. Os resultados da rebelião, os frutos de se porem de parte os estatutos divinos, foram patenteados à vista de todos os seres criados. Os resultados do governo de Satanás em contraste com o de Deus, foram apresentados a todo o Universo. As próprias obras de Satanás o condenaram. A sabedoria de Deus, Sua justiça e bondade, acham-se plenamente reivindicadas. Vê-se que toda a Sua ação no grande conflito foi orientada com respeito ao bem eterno de Seu povo, e ao bem de todos os mundos que criou. Todas as Tuas obras Te louvarão, ó Senhor, e os Teus santos Te bendirão. Salmo 145: 10. A história do pecado permanecerá por toda a eternidade como testemunha de que à existência da lei de Deus se acha ligada a felicidade de todos os seres por Ele criados. À vista de todos os fatos do grande conflito, o Universo inteiro, tanto os que são fiéis como os rebeldes, de comum acordo declara: Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei dos santos.
Perante o Universo foi apresentado claramente o grande sacrifício feito pelo Pai e o Filho em prol do homem. É chegada a hora em que Cristo ocupa a Sua devida posição, sendo glorificado acima dos principados e potestades, e sobre todo o nome que se nomeia. Foi pela alegria que Lhe estava proposta, a fim de poder trazer muitos filhos à glória, que Ele suportou a cruz e desprezou a ignomínia. E por inconcebivelmente grande que tivessem sido a tristeza e a ignomínia, todavia maiores são a alegria e a glória. Ele olha para os remidos, renovados em Sua própria imagem, trazendo cada coração a impressão perfeita do divino, refletindo cada rosto a semelhança de seu Rei. Contempla neles o resultado das fadigas de Sua alma, e fica satisfeito. Então, com voz que atinge as multidões congregadas dos justos e ímpios, declara: Eis a aquisição de Meu sangue! Por estes sofri, por estes morri, a fim de que pudessem morar em Minha presença pelas eras eternas." E sobe o cântico de louvor dos que estão vestidos de branco em redor do trono: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças. Apocalipse 5: 12.
Apesar de ter sido Satanás constrangido a reconhecer a justiça de Deus e a curvar-se à supremacia de Cristo, seu caráter permanece sem mudança. O espírito de rebelião, qual poderosa torrente, explode de novo. Cheio de frenesi, decide-se a não capitular no grande conflito. Chegado é o tempo para uma última e desesperada luta conta o Rei do Céu. Arremessa-se para o meio de seus súditos e esforça-se por inspirá-los com sua fúria, incitando-os a uma batalha imediata. Mas dentre todos os incontáveis milhões que seduziu à rebelião, ninguém há agora que lhe reconheça a supremacia. Seu poder chegou ao fim. Os ímpios estão cheios do mesmo ódio a Deus, o qual inspira Satanás; mas vêem que seu caso é sem esperança, que não podem prevalecer contra Jeová. Sua ira se acende contra Satanás e os que foram seus agentes no engano, e com furor de demônios voltam-se contra eles.
Diz o Senhor: Pois que estimas o teu coração, como se fora o coração de Deus, eis que Eu trarei sobre ti estranhos, os mais formidáveis dentre as nações, os quais desembainharão as suas espadas contra a formosura da tua sabedoria, e mancharão o teu resplendor. À cova te farão descer. E te farei perecer, ó querubim protetor, entre pedras afogueadas... Por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti. ... E te tornei em cinza sobre a Terra, aos olhos de todos os que te vêem... Em grande espanto te tornaste, e nunca mais serás para sempre. Ezequiel 28:6 a 8, 16 a 19.
Toda a armadura daqueles que peleja com ruído, e os vestidos que rolavam no sangue serão queimados, servirão de pasto ao fogo. A indignação do Senhor está sobre todas as nações, e o Seu furor sobre todo o exército delas: Ele as destruiu totalmente, entregou-as à matança. Sobre os ímpios fará chover laços, fogo, enxofre, e vento tempestuoso; eis a porção do seu copo. Isaias 9: 5; 34: 2; Salmo 11: 6. De Deus desce fogo do céu. A terra se fende. São retiradas as armas escondidas em suas profundezas. Chamas devoradoras irrompem de cada abismo hiante. As próprias rochas estão ardendo. Vindo é o dia que arderá como um forno. Os elementos fundem-se pelo vivo calor, e também a Terra e as obras que nela há são queimadas Malaquias 4: 1; II Pedro 3: 10. A superfície da Terra parece uma massa fundida, um vasto e fervente lago de fogo. É o tempo do juízo e perdição dos homens maus, dia da vingança do Senhor, ano de retribuições pela luta de Sião. Isaias 34: 8.
Os ímpios recebem sua recompensa na Terra Provérbios 11: 31. Serão como a palha; e o dia que está para vir os abrasará, diz o Senhor dos exércitos. Malaquias 4: 1. Alguns são destruídos em um momento, enquanto outros sofrem muitos dias. Todos são punidos segundo as suas ações. Tendo sido os pecados dos justos transferidos para Satanás, tem ele de sofrer não somente pela sua própria rebelião, mas por todos os pecados que fez o povo de Deus cometer. Seu castigo deve ser muito maior do que o daqueles a quem enganou. Depois que perecerem os que pelos seus enganos caíram, deve ele ainda viver e sofrer. Nas chamas purificadoras os ímpios são finalmente destruídos, raiz e ramos - Satanás a raiz, seus seguidores os ramos. A penalidade completa da lei foi aplicada; satisfeitas as exigências da justiça; e o Céu e a Terra, contemplando-o, declaram a justiça de Iahweh.
Está para sempre terminada a obra de ruína de Satanás. Durante seis mil anos efetuou a sua vontade, enchendo a Terra de miséria e causando pesar por todo o Universo. A criação inteira tem igualmente gemido e estado em dores de parto. Agora as criaturas de Deus estão para sempre livres de sua presença e tentações. Já descansa, já está sossegada toda a Terra! exclamam os justos com júbilo. Isaias 14: 7. E uma aclamação de louvor e triunfo sobe de todo o Universo fiel. “A voz de uma grande multidão, como a voz de muitas águas, e a voz de fortes trovões, é ouvida, dizendo: Aleluia! pois o Senhor Deus onipotente reina. Apocalipse 19: 6.
Enquanto a Terra está envolta nos fogos da destruição, os justos habitam em segurança na Santa Cidade. Sobre os que tiveram parte na primeira ressurreição, a segunda morte não tem poder. Ao mesmo tempo em que Deus é para os ímpios um fogo consumidor, é para o Seu povo tanto Sol como Escudo Apocalipse 20: 6; Salmo 84: 11.
Vi um novo céu, e uma nova Terra. Porque já o primeiro céu e a primeira Terra passaram. Apocalipse 21: 1. O fogo que consome os ímpios purifica a Terra. Todo vestígio de maldição é removido. Nenhum inferno a arder eternamente conservará perante os resgatados as terríveis conseqüências do pecado.
Apenas uma lembrança permanece: nosso Redentor sempre levará os sinais de Sua crucifixão. Em Sua fronte ferida, em Seu lado, em Suas mãos e pés, estão os únicos vestígios da obra cruel que o pecado efetuou. Diz o profeta, contemplando Cristo em Sua glória: Raios brilhantes saíam da Sua mão, e ali estava o esconderijo da Sua força. Habacuque 3: 4. Suas mãos, Seu lado ferido donde fluiu a corrente carmesim, que reconciliou o homem com Deus, ali está a glória do Salvador, ali está o esconderijo da Sua força. Poderoso para salvar mediante o sacrifício da redenção, foi Ele, portanto, forte para executar justiça sobre aqueles que desprezaram a misericórdia de Deus. E os sinais de Sua humilhação são a Sua mais elevada honra; através das eras intérminas os ferimentos do Calvário Lhe proclamarão o louvor e declararão o poder.
E a ti, ó torre do rebanho, monte da filha de Sião, a ti virá; sim, a ti virá o primeiro domínio. Miquéias 4: 8. Chegado é o tempo, para o qual santos homens têm olhado com anseio desde que a espada inflamada vedou o Éden ao primeiro par - tempo para a redenção da possessão de Deus. Efésios 1: 14. A Terra, dada originariamente ao homem como seu reino, traída por ele às mãos de Satanás, e tanto tempo retida pelo poderoso adversário, foi recuperada pelo grande plano da redenção. Tudo que se perdera pelo pecado foi restaurado. Assim diz o Senhor... Que formou a Terra, e a fez; Ele a estabeleceu, não a criou vazia, mas a formou para que fosse habitada. Isaias 45: 18. O propósito original de Deus na criação da Terra cumpre-se, ao fazer-se ela a eterna morada dos remidos. Os justos herdarão a Terra e habitarão nela para sempre. Salmo 37: 29.
Um receio de fazer com que a herança futura pareça demasiado material tem levado muitos a espiritualizar as mesmas verdades que nos levam a considerá-la nosso lar. Cristo afirmou a Seus discípulos haver ido preparar moradas para eles na casa de Seu Pai. Os que aceitam os ensinos da Palavra de Deus não serão totalmente ignorantes com respeito à morada celestial. E, contudo, as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que O amam. I Corintios 2: 9. A linguagem humana não é adequada para descrever a recompensa dos justos. Será conhecida apenas dos que a contemplarem. Nenhum espírito finito pode compreender a glória do Paraíso de Deus.
Na Bíblia a herança dos salvos é chamada um país Hebreus 11: 14 a 16. Ali o Pastor celestial conduz Seu rebanho às fontes de águas vivas. A árvore da vida produz seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a saúde das nações. Existem torrentes sempre a fluir, claras como cristal, e ao lado delas, árvores ondeantes projetam sua sombra sobre as veredas preparadas para os resgatados do Senhor. Ali as extensas planícies avultam em colinas de beleza, e as montanhas de Deus erguem seus altivos píncaros. Nessas pacíficas planícies, ao lado daquelas correntes vivas, o povo de Deus, durante tanto tempo peregrino e errante, encontrará um lar.
O meu povo habitará em morada de paz, e em moradas bem seguras, e em lugares quietos de descanso. Nunca mais se ouvirá de violência na tua Terra, de desolação ou destruição nos teus termos; mas aos teus muros chamarás salvação, e às tuas portas louvor. Edificarão casas, e as habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o seu fruto. Não edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam... Os Meus eleitos gozarão das obras das suas mãos. Isaias 32: 18; 60: 18; 65: 21 e 22.
Ali, o deserto e os lugares secos se alegrarão disto; e o ermo exultará e florescerá como a rosa. Em lugar do espinheiro crescerá a faia, e em lugar da sarça crescerá a murta. Isaias. 35: 1; 55: 13. E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará... e um menino pequeno os guiará. Não se fará mal nem dano algum em todo o monte da Minha santidade, diz o Senhor. Isaias 11: 6 e 9.
A dor não pode existir na atmosfera do Céu. Ali não mais haverá lágrimas, cortejos fúnebres, manifestações de pesar. Não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor ... porque já as primeiras coisas são passadas. Apocalipse 21: 4. E morador nenhum dirá: Enfermo estou; porque o povo que habitar nela será absorvido da sua iniqüidade. Isaias 33: 24.
Ali está a Nova Jerusalém, a metrópole da nova Terra glorificada, como uma coroa de glória na mão do Senhor e um diadema real na mão de teu Deus. Isaias 62: 3. Sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como cristal resplandecente. As nações andarão à sua luz; e os reis da Terra trarão para ela a sua glória e honra. Apocalipse 21: 11 e 24. Diz o Senhor: Folgarei em Jerusalém, e exultarei no Meu povo. Isaias 65: 19. Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus. Apocalipse 21: 3.
Na cidade de Deus não haverá noite. Ninguém necessitará ou desejará repouso. Não haverá cansaço em fazer a vontade de Deus e oferecer louvor a Seu nome. Sempre sentiremos a frescura da manhã, e sempre estaremos longe de seu termo. Não necessitarão de lâmpada nem de luz do Sol, porque o Senhor Deus os alumia. Apocalipse 22: 5. A luz do Sol será sobrepujada por um brilho que não é ofuscante e, contudo, suplanta incomensuravelmente o fulgor de nosso Sol ao meio-dia. A glória de Deus e do Cordeiro inunda a santa cidade, com luz imperecível. Os remidos andam na glória de um dia perpétuo, independentemente do Sol.
Nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor Deus todo-poderoso, e o Cordeiro. Apocalipse 21: 22. O povo de Deus tem o privilégio de entreter franca comunhão com o Pai e o Filho. Agora vemos por espelho em enigma. I Corintios 13:12. Contemplamos a imagem de Deus refletida como que em espelho, nas obras da Natureza e em Seu trato com os homens; mas então O conheceremos face a face, sem um véu obscurecedor de permeio. Estaremos em Sua presença, e contemplaremos a glória de Seu rosto.
Ali os remidos conhecerão como são conhecidos. O amor e simpatias que o próprio Deus plantou na alma, encontrarão ali o mais verdadeiro e suave exercício. A comunhão pura com os seres santos, a vida social harmoniosa com os bem-aventurados anjos e com os fiéis de todos os tempos, que lavaram suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro, os sagrados laços que reúnem toda a família nos Céus e na Terra. Efésios 3: 15, tudo isto concorre para constituir a felicidade dos remidos.
Ali, mentes imortais contemplarão, com deleite que jamais se fatigará, as maravilhas do poder criador, os mistérios do amor que redime. Ali não haverá nenhum adversário cruel, enganador, para nos tentar ao esquecimento de Deus. Todas as faculdades se desenvolverão, ampliar-se-ão todas as capacidades. A aquisição de conhecimentos não cansará o espírito nem esgotará as energias. Ali os mais grandiosos empreendimentos poderão ser levados avante, alcançadas as mais elevadas aspirações, as mais altas ambições realizadas; e surgirão ainda novas alturas a atingir, novas maravilhas a admirar, novas verdades a compreender, novos objetivos a aguçar as faculdades do espírito, da alma e do corpo.
Todos os tesouros do Universo estarão abertos ao estudo dos remidos de Deus. Livres da mortalidade, alçarão vôo incansável para os mundos distantes - mundos que fremiram de tristeza ante o espetáculo da desgraça humana, e ressoaram com cânticos de alegria ao ouvir as novas de uma alma resgatada. Com indizível deleite os filhos da Terra entram de posse da alegria e sabedoria dos seres não-caídos. Participam dos tesouros do saber e entendimento adquiridos durante séculos e séculos, na contemplação da obra de Deus. Com visão desanuviada olham para a glória da criação, achando-se sóis, estrelas e sistemas planetários, todos na sua indicada ordem, a circular em redor do trono da Divindade. Em todas as coisas, desde a mínima até à maior, está escrito o nome do Criador, e em todas se manifestam as riquezas de Seu poder.
E ao transcorrerem os anos da eternidade, trarão mais e mais abundantes e gloriosas revelações de Deus e de Cristo. Assim como o conhecimento é progressivo, também o amor, a reverência e a felicidade aumentarão. Quanto mais aprendem os homens acerca de Deus, mais Lhe admira o caráter. Ao revelar-lhes Jesus as riquezas da redenção e os estupendos feitos do grande conflito com Satanás, a alma dos resgatados fremirá com mais fervorosa devoção, e com mais arrebatadora alegria dedilharão as harpas de ouro; e milhares de milhares, e milhões de milhões de vozes se unem para avolumar o potente coro de louvor.
E ouvi a toda a criatura que está no Céu, e na Terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre." Apocalipse 5: 13.
O grande conflito terminou. Pecado e pecadores não mais existem. O Universo inteiro está purificado. Uma única palpitação de harmonioso júbilo vibra por toda a vasta criação. Daquele que tudo criou emanam vida, luz e alegria por todos os domínios do espaço infinito. Desde o minúsculo átomo até ao maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é amor[101].
O TEMPO
Laurindo Rabelo
Deus pede estrita conta do eu tempo.
É forçoso, do tempo já dar conta.
Mas como dar, sem tempo tanta conta,
Eu que gastei, sem conta, tanto tempo.
Para ter minha conta feita a tempo,
Dado me foi, bom tempo, e não fiz conta.
Não quis, sobrando tempo, fazer conta.
Quero hoje fazer conta e falta tempo.
Porque não ler bom livro em todo o tempo,
Vós que levais o tempo em pouca conta?
Tornai-vos sábios, aproveitando o tempo,
Lendo! Lendo! Lendo!!! Sem ter conta.
Deus pede estrita conta do teu tempo.
Ireis, do vosso tempo, tanta conta.
Mas como, dar do tempo, tanta conta,
Quem, nem a Bíblia leu em nenhum tempo.
[1] Tudo é vaidade, Eclesiastes, Jacques Doukan, p. 39.
[2] Comentário Lições da Escola Sabatina 04, 1º Trimestre de 2007, Ruben Aguilar, UNASP.
[3] Torá, A Lei de Moises, Editora Séfer, pp. 676 e 677.
[4] BJ, p. 1.169.
[5] Mensagem aos Jóvens, Ellen Gold White, CPB, pp. 164 e 165.
[6] CBASD, vol. 3, p. 1.091.
[7] CBASD, vol. 3, p. 1.091.
[8] CBASD, vol. 3, p. 1.091.
[9] Tudo é vaidade, Eclesiastes, Jacques Doukan, pp. 39 a 42.
[10] Biblia TEB, Tradução Ecumênica, edições Loyola, p. 1.313.
[11] Comentário Lições da Escola Sabatina 04, 1º Trimestre de 2007, Ruben Aguilar, UNASP.
[12] Água da Fonte, Meditações Matinais 2.008, Wilson Sarli, CPB, p. 9.
[13] CBASD, vol. 3, p. 1.091.
[14] CBASD, vol. 3, p. 1.091.
[15] CBASD, vol. 3, p. 1.091.
[16] CBASD, vol. 3, p. 1.091.
[17] CBASD, vol. 3, p. 1.091.
[18] CBASD, vol. 3, p. 1.091.
[19] CBASD, vol. 3, pp. 1.091 e 1.092..
[20] CBASD, vol. 3, p. 1.092.
[21] CBASD, vol. 3, p. 1.092.
[22] CBASD, vol. 1, p. 584.
[23] CBASD, vol. 1, p. 678 e 679.
[24] CBASD, vol. 3, p. 1.092.
[25] CBASD, vol. 3, p. 1.092.
[26] CBASD, vol. 3, p. 1.092.
[27] CBASD, vol. 3, p. 1.092.
[28] CBASD, vol. 1, p. 443.
[29] CBASD, vol. 2, p. 603.
[30] CBASD, vol. 2, p. 785.
[31] CBASD, vol. 3, p. 1.092.
[32] CBASD, vol. 3, p. 1.092.
[33] CBASD, vol. 3, p. 1.092.
[34] CBASD, vol. 3, p. 1.092.
[35] Amyr Klink.
[36] Enviado via internet, Pr. Laercio Mazaro, Comunicação UCB, 16 de março de 2.009.
[37] CBASD, vol. 3, p. 1.092.
[38] CBASD, vol. 3, p. 1.081.
[39] CBASD, vol. 3, p. 1.092.
[40] CBASD, vol. 3, p. 1.083.
[41] CBASD, vol. 3, p. 1.092.
[42] BJ, p. 1.170.
[43] Biblia TEB, Tradução Ecumênica, Edições Loyola, p. 1.313.
[44] CBASD, vol. 3, p. 1.092.
[45] CBASD, vol. 3, p. 1.092.
[46] CBASD, vol. 3, p. 1.092.
[47] Bíblia TEB, Tradução Ecumênica, Edições Loyola, p. 1.313.
[48] CBASD, vol. 1, p. 564.
[49] CBASD, vol. 1, pp. 624 e 625.
[50] Tora, a lei de Moises, p. 677.
[51] BJ, p. 1.170.
[52] CBASD, vol. 3, p. 1.092.
[53] CBASD, vol. 3, pp. 1.092 e 1.093.
[54] CBASD, vol. 3, p. 1.093.
[55] Bíblia TEB, Tradução Ecumênica, Edições Loyola, p. 1.314.
[56] BJ, p. 1.170.
[57] CBASD, vol. 3, p. 1.093.
[58] CBASD, vol. 3, p. 1.093.
[59] CBASD, vol. 1, p. 982.
[60] CBASD, vol. 1, p. 988.
[61] Bíblia, Tradução Ecumênica, Edições Loyola, p. 1.314.
[62] Comentário Lições da Escola Sabatina 04, 1º Trimestre de 2007, Ruben Aguilar, UNASP.
[63] CBASD, vol. 3, p. 1.093.
[64] BJ, p. 1.170.
[65] CBASD, vol. 3, p. 1.093.
[66] BJ, p. 1.170.
[67] CBASD, vol. 3, p. 1.093.
[68] CBASD, vol. 3, p. 1.093.
[69] Tudo é vaidade, Eclesiastes, Jacques Doukan, pp. 42 a 45.
[70] CBASD, vol. 3, p. 1.093.
[71] Torá, A Lei de Moises, p. 677.
[72] Bíblia TEB, Tradução Ecumênica, Edições Loyola, p. 1.314.
[73] CBASD, vol. 3, p. 1.093.
[74] CBASD, vol. 3, p. 1.083.
[75] CBASD, vol. 3, p. 1.093.
[76] CBASD, vol. 3, p. 1.093.
[77] CBASD, vol. 3, p. 1.093.
[78] BJ, p. 1.170.
[79] CBASD, vol. 3, p. 1.093.
[80] Bíblia TEB, Tradução Ecumênica, Edições Loyola, p. 1.314.
[81] Comentário Lições da Escola Sabatina 04, 1º Trimestre de 2007, Ruben Aguilar, UNASP.
[82] CBASD, vol. 3, p. 1.093.
[83] CBASD, vol. 3, p. 1.093.
[84] CBASD, vol. 3, p. 1.093.
[85] Bíblia TEB, Tradução Ecumênica, Edições Loyola, p. 1.314.
[86] CBASD, vol. 3, p. 1.093.
[87] CBASD, vol. 3, p. 1.093.
[88] Bíblia TEB, Tradução Ecumênica, Edições Loyola, p. 1.314.
[89] CBASD, vol. 3, p. 1.093.
[90] CBASD, vol. 3, pp. 1.093 e 1.094.
[91] CBASD, vol. 3, p. 1.094.
[92] CBASD, vol. 3, p. 1.121.
[93] CBASD, vol. 3, pp. 234 e 235.
[94] CBASD, vol. 1, p. 858.
[95] CBASD, vol. 1, p. 857.
[96] CBASD, vol. 1, p. 432.
[97] BJ, pp. 1.170 e 1.171.
[98] CBASD, vol. 3, p. 1.094.
[99] CBASD, vol. 3, p. 1.093.
[100] Tudo é vaidade, Eclesiastes, Jacques Doukan, pp. 45 a 47.
[101] O Grande Conflito, Ellen Gold White, CPB, pp. 662 a 678.