ECLESIASTES 04
Itamar de Paula Marques
INTRODUÇÃO
Eclesiastes passa da teologia para a ética. Do pensamento abstrato acerca dos grandes problemas metafísicos do gozo, do trabalho, da vida, da morte da eternidade e do mal. Volta-se 4: 1 para ver o que existe debaixo do sol. Outra vez se confronta com o mal, foca o mal não como uma maneira abstrata 3: 16 a 21, mas vê de uma forma física e histórica de seu próximo. O mal infligido ao outro. O número dois, o segundo se repete sete vezes neste capítulo 4: 1, 2, 6, 8, 9, 11 e 13, um recurso estilístico para enfatizar a presença do outro. Este conceito é uma lição em si mesmo.
É importante que os sábios e os estudantes da Torá, os teólogos e os filósofos deixem a quietude de seus estudos e se elevem ao mundo das idéias, e plantem dentro da realidade humana a santidade da sabedoria, contrastando com a condição humana, que não são santas e nem sábias. Por mais profunda que seja sua verdade, não é mais que um exercício espiritual e intelectual, que pode conduzir a proposições irrelevantes e delírios perigosos. A sabedoria e a santidade deveriam estar vinculadas com a humanidade e nossa condição humana condicionada à prática.
Os dois mundos da sabedoria e da condição humana estão tocando-se mutuamente. O princípio da vaidade que havia sido desenvolvido num nível teológico se aplica agora à experiência dinâmica do próximo, vê a vaidade em quatro situações que implica quatro pares de indivíduos Cada situação está marcada no texto de Eclesiastes:
1. Estar nas mãos do outro. Voltar 4:1
2. Estar contra o outro. Ter visto 4: 4.
3. Estar com o consentimento do outro. Voltar-me 4: 7.
4. Estar no lugar do outro. Vi 4: 15.
Quando o conceito traz a lição do que é bom, o sábio expressa na forma de provérbios, para sedimentar na memória, e torná-la universal [[1]].
Ao lermos os versos do capítulo 4 do livro de Eclesiastes, verificamos que os recursos de retórica disponíveis na mente do seu autor são variados. Salomão deixa de mencionar os aspectos abstratos que envolvem a existência humana. Procura não levantar os enigmas de suas anteriores elucubrações. Agora, para difundir suas idéias, ele utiliza um método de pensamento chamado de dialética. Para isso, diante de uma definição prática, à maneira de tese, registra outra, numa posição diametralmente oposta, à maneira de antítese. As mais notáveis definições práticas e seus opostos que o Pregador expõe, são: a opressão e a liberdade; o trabalho e a preguiça; a vida solitária e a vida em comunidade; o reinado do rei velho e tolo e o reinado do rei jovem e sábio. Dessa maneira, Salomão, afasta-se um pouco da ortodoxia para fundamentar seus pensamentos na ortopraxia.
Nessa nova forma de argumentação, dois elementos interpretativos devem ser destacados. Primeiro: o uso do verbo transitivo ver, no pretérito: eu vi. Com esse instrumento verbal, o autor pretende colocar-se como simples observador; mas o seu contexto biográfico nos leva a considerar que ele faz afirmações relativas à sua própria experiência de atos praticados no passado, e não é simplesmente um depoimento testemunhal. Segundo: embora o nome de Deus não seja mencionado, ele está implícito na locução do vocábulo que fundamenta seu discurso: tudo é vaidade. É inútil qualquer ato que não seja impulsionado pela esperança da vida eterna, com Deus [[2]].
EXEGESE
A vida em sociedade
As misérias da vida em sociedade: opressão pelo abuso do poder e desamparo do homem isolado 4: 1 a 12; maquinações políticas 3: 13 16; religiosidade motivada pelo espírito de massa e abuso na prática de fazer promessa 4: 17 a 5: 6; tirania do poder 5: 7 a 8 [[3]].
1 - Observo ainda as opressões todas que se cometem debaixo do sol: aí estão as lágrimas dos oprimidos, e não há quem os console; a força do lado dos opressores, e não há quem os console.
Voltei-me para contemplar os atos de opressão que sob sol são praticados, e eis que vi fluir lágrimas dos olhos dos oprimidos, sem que houvesse quem os confortasse. O poder está nas mãos do opressor, e não há quem o console o sofredor.
OBSERVO - Expressão hebraica que equivale a reconsiderei [[4]].
OPRESSÕES - Hebraico: ashuqim, de uma raiz que significa: oprimir, ser injusto com, extorquir. Tem relação com uma palavra arábica que significa rude ou injusto. Salomão se refere aos padecimentos dos pobres e os débeis ao longo da história Jó 35: 9; Amós 3: 9; I Samuel 12:4 [[5]].
Existem maneiras das pessoas serem oprimidas. Que dizer de maridos e esposas, ou pais e filhos? Que dizer da opressão religiosa e uso da religião para oprimir e explorar os outros? Ou que dizer de empregadores e empregados? Ou de assédio sexual, essa não seria uma forma de opressão. Em que outro tipo de opressão poderia pensar? Alguém pode ser opressor sem mesmo perceber?
O poder pode ser sutil. Usado corretamente pode ser uma grande bênção, pois, com o poder, é possível guiar, até ordenar os outros na posição correta. Mas também é muito mais fácil abusar dele. Como se diz: O poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente. A maioria, de uma forma ou de outra, tem poder sobre os outros. A pergunta decisiva é: Como usamos o poder? [[6]]
LÁGRIMAS - As lágrimas dos oprimidos comovem a Deus. Salmo 39: 12; 56: 9; Isaías 38: 5; mas as dos hipócritas lhe ofendem Malaquias 2: 13.
A primeira figura do outro apresenta um rosto com lágrimas. Não são lágrimas de sentimentos ou emoções. São lágrimas provenientes da ação do outro. Vê o som das palavras hebraicas onde às lágrimas dos oprimidos e a frase paralela nas mãos dos opressores é o eco de uma e de outra. Da mesma maneira que a palavra oprimidos está na forma passiva, o oprimido não tem iniciativa própria. Não existe por si mesmo, está nas mãos do opressor. É uma vítima sem poder de reação.
Não se identifica a vítima e nem a natureza do opressor. A vítima está envolvida por um anonimato intencional, não são vítimas da opressão política e econômica, nem os que morreram em câmaras de gás ou nos campos de concentração. Essas vítimas sem rosto são mulheres oprimidas, crianças maltratadas em reformatórios ou vítimas de violência, prisioneiros no cárcere, o soldado oprimido na guerra, enfim inclui a todos que tem sofrido nas mãos do outro.
A palavra oprimido aparece três vezes sugerindo a intensidade da opressão no qual o opressor detém todo poder, não se registra nenhuma resistência, nada detém o caminho do opressor, ninguém o auxilia. Esta situação produz um choque. A frase e não há quem os console 4: 1 se repete duas vezes. A frase está carregada de um significado especial, ela refere-se a Deus.
Ao dizer e não há quem os console o texto sugere a ausência de Deus. Esta frase é mencionada no livro de Lamentações com o mesmo significado. Lamentações 1: 2, 9, 17 e 21. Clama a Deus para que se faça presente, porque o Consolador não estava ali, por isso chora a minha alma Lamentações 1: 16. Na tradição bíblica Deus é chamado de Consolador Isaias 51: 12; 66: 13. Um texto clássico que apresenta o Senhor como Consolador é o Salmo 23: porque Tu estás comigo, a tua vara e o teu cajado me consolam. Salmo 23: 4.
Apresenta uma realidade insuportável, a ausência de Deus, que Martin Buber define como eclipse de Deus. E como Deus está ausente Eclesiastes chama de vazio. O verbo louvar, hebraico: shabai que sempre se aplica a Deus, aqui se aplica aos mortos 4: 2 que é definido em 3: 20 como pó, ou nada. É como se o céu estivesse vazio. Deus não está respondendo.
Todo sistema teológico do livro é questionado. Não nos assegura que Deus está presente na dor? Não nos ensina que o tempo de sofrimento e o tempo de gozo são dons de Deus? Agora parece sugerir o contrário. A visão da violência absoluta e da opressão e as lágrimas dos oprimidos afetam a sua teologia e a sua conduta religiosa, e mudam suas orações, está sem esperança e grita no vazio.
Quem nunca se recusou a ser sensível as lágrimas e a opressão não se identifica com o Eclesiastes. Seguirá pensando da mesma maneira, intelectual e insensível, como se nada tivesse acontecido. Sua teologia, sua leitura da Bíblia, não será afetada pela tragédia. Porém esta teologia fria é digna de ser chamada de teologia? O teólogo alemão Johann Baptista Metz pensava desta pergunta quando fez esta advertência: O que os teólogos cristãos podem fazer pelos assassinados em Auschwitz... Nunca mais façam teologia de tal modo que suas construções permaneçam sem serem afetadas ou que possam ser afetadas por Auschwitz. A teologia de Eclesiastes haveria sido afetada por Auschwitz, tanto que quando vê o mal radical, questiona o sentido da vida, esta mesma vida que é um dom de Deus.
Eclesiastes Não é o único livro da Bíblia, cuja teologia foi sacudida diante da tragédia. O livro de Jó, um homem sábio que também foi vítima, desafiou a Deus quanto ao sentido da vida. Porque não morri eu na madre? Porque não expirei ao sair dela? Jó 3: 11; Porque se concede luz ao miserável e a vida aos amargurados de ânimo. Jó 3: 20.
Era digna a teologia de Jó? Certamente não foi para os teólogos de seu tempo os três visitantes: Elifaz, Bildade e Zofar, que defendiam o sistema tradicional, pensando que defendiam a Deus, mas não O agradaram. Tendo o Senhor falado estas palavras a Jó, o Senhor disse também a Elifaz, o temanita. A minha ira se acendeu contra ti e teus dois amigos; porque não disse de mim o que era reto, como o meu servo Jó. Jó 42: 7. A palavra de Deus mediante as misérias está mais para Deus do que os que pretendem defender a Deus, e procuram defender sua teologia. É significativo que os livros de Jó e Eclesiastes com todas as reflexões perturbadas e a perturbadoras foram aceitas no cânon bíblico. Isto nos diz que ainda que gritemos a Deus e nos rebelemos contra a dor e a opressão no mundo e nos colocarmos do lado do oprimido, assim fazendo estaremos mais perto de Deus.
Neste mesmo instante, quando Eclesiastes questiona Deus por causa das lágrimas dos oprimidos, quando sente que os céus estão vazios e aparente ausência de Deus, O Senhor nunca esteve tão perto, e Deus nunca se fez tão presente.
Este quadro de pressuposta ausência de Deus sugere um eco sutil literário. A repetição da frase e não há quem os console e não há Consolador 4: 1 nos recorda outra repetição dramática no lugar do juízo reinava a maldade e no lugar da justiça maldade ainda 3: 16 se somavam a perspectiva de um juízo cósmico da maldade e a vindicação da justiça, este clamor está saturado com a esperança. Aprendemos a esperar quando nos confrontamos com a dor do mundo [[7]].
NÃO HÁ QUEM OS CONSOLE - Uma Sociedade Perversa. O homem nasce bom; mas a sociedade o corrompe. Essa foi a forma sucinta e conclusiva a que chegou o enciclopedista Jean Jacques Rousseau na sua teoria sobre o Contrato Social. Esse idealizador do fundamento filosófico que motivou a Revolução Francesa considerava que a sociedade executa contratos que anulam a liberdade do indivíduo e o oprimem. A opressão do homem pelo homem é uma prática presente e constante em todas as sociedades de todas as épocas, e em todas as esferas, sem exceção alguma. A noção de opressão é mais bem entendida através de expressões relativas do mesmo significado, como: impor servidão, causar aflição, violentar, coagir, vexar, humilhar, esmagar, aniquilar, onerar, apoquentar e outras.
O rei Salomão, quase se eximindo da culpa de ter praticado formas de opressão, faz referência a essa manifestação indigna do comportamento humano, afirmando: Vi ainda todas as opressões que se fazem debaixo do Sol: vi as lágrimas dos que foram oprimidos, ... vi a violência na mão dos opressores... Eclesiastes 4: 1. Essas palavras, por serem constituídas de substantivos comuns, não conseguem gerar, na mente dos leitores, a imagem exata das conseqüências da opressão. Já os profetas menores são mais específicos nas suas denúncias sobre as práticas de opressão, principalmente Miquéias e Amós.
Vejamos, a seguir, algumas das denúncias feitas pelos profetas e procuremos ver se não acontece o mesmo no tempo atual. Numa sociedade perversa, o melhor é como um espinheiro; o mais reto é pior do que uma sebe de espinhos. Miquéias 7:4; O filho despreza o pai, a filha se levanta contra a mãe,... Os inimigos do homem são os da sua própria casa. Miquéias 7: 6; a opressão surge ao nascer do dia, pois durante a noite os opressores no seu leito, imaginam a iniqüidade e maquinam o mal. Miquéias 2: 1; e o mal prevalece pela conivência dos juízes, sendo prática corriqueira o juiz aceitar suborno. Miquéias 7: 3, mesmo sabendo que a parte acusada é inocente: Os juízes vendem o justo por dinheiro e condenam o necessitado por causa de um par de sandálias. Amós 2: 6; numa sociedade perversa, a opressão apresenta-se em forma velada mediante o uso de balanças falsas e bolsas de pesos enganosos. Miquéias 6: 11; e quanto mais fraca é a vítima, mais rigor há na execução de normas opressivas. Por isso, o profeta deixa ouvir sua denúncia: pisais o pobre e dele exigis tributo. Amós 5: 11; sem manifestar solidariedade nenhuma: oprimis os pobres, esmagais os necessitados. Amós 4: 1; a denúncia alcança os detentores de poder, tanto político como financeiro, pois eles: se cobiçam campos, os arrebatam; se casas, as tomam; assim fazem violência a um homem e a sua casa. Miquéias 2: 2; viciados pela cobiça e pelo dinheiro, sua maldade não tem limites: além da roupa, roubais a capa. Miquéias 2: 8; e o profeta emite uma metáfora com sentido real: deles arrancais a pele e a carne de cima dos seus ossos. Miquéias 3: 2.
Durante seu reinado, o sábio de Israel praticou diversas formas de opressão, conforme denuncia o escritor sagrado: Quanto a todo o povo que restou dos amorreus, heteus, ferezeus, heveus e jebuseus, ... e seus filhos, que restaram depois deles na terra, ... a esses fez Salomão trabalhadores forçados, até hoje. I Reis 9: 20 e 21; Dominava Salomão sobre todos os reinos ..., os quais pagavam tributo e serviram a Salomão todos os dias da sua vida. I Reis 4: 21; A razão por que Salomão impôs o trabalho forçado é esta: edificar a Casa do Senhor, e a sua própria casa... I Reis 9: 15.
Não é de estranhar a maneira como Salomão discorre sobre as nocivas conseqüências da opressão: ele o faz por experiência própria. Essa vivência o habilita a confirmar que a prática da opressão deve-se ao desenvolvimento de dois vícios da consciência humana: a inveja e o egoísmo. O Pregador procura deslocar a manifestação dessas aberrações do comportamento humano para uma atividade inerente ao homem, o trabalho: Então, vi que todo trabalho e toda destreza em obras provêm da inveja do homem contra o seu próximo. Eclesiastes 4: 4; mais adiante, ele afirma: Então, considerei outra vaidade debaixo do Sol, isto é, um homem sem ninguém,... Não cessa de trabalhar, e seus olhos não se fartam de riquezas,... Eclesiastes 4: 8 e 9; a solidão do homem é devida ao seu egoísmo.
Salomão, pela sua aflitiva experiência passada, declara com plena convicção que a competição humana para o trabalho é motivada pela inveja. Esse vício alastra-se em outras manifestações nocivas como a ambição, o ciúme, a mesquinharia e o entusiasmo delirante, chamado frenesi. Dependendo desse estímulo, o trabalho realizado, não é fascinante nem criativo: é pura zombaria e fadiga do espírito.
O egoísmo é um vício da consciência que gera a idéia de que todos os atos da pessoa são auto-orientados e realizados por interesse próprios. O egoísmo desfigura até as boas ações quando se manifesta maquiado por um sentimento hedonista. Alguns autores defendem a idéia de que toda atividade humana, mesmo a filantrópica, é estimulada por uma expressão de egoísmo, pois, ao realizar essa atividade, a pessoa procura sua própria satisfação. Se essa afirmação é real, quanto mais o trabalho, simples ou complexo pesado ou leve, executado só para obter benefícios. Pessoas empenhadas apenas na obtenção de riquezas são uma demonstração de puro egoísmo.
Na dialética salomônica, se antepõem os conceitos de opressão com a de liberdade baseada na obediência à vontade divina; o trabalho realizado por puro interesse pessoal, com o realizado para beneficiar outros; exemplo desta última sentença e antítese de todo egoísmo é encontrada na vida do Redentor do mundo, Jesus, cuja missão é assim retratada pelo evangelista: o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos. Marcos 10: 45 [[8]].
2 - Então eu felicito os mortos que já morreram mais que os vivos que ainda vivem.
Considerei, por isto, que mais louváveis são os que já pereceram do que os que ainda vivem.
FELICITO OS MORTOS - De certa forma, Salomão afirma que os mortos, por não estarem mais expostos as injustiças deste mundo, seriam mais afortunados que os vivos [[9]].
MAIS QUE OS VIVOS - Compare-se com Jó 3: 13 e com as palavras de Cristo referentes a Judas Mateus 26: 24. Em certas circunstâncias, e desde determinado ponto de vista, poderia ser melhor morrer do que continuar vivendo. É deste ponto de vista que Salomão raciocina e fala. Representa uma disposição de ânimo suscitada pelas desigualdades e os males que resultaram de milhares de anos de pecado. Hoje em dia, mais do que nunca, muita gente sente quão vã é a vida [[10]].
3 - E mais feliz que ambos é aquele que ainda não nasceu, que não vê a maldade que se comete debaixo do sol.
Melhor que ambos é ainda o que não chegou a nascer e, portanto, não conhece o mal que se pratica sob o sol.
MAIS FELIZ - Mediante a fé em Deus e uma firme confiança no Salvador Mateus 11: 28 defrontam-se melhor ao pessimismo, que procede do diabo. Compare-se com a calma confiança de Paulo Romanos 5: 1 [[11]].
Vale a Pena Viver?
Logo após ter exposto a condição infausta em que a sociedade se debate, numa permanente agonia, Salomão enche a mente dos seus leitores de frustração e temor e exprime seu propósito primordial como respondendo à interrogação em frase não evocada: Vale a pena viver? A resposta do rei de Israel, exclamada com veemência, é: Não! Pois ele mesmo afirma: Tenho por mais felizes os que já morreram mais do que os que ainda vivem; porém mais que uns e outros, têm por feliz aquele que ainda não nasceu e não viu as obras que se fazem debaixo do Sol. Eclesiastes 4: 2 e 3.
Ao incluir novamente nessa afirmação o tema da felicidade, percebe-se que Salomão usa um matiz de ironia incluída nessa fraseologia. Certamente, o Pregador não considera a morte como um estado que proporciona felicidade, diante de uma vida regida por uma sociedade perversa. Na dialética salomônica, se estabelece o viver válido, mediante uma vida oposta diametralmente à vida de opressão. Esse viver que vale a pena ser vivido é a vida projetada pelos princípios divinos, que promovem felicidade plena até atingir a felicidade eterna.
A felicidade que as pessoas pretendem experimentar mediante práticas hedonistas são momentâneas e fugazes e, em muitos casos, conduzem ao infortúnio e à fatalidade. A intenção de Salomão ao referir-se à felicidade das pessoas que morrem, ou ainda não nasceu, é a de destacar que no mundo atual, dominado por uma estrutura social de injustiça e opressão, ninguém pode alcançar a real felicidade. Então, ele usa o recurso da dialética para contrastar como tese e antítese, o exemplo de duas vidas de condições diferentes, expondo em forma de provérbio: Melhor é o jovem pobre e sábio do que o rei velho e insensato... Eclesiastes 4: 13. O adjetivo melhor, tem o sentido de ser superior em qualidade, e pode ser substituído, na estrutura do provérbio, com o adjetivo feliz. O adjetivo sábio qualifica uma pessoa que orienta a vida segundo os preceitos divinos, pois Dele é que se adquire sabedoria.
Ampliando o sentido dos vocábulos utilizados nessa frase, é possível compreender a extensão do significado do provérbio salomônico e a conseqüente lição para a vida. A lição extraída resulta da interpretação e modificação fraseológica do texto: Feliz é o jovem pobre que anda nos caminhos de Deus; do que o velho rei no seu poder e riqueza que caminha longe do Criador [[12]].
4 - Observo também que todo trabalho e todo êxito se realiza porque há uma competição entre companheiros. Isso também é vaidade e correr atrás do vento!
Vi que toda a labuta e dedicação na busca da perfeição na realização das tarefas decorrem da inveja despertada no homem contra seu semelhante; e isto é vão e frustrante.
TRABALHO - Moléstia, esforço, lide [[13]].
TODO ÊXITO - Hebraico: toda a destreza de obra. A expressão também pode significar obra de êxito ou obra proveitosa [[14]].
COMPETIÇÃO - Inveja. A rivalidade desperta inveja e amargura à medida que se aumenta a concorrência. O princípio aqui apresentado se aplica às condições de trabalho, as rivalidades comerciais e questões internacionais, e às relações pessoais [[15]].
CORRER - Aflição de espírito. Figura de linguagem que descreve a futilidade do sucesso mundano como garantia de felicidade. Apascentar-se de vento [[16]].
5 - O insensato cruza os braços e vai se consumindo.
Os tolos cruzam as mãos indolência e devoram sua própria carne.
INSENSATO - O segundo outro não mostra nenhum rosto. O foco está nas mãos e mãos cruzadas e punhos fechados. Sugere com as mãos um quadro de conflito. Um pouco para dormir, um pouco para tosquenejar, um pouco para cruzar os braços em repouso. Provérbios 6: 10. Refere-se ao preguiçoso, não faz nada, suas mãos estão ocupadas consigo mesmo, procura tomar o que não tem, sempre com o objetivo de acumular.
Na tradição bíblica a avareza e o ciúme estão relacionados com a opressão e a maldade. José foi perseguido por seus irmãos devido à inveja e ciúmes Gênesis 37: 11. Jesus foi crucificado por inveja Mateus 27: 18. Os violentos conflitos em Israel estavam relacionados com a inveja Isaias 11: 13. No livro de Provérbios a inveja está relacionada com a maldade e a opressão O ânimo sereno é a vida do corpo, mas a inveja é a podridão dos ossos. O que oprime o pobre insulta aquele que o criou, mas a este honra o que se compadece do necessitado, pela sua malícia é derribado o perverso, mas o justo, ainda morrendo, tem esperança. Provérbios 14: 30 a 32.
A inveja não conduz a nada, ela consome a própria carne. A inveja é contra o que pertence ao outro. A lição é que é melhor ter menos em paz do que ter mais com conflitos, que conduzem a auto destruição. Termina trabalhando muito e insistindo na inveja que trará um resultado a destruição. O resultado de se alegrar ás expensas do outro é sua destruição.
A parábola que Natã contou a Davi sobre o homem que possuía um único cordeirinho que o homem rico tomou para si, ilustra o que fez Davi ao tomar a esposa de Urias e assassiná-lo. Davi pagou um preço alto por sua iniqüidade, seu reino sofreu adversidades e o menino fruto do pecado morreu. II Samuel 12: 1 a 15.
Este fato estava na memória de Salomão Bate Seba era sua própria mãe. A inveja recorda seu pai que tomou a esposa do outro. Ao cruzar as mãos nos recorda do homem que tomou o cordeiro do pobre, os punhos cerrados a violência para alcançar seus objetivos. Lições:
1. Colocar as mãos em algo que não lhe pertence.
2. Deixar o outro de mãos vazias.
3. Ganho fácil, não importando os meios para se alcançar os fins.
4. A angústia causada para se alcançar os fins.
5. Frutos do erro. Conseqüências.
Todas as lições nos ensinam que aproveitar-se do outro não beneficia em nada [[17]].
CRUZA OS BRAÇOS - Hebraico: o abraço de suas mãos; expressão equivalente à ociosidade Provérbios 6: 10; 24: 33 [[18]].
VAI SE CONSUMINDO - Come sua mesma carne. Os comentaristas judeus usam a palavra sustento em vez de carne. Assim sugerem o quadro de uma pessoa impassível que se senta a comer preocupando-se exclusivamente dos prazeres da vida. Cita Êxodo 16: 8 e Isaias 22: 13 para sustentar esta interpretação. Uma explicação mais razoável desta expressão é que o insensível chegará a uma pobreza extrema, e com ele sua família [[19]].
6 - Mais vale um bocado de lazer do que dois bocados de trabalho, correndo atrás do vento.
Melhor parece uma porção tranqüila que duas mãos cheias, conquistadas com esforço e frustração.
UM BOCADO DE LAZER - Hebraico: encher uma mão com serenidade. Denota-se a idéia da mão em forma de xícara. Sem dúvida serenidade requer à paz mental. A mesma palavra aparece como repouso capítulo 6: 5 no sentido de bem-estar, e como quietude capítulo 9: 17, no sentido de delicadeza Isaias 30: 15 [[20]].
DOIS BOCADOS DE TRABALHO. Cheios com trabalho. Uma intensa atividade, uma agitação nervosa no empenho de fazer muito em cada dia, a fim de conseguir a recompensa máxima. Uma vida plena e feliz não depende da abundância de coisas [[21]].
Comentário de Lucas 12: 15. Avareza. Grego: pleonexía. A avareza pode definir-se como um desejo desmedido pelas coisas materiais, especialmente das que pertencem a outro. O homem que se dirigiu a Cristo não precisava mais riquezas; o que precisava era que a avareza lhe fosse tirada de seu coração para que as riquezas não lhe preocupassem tanto. Sem avareza em seu coração, não teria nenhuma disputa que arrumar. Jesus foi, como sempre, à raiz da dificuldade, e propôs uma solução que impediria que se levantassem problemas similares no futuro. Não apresentava remédios passageiros como os que propõem hoje o evangelho social. O que mais precisam os homens não é um salário melhor ou maiores ganhos. Precisam uma mudança de coração e de pensamento que os conduza a procurar primeiramente o reino de Deus e sua justiça para que sintam plena confiança de que as coisas indispensáveis para a vida lhes serão adicionadas.
A abundância dos bens. O materialismo se encontra na raiz de muitos dos maiores problemas do mundo atual, e é à base da maior parte das filosofias políticas e econômicas, e é a causa de uma grande parte dos conflitos entre classes e nações que afligem à humanidade. O descontentamento com o que temos cria o desejo de conseguir mais obrigando a outros a ceder todo ou parte do que têm. Mas, em vez disso, todos devem trabalhar honradamente. A avareza é a causa de muitos dos problemas insolúveis do mundo.
O pedido do que procurou a Jesus para que assumisse o papel de juiz da conduta de seu irmão, foi motivado pelo mesmo espírito de avareza que impulsionam alguns industriais a obter maiores ganhos sem deter-se a pensar nos meios que utilizam para obtê-las, e que também faz que muitos trabalhadores exijam salários sempre maiores, sem considerar o valor de sua própria contribuição à produção da riqueza nem as possibilidades de seu empregador de poder pagar. É exatamente o mesmo espírito que move a determinados grupos e interesses a pedir leis que lhes sejam favoráveis, sem preocupar-se como afetarão a outros grupos do país; é o mesmo espírito que leva a uma nação a impor sua vontade sobre outros povos, sem preocupar-se pelos interesses ou desejos deles. Este é o mesmo espírito que muitas vezes destrói os lares, conduz à delinqüência juvenil e se acha presente a numerosos crimes.
Deus pede a todos os que querem amar-lhe e servir-lhe que considerem as coisas materiais da vida em sua verdadeira perspectiva, e que as subordinem às coisas de valor eterno. A maioria pensa que à medida que aumentam as riquezas aumenta a felicidade; mas não é necessariamente assim. A felicidade não depende das coisas que se possui, senão da maneira de pensar e do que sente o coração [[22]].
Comentário Mateus 6: 33. Procurai primeiramente. O grande propósito da existência dos homens é que procurem a Deus, se em alguma maneira... Possam achar-lhe. Atos 17: 27. A maior parte dos seres humanos estão afanados trabalhando pela comida que perece João 6: 27, pela água da qual voltarão a ter sede. João 4: 13. A maioria das pessoas gasta seu dinheiro no que não é pão e seu trabalho no que não sacia. Isaias. 55: 2. Com demasiada freqüência tendemos a fazer das coisas materiais o principal propósito de nossa vida, com a vã esperança de que Deus será indulgente conosco, e que ao final de nossa existência, adicionará a eternidade ao breve prazo de setenta anos. Cristo quer que demos às coisas mais importantes o primeiro lugar e nos assegura do que as coisas de menor importância e menor valor serão dadas a cada um de acordo com sua necessidade.
“Vos serão acrescentadas”. Não pode existir segurança da parte de Deus e da cidadania de seu reino. O melhor remédio para a preocupação é a confiança em Deus. Se fizermos fielmente a parte que nos toca, se darmos ao reino do céu o primeiro lugar em nossos pensamentos e em nossas vidas, Deus cuidará de nós enquanto dure nossa existência. Com misericordiosa ternura ungirá nossa cabeça com azeite e a copa de nossa vida repousará de bens Salmo 23: 6 [[23]].
7 - Observo ainda outra vaidade debaixo do sol:
Mais uma vez percebi a futilidade de tudo que há sob o sol.
VAIDADE - Salomão se refere o outro fenômeno da vida: a avareza [[24]].
8 - Alguém sozinho, sem companheiro, sem filho ou irmão; todo o seu trabalho não tem fim, e seus olhos não se saciam de riquezas: Para quem trabalho e me privo da felicidade? Isso também é vaidade e um penoso trabalho.
Existe aquele que está só, não tendo nem filho nem irmão; entretanto é infindável o seu labor, e seus olhos nem sequer percebem onde poderá encontrar satisfação plena, mas não questionam para que trabalham tanto e porque privam de qualquer prazer a sua alma. Este é um procedimento vão e infeliz.
SÓZINHO - Descreve-se a uma pessoa solitária, isolada e sem amigos nem colegas íntimos: não tem parentes nem amigos, nem herdeiros que possam continuar seus labores [[25]].
Muitas vezes os mais miseráveis de todos os seres humanos são os mais egoístas, os que vivem só para si e que só se importam consigo mesmos. Por mais que seja o ganho imediato, depois de algum tempo, ao verem quão pequenos são, quão passageira é a vida, como é pequena sua importância no esquema das coisas debaixo do sol, essas pessoas encontram muito pouco propósito e significado para sua existência. Como seres humanos, não foram criados para viver só para nós mesmos. Ao contrário, todo propósito do amor abnegado, como bem exemplificou a vida de Jesus, é viver a fim de ajudar os outros. Existe um senso de realização, alegria e propósito quando nos damos ao serviço dos outros. E a boa notícia é que você não precisa ser casado, ou ter filhos para fazer isso. Enquanto houver seres humanos ao seu redor, haverá pessoas a quem você pode ser uma bênção, e quando abençoa os outros, você recebe uma bênção para si mesmo [[26]].
SEM FILHO OU IRMÃO - Um quadro muito triste de solidão, com pouco incentivo para estimular o esforço. Trabalhar para sustentar os amados é uma tarefa nobre e satisfatória; sentir responsabilidade por eles é eficaz para desenvolver o caráter. Sem um incentivo tal, o homem se volta egocêntrico e se secam os mananciais da bondade [[27]].
NÃO TEM FIM - De a raiz verbal amputar. Este ser solitário, do qual não dependem outros, continua trabalhando e acumulando com um zelo digno de propósitos mais elevados [[28]].
NÃO SE SACIAM DE RIQUEZAS - Quanto mais acumula, mais almeja. Para ele, a aquisição de riquezas se converteu numa obsessão Provérbios 27: 20. São poucos os que estão contentes com sua sorte [[29]].
ME PRIVO - Este avarento nunca se pergunta por que trabalha tão incessantemente. Está cego pelo desejo, e por isso se entrega a acumular riquezas ainda que isso não lhe proporcione satisfação. É uma virtude cristã ser laborioso, mas inteiramente contente sob a proteção de Deus Romanos 12: 11; Efésios 4: 28; I Timóteo 6: 8; Hebreus 13: 5. A indolência não é recomendável ao cristão, Provérbio 12: 24; Eclesiastes 10: 18 [[30]].
Comentário de Salmo 16: 10. ALMA - Hebraico: néfesh. Este vocábulo aparece 755 vezes no AT, das quais 144 pertencem aos Salmos. Freqüentemente se traduz alma; não é uma tradução correta, porque o termo alma sugere idéias não contidas em néfesh. Uma breve análise da voz hebraica ajudará a esclarecer o sentido que os autores bíblicos lhe davam.
Néfesh deriva da raiz nafash, verbo que aparece só três vezes no AT Êxodo 23: 12; 31: 17; II Samuel 16: 14, e em cada uma destas ocasiões significa reviver, refrescar-se. O significado básico deste verbo é o de respirar.
A definição de néfesh pode deduzir-se do relato bíblico da criação do homem Gênesis 2: 7. Aqui se afirma que, quando Deus deu vida ao corpo que ele tinha formado, o homem se converteu em um ser vivente; resultou o homem um ser vivente (BJ); ficou constituído o homem como ser vivo (BC). A alma não existiu antes que o corpo; vindo à existência quando Adão foi criado. Quando nasce um menino, uma alma nova vem à existência. Cada nascimento representa uma nova unidade, diferente e única, separada de outras unidades similares. Nunca poderá unir-se com outras; sempre será a mesma. Poderão existir muitíssimos indivíduos parecidos, mas nenhum será esta unidade. Esta identidade única do indivíduo é a idéia dominante que parece descolar no termo hebreu néfesh.
A palavra néfesh se emprega para referir-se tanto a seres humanos como a animais. A passagem que se traduz produzam as águas seres viventes. Gênesis 1: 20 diz literalmente: que as águas produzam enxames de néfesh jayah, seres de vida. Chama-se seres de vida, ou seja, seres viventes aos animais e as aves Gênesis 2: 19. Entende-se que tanto os animais como os seres humanos são almas.
A idéia básica de que alma representa o indivíduo e não a uma de suas partes pode ver-se nos diversos usos da palavra néfesh. Seria mais correto dizer do que determinada pessoa ou determinado animal é uma alma, e não que tem uma alma.
Desta idéia básica de que néfesh representa o indivíduo ou à pessoa surge seu uso idiomático como substituto do pronome pessoal. A expressão minha alma significa, eu, mim; tua alma, tu, e sua alma, ele ou eles.
Como cada vez que aparece néfesh expressa uma nova unidade de vida, muitas vezes se usa o termo como sinônimo de vida. A RVR traduz néfesh como vida umas 170 vezes, e há outros casos em que vida seria uma tradução mais precisa. (ver com. 1 Rei. 17: 21).
Quase sempre a voz néfesh pode traduzir-se como pessoa, indivíduo, vida ou o pronome pessoal que corresponda. Viva minha alma por causa de ti. Gênesis 12: 13 significa viva eu por causa de ti [[31]].
Comentário de I Reis 17: 21. ALMA - Hebraico: néfesh. Esta palavra hebréia aparece mais de 700 vezes no AT e foi traduzida na RVR como ser Gênesis 1: 21, 24; 2: 7; Levítico 11: 46; etc., pessoa Gênesis 12: 5; 14: 21; Levítico 11: 43; etc., alma Gênesis 12: 13; etc., vida Gênesis 9: 4; Josué 2: 14; I Reis 19: 4; etc., morte Êxodo 4: 19 no sentido de tirar a vida, vida, VM; etc., morto Levítico 19: 28; Números 9: 6, 7 e 10; etc., algum Josué 20: 9, eles mesmos Isaias 46: 2, animais Gênesis 2: 19 ser, BJ, e em muitas outras formas. De todas estas maneiras de traduzir néfesh, vida seria a mais adequada no texto que estamos tratando. A tradução alma é enganosa: faz que muitos pensem que se trata de uma entidade imortal, capaz de existir conscientemente fora do corpo. Esta idéia não se acha na palavra néfesh. Não se dá esta idéia e nem sequer se insinua em nenhum dos mais de 700 casos em do que aparece esta palavra. Nem uma vez chama imortal néfesh. Traduzir néfesh como vida está em harmonia com o que os tradutores da RVR fizeram nuns 150 casos. Um exemplo notável é I Reis 19: 4, quando Elias exclamou: Oh Iahweh, tira-me a vida Hebraico: néfesh. Aqui os tradutores empregaram corretamente a palavra vida [[32]].
PENOSO TRABALHO - Melhor, uma má ocupação ou uma tarefa detestável [[33]].
9 - Mais valem dois que um só, porque terão proveito do seu trabalho.
Melhor estão dois juntos que o solitário, pois melhor será o resultado do que fazem.
MAIS VALEM DOIS QUE UM SÓ - Dois obreiros ocupados num esforço cooperativo com freqüência podem obter um resultado melhor que uma pessoa só. O termo traduzido paga se usa com freqüência para servos. Gênesis 30: 28, 32, 33, para soldados Ezequiel 29: 18 e 19 e para o pagamento por aluguel de animais Zacarias 8: 10[34].
Laços de Comunidade - Melhor só, que mal acompanhado. É um adágio popular que expressa um mecanismo de proteção pessoal diante das condições de uma sociedade perversa. Sua intenção é preservar o indivíduo da gama de truculências e engodos a que está sujeita qualquer pessoa. Pode ser interpretado com sentido absoluto e também com sentido relativo. O sentido absoluto do rifão popular mencionado aconselha manifestar desconfiança de todos e estimula uma vida solitária. Mais ameno é o sentido relativo que adverte sobre a incidência de maldade por parte de más companhias, mas, além desse limite, há o estímulo para efetuar uma seleção de boas amizades.
Em geral, a solidão, não é uma opção de vida, mas manifestação externa de um trauma interno. Muitos solitários perambulam por ruas e estradas, sem objetivos para esta vida, pois sua mente anuviada reflete estados de autismo, paranóia, esquizofrenia ou qualquer outro distúrbio mental.
No contexto da criação, o autor do Gênesis revela a vontade do Criador ao formar o homem: Disse mais o Senhor Deus: não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea. Gênesis 2: 18. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra... Gênesis 1: 28. A interpretação desses textos não deixa dúvida nenhuma quanto ao relacionamento que deve existir entre os seres criados. Ali está esboçada a natureza do casamento; ali está fundamentada a constituição da família; ali estão estruturadas as bases da vida social do homem. Não a estruturação de uma sociedade que promova o egoísmo coletivo, através de práticas de eudomonismo, nem tampouco a ambição generalizada que concita à beligerância, mas, uma sociedade harmoniosa, cujos anseios sejam a prosperidade celestial.
Salomão exorta, em forma de provérbio, a cultivar a amizade fraterna, real, cujos fundamentos sejam a felicidade promovida pela comunhão com Deus: Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Eclesiastes 4: 9. A paga refere-se à retribuição como conseqüência da solidariedade. Lembremos que a palavra solidariedade tem a mesma raiz de solidez; ou seja, algo estável, inamovível, rígido.
Na prática da solidariedade, o princípio da solidez reside na retribuição efetuada, não por dois indivíduos, como esse termo sugere, mas por três, sendo Deus o terceiro. Esse sentido da retribuição se explica da seguinte maneira: uma pessoa realiza um ato de solidariedade; o beneficiário desse ato pode não ter condições de retribuir a deferência recebida; a sua retribuição é o ato de gratidão a Deus; então é Deus quem verdadeiramente retribui o ato inicial de solidariedade. Disse Jesus: Dirá o Rei aos que estiverem à Sua direita: Vinde benditos de Meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e Me destes de comer; tive sede, e Me destes de beber; era forasteiro e Me hospedastes; estava nu, e Me vestistes; enfermo, e Me visitastes; preso, e fostes ver-Me. Mateus 25: 34 a 36. Mais adiante, esclarece a razão dessa final e eterna retribuição: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes. Mateus 25: 40[35].
Ilustração: A ratoeira
Um rato, olhando pelo buraco na parede, vê o fazendeiro e sua esposa abrindo um pacote. Pensou logo no tipo de comida que poderia haver ali. Ao descobrir que era uma ratoeira ficou aterrorizado.
Correu ao pátio da fazenda advertindo a todos: Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa! A galinha, disse: Desculpe-me Sr. Rato, eu entendo que isso seja um grande problema para o senhor, mas não me prejudica em nada, não me incomoda. O rato foi até o porco e lhe disse: Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira! Desculpe-me Sr. Rato, disse o porco, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser rezar. Fique tranqüilo que o senhor será lembrado nas minhas preces. O rato dirigiu-se então à vaca. Ela lhe disse: O que Sr.Rato? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que não!
Então o rato voltou para a casa, cabisbaixo e abatido, para encarar sozinho a ratoeira do fazendeiro, pois ninguém quis ajudá-lo. Naquela noite ouviu-se um barulho, como o de uma ratoeira pegando sua vítima. A mulher do fazendeiro correu para ver o que havia pego. No escuro, ela não viu que a ratoeira havia pego a cauda de uma cobra venenosa. E a cobra picou a mulher...
O fazendeiro matou a cobra e levou imediatamente a esposa ao hospital. Lá não tinha o soro adequado. Ela voltou com febre. Todo mundo sabe que para alimentar alguém com febre, nada melhor que uma canja de galinha. O fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o ingrediente principal e com isso a galinha foi “seriamente prejudicada”.
Como a doença da mulher continuava, os amigos e vizinhos vieram visitá-la. Para alimentá-los o fazendeiro matou o porco e nada adiantaram suas preces. A mulher não melhorou e acabou morrendo.
Muita gente veio para o funeral. O fazendeiro então sacrificou a vaca que achava que não estava em perigo, para alimentar todo aquele povo. E o rato, que mostrou o dilema, foi o único a sair ileso da história, pois o fazendeiro jogou fora a ratoeira, achando que ela causara a morte da esposa.
Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de uma dificuldade e acreditar que ela não lhe diz respeito, lembre-se:
1) Em uma equipe, o problema de um é problema de todos.
2) Não pense que o problema do próximo não poderá atingi-lo, tenha cuidado e cautela!
3) Seja sempre solidário com os outros, como Deus é conosco.
Competição Inútil
Também vi eu que todo trabalho e toda destreza em obras provêm da inveja que o homem tem do seu próximo. Também isso é vaidade e desejo vão. Eclesiastes 4: 4.
João, conversando com um amigo, relata a experiência que teve na tarde daquele dia. Eu levei um tremendo susto quando estava parado em um sinal de trânsito. Bem ao meu lado estava um caminhão betoneira. De repente ele começou a andar vagarosamente para a frente, antes do sinal tornar-se verde. Quando eu notei aquele movimento, imediatamente pressionei os freios pensando que meu carro estava se movendo para trás. Eu fiquei bastante assustado. Eu devia ter mantido meus olhos à frente em vez de distrair-me olhando para meu vizinho.
Muitas vezes nós caímos no mesmo erro. Perdemos grandes oportunidades e grandes bênçãos porque deixamo-nos distrair olhando para o lado e não seguimos em frente. Preocupamo-nos com a vida alheia e deixamos de cuidar de nossa própria vida. No trabalho, queixamo-nos de pessoas que produzem menos do que nós, que têm menor capacidade ou que têm um salário maior que o nosso. Nos estudos murmuramos pela atenção demasiada que um professor dá a certo aluno e a indiferença com que nos trata. Na igreja questionamos a posição ocupada por algum irmão quando nos julgamos muito mais preparados do que ele.
Enquanto estivermos nos comparando a outras
pessoas, jamais estaremos satisfeitos e nunca seremos felizes. Para cada
comparação superada surgirão muitas outras a serem vencidas.
Viveremos em eterna competição. E de que servirá tudo isso? De nada! Coloquemos nossos sonhos diante de Deus e alegremo-nos por cada realização. Regozijemo-nos também pelas bênçãos de nossos amigos. Agindo assim, quer a conquista seja nossa ou do nosso próximo, sempre teremos motivos para comemorar e para sermos muito felizes[36].
10 - Porque se caem, um levanta o outro; mas o que será de alguém que cai sem ter um companheiro para levantá-lo?
Pois se cair um deles, seu companheiro o soerguerá; triste daquele, porém, que ao tropeçar não tem quem o possa socorrer.
CAEM - O verbo hebreu pode aplicar-se a uma queda física, à morte, a cair em poder de outro, ou a um fracasso numa empresa. Aqui é preferível este último significado, pois se refere às más circunstâncias que podem sobrevir a um, e ao socorro que pode prestar-lhe seu colega. As viagens na Antigüidade com freqüência estavam cheias de perigos, devido aos precários meios de transporte e aos ladrões. Dois podiam realizar uma viagem com segurança, mas um só poderia fracassar. A colaboração é valiosíssima, e o isolamento com freqüência é perigoso. Compare-se com o envio dos discípulos Lucas 10: 1. O companheirismo e o gozo mútuo numa empresa bem realizada são bênçãos muito dignas de ser vividas, Atos 13: 2; 14: 27[37].
11 - Se eles se deitam juntos, podem se aquecer; mas alguém sozinho como vai se aquecer?
Além disto, se dois se deitam juntos, aquecem-se um ao outro, mas como se aquecerá o que está solitário?
DEITAM JUNTOS - O verso 10 fala da ajuda e do sustento na dificuldade. Agora faz referência a comodidade. Salomão pensa no calor do dia seguido pelo frio da noite e na pobreza da gente comum cuja única roupa de cama com freqüência só consistia em sua roupa exterior, Êxodo 22: 26 e 27[38].
12 - Alguém sozinho é derrotado, dois conseguem resistir, e a corda tripla não se rompe facilmente.
Quando um pode ser sobrepujado, dois podem resistir a um ataque e, mais ainda, uma corda de três fios não pode ser rompida facilmente.
DOIS CONSEGUEM RESISTIR - Aqui se põem de relevo a bênção da ajuda e a proteção. A mesma verdade se expressa no ditado: A união faz a força[39].
A CORDA TRIPLA - Três cordões separados podem romper-se com certa facilidade, mas quando se retorce e converte numa só corda, é muito difícil rompê-los. Alguns comentaristas têm extrapolado ao explicar este verso. Pretenderam ver uma alusão à Trindade. Citam incidentes tais como o amor e companheirismo entre Lázaro e suas duas irmãs, Marta e Maria, e também a Cristo quando elegeu a três discípulos para que o acompanhassem ao horto de Getsêmani. Estas especulações e exegeses fantasiosas devem ser descartadas[40].
FACILMENTE - A imagem da corda tripla encontra-se, da mesma forma, num texto sumério do ciclo de Gilgamesh, ilustrando igualmente a vantagem de estar a dois, e não solitário[41].
DOIS CONSEGUEM RESISTIR - Existe um provérbio popular que diz: Antes só do que mal acompanhado. Outra frase popular diz: Quanto mais conheço os humanos mais amo meu cachorro. O sábio discorda destes conceitos, primeiro mostra a inconveniência da solidão. Observo ainda outra vaidade debaixo do sol: alguém sozinho, sem companheiro, sem filho ou irmão; todo o seu trabalho não tem fim, e seus olhos não se saciam de riquezas. 4: 8 e mostra a vantagem de não estar só.
A ausência do outro é que faz com que nossa vida seja fútil. Com ausência do outro nos concentramos em coisas inanimadas, só vemos coisas, e os olhos não se saciam de riquezas. E concentramos em nós mesmos, e nos privamos do bem hebraico: tov da Criação. Esta situação o sábio considera má hebraico: ra, o oposto de bom hebraico: tov é a anticriação hebraico: hébel. O egoísmo leva a uma existência desumana. Estando só perdemos o sentido de quem somos. Em Gênesis 2 a história da criação sugere uma lição vital. Quando todos os animais passaram diante de Adão, o texto bíblico nos diz que Adão lhes deu um nome. A Bíblia não menciona que Adão falou ao dar nomes aos animais. E Deus disse: Disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só. Gênesis 2: 18.
A primeira vez que a Bíblia menciona que Adão falou foi quando Deus lhe apresentou Eva. E disse o homem: Esta é afinal, osso dos meus ossos e carne de minha carne; chamar-se-á varoa, porque do varão foi tomada. Gênesis 2: 23. Antes desta apresentação Adão não podia saber quem ele era não havia referência a não ser os animais. Adão falou de ossos e carne quando Eva foi apresentada. O solitário não pergunta Para quem trabalho e me privo da felicidade? 4: 8, está concentrado no trabalho que se esquece do ser.
O ser se identifica com o bom, hebraico: tov. A palavra tov repete-se duas vezes no verso introdutório 4: 9 a existência de dois contrapõe a existência do solitário 4: 8 a frase tem hebraico: yesh porque terão proveito do seu trabalho 4: 9 se opõem a frase nunca, hebraico: eyn cessa de trabalhar 4: 8. O sábio menciona três situações adversas que se dão para apoiar o argumento de melhores são dois do que um.
1. Quando tropeçamos: Porque se caem, um levanta o outro; mas o que será de alguém que cai sem ter um companheiro para levantá-lo? 4: 10;
2. Quando temos frio: Se eles se deitam juntos, podem se aquecer; mas alguém sozinho como vai se aquecer? 4: 11.
3. Quando pelejamos: Alguém sozinho é derrotado, dois conseguem resistir, e a corda tripla não se rompe facilmente. 4: 12.
Eclesiastes não refere ao valor da amizade, ao amor para fortalecer o pensamento. Não se envergonha com emoções e princípios abstratos. Seu foco é a vida. O sábio fala em termos gerais, e estas situações podem ser aplicadas nas diversas situações da vida.
O poema termina com um provérbio: a corda tripla não se rompe facilmente. Mencionar três no lugar de dois foi intencional. Quando somos dois nos animamos a nós mesmos e nossas forças se multiplicam, de modo que nos sentimos como três. Do casal pode-se gerar um terceiro, um(a) filho(a), um amigo do amigo, porque o amigo do amigo também é meu amigo.
O homem é um ser sociável. A palavra homem hebraico: ishi em Gênesis 2 implica numa dimensão social. A aliança de Deus com um homem implica um pacto de salvação com a comunidade. Abraão e Jacó receberam promessas para sua descendência, o povo de Israel, e Deus se revelou no Sinai para o povo. No Novo Testamento Ele chama de Ekklésia, a igreja como parte de Seu pacto. No judaísmo a comunidade é um pré-requisito para a adoração. A salvação é um ato de paz e justiça de Deus para a comunidade. A nova Jerusalém é uma cidade Apocalipse 21: 2 preparada para receber os filhos de Deus, somos salvos dentro da comunidade e não a parte dela, a salvação tem um caráter cósmico.
Nenhum homem é uma ilha, como diz o poeta John Donne, também a religião não é uma ilha, segundo disse Abraham Heschel como um eco. Por isso a missão é tão importante e implica numa ação coerente. Na perspectiva bíblica, a revelação é uma caminhada com Deus e não pode avançar só.
De mãos dadas com o outro, unidos na comunidade é um passo subseqüente ao compromisso religioso. Esta mensagem não ecoa facilmente hoje, em nossa civilização centrada no indivíduo que desconfia da comunidade, sobretudo a religião. Apesar de todas as reservas, os que são justificados possuem uma necessidade vital do relacionamento em comunidade. Esta verdade pode ser verificada em cada nível psicológico, fisiológico, sociológico, histórico e espiritual. É um assunto de sobrevivência, é o único modo de nos livrarmos da vaidade[42].
13 - Mais vale um jovem pobre e sábio do que um rei velho e insensato que não aceita mais conselho.
Mais valor tem um jovem pobre porém sábio, que um rei idoso porém tolo, que não sabe receber uma admoestação.
MAIS VALE UM JOVEM - Jovem ou adolescente. O vocábulo hebraico se usa para referir-se a José aos 17 anos de idade Gênesis 37: 30; em muitas passagens se traduzem jovens. I Reis 12: 8, 10 e 14; II Crônicas 10: 8, 10 e 14[43].
Esse versículo apresenta como opostos jovem/velho, pobre/rei, sábio/tolo. De acordo com o exegeta Ibn-Ezra, o termo jovem/sábio deve ser compreendido aqui como se referindo a alguém que tem a mente aberta, mesmo que lhe falte experiência de vida, e que é suscetível a um conselho sábio em contraste com o velho rei, que embora tenha experiência de vida, não é capaz de relacionar as observações que já teve oportunidade de fazer com as situações que vivencia, devido a sua tolice. O Midrash interpreta este versículo de outra forma. O jovem pobre, porém sábio seria o Ietser Hatov, inclinação para o bem, que surge aos 13 anos quando cada judeu passa a ser responsável por seus atos. É comparado ao pobre porque muitos não querem escuta-lo, e ao sábio, porque ensina o caminho certo. Já o rei, velho e tolo seria o Ietser Harã, inclinação para o mal, porque a maioria das pessoas faz questão de escutar ao rei; a um velho, porque se apega ao ser humano desde a tenra idade e envelhece com ele, e finalmente ao tolo, porque ensina os caminhos do mal[44].
POBRE E SÁBIO DO QUE UM REI VELHO E INSENSATO - O quarto outro não vê como uma pessoa física. O primeiro tinha lágrimas, o segundo as mãos cruzadas e o terceiro olhos. O quarto é classificado como um jovem pobre, porém sábio, e um ancião, rei, porém néscio.
Esta situação se adequou à situação histórica de Salomão. O sucessor do rei corresponde a Jeroboão, cuja mãe era viúva I Reis 11: 28, presumidamente pobre. Era jovem e notável por suas habilidades I Reis 11: 28 era conhecido por sua rebelião contra o rei o que o obrigou a fugir para o Egito I Reis 11: 40. Voltou do cativeiro após a morte de Salomão para ser rei sobre as 10 tribos I Reis 11: 35. O rei da parábola é Salomão, que se desviou dos caminhos de Deus I Reis 9: 4 a 8 o próprio Salomão se define como insensato 1: 17; 2: 3; 9 e 10. Esta confissão demonstra que se arrependeu e havia assimilado as lições em sua vida. O final da parábola é triste: e ele permanece frente a uma multidão sem fim. Porém aqueles que vêm depois não se alegrarão com ele, porque isso também é vaidade e procura do vento. 4: 16. São apropriados a Jeroboão que foi para as gerações seguintes um símbolo de pecado contra Deus e seu povo I Reis 15: 34; 16: 2; 19 e 26; 22: 52 e 53.
O futuro é a melhor prova de tudo, os resultados no final do caminho dirão se nossas escolhas foram fúteis ou não. Esta é a perspectiva de Eclesiastes ao afrontar as lágrimas dos oprimidos, as mãos cruzadas do insensato, o homem solitário e o jovem que toma o trono. Todos estes quadros são provados e definidos como vaidade a luz do futuro.
Ensina uma lição de esperança, no capítulo 3 à lição da esperança era uma faísca da eternidade, com pequenos momentos de gozo, no qual antecipamos a alegria do Reino futuro, aprendemos a esperar. Na lição do capítulo 4 a lição da esperança é confronta negativamente com a maldade, a opressão, a inveja, o egoísmo e o fracasso. Aprendemos a discernir a vaidade da vida presente e sentir a necessidade de outro reino. A esperança surge da combinação de ambas as lições, do bem e do mal. O bem nos dá sentido a algo mais e o mal desperta em nós a necessidade de algo mais[45].
NÃO ACEITA CONSELHOS - De uma raiz que significa advertir, alumiar, aconselhar, admoestar. O rei em sua velhice tinha voltado renitente e obstinado em seu procedimento. Recusava todo conselho; tinha-se tornado perigoso para si mesmo, para seu povo e para seu reino[46].
14 - Mesmo que ele tenha saído da prisão para reinar e mesmo que tenha nascido mendigo no reino,
Aquele saiu da prisão para se tornar rei e, mesmo durante seu reinado, manteve sua humildade.
SAÍDO DA PRISÃO - Da casa dos presos. Figuradamente, do poder da opressão. O significado é que um jovem pode vencer as desvantagens que enfrenta e, se o que deseja lhe é submisso, pode atingir sucesso em sua vida. Até poderia ocupar os postos mais elevados do país I Reis 11: 26 a 28 [47].
MENDIGO - Um rei defeituoso de sabedoria, que não se preocupe pelo bem-estar de seus súditos, pode até ser deposto, sofrer grandes penalidades e até perder a vida[48].
15 - Vejo todos os viventes que se movem debaixo do sol ficarem com o jovem que sucedeu ao outro,
Vi todos que vivem sob o sol se aglomerarem sob o jovem que sucederá o rei.
JOVEM QUE SUCEDEU - Salomão idoso profetiza a respeito de Jeroboão que reinou as 10 tribos que se rebelaram após seu filho Roboão ter seguido o conselho dos jovens prometendo opressão maior que seu pai.
Este verso poderia referir-se ao entusiasmo que acompanha à ascensão do novo governante que ocupa o lugar do que foi deposto[49].
OUTRO - Ou simplesmente: o sucessor; literal: aquele que se assenta no lugar do outro[50].
16 - e ele permanece frente a uma multidão sem fim. Porém aqueles que vêm depois não se alegrarão com ele, porque isso também é vaidade e procura do vento.
Incontáveis são os que antecederam, mas o que o sucederem, não se regozijarão com ele. Como isto é vão e frustrante.
SEM FIM - Continua a descrição do entusiasmo da multidão mencionada no verso 15. Isto é confirmado no hebraico na frase seguinte, que pode compreender-se melhor desta maneira: Também todos aqueles sobre os quais foi dirigente.
DEPOIS NÃO SE ALEGRARÃO COM ELE - Também não estarão contentes com ele. A aclamação pública de hoje pode converter-se na condenação pública de manhã. José no Egito ilustra a futilidade do apreço do mundo Êxodo 1: 8[51].
17 - Cuida de teus passos quando vais à Casa de Deus: aproximar-se para ouvir vale mais que o sacrifício oferecido pelos insensatos, mas eles não sabem que fazem o mal.
Guarda teu pé quando te dirigires à Casa do Eterno e prontifica-te mais para obedecer que para oferecer sacrifícios, como os tolos que não compreendem, e não sabem que estão a praticar o mal.
ILUSTRAÇÕES
ENTREVISTA COM DEUS
Entre, disse Deus. Então, você gostaria de Me entrevistar? Se o Senhor tiver tempo, respondi. Deus sorriu e disse: Meu tempo é a eternidade e é suficiente para qualquer coisa. Que perguntas têm em mente para me fazer? O que mais O surpreende a respeito dos homens? Deus respondeu:
Que eles se chateiam em ser crianças, tem pressa de crescer, e então desejam ser crianças novamente. Que eles perdem sua saúde para ganhar dinheiro e então gastam o dinheiro para recuperar a saúde. Que por pensarem ansiosamente sobre o futuro, eles esquecem o presente, de modo que não vivem nem o presente nem o futuro. Que vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido...
As mãos de Deus pegaram as minhas e ficamos em silêncio por um instante e então perguntei... Como Pai, que lições de vida quer que seus filhos venham a aprender? Deus respondeu com um sorriso: Aprender que eles não podem fazer ninguém amá-los. O que eles podem fazer é permitir que sejam amados. Aprender que o mais valioso não é o que eles têm em suas vidas, mas quem eles têm em suas vidas. Aprender que não é bom se comparar a outros. Todos serão julgados individualmente por seus próprios méritos. Aprender que uma pessoa rica não é a que tem mais, mas a que precisa de menos. Aprender que são necessários poucos segundos para abrir feridas profundas em pessoas que amamos, e pode levar anos para curá-las. Aprender a perdoar, exercitando o perdão. Aprender que há pessoas que o amam sinceramente, mas simplesmente não sabem expressar ou mostrar seus sentimentos. Aprender que o dinheiro compra qualquer coisa, menos a felicidade. Aprender que duas pessoas podem olhar para a mesma coisa e vê-la completamente diferente. Aprender que nem sempre é suficiente ser perdoado pelos outros, mas perdoar a si mesmos. Sentei por um tempo, saboreando o momento. Agradeci a Ele pelo tempo dispensado e por tudo que Ele me proporcionou. E Ele respondeu: Estou aqui, 24 horas por dia. As pessoas esquecem o que você diz. As pessoas esquecem o que você faz. Mas elas nunca esquecem o que você as fez sentir...
APRENDI
Aprendi: Que a melhor escola do mundo está nos pés dos mais velhos. Que quando se está apaixonado não dá para esconder. Que se apenas uma pessoa me disser: Você me fez ganhar o dia! O meu dia está ganho.
Aprendi que ter uma criança adormecendo em meus braços é uma das maiores sensações de paz do mundo. Que ser generoso é mais importante do que estar certo. Que nunca se deve dizer não ao presente de uma criança.
Aprendi que eu sempre posso orar por uma pessoa quando não tenho condições de ajudá-la de outra forma. Que não importa quão séria a vida me obrigue ser, todo mundo precisa de um amigo para brincar. Que às vezes tudo que uma pessoa precisa é uma mão para segurar e um coração para entendê-la.
Aprendi que umas simples voltas no quarteirão com meu pai, nas noites quentes de verão, quando eu era criança fez maravilhas em mim quando fiquei adulto. Que devemos estar contentes por Deus por não nos ter dado tudo que pedimos. Que o dinheiro não compra a elegância. Que são aqueles pequenos acontecimentos diários que fazem à vida tão espetacular.
Aprendi que debaixo de uma couraça tem sempre alguém precisando de reconhecimento e amor. Que Deus não fez tudo em um dia. O que me faz achar que eu posso? Que ignorar os fatos não muda a importância deles. Que quando se quer ficar quites com alguém, apenas estamos deixando que a pessoa nos fira de novo. Que o amor, e não o tempo, cura todas as feridas.
Aprendi que o jeito mais fácil de crescer como pessoa é me cercar de pessoas melhores que eu. Que todas as pessoas que encontramos merecem ser recebidas com um sorriso. Que não há nada mais doce do que dormir com os filhos e sentir a respiração deles no rosto.
Aprendi que ninguém é perfeito até que eu me apaixone. Que a vida é dura, mas que eu sou mais duro. Que as oportunidades não se perdem; alguém vai pegar as que eu perdi. Que quando se cultivam tristezas, a felicidade vai bater noutro lugar. Que eu gostaria de ter dito mais uma vez a meu pai que eu o amo antes dele morrer. Que se deve usar palavras suaves e macias porque, talvez amanhã, tenhamos que engoli-las.
Aprendi que um sorriso é a forma mais barata para se melhorar o visual. Que não posso escolher como me sinto, mas que posso escolher como reagir a isto. Que quando seu bebê segura forte seu dedo mindinho, é que você foi fisgado para a vida toda.
Aprendi que todo mundo quer viver no topo da montanha, mas a felicidade e o crescimento estão na escalada. Que é melhor dar conselho: quando for pedido e quando for uma questão de vida ou morte. Que quanto menos tempo eu gastar fazendo uma coisa, mais coisas eu faço.
O PROFESSOR
Um professor, diante de sua classe de filosofia, sem dizer uma só palavra pegou um pote de vidro, grande e vazio, e começou a enchê-lo com bolas de golfe. Em seguida, perguntou aos seus alunos se o frasco estava cheio e, imediatamente, todos disseram que sim.
O professor, então, pegou uma caixa de bolas de gude e a esvaziou dentro do pote. As bolas de gude encheram todos os vazios entre as bolas de golfe.
O professor voltou a perguntar se o frasco estava cheio e voltou a ouvir de seus alunos que sim. Em seguida, pegou uma caixa de areia e a esvaziou dentro do pote. A areia preencheu os espaços vazios que ainda restava-me ele perguntou novamente aos alunos, que responderam que o pote agora estava cheio.
O professor pegou um copo de café líquido e o derramou sobre o pote umedecendo a areia.
Os estudantes riram da situação, quando o professor falou: Quero que entendam que o pote de vidro representa nossas vidas. As bolas de golfe são os elementos mais importantes, como Deus, a família e os amigos. São com as quais nossas vidas estariam cheias e repletas de felicidade. As bolas de gude são as outras coisas que importam: o trabalho, a casa bonita, o carro novo, etc.
A areia representa todas as pequenas coisas. Mas se tivéssemos colocado a areia em primeiro lugar no frasco, não haveria espaço para as bolas de golfe e para as de gude. O mesmo ocorre em nossas vidas. Se gastarmos todo nosso tempo e energia com as pequenas coisas nunca teremos lugar para as coisas realmente importantes. Prestem atenção nas coisas que são primordiais para a sua felicidade.
Brinquem com seus filhos, saiam para se divertir com a família e com os amigos, dediquem um pouco de tempo a vocês mesmos, busquem a Deus e creiam nele, busquem o conhecimento, estudem, pratiquem seu esporte favorito...
Sempre haverá tempo para as outras coisas, mas ocupem-se das bolas de golfe em primeiro lugar. O resto é apenas areia.
Um aluno se levantou e perguntou o que representava o café. O professor respondeu: Que bom que me fizestes esta pergunta, pois o café serve apenas para demonstrar que não importa quão ocupada esteja nossa vida, sempre haverá lugar para tomar um café com um amigo.
A MENSAGEM DE TOMMY
John Powell, S.J., professor da Loyola University de Chicago, escreve a respeito de um aluno de uma turma sua de Teologia da Fé, chamado Tommy.
Há cerca de doze anos atrás, eu estava em pé, dentro da classe, esperando enquanto meus alunos entravam para nossa primeira aula de Teologia da Fé.
Aquele foi o primeiro dia em que vi Tommy. Tanto meus olhos quanto a minha mente piscaram ao vê-lo. Ele estava penteando seus cabelos longos e muito louros que batiam uns vinte centímetros abaixo dos ombros.
Aquela era a primeira vez em que eu via um rapaz com cabelos tão longos. Acho que estavam começando a entrar na moda.
Dentro de mim, eu sei que o que conta não é o que vai sobre a cabeça, mas o que vai dentro dela, mas naquele dia eu estava despreparado e minhas emoções me confundiram.
Imediatamente classifiquei Tommy com um "E" de estranho... Muito estranho. Tommy acabou se revelando o ateísta de plantão do meu curso de Teologia da Fé.
Constantemente, ele fazia objeções, fazia troça ou gemia contra a possibilidade de existir um Deus-Pai que nos amasse incondicionalmente.
Convivemos em relativa paz um com o outro por um semestre, embora eu tenha que admitir que às vezes ele fosse um estorvo às minhas costas.
Quando ao fim do curso, ele se aproximou para entregar seu exame final, ele me perguntou num tom ligeiramente cínico: O senhor acredita que eu possa encontrar Deus algum dia? Imediatamente eu me decidi por uma terapia de choque. Não! Respondi enfaticamente.
Ah! Ele respondeu, eu pensei que este fosse o produto que o senhor estava tentando nos impingir. Eu deixei que ele desse uns cinco passos fora da sala quando gritei para ele: Tommy, eu não acredito que você consiga encontrar Deus, mas tenho absoluta certeza de que Ele o encontrará. Ele deu de ombros e saiu da minha sala e da minha vida.
Eu fiquei ligeiramente desapontado diante da idéia de que ele não tivesse escutado minha frase tão inteligente: Ele o encontrará! Pelo menos eu achei que era inteligente...
Mais tarde eu vim saber que Tommy tinha se formado e eu fiquei especialmente aliviado; depois, uma notícia triste: eu soube que Tommy estava com um câncer terminal.
Antes que eu pudesse ir à sua procura, ele veio me ver. Quando ele entrou no meu escritório, reparei que seu físico tinha sido devastado pela doença e que os cabelos longos tinham caídos todos como resultado da quimioterapia.
Mas os seus olhos estavam brilhantes e a sua voz estava firme, pela primeira vez na vida, acredito eu. Tommy, tenho pensado tanto em você! Ouvi dizer que você estava doente! Disparei.
Ah, é verdade, estou muito doente. Tenho câncer em ambos os pulmões. É uma questão de semanas agora. Você consegue conversar a respeito disso, Tommy? Claro, o que o senhor gostaria de saber?
Como é ter apenas vinte e quatro anos e estar morrendo? Acho que poderia ser pior. De que maneira? Bem, assim como ter cinqüenta anos e não ter noção de valores ou ideais, assim como ter cinqüenta anos e pensar que bebida, mulheres e dinheiro são as coisas verdadeiramente importantes na vida.
Comecei a procurar através do meu arquivo mental a letra "E" onde eu havia classificado Tommy como estranho. Parece que todas as pessoas que tento rejeitar na vida com estas minhas classificações, Deus as manda de volta como que para me ensinar uma lição.
Mas a razão pela qual eu realmente vim vê-lo, disse Tommy, foi a frase que o senhor me disse no último dia de aula. Ele se lembrava! Tom continuou. Eu lhe perguntei se o senhor acreditava que eu encontraria Deus algum dia e o senhor respondeu, Não! o que me surpreendeu. Em seguida, o senhor disse, mas Ele o encontrará.
Eu pensei um bocado a respeito daquela frase, embora naquela época eu não pensasse muito em procurar por Deus. Minha frase inteligente. Ele tinha pensado muito a respeito! Mas quando os médicos removeram um nódulo da minha virilha e me disseram que era um tumor maligno, aí encarei com mais seriedade a procura de Deus.
E quando a doença espalhou-se pelos meus órgãos vitais, eu comecei, realmente, a dar murros desesperados nas portas de bronze do paraíso.
Mas Deus não apareceu. De fato, nada aconteceu. O senhor já tentou fazer alguma coisa por um longo período de tempo, sem sucesso? A pessoa fica psicologicamente saturada, cansada de tentar. E então, desiste.
Um dia, eu acordei e em vez de atirar mais alguns apelos por cima de um muro alto de tijolos, atrás de onde Deus poderia ou não estar, eu desisti simplesmente. Eu decidi que de fato não estava me importando... com Deus, com uma vida eterna ou qualquer coisa parecida. E decidi gastar o tempo que me restava fazendo alguma coisa mais proveitosa.
Eu pensei no senhor e nas suas aulas e eu me lembrei de outra coisa que o senhor tinha dito: A tristeza mais profunda, essencial, é passar pela vida sem amar. Mas seria quase tão triste passar pela vida e deixar este mundo sem jamais ter dito às pessoas que você as amou, que você as tinha amado.
Então comecei logo pela pessoa mais difícil: meu Pai. Ele estava lendo o jornal quando me aproximei dele e disse: Papai. Sim, o quê? Ele perguntou sem baixar o jornal. Papai, eu gostaria de conversar com você. 'Então converse, vamos, fale logo. É um assunto muito importante papai! O jornal desceu alguns centímetros vagarosos. O que é, diga logo? Papai, eu te amo. Eu só queria que você soubesse disso.
Sorrindo para mim, Tommy disse com uma satisfação evidente, como se ele sentisse uma alegria quente e secreta fluindo dentro dele. O jornal escorregou para o chão e o meu pai fez duas coisas que eu não me lembro de tê-lo visto fazer jamais na vida:
Ele chorou e me abraçou demoradamente. E conversamos durante toda a noite, embora ele tivesse que ir trabalhar na manhã seguinte. Foi tão bom poder me sentir junto do meu pai, ver e sentir as suas lágrimas fluírem pelo seu rosto, sentir o seu abraço apertado, ouvi-lo dizer que me amava. Foi mais fácil com a minha mãe e com o meu irmão mais novo. Eles choraram comigo também e nós nos abraçamos e começamos a falar coisas realmente boas uns para os outros.
Falamos sobre as coisas que tínhamos mantido segredo por tantos anos. Eu só lamentei uma coisa: que eu tivesse esperado tanto tempo. Naquele momento, eu estava apenas começando a me abrir com todas as pessoas com as quais eu me sentia ligado.
Então, um dia, eu me voltei e lá estava Deus. Ele não veio ao meu encontro quando eu Lhe implorei. Eu acho que eu tinha agido como um domador de animais que segurando um aro, diz: Vamos, pule! Eu lhe dou três dias... três semanas.
Aparentemente Deus age a Seu modo e a Seu tempo. Mas o que é importante é que Ele estava lá. Ele me encontrou. O senhor estava certo. Ele me encontrou, mesmo depois de eu ter parado de procurar por Ele. Tommy, eu disse quase soluçando, eu acho que o que você está dizendo é alguma coisa muito mais importante e muito mais universal do que você pode imaginar. Para mim, pelo menos, você está dizendo que a maneira mais certa de se encontrar Deus, não é fazer Dele um bem pessoal, uma solução para os próprios problemas ou um consolo instantâneo em tempos difíceis, mas, sim, tornando-se disponível para o amor.
O apóstolo João disse isto: Deus é Amor e aquele que vive no amor vive com Deus e Deus vive com ele.
Tom, posso lhe pedir um favor? Você sabe que quando você foi meu aluno, você me deu muito trabalho. Mas (aos risos), agora você pode me recompensar por tudo aquilo. Você viria a minha aula de Teologia da Fé e contaria aos meus alunos o que você acabou de me contar?
Se eu lhes contasse a mesma história, não calaria tão fundo neles. Oh... eu estava preparado para vir vê-lo, mas não sei se estou preparado para enfrentar seus alunos.
Tommy, pense nisto. Se você se sentir preparado, telefone para mim. Alguns dias mais tarde, Tom telefonou e disse que falaria para a minha turma, que ele queria fazer aquilo por Deus e por mim. Então marcamos uma data. Mas, ele não pode vir. Ele tinha um outro encontro, muito mais importante do que aquele com a minha turma e comigo.
É claro, que sua vida não terminou realmente com a sua morte, apenas se transformou. Ele tinha dado o grande passo da fé para a visão. Ele foi ao encontro de uma vida muito mais bonita do que os olhos humanos jamais viram ou que os ouvidos humanos jamais ouviram ou que a mente humana jamais imaginou: Ressurreição.
Antes de morrer, ainda conversamos uma vez. Não vou ter condições de falar com sua turma, ele disse. Eu sei Tom. O senhor falaria com eles por mim? O senhor falaria... Com todo mundo por mim? Vou falar Tom. Vou falar com todo mundo. Vou fazer o melhor que puder.
Portanto, a todos vocês que foram tão bons e pacientes em escutar esta declaração de amor tão singela, obrigado por fazê-lo. E a você, Tommy, onde quer que você esteja nas colinas verdejantes e ensolaradas do paraíso: eu falei com todo mundo... Do melhor modo que eu consegui.
E se esta história significa alguma coisa para você... Os amigos são o meio pelo qual Deus cuida de nós[52].
LEITURA ADICIONAL
Responsabilidade Individual e Unidade Cristã
Deus está guiando um povo do mundo para a exaltada plataforma da verdade eterna, os mandamentos de Deus e a fé de Jesus. Disciplinará e habilitará Seu povo. Eles não estarão em divergência, um crendo uma coisa e outro tendo fé e opiniões inteiramente opostas, e movendo-se cada qual independentemente do conjunto. Pela diversidade dos dons e governos que Ele pôs em Sua igreja, todos alcançarão à unidade da fé. Se alguém forma seu próprio conceito no tocante à verdade bíblica, sem atender à opinião de seus irmãos, e justifica seu procedimento alegando que tem o direito de pensar livremente, impondo suas idéias então aos outros, como poderá cumprir a oração de Cristo? E se outro e outro ainda se levantam cada qual afirmando seu direito de crer e falar o que lhe aprouver, sem atentar para a fé comum, onde estará aquela concórdia que existia entre Cristo e Seu Pai, e para cuja existência, entre Seus irmãos, Cristo orou?
Posto que tenhamos uma obra individual, e individual responsabilidade perante Deus, não devemos seguir nosso próprio critério independentemente, sem tomar em consideração as opiniões e sentimentos de nossos irmãos; pois tal proceder acarretaria a desordem na igreja. É dever dos pastores respeitarem o discernimento de seus irmãos; mas suas relações mútuas, assim como as doutrinas que ensinam, deveriam ser submetidas à prova da lei e do testemunho; se, então, os corações forem dóceis, não haverá divisão entre nós. Alguns se inclinam a ser desordenados, e apartam-se dos grandes marcos da fé; mas Deus está atuando em Seus pastores para que sejam um na doutrina e no espírito.
É necessário que nossa unidade hoje seja de caráter tal que resista à prova... Temos muitas lições para aprender e muitíssimas para desaprender. Tão-somente Deus e o Céu são infalíveis. Quem acha que nunca terá de abandonar uma opinião formada, e nunca terá ocasião de mudar de critério, será decepcionado. Enquanto nos apegarmos obstinadamente às nossas próprias idéias e opiniões, não poderemos ter a unidade pela qual Cristo orou[53].
A Necessidade da Igreja
Enquanto o mundo necessita de simpatia, orações e assistência do povo de Deus, enquanto precisa ver a Cristo na vida de Seus seguidores, o povo de Deus se acha em igual necessidade de exercer simpatia, de dar eficácia a suas orações e desenvolver um caráter segundo o modelo divino.
É para proporcionar essas oportunidades que Deus colocou entre nós os pobres, os desafortunados, os doentes e sofredores. É o legado de Cristo a Sua igreja, e devem ser cuidados como Ele o faria. Assim tira Deus a escória e purifica o ouro, dando-nos aquela cultura de coração e de caráter que nos é necessária.
O Senhor poderia levar avante Sua obra sem nossa cooperação. Não depende de nós quanto a dinheiro, tempo ou trabalho. Mas a igreja é muito preciosa a Seus olhos. É o tesouro que encerra Suas jóias, o redil que Lhe abriga as ovelhas, e anela vê-Ia sem mácula nem ruga ou coisa semelhante. Anseia por ela com inexprimível amor. Eis porque nos tem dado oportunidades de trabalhar para Ele, e nos aceita os serviços como testemunhos de amor e lealdade.
Ao colocar os pobres e sofredores entre nós, o Senhor nos está provando a fim de nos revelar o que está em nosso coração. Não podemos, sem incorrer em risco, esquivar-nos dos princípios. Não podemos violar a justiça, não podemos negligenciar a misericórdia. Ao vermos um irmão em decadência, não devemos passar de largo, mas fazer decididos e imediatos esforços para cumprir a Palavra de Deus, ajudando-o. Não podemos trabalhar em contrário às especiais direções de Deus, sem que o resultado de nossa obra se reflita sobre nós.
Importa que fique firmemente determinado, arraigado e cimentado na consciência que não nos será benéficos qualquer coisa, em nossa conduta, que desonre a Deus.
Deve ser escrito na consciência, como com pena de ferro sobre a rocha, que aquele que despreza a misericórdia, a compaixão e a justiça, o que negligencia o pobre, que passa por alto as necessidades da humanidade sofredora, que não é bondoso e cortês, está-se conduzindo de maneira que Deus não pode cooperar com ele no desenvolvimento do caráter. O cultivo do espírito e do coração ocorre mais facilmente quando sentimos tão terna compaixão pelos outros, que oferecemos nossos benefícios e privilégios a fim de suprir-lhes as necessidades. Adquirir e segurar tudo quanto nos é possível para nós mesmos, tende a empobrecer a alma. Mas todos os atributos de Cristo aguardam a recepção dos que fazem a própria obra que Deus lhes designou, trabalhando à maneira de Cristo.
Nosso Redentor envia Seus mensageiros a darem testemunho perante Seu povo. Ele diz: Eis que estou à porta, e bato: se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo. Apocalipse 3: 20. Muitos, porém, recusam recebê-lo. O Espírito Santo espera abrandar e submeter o coração; porém, eles não estão dispostos a abrir a porta e deixar o Salvador entrar, por temor de que Ele lhes exija alguma coisa. E, assim, Jesus de Nazaré passa. Anseia conceder-lhes as ricas bênçãos de Sua graça, mas recusam aceitá-las. Que terrível coisa é excluir a Cristo de Seu próprio templo! Que prejuízo para a igreja!
As boas obras nos custam sacrifícios, mas é no próprio sacrifício que elas provêem a disciplina. Essas obrigações nos põem em conflito com os sentimentos e propensões naturais, e ao cumpri-las obtemos vitória após vitória sobre os traços indesejáveis de nosso caráter. A luta prossegue, e assim crescemos na graça. Assim refletimos a imagem de Cristo, e nos preparamos para um lugar entre os bem-aventurados no reino de Deus.
Aos que transmitem aos necessitados o que recebem do Mestre, acompanharão bênçãos, tanto temporais, como espirituais. Jesus operou um milagre a fim de alimentar os cinco mil, uma multidão fatigada e faminta. Procurou um lugar aprazível para acomodá-los, e mandou-os sentar. Tomou, então, os cinco pães e os dois peixinhos. Sem dúvida, foram feitas muitas observações quanto à impossibilidade de satisfazer cinco mil homens famintos, além de mulheres e crianças, com aquela escassa provisão. Mas Jesus deu graças, e pôs a comida nas mãos dos discípulos para ser distribuída. Eles deram à multidão a comida que lhes aumentava nas mãos. E quando ela havia comido, os próprios discípulos sentaram-se e comeram com Cristo da provisão fornecida pelo Céu. Essa é uma preciosa lição para cada seguidor de Cristo.
A religião pura e imaculada é visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo. Tiago 1: 27. Os membros de nossa igreja acham-se em grande necessidade de conhecimento da piedade prática. Precisam praticar a abnegação e o sacrifício. Precisam dar provas ao mundo de que se assemelham a Cristo. Portanto, a obra que Cristo exige deles não é para ser feita por procuração, colocando em alguma comissão ou instituição o encargo que eles próprios devem assumir. Cumpre-lhes tomar-se semelhantes a Cristo no caráter, mediante o dar de seus meios e tempo, sua simpatia e esforço pessoal, o ajudar o enfermo, o confortar o contristado, aliviar o pobre, animar o abatido, esclarecer as almas em trevas, encaminhar os pecadores a Cristo, impressionar os corações com a obrigação de observar a lei de Deus.
O povo está observando e pesando os que pretendem crer nas verdades especiais para este tempo. Está observando a ver em que sua vida e conduta representam a Cristo. Empenhando-se humilde e zelosamente na obra de fazer bem a todos. O povo de Deus exercerá uma influência que testificará em toda vila e cidade em que a verdade penetrar. Se todos quantos conhecem a verdade se apoderarem dessa obra segundo se apresentarem as oportunidades, praticando dia adia pequenos atos de amor na vizinhança do lugar em que moram, Cristo será manifesto aos seus vizinhos. O evangelho revelar-se-á um poder vivo, e não fábulas artificialmente compostas ou ociosas especulações. Revelar-se-á como realidade, não como resultado da imaginação ou do entusiasmo. Isso será de mais conseqüência do que sermões ou exposições doutrinárias.
Satanás está jogando com toda alma a partida da vida. Sabe que a simpatia prática é uma prova de pureza e desprendimento do coração, e fará todo esforço possível para fechar-nos o coração às necessidades dos outros, para que fiquemos afinal impassíveis diante do sofrimento. Ele introduzirá muitas coisas a fim de impedir a expressão de amor e simpatia. Foi assim que ele arruinou Judas. Este cuidava continuamente de beneficiar-se a si mesmo. Nisso representa vasta classe de professos cristãos de hoje. Precisamos, portanto, refletir sobre seu caso. Achamo-nos tão perto de Cristo como ele estava. Todavia, como aconteceu com Judas, a associação com Cristo não nos torna um com Ele, se isso não cultiva em nosso coração sincera simpatia por aquele por quem Cristo deu a vida, encontramo-nos no mesmo perigo em que estava Judas de ficar separados de Cristo, joguetes das tentações de Satanás.
Cumpre-nos guardar-nos do primeiro desvio da justiça; pois uma transgressão, uma negligência em manifestar o espírito de Cristo, abre caminho para outra e outra ainda, até que a mente é dominada pelos princípios do inimigo. Caso seja cultivado, o espírito de egoísmo se toma uma paixão devoradora, que coisa alguma senão o poder de Cristo pode subjugar[54].
[1] Tudo é Vaidade, Eclesiastes, Jacques Doukan, p. 49.
[2] Comentário Lições da Escola Sabatina 05, 1º Trimestre de 2007, Ruben Aguilar, UNASP.
[3] BJ, p. 1.171.
[4] CBASD, vol. 3, p. 1.095.
[5] CBASD, vol. 3, p. 1.095.
[6] Eclesiastes, Lição da Escola Sabatina, James W. Zackrison 1º Trimestre de 2007, CPB, p. 56.
[7] Tudo é Vaidade, Eclesiastes, Jacques Doukan, pp. 50 a 52.
[8] Comentário Lições da Escola Sabatina 05, 1º Trimestre de 2007, Ruben Aguilar, UNASP.
[9] Torá, a Lei de Moisés, editora Sefer, p. 678.
[10] CBASD, vol. 3, p. 1.095.
[11] CBASD, vol. 3, p. 1.095.
[12] Comentário Lições da Escola Sabatina 05, 1º Trimestre de 2007, Ruben Aguilar, UNASP.
[13] CBASD, vol. 3, p. 1.095.
[14] CBASD, vol. 3, p. 1.095.
[15] CBASD, vol. 3, p. 1.095.
[16] CBASD, vol. 3, p. 1.095.
[17] Tudo é Vaidade, Eclesiastes, Jacques Doukan, pp. 52 a 54.
[18] CBASD, vol. 3, p. 1.095.
[19] CBASD, vol. 3, p. 1.095.
[20] CBASD, vol. 3, pp. 1.095 e 1.096.
[21] CBASD, vol. 3, p. 1.096.
[22] CBASD, vol. 5, pp. 776 e 777.
[23] CBASD, vol. 5, p. 342.
[24] CBASD, vol. 3, p. 1.096.
[25] CBASD, vol. 3, p. 1.096.
[26] Eclesiastes, Lição da Escola Sabatina, James W. Zackrison 1º Trimestre de 2007, CPB, p. 56.
[27] CBASD, vol. 3, p. 1.096.
[28] CBASD, vol. 3, p. 1.096.
[29] CBASD, vol. 3, p. 1.096.
[30] CBASD, vol. 3, p. 1.096.
[31] CBASD, vol. 3, pp. 672 e 673.
[32] CBASD, vol. 2, p.
[33] CBASD, vol. 3, p. 1.096.
[34] CBASD, vol. 3, p. 1.096.
[35] Comentário Lições da Escola Sabatina 05, 1º Trimestre de 2007, Ruben Aguilar, UNASP.
[36] Crônica Paulo Roberto Barbosa, 14 de maio de 2.008.
[37] CBASD, vol. 3, p. 1.096.
[38] CBASD, vol. 3, p. 1.096.
[39] CBASD, vol. 3, p. 1.096.
[40] CBASD, vol. 3, p. 1.096.
[41] BJ, p. 1171.
[42] Tudo é Vaidade, Eclesiastes, Jacques Doukan, pp. 54 a 56.
[43] CBASD, vol. 3, p. 1.096.
[44] Tora, A Lei de Moisés, Editora Sefer, p. 679.
[45] Tudo é Vaidade, Eclesiastes, Jacques Doukan, pp. 54 a 56.
[46] CBASD, vol. 3, pp. 1.096 e 1.097.
[47] CBASD, vol. 3, p. 1.097.
[48] CBASD, vol. 3, p. 1.097.
[49] CBASD, vol. 3, p. 1.097.
[50] BJ, p. 1171.
[51] CBASD, vol. 3, p. 1.097.
[52] Edison Piazza - (Piracicaba) www.viajandopelomundo.com, enviado por e-mail Sr. Syd IASD Rudge Ramos.
[53] Testemunhos para Ministros, pp. 29 e 30.
[54] Testemunhos Para Igreja, vol. 6, pp. 261 a 265.