Jesus Comenta o Sexto Mandamento
21 - Ouvistes o que foi dito aos
antigos: Não matarás; aquele que matar terá que responder em juízo.
OUVISTE - O ensino tradicional
se transmitia oralmente, sobretudo nas sinagogas[1].
Jesus apresenta agora
exemplos específicos de sua interpretação da lei. Como Autor e seu único
verdadeiro Expositor. Pondo de lado a casuística rabínica, Jesus restaurou a
verdade a sua formosura original. A expressão ouvistes implica
que a maioria dos ouvintes nesta ocasião não tinham lido eles mesmos a lei.
Isto era de se esperar, porque a maioria deles eram rudes lavradores e
pescadores. Quando conversou mais tarde com os eruditos sacerdotes e anciãos,
Jesus perguntou: Nunca lestes nas Escrituras? Mateus 21: 42. No
entanto, esse mesmo dia um grupo de pessoas comuns do povo, dentro do átrio do
Templo, dirigiu-se a Jesus dizendo: Nós temos ouvido da lei, que o Cristo permanece
para sempre João 12: 34[2].
FOI DITO - Ao citar a antigos expositores da lei, os
rabinos com freqüência apresentavam o que esses eruditos tinham dito, com as
palavras que Jesus emprega aqui. Nos escritos rabínicos estas palavras se usam
também para apresentar citações do AT[3].
NÃO MATARÁS - O sexto mandamento do
Decálogo.
Comentário Êxodo 20: 13:
Qualquer entendimento correto de nossa relação com nosso próximo indicam que
devemos respeitar e honrar sua vida, pois toda vida é sagrada Gênesis
9: 5 e 6. Jesus exaltou Isaias 42: 21 este mandamento ao
incluir, como parte de sua violação, a ira E o desprezo Mateus 5: 21 e 22. Mais
adiante o apóstolo João adicionou a sua violação o ódio I João 3: 14 e 15. Este
mandamento não só proíbe a violência física senão o que é de conseqüências
muito maiores: o dano feito à alma. O violarmos quando induzimos outros ao
pecado por nosso exemplo e nossa conduta e contribuímos assim à destruição de
suas almas. Os que corrompem ao inocente e seduzem ao virtuoso matam
num sentido muito pior do que o assassino e o bandido, pois fazem algo mais do
que matar o corpo. Mateus 10: 28[4].
SERÁ CULPADO DE JUIZO - Isto é, será
réu ante o tribunal. Em casos de homicídio não premeditado, diferente
de um assassinato, a lei protegia ao homicida em cidades de
refúgio Números 35: 6; Deuteronômio 19: 3. Aqui se faz referência a um
derramamento intencional de sangue, a uma falha de culpabilidade e ao castigo
de parte das autoridades estabelecidas[5].
Refere-se ao sexto mandamento do decálogo, um
derramamento intencional de sangue, um assassino que estaria à disposição das
autoridades estabelecidas para que cumprisse pena pelo homicídio culposo.
Amargura e animosidade devem ser banidas da alma, se queremos estar em harmonia
com o Céu.
22 - Eu, porém, vos digo: Todo aquele
que se encolerizar contra seu irmão, terá de responder em juízo; aquele que
chamar ao seu irmão: Cretino! estará sujeito ao julgamento do Sinédrio;
aquele que lhe chamar: Louco terá de responder ao julgamento da geena de
fogo.
DIGO-VOS - Os rabinos citavam as tradições como
autoridade na qual baseavam sua interpretação da lei. Cristo falou por sua
própria autoridade, e este fato distinguia seu ensino dos rabinos, o que o povo
observou sem demora Mateus 7:
Cristo destacou quão abarcantes são em verdade os requerimentos da lei e
fez ressaltar que a mera conformidade exterior com a lei de nada serve[6].
Comentário Lucas 4: 22 - Todos
testemunhavam a seu respeito e admiravam das palavras cheias de graça que saiam
da sua boca. E diziam: Não é o filho de José.
TODOS TESTEMUNHAVAM - Todos davam bom
depoimento. A pessoa de
Nazaré tinha ouvido relatórios a respeito do poder que acompanhava à pregação
de Jesus durante seu ministério na Judéia. Agora essa mesma gente teve a
oportunidade de sentir-se subjugada pelo encanto dessa pregação. Deram-se conta
de que os relatórios não tinham sido exagerados[7].
DAS PALAVRAS CHEIAS DE GRAÇA - Teve que se ter dito muito mais do que o
que aqui se registra. As pessoas ficaram fascinadas e felizes com as palavras
de Jesus, cheias de graça e encanto[8].
NÃO É O FILHO DE JOSÉ - A forma da pergunta grega indica que se esperava uma resposta afirmativa. Esta
pergunta não expressa incerteza, mas admiração. Tinham conhecido a Jesus
através dos anos, mas chegaram a considerá-lo como a um homem comum, semelhante
a qualquer um, com menos faltas do que eles. Negou-se a crer que Aquele a quem
conheciam tão bem pudesse ser o Noivo, e sua falta de fé os deixou
turbados.
Jesus era considerado comumente como filho de José. A mãe de
Jesus, seus irmãos e irmãs, ainda viviam em Nazaré Mateus 13:
ENCOLERIZAR - Jesus toma
separadamente os mandamentos, e expõe-lhes a profundidade e a largura de suas
reivindicações. Em lugar de remover um jota de sua força, mostra quão vasto é o
alcance de seus princípios, e expõe o erro fatal dos judeus em sua ostentação
exterior de obediência. Declara que, pelo mau pensamento ou o cobiçoso olhar, é
transgredida a lei divina. Uma pessoa que se torna participante de uma mínima
injustiça, está violando a lei e degradando sua própria natureza moral. O
homicídio existe primeiro na mente. Aquele que dá ao ódio um lugar no coração,
está pondo o pé no caminho do assassínio, e suas ofertas são aborrecíveis a
Deus.
Os judeus cultivavam um
espírito de vingança. Em seu ódio aos romanos, proferiam duras acusações e
agradavam ao maligno pela manifestação de seus atributos. Estavam assim se
preparando para praticar terríveis ações. Não havia, na vida religiosa dos
fariseus , nada que recomendasse a piedade aos olhos dos gentios. Jesus declarou-lhes
que se não enganassem com a idéia de poderem revoltar-se no coração contra seus
opressores, e acariciar o anseio de vingar-se de suas injustiças[10].
O assassinato é o
resultado final do ódio. Mas uma pessoa pode ocultar seu ódio de seu próximo, e
dos que são o objeto de sua ira. O mais que se pode fazer num tribunal é
castigar as ações que resultam do ódio. Só Deus pode chegar até a raiz do
assunto para condenar e castigar a uma pessoa por causa do ódio[11].
CRETINO - A palavra raqa traduzida do aramaico significa: cabeça vazia, sem miolos[12].
O cristão deve tratar com carinho e respeito o
mais humilde dos seres humanos, o ódio é um sentimento que jamais poderia ser
encontrado entre os filhos de Deus, pois é contrária a natureza do Criador. Refere-se ao veredito da
justiça local de uma cidade ou aldeia, e indica que a ira se tinha expressado
em ameaças ou ações[13].
Néscio. Grego:
rhaká, sem dúvida uma transliteração do aramaico reqa, Hebraico: reqah,
que significa sem valor, estúpido. É
uma vigorosa expressão depreciativa. Na literatura rabínica reqa aparece como a exclamação de um
oficial quando um subalterno não lhe fez a saudação devida. O cristão deve
tratar com respeito e ternura ainda ao mais ignorante e degradado[14].
SINÉDRIO - Aqui o Grande Sinédrio,
que tinha sua sede em Jerusalém. Responder num tribunal, versos 21 e 22
fazem alusão aos tribunais disseminados pelo país,
O Sinédrio ou Conselho era o supremo tribunal
dos judeus, composto de 70 membros[16].
Grego: sunédrion, palavra que se refere ao sanedrín local, ou tribunal da cidade e
não o grande sanedrín de Jerusalém[17].
LOUCO - Grego: môrós, estúpido, tonto.
Sugeriu-se que a palavra môrós é a
transliteração do vocábulo hebraico
moreh, contencioso, rebelde, contumaz, ao passo que rhaká expressa desprezo pela inteligência de um indivíduo, ou,
melhor dito, por, a falta de inteligência, môrós,
tal como se o emprega aqui, expressa desdém pelos motivos do indivíduo. No
primeiro caso se chama estúpido ao
indivíduo; no segundo, se o denomina preguiçoso
ou impostor, o qual implica que se
porta nesciamente por motivos diversos. Se Cristo se negou a proferir juízo de maldição
contra o diabo Judas 9, nós deveríamos refrear de fazê-lo com nossos próximos.
Temos de deixar com Deus a obra de julgar e condenar a uma pessoa por seus
motivos.
Segundo o Talmude Kiddushin 28a, o que fora culpado de denegrir a outro
chamando-o escravo, devia ser
excomungado da sinagoga durante 30 dias, e o que chamasse o outro bastardo,
devia receber 40 chicotadas[18].
GEENA DE
FOGO -
Era um vale ao sul de Jerusalém, para o qual se deitava todo o lixo da cidade.
Lá em tempos anteriores faziam os sacrifícios ao deus Moloch. Era considerado o
símbolo do castigo dos maus[19].
Literalmente geenna de fogo.
Geenna é a transliteração das palavras hebraicas
ge" hinnom, vale de Hinom, ou ge ben hinnom, vale do filho de Hinom. Josué
15: 8. Este vale está a sudeste
de Jerusalém e se encontra com o vale de Cedron, imediatamente ao sul da cidade
de Davi e o tanque de Siloé Jeremias 19: 2. O ímpio rei Acaz
parece ter iniciado nos dias de Isaías o bárbaro costume pagão de
queimar os meninos, oferecendo a Moloc num alto chamado Tofet, no vale de Hinom II
Crônicas 28: 3; Esses ritos abomináveis se descrevem em Levitico
18: 21; Deuteronômio 18: 10; 32: 17; II Reis 16: 3; 23: 10; Jeremias 7: 31.
Manasses neto de Acaz, restabeleceu essa prática II Crônicas 33: 1 6; Jeremias 32:
35.
Anos depois, o bom rei Josias profanou cerimonialmente os altos do vale de Hinom onde se tinha realizado
esse atroz tipo de culto II Reis 23: 10, com o qual se
acabaram esses sacrifícios. Como castigo por esse e outros males, Deus advertiu
a seu povo que o vale de Hinom num
dia seria o Vale da Matança por causa
dos corpos
mortos deste povo. Jeremias 7: 32 e 33; 19: 6; Isaias 30: 33. Por isso
os fogos de Hinom se converteram num
símbolo do fogo consumidor do último grande dia de juízo e do castigo dos
ímpios Isaias 66: 24. Segundo as idéias escatológicas judaicas,
derivadas em parte da filosofia grega, geenna
era o lugar onde se reservavam as almas dos ímpios sob castigo até o dia do
juízo final e das retribuições.
A tradição que afirma que o vale da Gehenna forma latina do nome era
o lugar onde se queimavam os desperdícios, e que, portanto era uma figura do
fogo do dia final, parece ter-se originado com o rabino Kimchi, erudito judeu
dos séculos XII e XIII. A antiga literatura judaica não contém nada disto. Os
rabinos mais antigos basearam a idéia da Gehenna como um símbolo do fogo do
último dia em Isaias 31: 9. Ver artigo Hell em Seventh-day Adventist Bible Dictionary[20].
23 - Portanto, se estiveres para
trazer a tua oferta ao altar e ali te lembrares de que o teu irmão tem alguma
coisa contra ti,
OFERTA - Grego:
dóron, palavra que se
refere a qualquer classe de presentes ou a oferendas especiais. Em Mateus
23:
18 e 19 se deixam ver claramente qual era a importância ritual de uma
oferenda colocada sobre o altar[21].
IRMÃO - Referência ao nosso
próximo, aqueles com quem mantemos relacionamentos, Cristo aclarou que todos os
homens são irmãos independentemente de raça, cor, posição social, sexo,
Parábola do Bom Samaritano. Lucas
10:
24 - deixa a tua oferta ali diante do
altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e depois virás apresentar a
tua oferta.
OFERTA - Deixa
ali. O
apresentar uma oferta ou sacrifício pessoal se considerava entre os atos
religiosos mais sagrados e importantes, mas ainda isto devia ocupar um lugar
secundário pelas circunstâncias aqui expostas. É possível que a oferta
aqui mencionada fosse um sacrifício feito com o fim de obter o perdão e o favor
de Deus. Cristo insiste em que os homens devem arrumar as contas com seus
próximos antes que possam reconciliar se com Deus Mateus 6: 15; I João 4:
RECONCILIAR - Comentário Mateus 6: 12 - E
Perdoa as nossas dívidas como também nós perdoamos aos nossos devedores E perdoa-nos. Grego:
afíêmeí, palavra comum no
NT, que com freqüência significa deixar. Mateus 4: 11 ou despedir.
Marcos 4: 36, mas que também se traduz corretamente com a idéia de remeter
João 20: 23, ou perdoar Lucas 5: 21 e 23. Quando se
emprega a palavra com este segundo sentido, faz-se ressaltar a idéia de que o
perdão deixa sem culpa ao pecador.
NOSSAS DÍVIDAS - Grego:
oféilêma, palavra comumente
empregada para referir-se às dívidas legais Romanos 4: 4, mas usada
aqui no sentido de dívidas morais e espirituais. Aqui se representa ao pecado
como dívida e ao pecador como devedor. A passagem paralela de Lucas diz pecados.
Capítulo
11: 4; Mateus 18: 28 e 30; Lucas 7:
COMO TAMBÉM NÓS PERDOAMOS - Isto é, como já perdoamos. No grego uns poucos manuscritos usam o
presente, mas a evidência textual estabelece o uso do aoristo pretérito indefinido. Isto último
insinuaria que não devêssemos atrevemos a pedir perdão se não perdoamos já a
nosso próximo.
AOS NOSSOS DEVEDORES - Os que nos fizeram mal[24].
25 - Assume logo uma atitude
conciliadora com teu adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de
justiça e, assim, sejas lançado na prisão.
CONCILIADORA
- Põe-te
de acordo. Grego: eunoéô, ter a mente bem disposta para
com alguém, verbo relacionado com a palavra éunoos, benévolo, bem disposto, favorável, amigável. O estar de acordo implica uma mudança de
sentimentos para com o que foi antes adversário[25].
ADVERSÁRIO - Grego: antídikos, opositor, o adversário num pleito legal. O contexto indica que neste caso o adversário é o acusador e que a pessoa a quem Cristo fala é
OFICIAL
DE JUSTIÇA - Grego: huperetes, servidor público,
subordinado. Emprega-se este termo no NT para referir-se aos ajudantes da
sinagoga ver comentário Lucas 4:
26 - Em verdade te digo: dali não
sairás, enquanto não pagares o último centavo.
DIGO - Jesus orienta para a posição
de consenso, e para se evitar tribunais, tentar viver em harmonia com o próximo
sem a dureza da lei que exige
A
NOVA AUTORIDADE
Esta seção dos
ensinamentos de Jesus é uma das mais importantes do NT. Antes de estudá-la em
detalhes tem certas coisas gerais que devemos mencionar.
Jesus fala com uma
autoridade que nenhum outro homem sonharia
Nos é difícil darmos
conta exatamente do surpreendente que deve de ter sido para os judeus que
escutavam esta autoridade de Jesus. Para os judeus, a Lei era absolutamente
santa e divina; é impossível enxergar até que ponto a reverenciavam. A Lei
diziam é santa, e foi dada por Deus. Só os decretos de Moisés, dizia Filón, são
perduráveis, inalteráveis e inamovíveis, como se a natureza mesma os houvesse
firmado com seu selo. Os rabinos diziam: Os que negam que a Lei procede do Céu
não tem parte no mundo vindouro. E também: Até se um diz que a Lei é de Deus
com a exceção deste ou aquele verso que disse Moisés, não Deus,
falando por sua boca, então se lhe aplica o juizo. Tem desprezado a Palavra do
Senhor: E dado mostras da irreverência que merece a destruição de sua alma. O
primeiro ato no culto da sinagoga era ler os livros da Lei da arca onde se
guardavam, e ele levava dando a volta com a congregação, para que esta pudesse
mostrar sua reverência.
Isso era o que os
judeus pensavam da Lei; e aqui Jesus cita a Lei não menos que cinco vezes Mateus
5: 21, 27, 33, 38, 43, só
para citá-la e ampliar por Seu próprio ensino. Se atribuía o direito de indicar
as interpretações das Escrituras mais sagradas do mundo, e dar o enfoque com
Sua própria sabedoria. Os gregos definiam exusía,
autoridad, como o poder para ensinar e determinar sua vontade. Jesus
reclamava este poder em sua relação com o que os judeus criam o que era a Palavra
eterna e imutável de Deus. Jesus não discutiu isto, nem se propôs a
justificar-se de nenhuma maneira por fazê-lo, nem tratou de demonstrar seu
direito a fazê-lo. Responsavelmente e sem questionar assumiu este direito.
Ninguém havia ouvido
nunca nada semelhante. Os grandes mestres judeus usavam frases características
Das duas uma: Ou
Jesus era um louco, ou era único; ou era um megalomaníaco, ou era o Filho de Deus.
Nenhuma pessoa normal podería atrever-se a mudar o que se considerava a eterna
Palavra de Deus.
O maravilhoso da
autoridade é que é auto-evidente. Tão pronto como uma pessoa se põe a ensinar
se sabe imediatamente se têm direito a ensinar ou não. A autoridade é como uma
atmosfera ao redor de uma pessoa. Não necessita atribuirse; ou têm, ou não.
As orquestas que
tocaram sob a direção de Toscanini diziam que tão pronto ele ocupasse o comando
poderiam sentir uma áurea de autoridade que fluía dele. Julian Duguid conta que
uma vez cruzou o Atlântico no mesmo barco que Wilfred Grenfell; e disse que
quando Grenfell entrava em alguma das habitações públicas do barco, se podía
dizer sem dirigir-lhe o olhar que
havia entrado na habitação; porque uma áurea de autoridade saia do homem. Era
supremamente assim com Jesus.
Jesus tomava a
sabedoria humana mais elevada e a corrigia, porque Ele era o Que era. Não tinha
que discutir; Lhe bastava falar. Nada pode honradamente estar face a face com
Jesus e escutar-lhe sem sentir que é a última Palavra de Deus ao lado de Quem
todas as outras palavras são inadequadas, e toda outra sabedoria, defasada.
O NOVO NÍVEL
Ainda que o aceno de
autoridade de Jesus fosse alucinante, ele propunha um nível mais elevado aos
homens. Jesus dizia que, perante Deus, não era somente o homem culpado de
cometer assassinato; ele que odiava seu irmão seria julgado e tornado culpado.
Não era somente culpado por cometer adultério; mas o que permitisse que um
desejo impuro se assentasse em seu coração também seria culpado.
Aqui havia algo que
era completamente novo, algo que a humanidade não havia captado todavía
suficientemente. O ensino de Jesus era que não era suficiente não cometer
assassinato; o único que seria suficiente seria não haver desejado nunca cometer
assssinato. O ensino de Jesus era que não era bastante não cometer adultério; o
único suficiente sería não desejar sequer cometê-lo nunca.
Pode ser que não
tenhamos golpeado nunca uma pessoa; porém, quem pode dizer que nunca desejou fazê-lo? Pode ser que nunca
tenhamos cometido adultério; porém, quem pode dizer que nunca tenha
experimentado o desejo de algo proibido? O ensino de Jesus era que os
pensamentos são tão importantes como as obras, e que não basta não cometer
pecado; o que sim bastaria seria não querer cometê-lo.
O ensino de Jesus
era que não se julga somente uma pessoa por suas obras, mas por seus desejos
que nunca se materializaram em obras. Segundo os níveis do mundo, uma pessoa é
uma boa pessoa se não fizer nunca o que está proibido. O mundo não tem como
julgar os pensamentos. Porém para o nível de Jesus, uma pessoa não é boa até
que nem sequer deseja fazer o proibido. Jesus está intensamente preocupado com
os pensamentos de uma pessoa. Disto surgem três coisas:
1. Jesus estava
totalmente certo, porque Seu caminho é o único que conduz a salvação e a
segurança. Até certo ponto todos temos uma personalidade dividida. Há uma parte
de nós que é atraída ao bem, e outra parte de nos que é atraída ao mal.
Entretanto uma pessoa, está travando uma batalha
Platão comparava a
alma com alguém que tivesse que domar dois cavalos. Um era dócil e obediente as
orientações e a palavra de mando; o outro, selvagem, indômito e rebelde. O nome
de um cavalo era a razão; o outro, a paixão. A vida é sempre um conflito entre
as exigências das Paixões e o controle da razão. A razão são as orientações que
mantém a paixão e os limites. Porém, as rédeas se podem romper a qualquer momento. O
domínio próprio pode baixar a guarda um instante, o que sucede então?
Entretanto exista esta tensão interior, este conflito interno, a vida se mantém
insegura. Em tais circunstâncias não há coisa melhor como estar a salvo. A
única maneira, nos diz Jesus, é erradicar para sempre o desejo proibido. Só
então a vida está a salvo.
2. Neste caso, só
Deus pode julgar. Não vemos nada mais que as ações exteriores de uma pessoa; só
Deus vê os segredos do coração. E fará muitas pessoas que exteriormente são um
modelo de retidão, porém cujos pensamentos íntimos são culpados diante de Deus.
Haverá muitos que podem ser declaradas inocentes no juízo humano, julgados por
coisas externas, porém cuja bondade conflita ante o olhar poderoso de Deus.
3. Neste caso, cada
um de nós é culpado; porque não há nenhum só que possa resistir este juizo de
Deus. Assim temos vivido uma vida de perfeição moral externa, não há ninguém
que possa dizer que não tenha experimentado nunca o desejo proibido de coisas
más. Para a perfeição interior, o único que é suficiente alegar é dizer que eu
estou morto e Cristo vive
O novo nível mata
todo orgulho, e nos impulsiona a Jesus Cristo, Que é o único que pode permitir
alcançar este nível que Ele mesmo nos propõe.
A
IRA PROIBIDA
Aqui temos o
primeiro exemplo do novo nível que Jesus propõe. A antiga Lei havia
estabelecido: Não matarás. Êxodo 20:13; Jesus
estabelece que até o aborrecimento com um irmão está proibido. Na tradução
clássica inglesa se encontram as palavras sem
causa, que não estão em nenhum dos grandes manuscritos; isto não é nada
menos que uma total proibição da ira. Não basta não golpear uma pessoa; o que
realmente seria suficiente é não desejar sequer golpear-lhe; nem sequer ter um
sentimento duro contra ele no coração.
Nesta passagem Jesus
segue o raciocínio na maneira dos rabinos. Se mostra experto no manejo dos
métodos de discussão que tinham o costume de usar os sábios de Seu tempo. Há
nesta passagem uma sutil gradação da ira, e uma correspondente e sutil gradação
de castigo.
1. Em primeiro lugar
temos o que está aborrecendo contra seu
irmão. O verbo original que se usa aqui é orguizesthai. En grego existem duas palavras para ira. Está thymós, que se comparava com a chama que prende a palha seca. É a ira
que se inflama rapidamente e que se consome com a mesma rapidez. É uma ira que
surge depressa e que também passa depressa. Está orguê, que se descreve como uma ira que se faz inveterada. É a ira
longa; é a ira de uma pessoa que guarda sua raiva para mantê-la quente; é a ira
que se cultiva, e não deicha morrer.
A ira está sujeita a
juizo. Este juizo era no tribunal local que sentenciava justiça. Estava formado
por anciãos da localidade, e variava em seu número desde três nas aldeias de
menos de cento cinquenta habitantes, até sete nas populações maiores e nos
povoados e nas cidades maiores.
Jesus condena toda
ira egoísta. A Bíblia deixa claro que a ira está proibida Pois a cólera do homem não é
capaz de cumprir a justiça de Deus. Tiago 1: 20. Paulo manda a os seus que deponham toda ira, exaltação, maldade,
blasfêmia, conversa indecente. Colossenses 3: 8. Até o mais elevado pensamento pagão reconhecia a insensatez da
ira. Cicero dizia que quando entrava a ira em cena não se pode fazer nada direito e nem com sensatez. Em uma frase
lapidada, Sêneca chama a ira uma loucura
breve.
Assim é que Jesus
proíbe definitivamente a ira que se cultiva, a ira que não se quer esquecer, a
ira que se nega a paz, a ira que busca vingança: Se temos de obedecer a Jesus,
temos de desenterrar da vida toda classe de ira, e especialmente a que se
mantém por demasiado tempo. É uma advertência recordar que não se pode ao que é
chamado de cristão perder o equilíbrio por qualquer ofensa pessoal que tenha
sofrido.
2. Jesus passa a
falar de dois casos em que a ira se manifiesta
INSULTOS
Primero, se condena
ao que chama a seu irmão de néscio. A
Reina-Valera antiga põe a palavra quase intraduzível raca, que descreve um tom de voz mais que outra coisa. Seu enfoque
é de desprezo. Chamar uma pessoa de raca era chamar de idiota sem sentido,
um tonto imbecil, um cabeça-oca. Este termo usado para desprezar o outro com
uma superioridade arrogante.
Tem uma história
rabínica sobre o rabino Simão ben Eleazar. Ele vinha da casa de seu mestre, e
se sentía orgulhoso ao pensar em sua inteligência, erudição e bondade. Um
viajante muito pouco favorecido fisicamente lhe dirigiu uma saudação. O rabino
não lhe respondeu a saudação, mas disse: Seu
raca! Que feio tu és! São todos os de teu povo tão feios como você? A isto
lhe respondeu o pobre homem: Eu não sei.
Vem dizer a meu Criador que me criou e me fêz o quão feio que é a criatura que
Ele fêz. Assim repreendeu aquele pecado de desprezo.
O pecado do desprezo merece un juizo todavía mais severo. Havia que
levá-lo a juizo ante o Sinédrio, synedrion, o tribunal supremo dos judíos. Isto, não deve ser tomado
literalmente. Jesus disse: O pecado da
ira inveterada é mau; mas o do desprezo é pior.
Não há pecado que seja mais contrário ao Espírito de Cristo do que o
desprezo. Há um desprezo que surge do orgulho da pessoal, considerado realmente
muito grave. Há um desprezo que surge da posição financeira, o orgulho que se
baseia nas coisas materiais que também é algo condenável. Há o desprezo
intelectual. E de todos os tipos de desprezo, o considerado intelectual é o
mais difícil de entender, porque o que máis impressiona um sábio é o
sentimiento de sua própria ignorância. Não deveríamos nunca olhar com desprezo
qualquer pessoa por quem Cristo morreu.
3. Jesus menciona a continuação ao que chama a seu irmão môrós.
Môrós também quer dizer tonto, porém o homem que é môrós é um néscio moral. É o homem que se faz de tonto. O salmista fala do néscio que se diz no seu coração que
não há Deus Salmo 14: 1. Este é um néscio moral, um homem que vivia uma vida
imoral e que lhe convinha que não existe Deus. E chamar alguem de môrós não era criticar sua capacidade mental; era pôr em
dúvida seu caráter moral; era ensinuar sobre seu nomb e reputação, e marcá-le
como pessoa de uma vida má e imoral.
Jesus diz que o que destrói o nome e a reputação do ser humano merece o
juizo mais severo de todos, o juizo do fogo da gehena.
Guehenna
Como conseqüência, o Vale de Hinom se converteu num lixão público de
Jerusalém, no qual se queima todos os resíduos da cidade. O fogo se mantém
latente, e queimava constantemente, e se criava uma espécie asquerosa de vermes
que parecía que não morriam nunca.
Jesus insiste que é mais grave destruir a reputação de uma pessoa e manchar
seu bom nome. Não há castigo que seja demasiado severo para um fofoqueiro
malicioso, de fala caluniosa que
assassinar o bom nome do próximo. Tal prática, num sentido mais literal, merece
o inferno.
Como temos dito, todos estes graus de castigos não se pode tomar
literalmente. O que Jesus quer dizer aqui é o siguente: Na antigüidade se
condenava por assassinato, e isto sempre será condenavel. Porém Eu vos digo que não são só as ações externas que merecem ir a
juizo; os mais íntimos pensamentos também estão sob o escrutinio e juizo de
Deus. A ira interminável é má; e o despeito é pior, o boato descuidado e
malicioso que destróe o bom nome de uma pessoa é pior de tudo. O que é
escravo da ira, e que fala em um tom de desprezo, e o que destrói o bom nome do
outro, pode ser que nunca tenha cometido um assassinato de fato, porém está no
seu coração.
A BARREIRA INSUPERÁVEL
Quando Jesus disse isto, estava simplesmente recordando aos judeus um
princípio que eles conheciam muito bem e que nunca deveriam ter esquecido. A
idéia por trás do sacrifício era muito sensível: se uma pessoa fazia algo
errado, sua ação interrompia sua relação com Deus, e o sacrifício teria por
finalidade restaurar esta relação.
Temos que notar duas
coisas muito importantes. A primeira é que nunca se criou que o sacrifício
pudesse expiar um pecado deliberado, que os judíos chamavam: o pecado de uma mão altad. Se uma pessoa
cometesse um pecado se daria conta, se por impulso num momento de paixão que
alterava seu domínio próprio, o sacrifício era realizado; porém se o
pecado fosse cometido de forma
deliberada, desafiando, insensivelmente e com os
olhos abertos, entãoa o sacrifício era impotente para expiar.
A segunda é que para
ser efetivo, um sacrifício tinha que incluir a confiss ão do pecado e o
verdadeiro arrependimento; e o verdadeiro arrependimento incluia o propósito de
retificar qualquer consequência para ter pecado. O grande Dia da Expiação era
celebrado para expiar os pecados de toda nação, porém os judeus sabiam muito
bem que nem sequer os sacrificios do Dia da Expiação se poderiam aplicar a ao menos
que antes estivesse reconciliado com seu próximo.
A interrupcção da
relação entre o homem e Deus não podia ser reatada a menos que se houvesse
curado o que havia de diferenças entre homem e homem. Se uma pessoa estava
oferecendo uma oferta pelo pecado, por exemplo, para expiar um roubo, a oferta
se cria que era totalmente ineficaz até que se houvesse restaurado o objeto
roubado; e, se descobrisse que o objeto roubado não fosse restaurado, então
teria que se destruir o sacrifício como imundo e quemá-lo fora do templo. Os
judeus sabiam muito bem que tinham que fazer todo possível para ajustar as
coisas ao nível humano antes de poder estar
O sacrifício era
sustitutivo. O símbolo disto era que, quando a vítima estava a ponto de ser
sacrificada, o adorador colocava suas mãos sobre a cabeça do animal apertando
bem para baixo, como para transferir sua própria culpa. Quando Fazi dizia: Te suplico, oh Deus; tenho pecado, e
praticado perversamente, tenho sido rebelde; e cometido... aqui o ofertante
especificava seus pecados; voltava em
penitência, e confessava o pecado.
Para que um
sacrifício fosse válido, a confissão e a restauração tería que estar implicadas.
O quadro que Jesus está pintando é um gráfico. O adorador, não oferecia seu
próprio sacrifício; o sacerdote trazia, que era oferecido
Na continuação se
encontrava o átrio dos sacerdotes, em que não era permitida a entrada dos
leigos. O adorador se curvava perante o altar, disposto a entregar sua vítima
ao sacerdote; colocava as mãos sobre o animal para fazer sua confissão; e então
se acordava de que estava em paz com seu irmão, do mal que havia praticado; sem
o que seu sacrifício não seria, deve voltar e oferecer a ofensa e restaurar o
dano, o não oferecer nada.
Jesus deixa bem
claro este fato fundamental: Não podemos estar
Fazer
as pazes a tempo
Jesus está dando un
conselho prático; Ele nos diz para fazermos as coisas a tempo, antes que se
amontoem e causem mais problemas no futuro.
Jesus descreve a
cena dos oponentes que vão a caminho do tribunal; e lhes diz que se reconcilie
antes de chegar ao tribunal; porque, se não o fizerem, a lei segue seu curso;
haverá todavía piores conseqüências pelo menos para umo delos nos dias
sucessivos.
A cena dos oponentes
que vão juntos a caminho do tribunal nos parece muito estranha, e muito
improvável. Porém no mundo antigo sucedía assim.
Na lei grega havia
um processo de detenção que se chamava apagôguê
que quer dizer arresto sumaríssimo. O
demandante mesmo falava ofensor. Escolhia a espécie de castigo a ser efeuado, e
se sujeitava de tal maneira que, se resistisse, poderia partir para a agressão
física. Se supõe que estes casos em que
esta situação chegasse eram raros, e tinha que incriminar o malfeitor em
flagrante.
Os crímes que se
poderia condenar sumariamente uma pessoa como foi descrito eram: o roubo, roubo de ropa os ladrões de roupa eram a
maldición dos banhos públicos na antiga Grécia, roubar carteiras, assaltar
casas e sequestrar o sequestro de
escravos especialmente dotados e habilidosos era muito corrente. Se podia
condenar sumariamente a alguém quando se lhe descobrisse exercendo os direito
de cidadania quando se lhe havia despossuido deles, ou se voltava a seu estado
ou cidade de que havia sido exilido. En vista deste costume não era raro ver um
demandante e um ofensor juntos a caminho do tribunal em una cidade grega.
Está claro que é muito
mais provável que Jesus estivesse pensando e termos da lei judaica; porém esta
situação não era nem muito menos impossível na lei judaica. Este era obviamente
um caso de dívida; porque, se não fizessem as pazes, haveria de pagar até o
último centavo. Casos semelhantes se liquidavam nos tribunais locais de
anciãos. Era fixado um valor em que o demandante e o ofensor teriam que se
apresentar juntos; em qualquer povoado ou aldeia sería provável que se
encontrassem no caminho do tribunal.
Quando uma pessoa
era declarada culpada, era entregue ao oficial da corte. Mateus chama a de hyperêtês; Lucas chama, em sua versão deste dito, com o termo mais usado praktôr Lucas
12:58s. O dever do oficial do tribunal era assegurar-se de que a dívida
seria paga devidamente e, em caso contrário, teria autoridade para prender o
ofensor até que pagasse. Esta é a situação que Jesus estava considerando. O
conselho de Jesús pode querer dizer uma das duas coisas:
1. Pode ser uma
amostra de um conselho mais prático. Uma ou outra vez confirma a experiência da
vida que, sem uma peleja, desavença, ou disputa não se resolve imediatamente,
pode seguir gerando piores dificultades com o tiempo. A amargura treaz
amargura. Os desavenças entre as pessoas se estendem a suas famílias, e pode
ser levadas a gerações futuras, e acaba por dividir uma igreja ou uma sociedade
em duas.
Se no início uma das
partes houvesse tido a graça de desculpar-se ou admitir sua falta, uma situação
lamentável poderia ser evitada. Se alguma vez estamos em desavença com o
próximo, devemos resolver a situação sem perda de tempo. Pode ser que seja
humilhante para confesar que temos nos equivocado e nos desculparmos; pode ser
que queira dizer que, neste caso tenhamos razão, temos que dar o primeiro passo
para restabelecer a relação. Quando as relacões pessoais se deterioram, em nove
casos de cada dez uma ação imediata pode remediar; porém se esta ação imediata
não tem lugar, seguirão deteriorándo-se, e se extenderá a amargura en círculos
cada vez mais amplos.
2. Pode ser que
Jesus tivesse em mente algo mais definitivo que isto, disse: Procurai as coisas
com vossos semelhantes enquanto dure
vossa vida; porque algum día, não sabéis quando, a vida chegará a seu fim,
e ireis apresentardes perante Deus, o Juizo final de todos. É o maior de todos
os dias para os judeus era o Día da Expiação. Seus sacrificios se cría que
expiavam seus pecados conhecidos e não conhecidos; porém até este día tinha
suas limitações.
O Talmude estabelece claramente: O Día da Expiação expia as ofensas entre o
homem e Deus. O Dia da Expiação não expia as ofensas entre o homem e seu
próximo, a menos que o homem tenha procurado acertar as coisas com seu próximo.
Aquí temos outra vez um fato fundamental: Não podemos estar en paz con Deus e
não estamos em paz com nosso próximo. Uma pessoa deve viver de tal maneira que
a encontre paz com todo mundo.
Bem pode ser que não
tenhamos que escolher só uma destas dos interpretações do que disse Jesus. Pode
ser que tenhamos outras idéias, o que Jesus está dizendo é: Se queres a felicidade neste tempo, e a
felicidade na eternidade, não deixes nunca uma desavença sem acertar entre ti e
teu irmão. Atua imediatamente para quitar as barreiras que a ira tem levantado[28].
Eu, Porém, Vos Digo
Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás;
e: Quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele
que sem motivo se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento no
tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo. Mateus 5:
21 e 22.
Em Mateus 5:21, chegamos à primeira das seis ilustrações sobre como
nossa justiça deve exceder a dos escribas e fariseus.
Em todas essas ilustrações encontramos as
expressões Ouvistes que foi dito e Eu, porém, vos digo. Quem deu origem
à expressão inicial foram líderes judeus como os escribas e fariseus, que
tomaram a lei de Deus no AT e criaram uma tradição verbal para proteger essa
lei e aplicá-la à vida do povo. Esses líderes judeus eram geralmente sinceros
em seu esforço por tornar a lei significativa. Mas a sua sinceridade não os
protegeu do erro.
Por isso é que Jesus Se apresenta com a expressão: Eu, porém, vos digo.
Estas palavras são de importância crucial na compreensão de Mateus
5:
Observem que Jesus não hesita em apresentar-Se como uma autoridade. Ele
não está agindo como um rabino comum que começaria dizendo: Há um ensino que diz... ou O
rabino fulano de tal disse que... Jesus não baseia Seu ensino na autoridade
de outros. Não, Ele era a autoridade no que se referia à lei.
Jesus aborda a lei não como um mero instrutor, mas como o legislador,
Aquele que conhece a extensão e a profundidade da lei, porque Ele é o Deus que
deu a lei.
Jesus Cristo não era
mero homem, mero expositor da lei, ou simplesmente um outro profeta. Ele era
infinitamente mais do que isso, e não Se envergonha de reivindicar Sua
autoridade como Senhor da lei. Afinal, Ele é Deus o Filho. Embora tenha vindo
em semelhança da carne do pecado, ainda fala com autoridade divina. Por isso,
cada uma de Suas palavras é de capital importância para nós[29].
Dois Pontos de Vista
O qual nos
habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do
espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica (II Coríntios 3: 6).
Os fariseus eram excelentes na letra da lei, mas fracos no espírito da
mesma. Eles eram perfeccionistas por excelência, e todos os perfeccionistas
precisam de uma lista do que fazer e do que não fazer. Os perfeccionistas
precisam tornar a lei controlável, se quiserem guardá-la com perfeição.
Assim, os fariseus da antigüidade, como os fariseus de nossos dias,
precisam ser cuidadosos na maneira de definir o pecado. Para eles, o pecado era
um ato.
Por isso, restringiam as proibições bíblicas de coisas como o homicídio e
o adultério apenas ao ato em si. A pessoa não era pecadora enquanto não
cometesse literalmente o homicídio.
O grupo dos fariseus não só restringia o significado dos mandamentos para
tornar a perfeição possível, como também ampliava a permissividade da lei a
fim de que, por exemplo, um homem pudesse divorciar-se de sua esposa pelas
razões mais triviais, sem ser considerado um transgressor da lei.
Jesus inverteu a tendência judaica de restringir o significado da lei e
ampliar a sua permissividade. Recusou seguir as regras do jogo deles. Ele foi
além da letra exterior da lei e até o seu íntimo propósito espiritual. Assim
mostrou que a raiz do problema não é o ato, mas o pensamento que antecede o
ato. Como resultado, até o desejo sensual por outra pessoa é pecado; até ficar
irado contra outra pessoa é pecado.
Dessa maneira, Jesus destruiu o perfeccionismo fácil dos fariseus. Afinal,
conquanto pessoas bem religiosas não tenham cometido o ato do homicídio ou do
adultério, nenhuma delas pode dizer que jamais teve um pensamento sequer de
ira ou de desejo.
E Jesus não apenas preencheu a profundeza espiritual do significado da
lei; Ele também removeu a permissividade legalista que os fariseus erigiram
para proteger a própria imagem.
Neste dia, Jesus nos mostra o verdadeiro significado da Sua lei. Ele deseja
que vivamos pelo espírito da lei, não simplesmente pela letra[30]
A Segunda Tábua
Porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a
saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Gálatas 5: 14.
Uma coisa que se deve notar acerca das seis ilustrações de Jesus quanto ao
verdadeiro significado da lei em Mateus 5:
Por que é assim?,
podemos nos perguntar. Por que gastar
tanto tempo ilustrando a segunda tábua da lei, sem expor a primeira?
A resposta parece ser que Jesus considerava a lei como uma unidade no
sentido de que é impossível amar a Deus sem amar ao próximo. Por favor,
lembre-se de que em Gênesis 3, quando Adão e Eva se rebelaram contra Deus, eles
também começaram a discutir um com o outro.
Assim, a entrada do pecado significou ruptura no relacionamento tanto entre
o ser humano e Deus, como entre as pessoas. Quando não estamos bem com Deus,
estamos também em desigualdade uns com os outros. Isto é assim porque quando me
coloco no centro da vida, vivo conforme os princípios do egoísmo.
A conversão, porém, muda tudo isso. Quando sou
curado por Deus, o princípio básico de minha vida muda. Nasço de novo, com novo
coração e nova mente. Não mais vivo conforme os princípios do egoísmo, mas
conforme os princípios do amor divino.
Esse novo princípio me leva a ter consideração por você como pessoa. Você
não é mais como um objeto ou coisa para mim. Assim como eu, você é alguém por
quem Cristo morreu.É impossível eu estar bem com Deus, sem estar bem com as
outras pessoas. Essa é uma das grandes verdades centrais do Sermão do Monte.
A maneira como eu o trato e a maneira como você me trata
é o ponto decisivo. É no relacionamento humano que vivemos nosso cristianismo
diário. As relações humanas são o teste rigoroso que determina se realmente
nos tornamos cristãos. Esse é o ponto que Jesus está enfatizando em Mateus 5:
Fonte de Homicídio
Não matarás. Êxodo 20: 13.
Tenho que admitir isso. Nunca matei ninguém. E
muito provavelmente jamais matarei alguém em toda a minha vida.Esse é um pensamento confortador. Ele me faz sentir
bem. É um pensamento que me faz ser honesto comigo.
Mas é muito mais do que isso. Não só jamais matei alguém, como também nunca
ninguém me acusou desse ato. Acho que sou uma boa pessoa, pareço ser alguém que
pelo menos em parte sabe o que faz.
Esse sentimento de justiça própria, porém, é destruído quando começo a ler
o que Jesus fala sobre a lei. Ele me diz que não devo sequer ficar irado. Acho
isso um tanto problemático, pois fico irado de vez em quando. Não gosto dessa
nova teologia. Sinto-me mais confortável com minhas próprias definições. Elas
me fazem sentir bem.
Mas o propósito de Jesus não é fazer-me sentir bem. É ajudar-me a
compreender a natureza do pecado e minha grande necessidade de Sua graça
perdoadora e habilitadora.
O que Jesus quis dizer ao mencionar que o fato de irar-se contra outra
pessoa está incluído no verdadeiro significado do sexto mandamento?
No grego existem duas palavras para ira. A primeira é thumos, e se
refere àquela ira momentânea, que se inflama como a labareda em um monte de
palha. É a ira que rapidamente arde e com a mesma rapidez morre. Essa não é a
ira a que Jesus se refere em Mateus 5: 21.
Jesus usa a palavra orge. Orge é
a ira duradoura, a ira da pessoa que nutre seu sentimento contra a outra, a ira
que a pessoa acaricia e recusa deixá-la morrer. É a ira que busca vingança.
Essa ira, sugere Jesus, é a mesma coisa que o homicídio. É a raiz do forte
sentimento do coração e da mente que leva ao homicídio. E mesmo que não leve a
cabo o ato, a pessoa que nutre a ira orge
está em desarmonia com Deus e debaixo de juízo.
Ajuda-me neste dia, Senhor, a afastar de mim a ira destrutiva. Ajuda-me a
amar os outros, assim como Tu me tens amado[32].
Irar-se é Sempre Mau?
Irai-vos e não pequeis; na se ponha o sol sobre a
vossa ira. Efésios 4: 26.
A essa altura você deve estar imaginando se há alguma ocasião em que o
verdadeiro cristão poder irar-se. Afinal, você pode pensar, Jesus não ficou
irado com os escribas e fariseus, conforme menciona Mateus 23? E não Se
dirige a eles usando o termo proibido, tolos, nos versos 17 e 19 do mesmo
capítulo? E Deus não destruirá pessoas no fim dos tempos?
Você tem razão. Deus odeia o pecado. Jesus odeia o pecado. Seu coração
amoroso fica sobrecarregado ao ver destruídas a felicidade e a vida de Seus
filhos. Eles estão irados com o pecado e seus resultados. Além disso, Eles
oportunamente aniquilarão o pecado e aqueles que escolheram agarrar-se à
conduta destrutiva e sem afeto. Por causa do grande amor dos membros da
Divindade pelo ser humano, Eles Se iram contra as coisas que destroem as
pessoas. A ira de Deus é uma santa indignação.
Os seguidores de Cristo não só podem como devem possuir essa mesma ira
contra o pecado. Enquanto escrevo estas páginas, os destroços resultantes das
bombas no Alfred P Murrah Federal Building, em Oklahoma City, ainda estão sendo
investigados em busca de sobreviventes. Quem poderia estar doente assim para
perpetrar tamanho crime? Fico irado por saber que crianças inocentes e outras
pessoas inocentes foram mortas.
Também me deixa irado o fato de milhões de pessoas estarem
desnecessariamente morrendo de fome ao redor do mundo, enquanto outras pessoas
têm mais do que podem consumir. Fico irado quando jovens, rapazes e moças, são
levados a desviar-se por traficantes de drogas e outros que se aproveitam dos
solitários e fracos. Fico irado pela mesquinhez na igreja entre aqueles que
instigam a letra da lei, enquanto transgridem seu espírito.
Como cristãos, devemos odiar o pecado, mas amar o pecador. Infelizmente,
com muita freqüência, tomamos o rumo exatamente oposto. Como resultado,
geralmente nos iramos contra aqueles que nos menosprezam ou ferem nosso
orgulho pecaminoso.
Jesus quer que entendamos isso. Devemos ter o tipo certo de ira, a ira que
Ele tem, aquele tipo de ira que odeia o pecado, mas que deseja o melhor para os
pecadores e se recusa a abrigar qualquer ressentimento[33].
O Espírito da Lei
Que diremos então? A lei é pecado? De modo
nenhum! De fato, eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da lei.
Pois, na realidade, eu não saberia o que é cobiça, se a lei não dissesse: Não
cobiçarás. Mas o pecado, aproveitando a oportunidade dada pelo mandamento,
produziu em mim todo tipo de desejo cobiçoso... Mas quando o mandamento veio, o
pecado reviveu, e eu morri. Romanos 7:
Paulo fora um homem orgulhoso. Era um fariseu entre os fariseus, um dos
mais zelosos da sua seita. Se qualquer deles pudesse ter guardado a lei
perfeitamente, esse teria sido Paulo.
Ele estava muito bem. Adorava a Deus de maneira suprema, não se inclinava
aos ídolos nem tomava o nome de Deus em vão, e era cuidadoso em guardar as
inúmeras regras a respeito da observância do sábado. Tampouco cometera
adultério, roubara, ou dissera falso testemunho. Afinal, concluíra, ele era
uma pessoa bastante boa. Paulo tinha boas razões para ter certa presunção
religiosa.
No entanto, ele viu a luz. Viu um mandamento diferente, aquele que diz Não cobiçarás. De repente o pecado
tomou uma nova forma. Afinal, esse pecado implica uma atitude mental e não um
ato físico.
É verdade que ele evitara o próprio ato do roubo, do adultério e outros
mais, mas aqui Paulo, o fariseu, esbarrara no significado mais profundo da lei.
A lei também tinha que ver com as atitudes.
Não cobiçarás atingiu
Paulo como um raio. Ele começou a compreender o significado mais profundo da
lei e sentiu-se, conforme as palavras de Isaías, destruído. Ou como
Paulo podia ficar feliz com suas realizações enquanto estava lidando com a
letra da lei, mas sua ilusão de conduta perfeita foi esmagada de uma vez por
todas quando ele compreendeu a verdadeira profundidade da lei.
A experiência de Paulo deve ser também a nossa. A profundidade do problema
do pecado é revelado no espírito da lei e somos conduzidos até a cruz, onde
também morremos para toda esperança em nós mesmos ou nas realizações próprias[34].
Desprezo é Homicídio
Vede, não desprezeis a qualquer destes
pequeninos; porque Eu vos afirmo que os seus anjos nos Céus vêem
incessantemente a face de Meu Pai celeste. Porque o Filho do homem veio salvar
o que estava perdido. Mateus 18: 10 e 11.
Em Mateus 5: 22 somos advertidos a não chamar ninguém de Raca.
Bem, eu imagino que você não deve ter chamado ninguém de Raca nesta última semana,
nem, talvez, em toda a sua vida.
Isso quer dizer que você está bem, certo? Não! Uma vez mais precisamos
considerar o significado mais profundo sugerido pelas palavras de Jesus. Raca
é uma dessas palavras difíceis de traduzir. Mas não há dúvida alguma de que
seja uma palavra abusiva, um insulto. As traduções para o português são muitas.
Idiota, tolo, louco, você não vale nada,
são as que pude encontrar em algumas versões da Bíblia.
A idéia básica é que qualquer pessoa que demonstrar desprezo por outra está
errada. Mateus 5: 22 também
menciona que todo aquele... que proferir um insulto a seu irmão... estará sujeito ao
fogo do inferno. Aqui outra vez estamos tratando de uma atitude
abusiva, de desprezo por uma pessoa.
Quem é você para desprezar quem quer que seja? Quem sou eu para
menosprezar outra pessoa por qualquer motivo que seja? Aqueles que são tão
prontos a espalhar insultos espirituais ou tão inclinados a fazer fofocas a
respeito de defeitos alheios se acham debaixo da condenação desse verso.
Todos nós pecamos e não atingimos os ideais de Deus. Para dizer com
franqueza, por causa do pecado nós todos somos verdadeiros tolos e sem valor.
Mas Deus, em Sua graça, nos alcançou e nos transformou em filhos Seus
novamente. Ele enviou Jesus para morrer
E Jesus morreu não só por mim; morreu por outros também. Por isso, preciso
tratá-los com respeito.
De acordo com Mateus 5:22, o mexeriqueiro ou difamador é homicida de reputação. Desprezo
para com as pessoas é a raiz do homicídio. Faremos bem em seguir a ordem de
Jesus: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire
pedra. João 8: 7 [35].
Conhecendo Geena
Então, o rei dirá também aos que estiverem à Sua
esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o
diabo e seus anjos. Mateus 25: 41.
Onde é Geena?
Esse lugar está localizado ao sudoeste
de Jerusalém e é conhecido como o Vale de Hinom.
O Vale de Hinom teve uma história bem intrigante. Era o lugar em que o rei
Acaz levou o povo de Israel à adoração de Moloque, a quem criancinhas eram
sacrificadas no fogo II Crônicas 28: 3. O rei Josias eliminou a adoração de
Moloque e ordenou que o vale fosse para sempre um lugar amaldiçoado.
Jeremias predisse que por
causa desse pecado, o Senhor faria do Vale de Hinom o Vale da Matança, onde os
cadáveres dos israelitas seriam enterrados, até que se não achasse mais lugar
para eles, e o restante dos corpos serviriam de alimento para as aves dos céus
Jeremias
7: 32 e 33. No tempo de Jesus, o Vale de Hinom se transformara no lugar
onde o refugo de Jerusalém era jogado e destruído. Era um tipo de incinerador,
onde ocorria uma contínua combustão lenta e de onde saía uma cortina de densa
fumaça perpetuamente.
Em outras palavras, o Vale de Hinom ou Geena
não era um lugar interessante. Nos tempos do NT chegara a ser considerado como
um lugar de punição dos ímpios. Por isso, a maioria das versões da Bíblia
traduzem Geena, em Mateus
5: 22, por inferno.
Isso nos mostra um aspecto interessante nos ensinos de Jesus no Sermão do
Monte. Os escribas e fariseus não apenas haviam reduzido as exigências da lei,
mas também as punições associadas com a transgressão da mesma. Eles diziam que
qualquer que cometesse homicídio fisicamente correria o perigo de juízo nos
tribunais civis, mas Jesus afirmou que até mesmo aqueles que desprezassem seu
semelhante correriam risco de sofrer o fogo do inferno.
Jesus nos leva a sério. E Ele sabe que a vida pode ser destruída por
aqueles que fazem fofocas a respeito de outros, aqueles que tratam os outros
indiferentemente, e aqueles que são espiritualmente arrogantes.
Jesus não está brincando conosco. Sua mensagem é que precisamos ser tão
bondosos, compreensivos e amáveis como é Deus, o Pai. Nós também precisamos
evitar o homicídio em todas as suas formas[36].
Ofertas Inaceitáveis
Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali
te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar
a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando,
faze a tua oferta. Mateus 5: 23 e 24.
Uma das importantes contribuições desses versos é que eles nos levam além do
negativo, para o lado positivo da religião. Em Mateus 5: 21 e 22, Jesus
nos diz para evitar a ira centralizada no eu e evitar tratar outras pessoas
com desprezo. Mas a pessoa pode evitar todas as coisas negativas e ainda assim
não estar bem com Deus.
O cristianismo vai além de meramente evitar o negativo e alcançar o
positivo. Se você, meu amigo, pensa que é cristão por aquilo que evita, está
totalmente errado. O cristianismo é basicamente algo positivo; é alcançar
outras pessoas, mesmo quando elas não merecem. Ninguém jamais chegará ao Céu
por causa das coisas que evitou. Jesus nos diz que precisamos colocar nosso
cristianismo em prática na vida diária.
O quadro que Jesus pinta em Mateus 5: 23 e 24 torna-se muito vivo
para Seus ouvintes. Certo homem traz sua oferta sacrifical ao templo para ser
oferecida por seu pecado, pelo sacerdote. O adorador está em pé junto à grade
do altar, pronto para colocar a mão sobre a vítima e confessar seus pecados
sobre a cabeça daquele que seria sacrificado. Nesse momento, ele se lembra de
que tem um problema não resolvido com alguém. Jesus deixa bem claro o dever do
adorador. Para que o sacrifício seja aceito, ele precisa primeiro ir e acertar
as coisas com a outra pessoa.
Isso fala ao meu e ao seu coração. Deve falar a nós de modo muito especial
quando é tempo de Santa Ceia. Antes de participarmos, precisamos acertar as
coisas com nossos companheiros e irmãos da igreja, até mesmo nos oferecendo
para lavar-lhes os pés.
Essas palavras nos incomodam quando somos envolvidos em fofocas a respeito
de outras pessoas ou quando ficamos irados porque fomos maltratados. Não será
suficiente colocar uns R$
Como de costume, Jesus aborda o centro da questão. Se você quer estar bem
com Deus, precisa estar bem com as outras pessoas[37].
Reconcilie-se Depressa
Entra em acordo sem demora com o teu adversário,
enquanto estás com ele a caminho, para que o adversário não te entregue ao
juiz, o juiz, ao oficial de justiça, e sejas recolhido à prisão. Em verdade te
digo que não sairás dali, enquanto não pagares o último centavo. Mateus 5: 25 e
26.
Nesses
versos Jesus pinta novamente um quadro significativo com Suas palavras. Pode
parecer estranho que Ele retrate dois adversários andando juntos para o
tribunal. Isso seria algo realmente raro em uma cidade moderna, mas não em uma
vila rural da Palestina.
Nessa passagem Jesus dá a cada um de nós um excelente conselho que, se for
atendido, tornará nossa vida mais prazerosa. Há várias lições no texto.
A primeira delas é não deixar as coisas se inflamarem. Isso me faz lembrar
de que na mão do meu avô faltava um dedo. Ele não nasceu desse jeito; mas ficou
assim. Quando ainda jovem, entrou-lhe uma lasca de madeira no dedo. Foi muito
doloroso e difícil de remover. Por isso, ele deixou que a natureza se
encarregasse do processo de cura. Infelizmente, o dedo inchou e infeccionou.
Um pouco do problema era de se esperar, mas no caso dele a infecção chegou a um
ponto em que não podia mais ser controlada. Como resultado, ele perdeu o dedo.
Jesus está nos dizendo algo semelhante com respeito ao relacionamento
humano. Muitas discussões que poderiam ser facilmente resolvidas logo de
início, são deixadas a inflamar e deteriorar o relacionamento. Amargura gera
amargura. É melhor buscar sem demora
a restauração de um relacionamento prejudicado, mesmo que não estejamos em
falta. Esse é um bom conselho tanto para famílias como para igrejas e
comunidades. Acreditem ou não, as coisas podem ficar piores.
Logicamente, Jesus pode também estar sugerindo que devemos nos reconciliar
e viver em paz com as pessoas, porque nunca sabemos quando será o fim da nossa
vida terrena, ocasião em que será muito tarde para acertar qualquer questão.
Jesus nos aconselha a demonstrar consideração uns pelos outros, mesmo por
aqueles que pensamos ser nossos adversários. Isso nem sempre é fácil, mas é
cristianismo. Que Deus nos ajude para que cada um hoje possa acertar situações
em que tenha ofendido a alguém ou em que outros o tenham ofendido[38].
Voltando às Bem-Aventuranças
De maneira
que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos
justificados por fé (Gálatas 3: 24).
Até agora já andamos com Jesus uns 10 dias na
trajetória de Sua primeira ilustração sobre a profundidade e amplitude da lei.
Ele salientou coisas que a maioria de nós nunca quis saber. Por exemplo, é uma
coisa dizer que não devo matar, mas é outra bem diferente dizer que não devo
abrigar ressentimento ou olhar a outros com desprezo, tanto no aspecto social
como espiritual; ou pior ainda, que não devo sequer falar injuriosamente ou
fazer fofocas a respeito de outros. Será que Ele realmente quis dizer que
destruir assassinar a reputação de
uma pessoa se enquadra no sexto mandamento?
Isso já é demais. Quem pode viver por esses padrões?
A verdade é que ninguém pode quando compreendemos a profundidade e a
amplitude da lei. Diante do ideal de Deus, somos levados de volta à primeira
parte das bem-aventuranças. Mais uma vez compreendemos nossa pobreza de
espírito e o peso de nossas falhas em comparação com o que devíamos ser. Ao
nos afligirmos e prantearmos essas faltas e nossa necessidade de ser mais
semelhantes a Jesus, nosso orgulho é transformado em mansidão.
Como resultado, sentimos fome e sede da justiça, que vêm unicamente por
meio da graça perdoadora de Deus. A lei nos conduz de volta a Cristo, para que
sejamos justificados. Conquanto a passagem de Gálatas em seu contexto
se relacione com a experiência de Israel, ao ser historicamente conduzido por
Cristo à lei, ela pode também relacionar-se com a nossa experiência pessoal.
Diante da exposição de Jesus quanto à profundidade da lei, somos literalmente
levados ao pé da cruz para obter a graça purificadora de Deus.
E essa graça purificadora uma vez mais nos conduz à segunda parte das
bem-aventuranças. Temos fome e sede da graça habilitadora de Deus, que nos
torna verdadeiramente misericordiosos, puros de coração e pacificadores.
O grande sermão de Cristo é uma unidade. Não é um grupo isolado de
declarações sem rima ou motivo. As várias partes se encaixam, e todas elas
refletem os ideais de Deus e Seu plano de salvação[39].
Leitura adicional
Todo aquele que... Se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento.
Mateus 5: 22.
O Senhor dissera por intermédio de Moisés: Não aborrecerás a teu irmão
no teu coração... Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas
amarás o teu próximo como a ti mesmo. Levitico 19: 17 e 18. As verdades
apresentadas por Cristo eram as mesmas que haviam sido ensinadas pelos
profetas, mas haviam-se tornado obscuras através da dureza de coração e o amor
do pecado.
As palavras do Salvador revelaram a Seus ouvintes que, ao passo que eles
estavam condenando outros como transgressores, eram eles próprios igualmente culpados;
pois acariciavam malícia e ódio.
De outro lado do mar, defronte do lugar em que se achavam reunidos,
ficava a terra de Basã, uma região deserta, cujas selváticas gargantas e montes
cobertos de vegetação, haviam sido desde há muito um terreno favorito de
esconderijos para criminosos de toda espécie. Estavam vívidas na memória do
povo notícias de roubos e assassínios ali cometidos, e muitos eram zelosos em
acusar esses malfeitores.
Ao mesmo tempo, eles próprios eram apaixonados e contenciosos; nutriam o
mais terrível ódio contra seus opressores romanos, e sentiam-se em liberdade de
odiar e desprezar todos os outros povos, e mesmo seus próprios patrícios que
não concordavam em tudo com as suas idéias. Em tudo isto, violavam eles a lei
que declara: Não matarás. Êxodo 20: 13.
O espírito de ódio e de vingança originou-se com Satanás; e isto o levou
a fazer matar o Filho de Deus. Quem quer que acaricie a malícia ou a falta de
bondade, está nutrindo o mesmo espírito; e seus frutos são para a morte. No pensamento
de vingança jaz encoberta a má ação, da mesma maneira que a árvore está na
semente. Qualquer que aborrece a seu irmão é homicida. E vós sabeis que nenhum
homicida tem permanecido nele a vida eterna. I João 3: 15.
Qualquer que chamar a seu irmão de Raca indivíduo vão será réu do Sinédrio. Mateus 5: 22. No dom de Seu Filho para
nossa redenção, Deus mostrou quão alto valor dá Ele a toda alma humana, e não
dá direito a homem algum de falar desprezivelmente de outro. Veremos faltas e
fraquezas nos que nos rodeiam, mas Deus reivindica toda alma como Sua
propriedade, Sua pela criação, e duplamente Sua como comprada com o precioso
sangue de Cristo. Todos foram criados à Sua imagem, e mesmo os mais degradados
devem ser tratados com respeito e ternura. Deus nos considerará responsáveis
mesmo por uma palavra proferida em desprezo a respeito de uma alma por quem
Cristo depôs a vida.
Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas
recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras
recebido? I Corintios 4: 7. Quem és tu que julgas o servo alheio? Para seu
próprio senhor ele está em pé ou cai. Romanos 14: 4.
Quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo. Mateus 5: 22. No AT a palavra aí traduzida por tolo é usada para designar um apóstata,
ou uma pessoa que se entregou à impiedade. Jesus diz que quem quer que condene
seu irmão como apóstata ou desprezador de Deus, mostra ser ele mesmo digno da
mesma condenação.
O próprio Cristo, quando contendia com Satanás acerca do corpo de
Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele. Judas 9.
Houvesse Ele feito isso, e ter-Se-ia colocado no terreno de Satanás; pois a
acusação é a arma do maligno. Ele é chamado na Escritura o acusador de nossos irmãos.
Apocalipse 12: 10. Jesus não empregaria nenhuma das armas de Satanás.
Ele o enfrentou com as palavras: O Senhor te repreenda. Judas 9.
Temos o Seu exemplo. Quando postos em conflito com os inimigos de
Cristo, nada devemos dizer em um espírito de represália, ou que tenha sequer a
aparência de um juízo de maldição. Aquele que ocupa o lugar de porta-voz
de Deus não deve proferir palavras que nem a Majestade do Céu
empregaria quando contendendo com Satanás. Devemos deixar com Deus a obra de
julgar e condenar.
Vai reconciliar-te primeiro com teu irmão. Mateus 5: 24.
O amor de Deus é qualquer coisa mais que simples negação; é um princípio
positivo e ativo, uma fonte viva, brotando sempre para beneficiar os outros. Se
o amor de Cristo habita em nós, não somente não nutriremos nenhum ódio contra
nossos semelhantes, mas buscaremos por todos os modos manifestar-lhes
amor.
Jesus disse: Se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão
tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai
reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua oferta.
Mateus 5: 23 e
Quando uma pessoa que professa servir a Deus ofende ou injuria a um
irmão, representa mal o caráter de Deus diante daquele irmão e, a fim de estar
Se, de alguma maneira, prejudicamos ou causamos dano a nosso irmão,
devemos fazer restituição. Se, sem saber, demos a seu respeito falso
testemunho, se lhe desfiguramos as palavras, se, por qualquer maneira, lhe
prejudicamos a influência, devemos ir ter com as pessoas com quem conversamos a
seu respeito, e retirar todas as nossas errôneas e ofensivas informações.
Se as dificuldades existentes entre irmãos não fossem expostas a outros,
mas francamente tratadas entre eles mesmos, no espírito do amor cristão, quanto
mal seria evitado! Quantas raízes de amargura pelas quais muitos são
contaminados seriam destruídas, e quão íntimas e ternamente poderiam os
seguidores de Cristo ser unidos em Seu amor![40]
Autor:
[1] BJ,
p. 1.846.
[2] CBASD, vol. 5, p. 324.
[3] CBASD, vol. 5, p. 324.
[4] CBASD, vol. 1. p. 617.
[5] CBASD, vol. 5, pp. 324 e 325.
[6] CBASD, vol. 5, p. 325.
[7] CBASD, vol. 5, p. 712.
[8] CBASD, vol. 5, p. 712.
[9] CBASD, vol. 5, pp. 712 3 713.
[10] Desejado de
Todas as Nações, p. 292.
[11] CBASD, vol. 5, p. 325.
[12] BJ, p. 1.846.
[13] CBASD, vol. 5, p. 325.
[14] CBASD, vol. 5, p. 325.
[15] BJ, p. 1.846.
[16] Bíblia, Missionários
Capuchinhos, Lisboa, p. 979.
[17] CBASD, vol. 5, p. 325.
[18] CBASD, vol. 5, p. 325.
[19] Bíblia, Missionários
Capuchinhos, Lisboa, p. 979.
[20] CBASD, vol. 5, pp. 325 e
326.
[21] CBASD, vol. 5, p. 326.
[22] CBASD, vol. 5, p. 326.
[23] CBASD, vol. 5, p. 326.
[24] CBASD, vol. 5, pp. 337 e 338.
[25] CBASD, vol. 5, p. 326.
[26] CBASD, vol. 5, p. 326.
[27] CBASD, vol. 5, p. 326.
[28] Comentário
ao Novo Testamento, Mateus, vol. I, William Barclay. Editora Clie, pp.
[29] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 122.
[30] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 123.
[31] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 124.
[32] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 125.
[33] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 126.
[34] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 127.
[35] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 128.
[36] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 129.
[37] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 130.
[38] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 131.
[39] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 132.
[40] O
Maior Discurso de Cristo,