18o
DA
VINGANÇA
38
-
Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente.
OUVISTE - O ensino tradicional
era transmitido oralmente, sobretudo nas sinagogas[1].
Jesus apresenta agora exemplos
específicos de sua interpretação da lei, como Autor e seu único verdadeiro
Expositor. Pondo de lado a casuística rabínica, Jesus restaurou a verdade à sua
formosura original. A expressão ouvistes implica
que grande parte dos ouvintes nessa ocasião não tinham lido eles mesmos a lei.
Isto era de se esperar, porque a maioria deles era composta de rudes lavradores
e pescadores. Quando conversou mais tarde com os eruditos sacerdotes e anciãos,
Jesus perguntou: Nunca lestes nas Escrituras? (Mateus 21: 42). No
entanto, esse mesmo dia um grupo de pessoas comuns do povo, dentro do átrio do
Templo, dirigiu-se a Jesus dizendo: Nós temos ouvido da lei, que o Cristo permanece
para sempre (João 12: 34)[2].
Cristo
apresenta sua quarta ilustração do espírito da lei em contraste com a mera
formalidade de obedecê-la. Os versos 38 a 42 têm que
ver com o proceder de um cristão quando é prejudicado por outros[3].
FOI DITO - Ao citar a antigos expositores da lei, os
rabinos com frequência apresentavam o que esses eruditos tinham dito, com as
palavras que Jesus emprega aqui. Nos escritos rabínicos estas palavras se usam
também para apresentar citações do AT[4].
Esta
citação se baseia em: Se alguém matar outro por astúcia, tu o
arrancarás até mesmo do meu altar, para que morra (Êxodo 21: 14); fratura por
fratura, olho por olho, dente por dente. O dano que se causa a alguém, assim
também se sofrerá (Levítico 24: 20); que teu olho não tenha piedade (Deuteronômio
19: 21)[5].
Olho por olho, dente por dente, pé por pé, queimadura
por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe (Êxodo 21: 24 e 25).
Esta é a lei do talião (Levítico 24:
Esta
lei também estava muito generalizada entre as nações antigas. Sólon introduziu
parcialmente esta lei no código de Atenas, e em Roma foi incluída nas Doze
Tabelas. Numerosas leis de uma natureza similar foram incluídas no antigo
Código de Hamurabi, rei de Babilônia que viveu no tempo de Abraão.
Insistia-se
na interpretação literal desta lei nos dias de nosso Senhor (Mateus
5:
OLHO
POR OLHO - Esta lei
foi instituída para evitar os abusos do sistema de justiça comum na Antiguidade.
Era prática corrente cobrar as dívidas ou danos com interesses exorbitantes.
Esta lei era um estatuto civil, e o castigo devia fazer-se sob a supervisão dos
tribunais. Mas não se justificava a vingança pessoal[8].
NOTA ADICIONAL ÊXODO 21.
Enquanto escavava a Acrópole de
Susa, de dezembro de
A publicação desse código, no ano
de sua descoberta, feita por V. Scheil, perito em escritura cuneiforme, da
expedição produziu uma formidável sensação no mundo dos eruditos bíblicos.
Demonstrou na falácia das afirmações de muitos eruditos das escolas da alta
crítica, tinham negado a possibilidade de que existissem códigos tais como o de
Moisés antes do primeiro milênio a. C. A opinião do mundo erudito a respeito da
lei de Moisés, no tempo da descoberta do Código de Hamurabi, está bem refletida
por Johannes Jeremias em seu livro Moisés e Hamurabi. 2a ed., Leipzig,
1903:
Antes das escavações nenhum
teólogo cientificamente educado levantaria a pergunta: Existe um Código de
Moisés? Seria considerado irresponsável. Todavia seria impossível manter o
pronunciamento literário crítico ante a escola de Kuenen-Wellhausen: Uma
codificação anterior ao século nono.
Fazendo-lhes lembrar a seus
leitores uma afirmação feita por Wellhausen de que, em realidade, é tão impossível que Moisés seja o originador da Lei como
que o Senhor Jesus seja o fundador da disciplina eclesiástica da Hessia
meridional, Jeremias levantava a pergunta: Como julgaria hoje? Os críticos tinham negado enfaticamente
que Moisés fora o autor das leis contidas no Pentateuco, já que estavam
convencidos de que a existência de tais leis era historicamente impossível
durante o segundo milênio a. C. Cedo descobriram uma coleção de leis que
ninguém podia negar que nos tinham sido redigidas na primeira metade do segundo
milênio, mesmo antes do tempo de Moisés. Para grande surpresa dos eruditos
críticos, este Código de Hamurabi revelou que os estranhos costumes da era
patriarcal, como se descrevem no Gênesis, tinham
existido realmente e também revelou que as leis civis do antigo Israel
mostravam grande semelhança com as leis civis da antiga Babilônia.
Devido à grande importância deste
código, apresentamos uma descrição da história da Estela onde se encontram dois
conteúdos de suas leis. Originalmente na Estela havia 3.624 linhas, divididas
em 39 colunas de escritura. Foi erigida por Hamurabi na Babilônia, capital de
seu reino. Quando essa cidade foi conquistada por um rei elamita, a coluna
foi transportada a Susã como troféu de guerra e colocada no palácio real. Os
elamitas apagaram cinco colunas da inscrição, mas, por alguma razão
desconhecida, não as substituíram com nenhuma inscrição própria. Finalmente a
coluna foi rompida em pedaços numa das destruições de Susa, e já estava
sepultada no tempo dos reis persas, quando viveram Ester e Mardoqueu.
O código contém um prefácio, ou
prólogo, no qual o rei pretende ter sido comissionado pelos deuses para atuar
como um governante sábio e justo e para julgar a seu reino. No epílogo, ou
observações finais, o rei reafirma sua intenção de ir ajudar os oprimidos e
prejudicados, e convida a cada um implicado num caso judicial para que vá e
leia na coluna como está seu caso de acordo com a lei do rei. Entre o prólogo e
o epílogo se encontram as 282 seções da lei, todas de uma natureza puramente civil.
Tratam da escravatura e os delitos criminosos, regulam aluguéis, salários e
dívidas, e tratam as questões relativas à propriedade, o casal, os direitos de
embarque e os deveres dos médicos e outros.
Em várias passagens do Gênesis (16:2,
6; 31:2, 39) explicou-se que o Código de
Hamurabi ilustra e aclara alguns costumes aparentemente estranhos da era
patriarcal. Um estudo cuidadoso das disposições do Código de Hamurabi dá como
resultado um quadro interessantíssimo da vida social e dos costumes nos dias de
Abraão e em todo o período patriarcal.
De interesse especial para o
estudante da Bíblia são aquelas leis que mostram semelhanças com a lei de
Moisés. Tenho aqui uma comparação de algumas das leis de Hamurabi, sob a
abreviatura CH, com as disposições correspondentes na lei de Moisés.
HAMURABI |
ÊXODO
22: 1 a 4 |
CH 8.
Se um cidadão roubar um boi, uma ovelha, um asno, um porco ou uma cabra pertencente
ao deus (ou) pertencente ao palácio, pagará trinta vezes seu valor; se
pertence a um cidadão, pagará dez vezes seu valor; se o ladrão não tiver
suficiente para fazer a restituição, será morto. |
Quando
alguém furtar boi ou ovelha, e o degolar ou vender, por aquele boi pagará
cinco bois, e por aquela ovelha quatro ovelhas... Fará completa restituição;
se não tiver com que, será vendido por seu furto. Se for achado com o furto
na mão, vivo, seja boi ou asno ou ovelha, pagará o dobro. |
Notar-se-á que a lei bíblica
acerca do roubo é mais humana do que a babilônia; a última até castiga com a
pena capital em certos casos. No entanto, o princípio de que um ladrão deve
fazer restituição por seu crime é o mesmo em ambas as leis.
O tráfico de escravos era
considerado um grave delito contra a sociedade tanto por Hamurabi como por
Moisés:
CH 14.
Se um cidadão roubou o filho de um cidadão, será morto. |
Assim
mesmo o que roubar uma pessoa e a vender, ou se for achada em suas mãos
morrerá (Êxodo 21: 16). |
As leis que tratam da escravatura
voluntária são similares em princípio:
CH 117.
Se um cidadão tem uma obrigação e, portanto a vendido sua esposa, seu filho,
ou sua filha, ou os deu como garantia, trabalharão na casa de seu comprador,
ou do que tem a garantia, durante três anos; no quarto ano se sancionará sua libertação.
|
Quando
um de teus irmãos, hebreu ou hebreia, te for vendido, seis anos servir-te-á, mas,
no sétimo o despedirás livre. E quando o despedires livre, não o deixarás ir vazio.
Liberalmente, lhe fornecerás do teu rebanho (Deuteronômio
15: 12 a 14). |
Quando um babilônio caia em
escravatura por dívidas, tinha que servir três anos sem nenhuma compensação, ao
passo que o escravo hebreu servia durante um período mais longo, mas recebia
uma recompensa ao fim de seu termo de serviço.
CH 138.
Se um cidadão quer divorciar-se de sua esposa que é estéril, lhe dará a ela
dinheiro pela quantidade do preço de seu casal, e a compensará por seu dote
que ela trouxe da casa de seu pai; então poderá divorciar-se dela. |
Quando
alguém tomar mulher e se casar com ela, se não lhe agradar por ter achado
nela alguma coisa indecente, lhe escreverá carta de divórcio, e se a
entregasse em sua mão, e a despedirá de sua casa (Deuteronômio
24: 1.) |
A lei babilônica permitia
o divórcio no caso de esterilidade feminina, fazia compensação, ao passo que a
lei hebraica só permitia o divórcio se o esposo fosse enganado, segundo o
rabino Shamay, o rabino Hillel era liberal e permitia o divórcio por razões
menores, se sua esposa não fosse a mulher pura ou sã que tinha pretendido ser.
CH
195. Se um filho golpear o seu pai, sua mão seja cortada. |
O que
ferir a seu pai ou a sua mãe morrerá (Êxodo 21: 15). |
A severidade da lei mosaica se
deve a que, de acordo com a disposição divina, a paternidade era mais sagrada
para os hebreus do que para os babilônios.
CH 196.
Se um cidadão destrói o olho do filho de um cidadão. Seu olho será
destruído. CH 197.
Se ele rompe o osso de um cidadão, seu osso será rompido. CH
198. Se ele destrói o olho de um subordinado; ou rompe o osso de um
subordinado, pagará uma mina de prata. CH 200.
Se um cidadão de um golpe lhe saca um dente a um cidadão, seu dente lhe será
sacado de um golpe. |
O que
causar lesão no seu próximo segundo fez, assim lhe seja feito: rompimento por
rompimento, olho por olho, dente por dente; segundo a lesão que tenha feito a
outro, tal se fará a ele (Levítico 24: 19, 20). E não
lhe terá piedade; vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão,
pé por pé (Deuteronômio 19: 21). |
Ambas as leis garantem a cada
homem vida, saúde e bem-estar. Encontra-se uma marcada diferença no fato de que
havia duas classes de cidadãos na Babilônia, os que eram plenamente cidadãos, livres, e outra classe, a dos
que poderiam ser chamados servos, palavra traduzida como subordinados, ao passo que os hebreus não faziam tais distinções.
O conceito de que todos os homens eram iguais parece ter-se originado com o
povo de Deus. A dignidade do homem não pode ser plenamente compreendida a
menos que tenha um reconhecimento do Deus verdadeiro e dos princípios
partilhados a Israel.
CH 199.
Destrói-se o olho do escravo de um cidadão, ou rompe o osso do escravo de um
cidadão, pagará a metade do preço que compra. |
Se
algum ferir o olho de seu servo, ou o olho de sua serva, e o prejudicar, lhe
darão liberdade por razão de seu olho (Êxodo 21:
26). |
É manifesta a diferença nestas
leis. A lei babilônica tão-só fala de danos ocasionados ao servo de outro
homem, e os trata como se tivessem sido infligidos contra o amo do servo, mas a
lei bíblica reconhece o direito humano de um escravo, que tinha de ficar livre
se por alguma razão o lesava seu amo. Isto mostra claramente que a lei hebraica
não considerava um escravo como a propriedade incondicional de seu amo,
princípio que não é reconhecido em nenhuma outra parte do antigo Oriente.
CH 206.
Se um cidadão golpeou um cidadão numa disputa e lhe ocasiona uma lesão, este
cidadão jurará: Não o golpeei deliberadamente, no entanto pagará a fatura do
médico. |
Se
alguém brigar, e ferir seu próximo com pedra ou com o punho, e este não
morrer, mas cair em cama; se levantar e andar fora sobre seu báculo então
será absolvido o que o feriu; somente lhe reembolsará pelo que esteve sem trabalhar,
e fará que lhe curem (Êxodo 21: 18, 19). |
Estas duas leis são quase
idênticas.
CH 209.
Se um cidadão golpeou a filha de um cidadão, e lhe ocasiona um aborto, pagará
dez ciclos de prata pelo feto dela. |
Se brigarem, e ferirem a uma mulher grávida, e esta abortar, mas sem
ter morte, serão culpados conforme ao que lhes impuser o marido da mulher e
julgarem os juízes (Êxodo 21:22). |
O castigo deste crime era mais
severo entre os hebreus do que entre os babilônicos devido ao conceito que
tinham os hebreus da santidade da vida.
O hebreu autor do crime não
ficava inteiramente livre ao arbítrio do esposo, já que qualquer demanda do
esposo tinha que ser confirmada pelos juízes.
CH 210.
Se essa mulher morreu, a filha dele será morta. |
Mas se
tiver morte, então, pagarás vida por vida (Êxodo
21: 23). |
Neste caso as disposições são
mais semelhante já que houve uma perda de vida humana. No entanto, a lei
babilônica permitia que um homem pagasse por seu homicídio com a vida de sua
filha invés de pagá-lo com a sua própria, uma injustiça para a filha que não
permitia a lei de Moisés (Ezequiel 18: 20).
Estes são alguns exemplos nos
quais as leis de Hamurabi mostram grande semelhança com as leis mosaicas. Há
certas diferenças fundamentais, devidas principalmente a diferentes conceitos
quanto aos direitos dos seres humanos e à santidade da vida. No entanto, também
se deve lembrar que muitas das leis de Hamurabi não mostram absolutamente qualquer
semelhança com as leis bíblicas. Contudo, é óbvio para qualquer que tenha
estudado estas leis, que há alguma relação entre os códigos bíblico e
babilônico. Este fato se pode explicar de três maneiras:
(1) As leis mosaicas são base do
Código de Hamurabi.
(2) Moisés se valeu das leis de
Hamurabi.
(3) Ambas as coleções se remontam
à mesma origem.
A
primeira destas três teorias não pode ser verdadeira, já que o Código de
Hamurabi foi escrito muito antes do tempo de Moisés. Que as leis bíblicas foram
tomadas das babilônias foi sustentado pelos críticos que crêem que o Pentateuco
começou a existir tão só após que os judeus se relacionaram com os babilônios
durante o primeiro milênio a. C. Esta teoria não é aceitável para os que crêem
que Moisés recebeu suas leis de Deus no monte Sinai, em meados do segundo
milênio a. C. A melhor explicação é concluir de que ambas as leis se remontam a
uma origem comum.
Já que está confirmado que Abraão
estava familiarizado com as leis e mandamentos de Deus quatro séculos antes do
Êxodo (Gênesis 26: 5); as leis
dadas no monte Sinai só podem ter sido uma repetição dos preceitos divinos que
tinham sido comunicados à humanidade muito antes desse tempo.
Como Abraão, os povos de
Mesopotâmia conheciam essas leis e as transmitiram de geração a geração,
primeiro oralmente e depois por escrito. Mas os conceitos idólatras e de
politeísmo gradualmente corromperam, não só as práticas religiosas e morais,
senão também os princípios legais. Por isso as leis de Hamurabi diferem de seu
equivalente bíblico e são menos humanas.
Durante 45 anos se pensou que o
Código de Hamurabi era a mais antiga coleção de leis. No entanto, foram
encontradas várias coleções de leis muito mais antigas. De Nippur procede o
Código de Lipitishtar, publicado em 1948. Foi escrito em sumério, um ou dois
séculos antes do Código de Hamurabi, mas é muito similar a ele e mesmo contém
várias leis idênticas às deste último. No mesmo ano, 1948, foi publicado outro
código que tinha sido descoberto em Harmal, perto de Bagdá, o Código do rei
Bilalama de Eshnunna, que governou uns 300 anos antes de Hamurabi.
Evidentemente, este código é precursor das leis de Lipitishtar e Hamurabi.
Em 1954 se publicou um código
legislativo mais antigo do que qualquer dos três mencionados, conhecido como o
Código de Urnammu. Contém leis muito mais humanas do que quaisquer das outras
conhecidas até então. Isto mostra que um código desta natureza quanto mais de
perto se relaciona com a fonte original, que foi divina, melhor revela o
caráter do verdadeiro doador da lei: Deus. Em qualquer código de leis que
formem parte, todos os princípios corretos refletem a justiça e a misericórdia
do Autor da retitude e da verdade[9].
OLHO POR OLHO - Êxodo 21:
A LEI ANTIGA
Ouviste o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu
porém vos digo: não resistais ao homem mau, antes aquele que te fere na face
direita oferece-lhe também a esquerda; e aquele que quer pleitear contigo, para
tomar-te a túnica, deixa-lhe também a veste; e se alguém te obrigar a andar uma
milha, caminha com ele duas. Dá ao que te pede enão voltes as costas ao que te
pede emprestado.
Poucas passagens do NT contém tanta essência de ética cristã como esta.
Aqui temos a ética característica da vida cristã, e a conduta que deveria
distinguir os cristãos dos que não são cristãos.
Jesus inicia citando a lei mais antiga do mundo olho por olho, e dente por dente.
Esta lei é conhecida como a Lex
Talionis,Lei do Talião e pode
ser descrita como a lei do toma lá dá cá
aplicada as ofensas. Aparece nos códigos de leis mais antigas de que se
conhece, o Código de Hamurabi, que reinou em Babilônia de
Esta lei chegou a formar parte integrante da ética do AT. A encontramos
estabelecida pelo menos
em três vezes: Mas se houver dano grave, então darás vida por vida, olho por olho,
dente por dente, pé po pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe
por golpe (Êxodo 21:23 a 25). Se
um homem ferir um compatriota, desfigurando-o, como ele fêz assim se lhe fará:
fratura por fratura, olho por olho, dente por dente. O dano que se causa a alguém,
assim também se sofrerá (Levítico 24: 19 e 20). Vida por vida, olho por olho,
dente por dente, mão por mão, pé por pé, que teu olho não tenha piedade (Deuteronômio
19:21). Estas leis citadas entre as mais sanguinarias, salvagens e
sem piedade do AT; mas antes de criticar, deveríamos notar certas coisas.
2. Esta não foi nunca uma lei que lhe dera à pessoa, individualmente,
o direito a vingar-se por si mesma; sempre foi uma lei que estabelecia um
juiz de um tribunal legal para estipular o castigo Os juizes investigarão cuidadosamente.
Se a testemunha for uma testemunha falsa, e tiver caluniado seu irmão, então vós
trareis conforme ela própria maquinava tratar seu próximo. Deste modo
extirparás o mal do teu meio (Deuteronomio
19: 18). Esta lei nunca teve a finalidade de dar ao indivíduo o
direito a aceitar nem sequer a vingança do toma
lá dá cá. Sempre se pretendeu que fosse um guia para um juiz a estipulação
do castigo que devia receber qualquer obra violenta ou injusta.
3. Esta lei jamais se cumpriu literalmente,
pelo menos em nenhuna das sociedades civilizadas. Os juristas judeus
arrrazoavam acertadamente que se cumpriria literalmente poderia ser de fato o
contrário da justiça, porque obviamente poderia supor o pagamento de um bom
olho ou um bom dente com um mal olho ou um mal dente. E se
chegou muito próximo a compensar o dano causado com dinheiro; e a lei judaica
estabelece meticulosamente no tratado Baba
Kamma como se tem que reparar um dano. Se uma pessoa prejudicou outra, pode
ter sido de uma destas cinco maneiras: Com injúria, dor, tratamento médico,
perda de tempo, e indignidade. Quanto à injúria,
o injuriado se considera como un escravo que se põe a venda no mercado. Seu
valor antes e depois da injúria se
estipula, e o responsável da injúria tem que pagar a diferença. Havia sido o responsável
da perda do valor da pessoa injuriada. Quanto à dor, se estimava quanto dinheiro aceitaria uma pessoa por estar
disposta a sofrer a dor da injúria infligida, e o responsável da injúria teria
que pagar esta soma. Quanto ao tratamento
médico, o causador do mal teria que pagar todos os gastos do tratamento
médico necessário até que se chegasse a uma cura total. E quanto à perda de tempo, o ofensor teria que
pagar a compensação pelos salários perdidos enquanto o ofendido estivesse
incapacitado para trabalhar, e também teria que pagar a compensação se o
ofendido havia tido uma posição bem paga, a consequência do dano, quando o
capacitado somente puder executar um trabalho menos remunerado. E quanto à indignidade, o ofensor teria que pagar
os danos pela humilhação e a indignidade que a injúria havia infligido. Nessa
prática legal, o tipo de compensação que estabelecia a Lei do Talião é surpreendente e moderna.
4. O mais importante de tudo: Há que se recordar
que a Lei do Talião não é muito menos
importante que toda a ética do AT. Há momentos e até esplendores de
misericórdia no AT. Não te vingarás e nem
guardarás rancor contra os filhos do teu povo. Amarás o teu próximo como a ti
mesmo. Eu Sou Iahweh (Levítico 19:18). Se
teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá lhe de beber (Provérbios 25: 21). Não digas:Segundo
me fez, assim lhe farei! Devolverei a cada um segundo sua obra! (Provérbios 24:29). Que dê sua face a
quem o fere e se sacie de opróbrios (Lamentações
3:30). Há abundante misericórdia no AT.
Assim, a ética antiga se baseava na lei
do toma lá dá cá. É verdade que essa
lei era misericordiosa; é verdade que era uma lei para um juiz e não para a
pessoa individualmente; é verdade que nunca se levava a cabo literalmente; é
verdade que havia acenos de misericórdia que se percebiam ao mesmo tempo. Porém,
Jesus obliterou o mesmo princípio dessa lei, porque a vingança, por muito
controlada e restringida que seja, não tem lugar na vida cristã[11].
A Lei da Desforra
Vocês ouviram o que foi dito: Olho por olho, dente por dente
(Mateus 5: 38).
Aqui temos uma referência ao antigo código
da lei de Talião, a lei da retaliação. Ele está entre os mais primitivos
códigos de leis humanas. Assim, estava no Código de Hamurabi, que reinou na
Babilônia antes do tempo de Moisés, mas de forma menos justa do que no AT.
A lei básica de Talião é encontrada em
pelo menos três lugares no AT. Em Deuteronômio 19: 21, lemos: Não o olharás
com piedade: vida por vida, olho por olho, dente por dente... Em Levítico
24:
19 e 20, lemos: Se
alguém causar defeito em seu próximo, como ele fez, assim lhe será feito:
fratura por fratura, olho por olho, dente por dente; como ele tiver desfigurado
a algum homem, assim se lhe fará.
Por razões óbvias, essas leis são frequentemente
citadas pelos críticos como sendo as mais brutais do AT. Mas, antes de
criticarmos demais, precisamos considerar a intenção das mesmas.
Em primeiro lugar, é importante
compreender que o objetivo dessas leis do AT não era a crueldade legalizada,
mas a misericórdia. Pense por um momento na impetuosidade humana e na
desforra. Minha tendência humana, quando alguém faz algo que me prejudica, é
fazer pelo menos algo tão mau como o que me foi feito ou pior, se puder. Assim,
a desforra descontrolada aumenta à medida que cada um retribui de maneira mais
brutal. Uma inimizade sanguinária entre famílias em guerra é o possível
resultado.
A legislação do AT foi dada para colocar
limites na desforra. Assim ninguém pode insistir num castigo maior do que o
merecido pelo crime.
Em segundo lugar, a lei não era imposta
por indivíduos, mas pelo governo, na tentativa de manter a ordem civil. Era o
juiz quem estabelecia os termos da punição. Na realidade, os judeus de épocas
posteriores geralmente trocavam a lei de Talião por punições monetárias.
Mesmo o que parece ser o lado cruel do
AT precisa ser considerado à luz de um Deus misericordioso[12].
Considere Todos os Fatos
Não digas: Como ele me fez a mim, assim lhe farei a ele;
pagarei a cada um segundo a sua obra (Provérbios 24: 29).
É sempre perigoso pegar um verso aqui,
outro ali, e dizer que isso é o que a Bíblia ensina sobre o assunto. É
importante ponderar sobre o quadro completo.
Temos aqui considerado alguns versos nos
quais a lei de Talião ou do olho por olho era ensinada.
Percebemos que aquilo que parecia ser uma lei brutal, era, na verdade, um
aspecto de misericórdia da legislação, no sentido de que ela limitava o grau
da vingança.
Mas o ideal de misericórdia divina é
muito mais amplo do que isso no AT. Esse pode ter sido o limite legal da
vingança, mas o verdadeiro ideal de Deus para Seu povo era um ideal de graça.
Por isso, como vemos no texto bíblico, as pessoas são aconselhadas a não dar o
troco aos outros pelo que eles lhes fizeram, não desforrar-se à moda da lei de Talião.
Em Levítico
19:
18, lemos:
Não
te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu
próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor. E em Provérbios 25: 21: Se o
que te aborrece tiver fome, dá-lhe pão para comer.
Assim sendo, mesmo no AT, o ideal de
Deus para Seu povo individualmente era de misericórdia e não de justiça
estrita. Graça é a nota tônica em ambos os testamentos. Deus a concede a nós.
Nosso dever é passá-la adiante.
Prejuízos não imagináveis sobrevieram ao
povo de Deus por meio daqueles que estavam em seu meio escolhendo as mais
fortes declarações da Bíblia para impô-las sobre outras pessoas, sem levar em
consideração o contexto ou o equilíbrio dos fatores.
Mensagens Escolhidas, vol. 3, págs.
285-287
nos adverte contra aqueles que escolhem as expressões mais fortes dos testemunhos e querem impô-las em todos os casos a
despeito do seu contexto. Não apanhem os
indivíduos as declarações mais fortes, feitas a pessoas e famílias, impondo
essas coisas porque desejam usar o açoite e ter algo para impor.
Esse conselho se aplica também à Bíblia.
Considere todos os fatos a respeito de determinado assunto[13].
39 - Eu, porém, vos digo: Não
resistais ao homem mau; antes, aquele que te fere na face direita oferece-lhe
também à esquerda.
EU, PORÉM VOS DIGO - Os rabinos citavam as tradições como
autoridade na qual baseavam sua interpretação da lei. Cristo falou por sua
própria autoridade, e este fato distinguia Seu ensino dos rabinos, o que o povo
observou sem demora Mateus 7:
Cristo
destacou quão abarcantes são em verdade os requerimentos da lei e fez ressaltar
que a mera conformidade exterior com a lei de nada serve[14].
RESISTAIS - Trata-se do mal pelo
qual somos pessoalmente prejudicados; é proibido resistir a ele por meio de
vingança, pagando o mal com o mal, segundo a regra judaica do Talião cf. v.38,
Êxodo 21: 25; Salmos 5: 11. Jesus não proíbe que alguém se oponha
dignamente aos ataques injustos (João 18: 22 e 23), e menos ainda que
alguém combata o mal no mundo[15].
Jesus não nos convida a ficar passivos diante do mal, da
opressão, da violência, mas que não nos deixemos levar pelo espírito de
vingança e de violência, sob o pretexto de defender os direitos próprios ou os
do próximo. Reinterpreta assim a antiga lei do Talião (Êxodo 21:
Isto é, não tenteis vingar-vos
pelos males sofridos. Aqui Jesus parece referir-se a uma hostilidade ativa e
não a uma resistência passiva. O cristão não deve responder à violência com
violência. Deve vencer com o bem o mal (Romanos 12: 21) e
amontoar brasas de fogo sobre a
cabeça do quem o prejudica (Provérbios 25: 21 e 22)[16].
FACE
DIREITA - Bem como
ocorre com as outras ilustrações que aparecem nos versos
O FIM DO RESSENTIMENTO E DA VINGANÇA
Assim, para o cristão, Jesus aboliu a
antiga lei da vingança limitada, e introduz o novo espirito que exclui o
ressentimiento e a vingança. Passo a dar três exemplos de espirito cristão em
ação. Se tomarmos o dito com um literalismo curto e obtuso perderemos
totalmente seu ensino. É necessário compreender o que Jesus está dizendo.
Diz que se alguém te der uma bofetada no
rosto direito deves oferecer tambem o outro lado. Existe no texto um conceito
bem mais abarcante do que parece à simples vista, muito mais que uma mera
questão de bofetadas.
Suponhamos que o homem é destro, e quer
dar uma bofetada tal que tem diante dele a face direita do opositor, como faria?
A menos que faça contorsões mais complicadas, o qual privaria toda sua força ao
golpe, não pode dar a bofetada mais que de uma maneira: Com o revés da mão. Agora, segundo a lei judaica rabínica, golpear
uma pessoa com o revés
da mão era duplamente insultante como se lhe houvesse dado
com a direita de
sua mão. O que Jesus está dizendo é: No
caso de um homem te dirigir um insulto calculado e maldoso, não deves se vingar
de nenhuma maneira e nem guardar o menor ressentimento.
Não é provável que nos suceda, quase
nenhuma vez, que alguém nos dê uma bofetada; porém uma ou outra vez a vida nos brinda
com insultos, grandes ou pequenos; Jesus está dizendo que o verdadeiro cristão
tem aprendido a não ter ressentimento nem buscar vingança de ninguém, insulto
ou desprezo. Jesus mesmo foi chamado de glutão e beberrão. Chamaram-nO amigo
de publicanos e de prostitutas, sugerindo que era como eles. Os primeiros
cristãos foram chamados de canibais e incendiários, e os acusaram de
imoralidade brutal, porque seus cultos incluíam A Festa do Amor. Quando
Shaftesbury assumiu a causa dos pobres e dos oprimidos, advertiram-lhe que isto
queria dizer: tornar-se-ia impopular com
seus amigos e as pessoas de sua própria classe, e que teria que renunciar a toda esperança de chegar a ser um membro do
parlamento. Cuando Wilberforce iniciou sua cruzada para libertar os escravos
divulgaram deliberadamente acusações caluniosas sobre ele ser um cruel marido,
de golpear sua esposa, e de que estava casado com uma negra.
Uma ou outra vez na igreja alguém pode
ter se sentido ofendido porque não o convidaram a uma festa, de terem omitido
seu nome no voto de agradecimento, ou não ter-lhe dado o posto de reconhecimento
que merecia. O verdadeiro cristão não se entristece quando o insultam; já aprendeu
de seu Mestre a aceitar qualquer insulto sem ressentimento, e sem buscar jamais
a vingança[18].
O Papel do Governo Civil
Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se
qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra (Mateus 5:39).
Não resistais ao mal. Aí
está uma declaração revolucionária. É também uma das mais controvertidas do
NT. Alguns acham que essa declaração se aplica ao governo. Assim, não
resistir ao mal sugere que está errado ter polícia ou exército. Não
resistais ao mal. Será que essa frase quer dizer que é errado resistir
a pessoas como Hitler, Stalin ou criminosos secretos? Será que devemos deixar
as pessoas cruéis fazer o que quiserem? Alguns acreditam ser assim. Mas é isso
que a Bíblia ensina?
Para responder a essas perguntas
precisamos examinar o contexto de Mateus 5:
A resposta é que Ele está falando a
pessoas cristãs, que estão vivendo de acordo com as bem-aventuranças, e que
portanto são mansas e pacificadoras. Ele está falando a pessoas convertidas,
que por definição não são como o mundo, que Paulo chama de homem natural. Jesus está
falando às pessoas cuja justiça deve exceder a dos escribas e fariseus.
Ele não está falando a governos
nacionais ou a indivíduos não convertidos que não vivem de acordo com as
bem-aventuranças. Para tais pessoas, a ordem de resistir ao mal seria loucura.
Viver a vida cristã é um assunto do espírito.
Os governos, em suas funções legais e
policiais, estão ainda debaixo da lei de talião. Isso está claro em Romanos
13, onde lemos que os governos
não trazem a espada sem motivo. Eles devem castigar o que pratica o mal (V 4).
O exército, a polícia e os tribunais de justiça são necessários em um mundo de
pecado. E, de acordo com Romanos 13, Deus
Se utiliza dos governos para manter a ordem e resistir ao mal.
Mas esse não é o papel de cristãos
individualmente. Não devemos impor a lei com as próprias mãos. Não devemos
viver uma vida de retaliação. Devemos viver de acordo com as bem-aventuranças;
devemos ser pacificadores e amar nossos inimigos[19].
Oferecendo o Outro Lado
Finalmente, sede todos de igual ânimo, compadecidos,
fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes, não pagando mal por mal ou
injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para isto mesmo
fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança (I Pedro 3: 8 e 9).
Oferecer o outro lado não é muito fácil quando você acabou
de ser ferido do lado direito. Um tapa no rosto era o insulto pessoal máximo
para um judeu. E Jesus agora diz que devemos oferecer o outro lado.
Impossível!
Está Jesus dizendo que se um bêbado ou um lunático violento
vem e me fere no rosto, devo imediatamente lhe oferecer o outro lado? Tal
instrução faria os ensinos do Senhor parecer ridículos.
O que, então, está Ele querendo
defender? Novamente precisamos analisar o contexto e a quem Jesus está Se
dirigindo.
Mas Jesus está falando também aos Seus
seguidores, cuja justiça deve exceder a dos líderes religiosos judaicos. Seu
destaque, em Mateus 5: 39, tem mais a ver com o que não devemos fazer do
que com o que devemos. Oferecer o outro lado simboliza o espírito não vingativo,
humilde e manso que deve caracterizar os cidadãos do reino.
Nas três ilustrações dadas em Mateus
5:
Para isso, precisamos da graça[20].
40 - E àquele que quer pleitear
contigo, para tomar-te a túnica, deixa-lhe também veste.
PLEITEAR - Na pelejas jurídicas
muitas vezes era solicitado um penhor para a causa, e muitas pessoas que eram
pobres não possuíam qualquer outro bem a não ser uma túnica ou capa, grego: himatiom, manto exterior. A lei
de Moisés proibia o penhor durante a noite (Êxodo 22:22 a 27).
Isto é,
fazer comparecer adiante de um tribunal. No grego diz que não se tratava de um,
juízo já iniciado, senão que simplesmente existia a possibilidade de uma ação
legal[21].
TÚNICA
- Grego: jiton, a prenda, similar a uma camisa,
que se levava sobre a pele[22].
DEIXA-LHE - O cristão tem de se submeter calado e manso ante
um agravo[23].
VESTE
- Capa. Grego: himátion, o manto exterior, ou capa, que costumava usar como coberta
pela noite, e que era diferente de um jiton.
Muitas vezes um pobre não tinha nenhuma outra coisa que dar como prenda senão
sua capa. No entanto, a lei de Moisés
proibia que o credor retivesse essa vestimenta como prenda durante a noite (Êxodo 22:
Jesus passa a dizer que se alguém tratar
de tomar a túnica em juízo, não só devemos permitir isto, mas oferecer também a
capa. Aqui tem um ensino bem maior do que aparece a simples vista.
A túnica, jitôn, era a camisa larga interior que se fazia de algodão ou de
linho. Até o mais pobre tinha uma muda de túnicas. A capa era a peça de roupa
exterior grande, de abrigo que se colocava sobre a túnica, e que se usava como
manta para a noite. Desta o judeu não possuía mais que uma. Dizia expressamente
a lei judaica que a túnica de um homem se lhe poderia reter como penhor, porém
não a capa: Se tomares o manto de teu próximo em penhor, tu lho restituirás antes
do por do sol. Porque é com ele que se cobre, é a veste do seu corpo: em que se
deitaria? Se clamar a mim, eu ouvirei, porque sou compassivo (Êxodo 22: 25 e 26).
O detalhe é que não era legal reter de uma pessoa a capa
permanentemente.
O que Jesus está dizendo é que: O
cristão não insiste jamais em seus direitos; nunca discute seus direitos
legais; não considera que tem direitos legais em absoluto.
Há pessoas que não fazem mais que
insistir em seus direitos, que se debatem em seus privilégios e não se deixa
arrebatar, vão aos tribunais militantemente antes que sofrer o que consideram a
menor infração deles. As igrejas estão tragicamente cheias de pessoas assim:
carregadas cujo território tem sido invadido, o aos que não se tem assegurado
um lugar merecido; das juntas que realizam seu criticam com o regulamento
sempre em cima da mesa, não seja que invada alguém seus direitos.
Estas pessoas não tem nem sequer iniciado sua
vida cristã. O cristão não pensa em seus direitos mas nos seus deveres; não em
seus privilégios, mas
Morrendo Para Si Mesmo
E, ao que quer demandar contigo e
tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa (Mateus 5: 40).
Isso não é fácil de ser colocado em
prática. Semelhante ao verso 39, que diz que devemos
oferecer o outro lado do rosto, esse verso, a respeito de deixar também a capa,
atinge o centro de nossa defesa pessoal.
Para compreendermos o que Jesus quer dizer
em Mateus
5: 40, precisamos analisar melhor as Suas palavras. A túnica era uma
veste interior, tipo saco, feita de algodão ou linho. Todas as pessoas, exceto
as mais pobres, possuíam mais de uma túnica. A capa, por outro lado, era uma
veste exterior quente, tipo de um cobertor, que a pessoa usava como manto
durante o dia e como cobertor à noite. A pessoa comum só tinha uma capa.
A lei judaica sustentava que a túnica de
uma pessoa podia ser recebida como garantia, mas não a capa, a menos que fosse
devolvida antes do pôr do sol (Êxodo 22: 26 e 27). O fato é que,
por lei, a capa de uma pessoa não podia ser tomada de modo permanente.
Bem, você pode estar se perguntando: O
que está Jesus nos dizendo, então? Ele está nos dando um conselho que não
queremos ouvir. Está nos dizendo que a preocupação com os nossos direitos não
deve ser o centro de nossa vida cristã. Jesus está dizendo mais uma vez que precisamos
morrer para nós mesmos. William Barclay faz a seguinte colocação: O cristão não pensa em seus direitos, mas em
seus deveres; não pensa em seus privilégios, mas
O ensino de Jesus acerca da capa não quer dizer que um
cristão jamis lutará pelos direitos de outros ou pela integridade da lei e da
ordem. Mas quer dizer que ele morreu para si mesmo. Essa era a lição do verso
anterior também. Naquele verso, entretanto, tinha a ver com a nossa pessoa;
nesse tem a ver com as nossas propriedades. Jesus realmente espera que sejamos
semelhantes a Ele[26].
41 - e se alguém te obriga andar uma
milha, caminha com ele duas.
OBRIGA
- Grego: aggaréuô, obrigar a servir. A palavra ággaros é um vocábulo tomado do persa, e
relacionado com o verbo anterior. Significa correio
de cavalo. Os persas usavam este termo para designar
os correios reais do sistema imperial de postais que eles aperfeiçoaram até
chegar a um magnífico grau de eficiência Ester 3: 13. Nos
tempos dos romanos, aggaréuô e ággaros se referiam ao serviço
obrigatório do transporte de apetrechos militares. Epicteto iv. 1. 79 aconselha com respeito a este
serviço: Se há um requisito e um soldado toma o asno, deixa-o ir. Não te resistas nem te queixes, porque caso
contrário te espancarão no final, perderás o asno também. Resistir era provocar
um trato cruel. Em Mateus 27: 32 e Marcos 15: 21 se
emprega o verbo aggaréuô quando se
obrigou Simão que levasse a cruz de Cristo.
Jesus
se refere a tais casos como quando um soldado romano exigia a um civil judeu
que levasse sua bagagem durante uma milha, como o mandava a lei em Lucas 3: 14. O
cristão deveria prestar um serviço duplo do exigido pela lei, e deveria fazê-lo
com alegria. Em Cafarnaum tinha uma guarnição militar romana e enquanto Jesus
falava, os que escutavam viam passar um grupo de soldados romanos por um
caminho vizinho. Os judeus esperavam e criam que o Messias humilharia o orgulho
de Roma. Aqui Jesus aconselhou submissão ante a autoridade romana[27].
3.
Jesus passa então a falar de que lhe obrigue a andar uma milha; e diz que em
tal caso, o cristão deve estar disposto a ir duas milhas.
Aqui temos uma cena que se refere a um
país ocupado. A palavra que se usa para obrigar é o verbo angareuein,
que é uma palavra com história. Deriva do nome angareus, que
era a palavra persa para um correio.
Os persas desenvolveram um sistema postal maravilhoso.
Todas as rodovias estavam divididas em etapas a serem percorridas em um dia.
Em cada etapa havia comida para o correio e água e pensão para os cavalos,
local de repouso. Porem, se algo faltasse, se podia requisitar a qualquer pessoa, obrigando a dar comida, alojamento,
cavalos, ajuda, e até a levar mesmo a mensagem a próxima etapa. A palavra que
indicava esta obrigação era angareuein.
Finalmente esta palavra acabou sendo
usada para qualquer classe de requisição obrigatória para qualquer serviço em
um país ocupado. Em tal situação se podia obrigar aos cidadãos a que providenciassem
alimentos, e alojamento, e levassem o equipamento. Algumas vezes o poder
imponha seu direito de requisitar da maneira mais tirânica e desconsiderada.
Este perigo sempre pendia sobre as cabeças dos cidadãos. A Palestina era um
país ocupado. Em qualquer momento um soldado romano podia dar um golpe no ombro
de um homem com a ponta da espada, e sabia que o cidadão estava obrigado a
servir, até da maneira mais vulgar. Isto foi o que se passou com Simão de
Cirene quando lhe obrigaram (angareuein) a
levar a cruz de Jesus.
Assim, o que Jesus está dizendo é: Suponha que teus amos te apresentam e te
obrigam a atuar de guia ou acompanhá-lo por uma milha. Não vás com ressentimentos amargos. Esteja
disposto a ir duas milhas com boa disposição e graça. E Jesus
continua: Não fiques sempre pensando em
tua liberdade para fazer o que te dê prazer; pensa sempre em teu dever e em teu
privilégio de ser útil aos outros. Quando
se te impuserem uma tarefa, mesmo que seja injusta e odiosa, não a cumpras com
maldade e com ressentimento; mas como um serviço que se faz de bom grado.
Há duas maneiras de se fazer as coisas.
Pode-se fazer o mínimo irredutível, e nenhum milímetro mais; se pode fazer de
forma que seja bem claro que seja asqueroso o assunto; pode fazer com o mínimo
de eficácia, e nada mais. Ou se pode fazer com alegria, com simpatia cortesia;
com o propósito, não só de fazer o que seja, mas de fazê-lo bem e com agrado.
Pode fazer, não só tão bem como se deve, mas muito melhor do que nada tenha
direito a esperar de um. O obreiro incompetente, o subordinado ressentido, o
ajudante obrigado, não tem sequer ideia do que é a vida cristã. Ao cristão não
lhe corresponde fazer as coisas como quer, mas simplesmente ajudar, ainda que a
demanda de ajuda seja descortês, irrazoável e tirânica.
Nesta passagem, sob a orientação de quadros gráficos,
Jesus estabelece três grandes regras: O cristão não deve ter ressentimento nem
buscar revanche por um insulto, por muito calculado e humilhante que seja; o
cristão não deve ser regido por seus direitos legais ou outros que creia
possuir; o cristão não deve reclamar seu direito com a finalidade de levar
vantagem, mas saber que seu dever é sempre ajudar. A questão é: Como se
conseguir isto?[28].
A Segunda Milha
Se alguém te obrigar a andar a uma milha,
vai com ele duas (Mateus 5: 41).
A figura de linguagem em nosso verso é
estranha para nós, mas bem conhecida entre os ouvintes de Jesus. A lei romana
dava a um soldado o direito de recrutar um civil para andar uma milha romana
carregando a mochila dele. A Palestina era um território ocupado; a qualquer
momento um judeu podia sentir no ombro o toque de uma lança romana e saber que
estava sendo coagido a servir os romanos. Isso foi o que aconteceu com Simão
Cireneu, quando foi coagido a carregar a cruz de Jesus.
A lei se destinava a aliviar o soldado,
mas era considerada vil porque fazia com que os oprimidos carregassem o
equipamento de seus opressores. Essa tarefa incitava o temperamento de muitos
judeus.
Aqui reaparece o radicalismo de Jesus.
Não só deviam Seus seguidores carregar as cargas pela distância exigida, como
também deviam se oferecer para andar uma segunda milha, sem ressentimento.
Jesus está dizendo aos Seus seguidores que eles nunca devem resmungar por causa
de coisas pequenas. Devem cumprir seu dever com um sorriso, mesmo que não
estejam sendo tratados com a dignidade da qual se consideram merecedores. Os
cristãos não devem jamais ser trabalhadores ineficientes, servos ressentidos,
ou ajudantes descorteses. Ao contrário, os cristãos devem desempenhar toda
tarefa com alegria, fazendo o melhor. Eles não defraudam nos impostos quando
sentem o toque da espada de lâmina larga do governo.
As três ilustrações que temos estudado
em Mateus
5:
42 - Dá ao que te pede e não voltes
às costas ao que te pede emprestado.
A base dos cidadãos do reino do céu e dar e não receber, em
contraposição aos desejos humanos de poder, de ser servido por todos, o cristão
almeja cada vez servir mais, e a generosidade lança fora um mal: o egoísmo.
NÃO
VOLTES - cidadãos do reino dos céus
sentirão impulsos generosos e atuarão conforme a eles (Lucas 6: 30)[30].
O DAR GENEROSO
Por último, Jesus nos convida a dar a
todos o que nos peçam, e não nos evadirmos de quem quer que lhe emprestemos
algo. Em suma, a lei judaica de dar era encantadora. Baseia-se em Deuteronômio
15:
Quando houver um pobre em teu meio, que
seja um só de teus irmãos numa só das tuas cidades, na terra que Iahweh teu
Deus te dará, não endurecerás teu coração, nem fecharás a mão para com este teu
irmão pobre, pelo contrário: abre-lhe a mão, emprestando o que lhe falta, na
medida da sua necessidade. Fica atento a ti mesmo, para que não surja no teu
coração um pensamento vil, como dizer: Eis que se aproxima o sétimo ano, o ano
da remissão, e o teu olho se torne mau para com te irmão pobre nada lhe dando:
ele clamaria a Iahweh contra ti, e em ti
haveria um pecado. Quando lhe deres algo, não dês com má vontade, pois em
resposta a este gesto, Iahweh teu Deus te abençoará em todo teu trabalho, em
todo empreendimento de tua mão. Nunca deixará de haver pobres na terra; é por
isso que eu te ordeno: abre a mão em favor do teu irmão, do teu humilde, e do
teu pobre em tua terra!
O detalhe do sétimo ano é que a cada sete anos se cancelavam todas as dívidas, e
quem fosse mesquinho poderia se recusar a emprestar quando se aproximava esse
ano, cancelando-se a dívida e quitando-se o que tivesse emprestado.
Essa passagem se baseava na lei judaica
sobre dar. Os rabinos estabeleceram cinco princípios que deviam governar a
dádiva.
1. Não se pode negar nada. Tem cuidado de não recusar a caridade,
porque a todos os que recusam se põe na mesma categoria que dos idólatras.
Se uma pessoa se negava a dar, poderia chegar o dia que tivesse que pedir
esmola, e talvez das mesmas pessoas as quais lhes houvesse negado sua ajuda.
2. O que se deve corresponder à pessoa a
quem se lhe dá. A lei de Deuteronômio havia dito que se deve dar à
pessoa que necessite. Diz que não se deve dar só imprescindível para
seguir vivendo, mas o necessário para reter ao menos algo de nível e comodidade
que teve um dia. Assim, se diz que Hilllel entregou as coisas para que o filho
de uma família nobre, que havia vindo, se lhe desse, não simplesmente o
necessário para que não morresse de fome, mas, para ter um cavalo e poder
cavalgar, e um escravo para que corresse adiante dele; e uma vez, quando não
havia nenhum escravo disponível, Hillel mesmo atuou como seu escravo e foi
correndo diante dele. Há muito de generosidade e de encanto na ideia de que
dar não deve ser exclusivamente para sobrelevar a pobreza, mas para aliviar a
humilhação de quem recebe.
3. O dar se deve ser efetuado de maneira
privada e secreta. Nada tem que estar presente. Os rabinos até chegaram a dizer
que, na classe mais elevada de dar, o que dá não deve saber a quem se dá, e o
que recebe não deve saber de quem recebe. Havia certo lugar no templo em que se
ia secretamente para depositar as ofertas; e essas ofertas secretas eram usadas
em segredo para ajudar os membros empobrecidos das famílias que haviam sido
nobres, e para prover às filhas destas famílias empobrecidas os dotes, sem os
quais não podiam se casar. Os melhores judeus haviam desprezado o ato de dar
que se fizesse por prestigio, publicidade ou autoglorificação.
5. O dar era ao mesmo tempo um
privilégio e uma obrigação, porque na realidade era a Deus a Quem na realidade
se dava. Dar alguma ajuda a uma pessoa necessitada era algo que não se escolha fazer,
mas algo que se devia
fazer; porque, se negava, Se estava negando realmente a
Deus. Quem faz caridade ao pobre empresta a Iahweh, e ele dará sua recompensa
(Provérbios 19:17). A todo aquele que tem
misericórdia de outras pessoas se lhe mostra misericórdia desde o princípio;
porém ao que não tem misericórdia dos demais, não se mostra misericórdia desde
o princípio. Os rabinos se encantavam de indicar que a misericórdia era
uma das poucas coisas na qual a lei não lhes punha limites.
Quer isto dizer que Jesus impôs aos
homens somente o que poderia chamar-se um dar indiscriminado? Não se pode dar
uma resposta sem combinações. Está claro que o efeito de dar no que recebe deve
ter-se em consideração. O dar nunca deve ser tal maneira que o que recebe se
anime a receber sem responsabilidade, porque seria só prejudicial. Mas, ao
mesmo tempo, tem que se recordar que muitas pessoas que dizem que não darão
nada mais e o farão somente através de canais oficiais, e que se negam a ajudar
diretamente nos casos pessoais, estão na realidade frequentemente buscando uma desculpa
para não dar, e estão suprimindo completamente o elemento pessoal de dar. E há
que se ter presente também que é melhor ajudar a uma quantidade de pedintes
fraudulentos do que correr o risco de rechaçar a um que está verdadeiramente
necessitado[31].
Devo Dar a Todos os Pedintes?
Dá a quem te pede e não voltes as costas
ao que deseja que lhe empreste. (Mateus 5:42).
Será que isso quer dizer que, como
cristão, devo dar a cada bêbado que me pedir dinheiro? Quer dizer que os
banqueiros cristãos nunca devem recusar um empréstimo, mesmo a um defraudador?
Assim como os ensinos de Jesus sobre o
outro lado do rosto, a capa e a segunda milha, esse ensino, se interpretado de
maneira literal e mecânica, pode parecer ridículo.
Nosso Senhor não está nos encorajando a
apoiar bêbados e defraudadores. Mas todos temos de enfrentar tais pessoas, por
isso devemos analisar cuidadosamente o que Jesus quis dizer e o que significa
ajudar alguém.
Lembro-me do tempo em que servi como
pastor associado da Igreja Central de São Francisco. Parecia que mais pedintes
do que seria a nossa cota vinham à porta da igreja pedir alguma coisa. A
maioria deles não pedia dinheiro para cerveja ou vinho. Geralmente diziam que
tinham esposa e três filhos e precisavam de mantimento para eles.
O pastor geral e eu queríamos ser fiéis
aos ensinos de Jesus, mas queríamos também ajudar de verdade essas pessoas. Não
achávamos que devíamos dar dinheiro a elas, porque poderiam gastar em bebida.
Nossa solução foi fazer um acordo com o
pessoal do armazém local para aceitar nosso cartão comercial com uma lista: leite, pão e frutas e nossa assinatura.
Quando eles atendiam a uma pessoa necessitada com nosso cartão assinado,
preparavam uma sacola de compras para aquela pessoa e nos enviavam a conta.
O mais interessante é que a maioria dos
cartões nunca chegava ao armazém, porque as pessoas não estavam interessadas em
alimento. Mas a estratégia nos ajudou a ser fiéis às instruções dadas por Jesus
e ao mesmo tempo procurar realmente ajudar as pessoas.
Jesus deseja que ajudemos os que
verdadeiramente necessitam. É importante que, em caso de dúvida, presumamos o
melhor para que não fechemos a porta aos que realmente necessitam. Esse, porém,
é um caso em que precisamos ser prudentes.
O ato de dar, enquanto isso, abre nosso
coração e nos ajuda a ser generosos em vez de egoístas. Nesse processo, estamos
sendo transformados à imagem de Jesus[32].
O Espírito de Tudo Isso
Estou crucificado com Cristo; logo, já
não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na
carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si
mesmo Se entregou por mim (Gálatas 2:19 e 20).
Nos últimos dias temos estudado sobre o
problema da retaliação, do desejo humano de ferir aqueles que nos ofendem. Afinal,
achamos que eles merecem!
E provavelmente merecem mesmo, na
maioria dos casos. Mas pense por um momento. O que seria de nós se Deus nos
desse o que merecemos por termos ferido a Ele e a outros dentre Seus filhos?
Mas reconheçamos que, se Deus nos desse o que merecemos, seríamos simplesmente
umas manchas de graxa poluindo a paisagem.
Deus não nos dá o que merecemos. Ele dá
o que precisamos.
E o que é que precisamos? Compreensão,
perdão, amor... Isso é exatamente o que outras pessoas que nos prejudicam
precisam também. O cristão deve agir com elas como Deus –deve dar às pessoas o
que elas precisam e não o que merecem.
Mas você deve estar pensando que isso
não é normal. Correto! Deus quer que vivamos uma vida anormal em termos de
padrões deste mundo. Ele deseja que procedamos como Ele e não como o diabo.
Agora, isso sim é radicalismo. Sem
dúvida! É o mais radical que alguém pode ser. Significa crucificar os velhos
hábitos de defesa pessoal, orgulho e desforra e nascer de novo à semelhança de
Jesus, Aquele que tanto amou o mundo que morreu por ele – por mim e por você,
uma vez por todas.
Religião é algo sério. Não é um jogo
entre pessoas que são muito velhas para pecar ativamente. Pelo contrário, o
cristianismo representa uma mudança no coração, não na biologia. Significa
deixar Jesus viver Sua vida em nós.
O chamado não é para argumentar se
devemos realmente oferecer a outra face ou andar uma segunda milha, mas para
demonstrarmos sempre uma atitude serviçal e humilde.
Isso exige a graça divina - a graça que transforma e
habilita[33].
Boas Razões Para Morrer Para Si Mesmo
E, reconhecido em figura humana, a Si mesmo Se humilhou,
tornando-Se obediente até à morte e morte de cruz (Filipenses 2:7 e 8).
Jesus sempre foi Deus. No entanto, veio
a este mundo como um ser humano. Esse é o mistério do Universo. É quase como
se alguém se tornasse uma formiga, exceto que, pelo que sabemos acerca do
tamanho e da complexidade do Universo, é infinitamente mais fácil sermos
comparados a formigas do que Deus aos seres humanos. A verdade é que Jesus Se
humilhou para tornar-Se como nós, e Se humilhou ainda mais para morrer por
nós, especialmente para morrer como criminoso, na cruz.
A ideia central nas passagens que tratam
da segunda milha e de oferecer a outra face, conforme percebemos neste estudo,
não é exatamente a maneira como devemos viver dia a dia, mas a atitude ou
espírito com que devemos viver. Devemos viver a vida crucificada.
Por que devemos fazer isso? Porque nosso
eu não crucificado é a maior causa de problemas pessoais. Pense nisso. Por que
eu quero me desforrar? Porque alguém feriu meu orgulho, ou me derrotou em alguma
recompensa financeira e assim por diante. Como resultado, minha defesa pessoal
ou egoísmo imediatamente se inflama e estou pronto para a guerra.
O que torna o Sermão do Monte tão
difícil é que ele diz claramente que precisamos deixar que Deus destrua essas
atitudes e reações. Como cristãos, reconhecemos que o eu é a principal causa de
infelicidade. A defesa pessoal, a cobiça e a preocupação com a dignidade
própria nos consomem. Tais coisas não só destroem nossa paz, mas nos levam a
destruir a paz dos outros e vice-versa. E o que se aplica em nível individual,
se aplica também em nível internacional. Enquanto escrevo esta matéria, a
guerra no território da antiga Iugoslávia aumenta cada vez mais, porque um
lado sente-se impulsionado a reconquistar as terras e o outro a proteger o que
conquistou.
Assim, a situação do mundo continua
indefinidamente. Mas Jesus deseja colocar um fim nessa situação, primeiramente
em nosso coração e finalmente, no sentido cósmico, por ocasião do segundo
advento[34].
Santo Como Deus
Portanto, estejam com a mente pronta
para agir; sejam sóbrios e coloquem toda a esperança na graça que lhes será
dada quando Jesus Cristo for revelado. Como filhos obedientes, não se deixem
amoldar pelos maus desejos de outrora, quando viviam na ignorância. Mas assim
como é santo Aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que
fizerem, pois está escrito: Sejam santos, porque Eu sou santo (I Pedro 1:13 a
16).
Ser santo é um mandamento da Bíblia. Mas
o que significa ser santo? Alguns consideram como ponto central da santidade a
maneira como guardam o sábado. Outros acham que ser santo é ser fiel no regime
alimentar ou nos dízimos e ofertas, ou ainda em todas essas coisas e outras
mais. Mas essas outras mais são definidas em termos de ações exteriores. Tal
definição reproduz o mesmo problema contra o qual Jesus está falando: o
problema da santidade deficiente dos escribas e fariseus.
Eles eram bons em todas essas coisas. Na
verdade, se orgulhavam por sua conduta ser muito superior à de outras pessoas.
Desse modo, seu comportamento se tornava parte do problema, embora estivessem
exteriormente fazendo tudo para agradar a Deus.
Mas como pode ser isso? Como podiam eles
ser deficientes em santidade, se eram escrupulosos na guarda do sábado,
rigorosos nos dízimos e ofertas e cuidadosos no regime alimentar?
O problema deles era que a motivação
para a santidade tinha suas raízes na coisa errada. Fundamentava-se no amor a
si mesmos em vez de em seu amor a Deus e às outras pessoas.
A verdadeira santidade não se fundamenta
essencialmente em ações, mas em atitudes. Afinal de contas, verdadeira
santidade significa que fui liberto da vida centralizada no eu. Significa que
minha vida está centralizada com Deus em Cristo. Quer dizer que o centro da minha
vida não está mais naquilo que outros pensam de mim ou podem fazer por mim, mas
naquilo que eu posso fazer pelos demais.
Verdadeira santidade é a necessidade máxima do nosso mundo.
É também a minha maior necessidade hoje. A santidade é a essência do reino de
Deus. É desejo de Deus que eu seja santo como Ele é santo[35].
LEITURA ADICIONAL
Não
resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também
a outra (Mateus 5: 39).
Surgiam constantemente ocasiões de
irritação para os judeus em razão de seu contato com a soldadesca romana.
Destacamentos de tropas achavam-se estacionados em vários pontos através da
Judéia e da Galileia, e sua presença lembrava aos judeus a própria degradação
como um povo. Com amargura ouviam eles o alto soar da trombeta, e viam as
tropas formando em torno das bandeiras romanas, curvando-se em homenagem ante
este símbolo de seu poder. Frequentes eram os choques entre o povo e os
soldados, choques que acendiam o ódio popular. Muitas vezes, quando algum
oficial romano ia, apressado, de um lugar para outro, acompanhado de
sua guarda, lançava mão dos camponeses judeus que trabalhavam no campo,
forçando-os a carregar fardos, montanhas acima ou a prestar outro qualquer
serviço de que necessitassem. Isto estava em harmonia com a lei e o costume
romanos, e a resistência a exigências desta ordem apenas daria lugar a
sarcasmos e crueldades. Dia a dia se aprofundava no coração do povo o anseio de
sacudir o jugo romano. Especialmente entre os ousados galileus de rijos pulsos,
era predominante o espírito de insurreição. Como cidade fronteiriça, era
Cafarnaum sede de uma guarnição, e mesmo enquanto Jesus estava ensinando, a visão
de um grupo de soldados evocou a Seus ouvintes a amarga lembrança da humilhação
de Israel. O povo olhava ansiosamente para Cristo, esperando que fosse Ele que
haveria de humilhar o orgulho romano.
Foi com tristeza que Jesus contemplou as
faces voltadas para Ele. Observava o espírito de vingança que estampara seus
maus traços sobre eles, conhecendo quão veementemente ansiava o povo o poder a
fim de esmagar seus opressores. Com tristeza, Ele lhes ordena: Não
resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também
a outra (Mateus 5:39).
Estas palavras não eram senão uma
reiteração do ensino do AT. É verdade que a regra: olho por olho, dente por dente (Levítico
24:20) era uma providência nas leis dadas por intermédio de Moisés;
era, porém, um estatuto civil. Ninguém seria justificado em se vingar a si
mesmo; pois tinham as palavras do Senhor: Não digas: Vingar-me-ei (Provérbios 20:22).
Não digas: Como ele me fez a mim, assim lhe farei a ele (Provérbios 24:29).
Quando cair o teu inimigo, não te alegres (Provérbios 24:17). Se o que
te aborrece tiver fome, dá-lhe pão para comer; e, se tiver sede, dá-lhe
água para beber (Provérbios 25:21).
Toda
a vida terrestre de Jesus foi uma manifestação desse princípio. Foi para trazer
o pão da vida a Seus inimigos, que nosso Salvador deixou Seu lar no Céu. Se bem
que se amontoassem sobre Ele calúnias e perseguições desde o berço até a
sepultura, estas não Lhe provocaram senão expressões de um amor que perdoa. Por
intermédio do profeta Isaías, Ele diz: As Minhas costas dou aos que Me ferem e a
face, aos que me arrancam os cabelos; não escondo a face dos que Me afrontam e
me cospem (Isaias 50:6). Ele foi oprimido, mas não abriu a Sua boca (Isaias 53:7).
E, através dos séculos, chega-nos da cruz do Calvário Sua oração pelos que Lhe causavam
a morte, e a mensagem de esperança ao ladrão moribundo.
A
presença do Pai circundou a Cristo e nada Lhe sobreveio sem que o infinito amor
permitisse, para a bênção do mundo. Aí estava Sua fonte de conforto, e ela
existe para nós. Aquele que estiver impregnado do Espírito de Cristo habita em
Cristo. O golpe que lhe é dirigido cai sobre o Salvador, que o circunda com Sua
presença. O que quer que lhe aconteça vem de Cristo. Não precisa resistir ao
mal, porque Cristo é sua defesa. Nada lhe pode tocar a não ser pela permissão
de nosso Senhor; e todas as coisas que são permitidas contribuem juntamente para o bem
daqueles que amam a Deus (Romanos 8: 28).
Ao
que quiser pleitear contigo e tirar-te a vestimenta túnica, larga-lhe também a
capa manto; e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas (Mateus
5:40 e 41).
Jesus ordenou a Seus discípulos que, em vez
de resistir às exigências dos que se acham em autoridade, fizessem ainda mais
do que lhes era exigido. E, o quanto possível, desempenhassem de qualquer
obrigação, mesmo que fosse além do que exigia a lei da Terra. A lei, segundo
fora dada por Moisés, recomendava uma mui terna consideração para com o pobre. Quando
um homem pobre dava sua roupa em penhor, ou em garantia por uma dívida, não era
permitido ao credor entrar-lhe em casa a fim de ir buscar; devia esperar na rua
para que o penhor lhe fosse levado. E fossem quais fossem as circunstâncias, o
penhor devia ser restituído a seu dono ao pôr do sol (Deuteronômio 24:10 a 13).
No tempo de Cristo essas misericordiosas providências eram pouco atendidas; mas
Jesus ensinou Seus discípulos a se submeterem à decisão do tribunal, mesmo que
esta exigisse além do que autorizava a lei de Moisés. Ainda que requeresse uma
parte de seu vestuário, deviam submeter-se. Mas ainda, deviam dar ao credor o que
lhe era devido, se necessário entregando mesmo mais do que o tribunal o
autorizava a tomar. Ao que quiser pleitear contigo, disse Ele, e tirar-te a vestimenta,
larga-lhe também a capa (Mateus 5:40). E se os mensageiros vos exigirem
que andeis com eles uma milha, ide com eles duas.
Jesus
acrescentou: Dá a quem te pedir e não te desvies daquele que quiser que lhe
emprestes (Mateus 5:42). A mesma lição fora ensinada por intermédio de
Moisés: Não endurecerás o teu coração, nem fecharás a tua mão a teu irmão que
for pobre; antes, lhe abrirás de todo a tua mão e livremente lhe emprestarás o
que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade (Deuteronômio 15:7 e 8).
Esta escritura esclarece o sentido das palavras do Salvador. Cristo não nos
ensina a dar indiscriminadamente a todos quantos pedem por caridade; mas diz: Livremente
lhe emprestarás o que lhe falta; e isto deve ser uma dádiva, de
preferência a um empréstimo; pois cumpre-nos emprestar sem nada esperar (Lucas 6: 35).
Aquele que se dá a si mesmo com sua esmola,
está nutrindo a três de uma só vez: A sim, bem como ao próximo, a quem
consola; nutre também a Mim[36].
[1] BJ, p. 1.846.
[2] CBASD, vol. 5, p. 324.
[3] CBASD, vol. 5, p. 329.
[4] CBASD, vol. 5, p. 324.
[5] CBASD, vol. 5, p. 329.
[6] BJ, p. 137.
[7] CBASD, vol. 1, pp. 628 e 629.
[8] CBASD, vol. 5, p. 629.
[9] CBASD, vol. 1,
pp.
[10] Bíblia Anotada, Editora
Mundo Cristão, Charles C. Ryrie, 172 e 1.189.
[11] Comentário
ao Novo Testamento, Mateus, vol. I, William Barclay. Editora
Clie, pp.
[12] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 155.
[13] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 156.
[14] CBASD, vol. 5, p. 325.
[15] BJ, 1289.
[16] CBASD, vol. 5, p. 329.
[17] CBASD, vol. 5,
p. 329.
[18] Comentário
ao Novo Testamento, Mateus, vol. I, William Barclay. Editora
Clie, pp.
[19] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 157.
[20] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 158.
[21] CBASD, vol. 5, p. 329.
[22] CBASD, vol. 5, p. 329.
[23] CBASD, vol. 5, p. 329.
[24] CBASD, vol. 5,
p. 329.
[25] Comentário
ao Novo Testamento, Mateus, vol. I, William Barclay. Editora
Clie, pp.
[26] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 159.
[27] CBASD, vol. 5, pp. 329 e 330.
[28] Comentário
ao Novo Testamento, Mateus, vol. I, William Barclay. Editora
Clie, pp.
[29] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 160.
[30] CBASD, vol. 5, p. 330.
[31] Comentário
ao Novo Testamento, Mateus, vol. I, William Barclay. Editora
Clie, pp.
[32] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 161.
[33] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 162.
[34] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 163.
[35] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 164.
[36] O
Maior Discurso de Cristo,