44 Mensagens do Sermão do Monte
1 - Na Encosta da Montanha
Mais de mil e quatrocentos anos antes do
nascimento de Jesus em Belém, os filhos de Israel se haviam reunido no belo
vale de Siquém e, das montanhas que o ladeavam, ouviu-se a voz dos sacerdotes
proclamando as bênçãos e as maldições: A bênção, quando ouvirdes os mandamentos do
Senhor, vosso Deus,... a maldição, se não ouvirdes. Deuteronômio 11: 27 e 28.
E assim o monte de onde foram proferidas as bênçãos veio a ser conhecido
por monte das bem-aventuranças. Não foi, no entanto, do monte Gerizim que foram
proferidas as palavras que vêm como uma bênção ao mundo pecador e aflito.
Israel deixou de atingir o elevado ideal que lhe fora proposto. Outro
que não Josué devia conduzir Seu povo ao verdadeiro repouso da fé. Não mais é o
monte Gerizim conhecido pelo monte das bem-aventuranças, mas aquela anônima
montanha ao lado do lago de Genezaré, onde Jesus pronunciou as palavras de
bênção dirigidas a Seus discípulos e à multidão.
Volvamos, em espírito, àquela cena e, ao
sentarmo-nos com os discípulos na encosta do monte, penetremos nos pensamentos
e no sentir que lhes enchia o coração. Compreendendo o que significavam as
palavras de Jesus para os que as ouviam, nelas podemos distinguir uma nova vida
e beleza, recolhendo para nós mesmos suas mais profundas lições.
Quando o Salvador começou Seu ministério, a
concepção popular acerca do Messias e de Sua obra era de molde a incapacitar de
todo o povo para recebê-lo. O espírito da verdadeira devoção se havia perdido
na tradição e no cerimonialismo, e as profecias eram interpretadas segundo os
ditames de corações orgulhosos e amantes do mundo. Os judeus aguardavam Aquele
que havia de vir, não como um Salvador do pecado, mas como um grande príncipe
que poria todas as nações sob o domínio do Leão da tribo de Judá.
Inutilmente
Houvessem os mestres e guias de Israel se submetido a Sua graça
transformadora, e Jesus teria feito deles embaixadores Seus entre os homens. Na
Judéia fora primeiro proclamada a vinda do reino, e primeiro fora feito o
chamado ao arrependimento. No ato de expulsar os profanadores do templo de
Jerusalém, Jesus Se anunciara como o Messias. Aquele que devia purificar a alma
da contaminação do pecado, e tornar Seu povo um templo santo para o Senhor. Mas
os dirigentes judaicos não quiseram se humilhar para receber o humilde Mestre
de Nazaré. Em Sua segunda visita a Jerusalém, foi Ele acusado perante o
Sinédrio, e unicamente o temor do povo impedira esses dignitários de tentar
tirar-Lhe a vida. Foi então que, deixando a Judéia, iniciou Seu ministério na
Galiléia.
Sua obra ali prosseguira por alguns meses antes dEle fazer o Sermão do
Monte. A mensagem que proclamara através da Terra: É chegado o reino dos Céus.
Mateus
4: 17 atraíra a atenção de todas as classes, ateando-lhes ainda mais a
chama de suas ambiciosas esperanças. A fama do novo Mestre estendera-se para
além dos limites da Palestina e, não obstante a atitude dos superiores,
propagava-se o sentimento de que Este poderia ser o esperado Libertador.
Grandes multidões retardavam os passos de Jesus, e subia de ponto o entusiasmo
popular.
Chegara o tempo em que os discípulos que mais de perto se haviam ligado
a Cristo, se uniram mais diretamente à obra, a fim de que essas vastas
multidões não fossem deixadas sem cuidado, como ovelhas que não tinham pastor.
Alguns desses discípulos se haviam unido a Ele no início de Seu ministério, e
quase todos os doze tinham vivido juntos, como membros da família de Jesus.
Todavia também eles, mal orientados pelos ensinos dos rabinos,
partilhavam da expectação popular de um reino terrestre. Não podiam compreender
a maneira de agir de Jesus. Já tinham ficado perplexos e perturbados por Ele
não fazer nenhum esforço para fortalecer Sua causa mediante o granjear o apoio
dos sacerdotes e rabinos, por nada fazer para estabelecer Sua autoridade como
rei terrestre.
Grande era a obra ainda a fazer por esses discípulos antes de se acharem
preparados para a sagrada missão que lhes seria confiada quando Jesus houvesse
de ascender ao Céu. Todavia eles correspondiam ao amor de Cristo e, conquanto
tardios de coração para crer, Jesus via neles aqueles a quem podia educar e
disciplinar para Sua grande obra. E agora, que eles haviam estado com Jesus
tempo suficiente para, em certa medida, estabelecer sua fé no divino caráter de
Sua missão, e o povo também tivera provas de Seu poder, o qual não podiam pôr em dúvida, estava
preparado o caminho para uma declaração dos princípios de Seu reino, os quais
os ajudariam a compreender sua verdadeira natureza[1].
O SERMÃO
DO MONTE
Mateus
tem um esquema cuidadosamente preparado
Para que seus discípulos realizem um trabalho
inteligente e eficaz é mister que sejam instruídos. E aqui no Sermão do Monte, Mateus
nos mostra Jesus instruindo seus discípulos e sua mensagem que eles haveriam de
transmitir a humanidade. No relato de Lucas do Sermão do Monte isto
aparece ainda mais evidente. Segue imediatamente a que poderíamos chamar da
eleição oficial dos Doze Lucas 6: 13.
Por esta razão, um
grande investigador chamou o Sermão do Monte de: O Sermão de ordenação dos Doze. Da mesma maneira que se apresenta a
tarefa a um jovem pastor que está pronto para a responsabilidade de seu
primeiro trabalho, assim Jesus se dirigiu aos Doze neste sermão de ordenação
antes que saíssem para realizar seu trabalho. Por esta razão outros
investigadores tem dado ao Sermão do Monte outros títulos. Tem sido chamado de:
O Compêndio da doutrina de Cristo. A
Carta Magna do Reino, O manifesto do Rei. Todos estão de acordo
O SUMÁRIO
DA FÉ
É
um texto que possui mais verdade do que parece a primeira vista. Falamos do
Sermão do Monte como se fosse um Sermão pregado numa determinada ocasião. É
muito mais que isto. Há boas e indiscutíveis razões para crer que é muito mais
que um sermão, é um texto, uma epítome compêndio,
abreviação, resumo, sinopse de todos os Sermões que Jesus pregou.
Qualquer
que o ouvisse pela primeira vez em sua forma atual estaria esgotado antes do
final. Há demasiado material para uma só audição. Uma coisa é sentar-se, ler,
fazendo pausa e detendo-se em pensar quando se quer, outra é escutar seguido
uma única vez. Podemos lê-lo em nosso passo, reconhecendo e saboreando cada
palavra, porém ouvi-lo de uma vez em sua forma presente seria deslumbrarmos do
excesso de luz muito antes de seu final.
Há
algumas seções que surgem sem prévio aviso, não tem conexão nem com o que
antecede e nem com o que precede. Por exemplo: Mateus 5: 31; Mateus 7:
O
mais importante é que tanto Mateus como Lucas nos dão a sua
versão. Na versão de Mateus tem 107 versos. Destes 107, 29
se encontram juntos em Lucas 6:
Por
exemplo: O sal está em Mateus 5: 13 e em Lucas
14: 34; a lâmpada está em Mateus 5: 15 e em Lucas
8: 16; o texto que diz que não se omitirá um j ou um til da Lei está
em Mateus
5: 18 e Lucas 16: 17. As passagens que são consecutivas em Mateus
aparecem em capítulos amplamente separados no evangelho de Lucas.
Mateus |
5: 13 |
Lucas |
14:34 |
|
5: 15 |
|
8: 16 |
|
5: 18 |
|
16: 17 |
|
7: |
|
6: |
|
7: |
|
11: |
Mateus é essencialmente o evangelho do ensino;
sua característica é recorrer ao ensino de Jesus, contendo certas epígrafes
importantes; é provável que tenha agrupado os ensinos de Jesus de uma forma
geral, e Lucas toma este esquema desmembra e menciona
COMPARAÇÃO das duas narrativas:
1.
Dos 107 versos contidos
2.
Das oito Bem
aventuranças de Mateus, Lucas tem apenas quatro; mas
Lucas
acrescenta quatro ais não contidos
3.
Lucas tem algumas poucas
palavras introdutórias que não se acham
4.
Certo número de versos
de Mateus
sobre o Sermão do Monte, é usado em diferentes lugares por Lucas,
sem qualquer vinculação a qualquer Sermão proferido em um monte ou uma
planície.
Mateus Lucas
5: 13 14:
34
5: 18 16:
17
5: 25 e 26 12: 58
5: 32 16:
18
6:
6:
6: 22 e 33 11:
6: 24 16:
13
6: 25 12:
22 e 23
6: 26 e 34 12:
7:
7: 13 13:
13
7: 22 e 23 13:
O Logoi deste Sermão não apresentam conceitos inteiramente novos.
Jesus empregou as idéias do VT e de
vez em quando se utilizou das citações rabínicas. A habilidade especial de
Jesus consistia em reconhecer e selecionar material de valor especial da
tradição judaica, deixando de lado os pontos fracos, inúteis e absurdos.
Imortalizou o que havia de melhor nos ensinos do judaísmo. Essa seção tem sido
chamada por alguns de O Mais nobre e
elevado código Moral jamais compilado. Temos aqui a Nova Lei, A Nova Torah, o Sinai do NT[4].
Jesus expôs o Espírito novo do Reino de Deus 4: 17
num discurso inaugural, que Marcos omitiu e do qual Mateus
e Lucas 6:
No discurso compósito que daí resulta, temos
cinco temas principais:
1.
O espírito que deve
animar os filhos do Reino 5:
2.
O espírito que devem
eles cumprir as leis e as práticas do
judaísmo 6:
3.
O desprendimento das
riquezas 6:
4.
As relações com o próximo
7:
5.
Necessidade de entrar no
Reino por uma decisão traduzida em atos. 7:
Sermão da Montanha vai dos capítulos
É
o compêndio da doutrina cristã, e as oito bem-aventuranças contêm as condições
indispensáveis para se ingressar no reino de Deus[7].
Os
Privilégios e as responsabilidades dos cidadãos do Reino dos Céus:
I.
Objetivo dos cidadãos: A perfeição de caráter, 5.
A.
Como chegar a ser cidadãos deste reino, 5:
B.
Cidadãos do reino como representantes de seus princípios, 5 :
C.
A norma de conduta do Reino dos céus, 5:
D.
Objetivo dos cidadãos: A transformação e perfeição de caráter, 5:
48.
II. Incentivo para vivermos corretamente como
cidadãos exemplares, 6.
A.
Os motivos corretos do culto, seu serviço, e relações humanas, 6 :
B.
O propósito da vida : Planejar viver no reino dos céus, 6:
C. Deus provê as necessidades.
Buscam em primeiro lugar, 6:
III. Privilégios e responsabilidades dos
cidadãos, 7.
A.
A regra de ouro e poder para aplicá-la, 7:
B.
A prova de cidadania: obediência e autodisciplina, 7:
C.
Um chamado para uma ação decisiva, 7:
Receita para se evitar a perplexidade
No estudo do maravilhoso Sermão do Monte, Cristo
ensina os crentes quais devem ser as características daqueles a quem o Senhor
chama de bem-aventurados.
Agradeço
a Deus que dá instruções tão claras aos crentes. Temos na Bíblia instruções
preciosas. Não necessitamos permanecer na penumbra da incerteza. Os que
mediante a fé, e a oração e o profundo estudo das Escrituras que procuram obter
virtudes aqui destacadas, facilmente se distinguirão entre os que caminham na
luz. Os que se negam a seguir o Assim
diz o Senhor, não tem desculpas a apresentar pôr sua persistente
resistência contra a palavra de Deus[8].
Palavras de um caráter diferente
Cristo
pronunciou as bênçãos no monte das bem-aventuranças, como se estivesse coberto
de um brilho celestial. As palavras pronunciadas pôr Jesus foram inteiramente
diferentes das palavras ditas pêlos escribas e fariseus. Aqueles que qualificou
como bem-aventurados eram considerados pêlos escribas e fariseus como malditos
de Deus.
Declarou
a esta multidão de pessoas que podia entregar os tesouros da eternidade a
qualquer que o desejasse. Ainda que sua divindade estivesse revestida da
humanidade, não pensou ser igual a Deus. Desta maneira descreveu os atributos
dos que haveriam de compartilhar das heranças eternas. Destacou em forma
particular os que sofriam perseguições pôr causa de seu nome, seriam ricamente
abençoados convertendo-se herdeiros de Deus e co-herdeiros com Jesus Cristo.
Grande seria a recompensa no céu[9].
Sugere que o evangelista está retratando
Jesus como o segundo Moises, realmente maior do que o primeiro; este, também
num monte uma simples colina da Galiléia
dá ao novo Israel uma nova Lei embora certamente um tipo muito diferente de lei
em comparação com a que foi promulgada por Moisés no Sinai. A lei prescrita por
Jesus não é nenhum código de regras exteriores que possa ser seguido ao pé da
letra, mas sim uma série de princípios, e ideais motivos para conduta, mais
concitaria com a lei que Jeremias predisse o Senhor haveria
de colocar na mente dos homens e lhes inscrever no coração quando estabelecesse
um novo pacto com eles. Jeremias 31: 33[10].
A recordação destas outras formas literárias em
que é encontrado o mesmo ensino de Jesus deve ajudar-nos a resistir à tentação
de considerarmos o Sermão do Monte com espírito legalista, bem como lembrar que
foi exatamente contra este espírito, muito característico, dos ensinos dos
escribas e fariseus, que Jesus estava falando.
Muitos mal entendidos e frustrações poderão
surgir se olharmos os preceitos contidos nesta seção, como regras que podem ser
obedecidas literalmente por todos, em qualquer circunstância, pelo simples
exercício da vontade, do mesmo modos como as leis de um estado terreno podem
ser acatadas por seus cidadãos.
A ética deste Sermão como disse C. H. Dood é a
ética absoluta do Reino de Deus. Não devemos supor que sejamos capazes neste
mundo de amar nossos inimigos, ou mesmo o nosso próximo, na plena medida
Os preceitos de Cristo não são definições
estatutárias como as do código mosaico, mas sim indicações da qualidade e da
direção de ação que devem ser aparentes mesmo nas mais simples atitudes[12].
Jesus subiu ao monte, o que tinha a dizer
transcende a vida comum do vale, onde os homens estavam acostumados a
reunir-se. Conforme sua subida ao monte da transfiguração em Mateus
17: 1 bem como a outorga de seu mandamento final em Mateus
28: 16. Por igual modo Moisés recebeu a lei
1 - Vendo ele as multidões, subiu ao
monte. Ao assentar-se, aproximaram-se Dele os seus discípulos.
VENDO ELE AS MULTIDÕES - O Sermão do Monte, Mateus
5:
1) a noite passada em oração,
2) a ordenação dos doze,
3) A descida à planície,
4) o Sermão.
Só omite a menção de que Jesus subiu outra vez ao monte Mateus 5: 1,
e esta omissão induziu a alguns a pensar que o sermão registrado em Lucas
não foi pronunciado no mesmo lugar e ao mesmo tempo em que o de Mateus.
Por outra parte, Mateus não menciona aqui
a designação e a ordenação dos doze, alude a esses fatos em relação com seu
relato da terceira viagem de pregação uns poucos meses mais tarde capítulo
10:
A designação dos doze foi o primeiro passo
na organização da igreja cristã. Cristo era o Rei desse novo reino da graça
divina; os doze eram seus cidadãos ou súditos. Marcos 3: 14. No mesmo
dia quando os doze chegaram a ser súditos fundadores do reino, o Rei deu seu
discurso inaugural, no qual apresentou as condições da cidadania, proclamou a
lei do reino, e delineou seus propósitos.
O Sermão do Monte é, ao mesmo tempo, o discurso inaugural de Cristo como
Rei do reino da graça e a constituição do reino. Pouco depois do
estabelecimento formal do reino e da proclamação de sua constituição,
realizou-se a segunda viagem pela Galiléia, durante a qual Jesus deu uma
demonstração clara e completa das formas em que o reino, seus princípios e seu
poder podem beneficiar à humanidade. Lucas 7: 1, 11[14].
SUBIU AO MONTE - Uma das colinas
próximas a Cafarnaum[15].
Moisés subiu para encontrar-se com Deus. Jesus subiu e era o próprio Deus.
Monte das Bem aventuranças, Monte da
transfiguração, Monte das Oliveiras, Monte Sinai, Monte Sião, Monte Carmelo,
Monte Ebal, Monte Gerisin, Monte Moriá.
É uma alusão a Moisés, o legislador do AT, tipo de Cristo. O Sermão da montanha
consta de três partes ; 5:
Os
capítulos
Cf. capítulo 8: 1. Sem dúvida se tratava
do mesmo monte onde tinha passado a noite em oração e onde, essa mesma manhã,
tinha ordenado aos doze; Marcos 3: 14. Desconhece-se a
localização deste monte. Desde o tempo das cruzadas, assinalou-se como possível
lugar aos Chifres de Hattin, Kurn
Hattin,
A montanha onde Cristo pregou o Sermão do
Monte se chamou o Sinai do Novo
Testamento, pois tem a mesma relação com a igreja cristã que tem o monte
Sinai com a nação judaica. No Sinai Deus proclamou a lei divina. Num
desconhecido morro da Galiléia Jesus reafirmou a divina lei, explicou seu
verdadeiro sentido com detalhes mais amplos e aplicou seus preceitos aos
problemas da vida diária[18].
Sozinho sobre um monte próximo ao mar da Galiléia, Jesus passara toda a
noite em oração por esses escolhidos. Ao alvorecer, chamara-os a Si e, com
palavras de oração e instruções, impôs-lhes as mãos numa bênção, separando-os
para a obra do evangelho. Depois, dirigiu-Se com eles à praia onde, bem
cedinho, já uma grande multidão começara a ajuntar-se.
Além da massa habitual vinda das cidades da Galiléia, havia grande
número de pessoas da Judéia, e da própria Jerusalém; da Peréia e da população
meio-pagã de Decápolis; da Iduméia, ao sul da Judéia, e de Tiro e Sidom,
cidades fenícias à margem do Mediterrâneo. Ouvindo quão grandes coisas fazia. Marcos 3:
8, eles tinham vindo para O ouvir e serem curados das suas enfermidades...
porque saía Dele virtude que curava todos. Lucas 6: 18 e 19.
Depois, como a estreiteza da praia não oferecesse espaço para todos os
que O desejavam ouvir ficarem ao alcance de Sua voz, nem mesmo de pé, Jesus
abriu o caminho de volta para a encosta da montanha. Chegando a um lugar plano
que proporcionava aprazível espaço para a vasta assembléia, sentou-Se na relva,
e Seus discípulos e a multidão seguiram-Lhe o exemplo[19].
ASSENTAR-SE - A estreita praia não
oferecia espaço ao alcance de sua voz para tantos quantos O desejavam ouvir, e
Jesus os conduziu de volta à encosta da montanha. Chegando a um espaço plano,
que proporcionava aprazível lugar de reunião para vasto auditório, sentou-se
Ele próprio na relva, e os discípulos e a multidão seguiram-lhe o exemplo[20].
É razoável pensar que, em harmonia com o costume antigo, Jesus costumava
sentar-se quando pregava e ensinava Mateus 13: 1; 24: 3; Marcos 9: 35; Lucas 4: 20. Esta era a modalidade habitual dos rabinos;
esperava-se que o Mestre ensinasse sentado. Nesta ocasião, ao menos, a multidão
também se sentou[21].
DISCÍPULOS - Entre eles estavam os doze que tinham sido
escolhidos e ordenados essa mesma manhã Marcos 3: 13 e14; cf. Lucas 6:
Sendo os amigos mais íntimos de Jesus,
formavam o círculo mais estreito e, naturalmente, ocuparam seus lugares junto a
ele. Mas tinha muitos outros que seguiam a Jesus e do que também eram
conhecidos como discípulos; Marcos 3: 13. Posteriormente, em
seu ministério teve também várias mulheres que o acompanhavam enquanto atendiam
as necessidades dos discípulos Lucas 8:
Essa
palavra pode significar aprendiz, estudante, adepto ou seguidor. Um
substantivo cognato grego: matheteia,
significa lição, instrução. O verbo, grego:
matheteuo, pode significar fazer
discípulos ou ensinar. Nossa moderna palavra, matemática, vem dessa raiz, e a
antiga palavra mathematikos significa
pertencente às ciências, e às vezes também se referia à prática de alguma
ciência particular, como a astrologia. Aqui o autor usa a palavra a fim de
indicar aquelas pessoas que haviam começado a seguir Jesus e a aprender Dele,
em contraste com a multidão
Como pressentindo algo
acima do comum a sobrevir, os discípulos haviam se comprimido
Enquanto ali estavam sentados na verde encosta, esperando as palavras do
divino Mestre, encheu-se-lhes o coração de pensamentos da glória futura. Havia
escribas e fariseus que antecipavam o dia em que eles teriam domínio sobre os
odiados romanos, e possuiriam as riquezas e o esplendor do maior império do
mundo. Os pobres camponeses e pescadores esperavam ouvir a certeza de que suas
arruinadas cabanas, a escassa comida, a vida de labuta e o temor da miséria
haviam de ser trocados por mansões de abundância e dias de felicidade. Em lugar
da única e ordinária vestimenta que os cobria de dia e lhes servia de cobertor
à noite, esperavam que Cristo lhes daria os ricos e custosos trajes de seus
conquistadores.
Todos os corações fremiam com a orgulhosa esperança de que Israel seria
em breve honrado diante das nações, como o escolhido do Senhor, e Jerusalém
exaltada como cabeça de um reino universal[24].
De fato a frase introdutória de Mateus nos aclara sobre os ensinos
de Jesus de maneira considerável.
Neste verso introdutório temos três chaves acerca do verdadeiro
sentido do Sermão do Monte:
1. Jesus passou a ensinar depois de sentar. Quando um rabino judeu
estava ensinando oficialmente, se assentava para fazê-lo. Tem um lugar marcado
para falar e ao se assentar demonstra autoridade para uma exposição oficial.
Alguns rabinos ensinavam em pé e andando; mas quando o ensino era oficial eles
ocupavam um assento. Assim ao Jesus sentar-se para falar indicava que passava a
ensinar um ensino oficial.
2. Mateus segue dizendo
que Jesus
abriu sua boca e lhes ensinava. Esta frase é apenas uma perífrase rodeio de palavras, circunlóquio decorativa
para dizer, e tem no grego um duplo
significado.
2.1. Se usa para um pronunciamento solene, grave e digno. Por exemplo
para os ditos dos oráculos. É um prefácio natural para um dito importante.
2.2. Usado para manifestação de uma pessoa que abre seu coração e deseja
fluir os sentimentos que vão em sua mente totalmente. Para o ensino íntimo sem
barreiras entre o Mestre e os discípulos. Novamente esta frase nos indica que o
Sermão do Monte não é uma peça ocasional de ensino. Ele é grave, solene
pronunciado sobre temas centrais. Jesus abria e expunha aqui seu coração e
mente aos que haviam de ser os homens de sua confiança.
2.3. No grego existem dois
passados simples. O aoristo que
corresponde ao nosso pretérito indefinido que expressa uma ação que teve lugar
e se completou no passado, e o imperfeito
como nosso pretérito imperfeito, que descreve uma ação repetida, contínua e
semelhante à ação praticada no passado. Exemplo: assistiu a conferência uma vez aoristo,
com assistia a classe regularmente imperfeito.
No grego esta oração que
estamos estudando não está no aoristo
mas no imperfeito e portanto descreve
uma ação contínua e habitual, que poderia ser traduzida: E passou a ensinar-lhes dizendo.
Mateus não disse no grego
para maior claridade que no Sermão do Monte não é um sermão que Jesus ensinou
no passado mas que ensina constantemente e habitualmente seus discípulos.
O Sermão do Monte é mais importante do que possamos pensar. Mateus
em sua introdução quer que compreendamos que se trata de um ensino oficial de
Jesus, e que neste Sermão Jesus abriu a sua mente e seu coração a seus
discípulos; que este sumário dos ensinos que Jesus era para ser compartilhado
com seu círculo íntimo. É uma memória concentrada de muitas horas de
comunicação de coração a coração entre o Mestre e seus discípulos.
Em nosso estudo deste Sermão proferido por Jesus vamos colocar nossa
mente
2 - E pôs-se a falar e os ensinava,
dizendo.
FALAR - Abrindo sua boca. Lucas diz que Jesus alçou
os
olhos capítulo 6: 20 quando começou a falar. Apesar de certas
diferenças no texto do sermão e nas circunstâncias do momento, segundo
registram Mateus e Lucas, não pode ter dúvida de que
estes dois relatos se referem à mesma ocasião. As semelhanças superam às
aparentes diferenças nos dois relatos, e as diferenças são mais aparentes do
que reais. O sermão foi sem dúvida muito mais longo que o que aqui se indica, e
os evangelistas dão resumos independentes do discurso. Sob a inspiração do
Espírito Santo incorporaram em seu relato aqueles ensinos que lhes pareceram
mais importantes. De modo que os relatos não se contradizem mas se
complementam. Devemos aceitar todos os pontos mencionados por ambos
evangelistas. Assim temos o privilégio de receber um relatório mais completo do
que disse Jesus nesta ocasião que se dependêssemos do que disse um ou
outro.
O texto do Sermão do Monte que aparece em Mateus
é três vezes mais longo que o que aparece
Lucas, como o afirma claramente em seu prólogo capítulo l:
5:
7:
Muitos outras passagens do Sermão do Monte,
tais como se apresentam em Mateus, aparecem disseminados pelo
Evangelho de Lucas, sem dúvida porque Cristo repetiu essas mesmas idéias em
várias ocasiões em momentos posteriores de seu ministério ver comentário Lucas 6:
Cristo falou da natureza de seu reino.
Também refutou as falsas idéias a respeito do reino do Messias que os
dirigentes judeus tinham inculcado na mente da gente; ver capítulo 3: 2; 4: 17.
Expõe a grande diferença entre o verdadeiro
caráter do cristianismo e o do judaísmo nos dias de Jesus.
A fim de compreender plenamente a importância
do Sermão do Monte, é necessário entender não só cada princípio segundo se o
expõe em forma individual, mas também a relação de cada princípio com o todo. O
discurso constitui uma unidade total que não é evidente para o leitor
superficial. O esboço que apresentaremos faz ressaltar essa unidade intrínseca
e mostra a relação das diversas partes do discurso com o sermão em seu conjunto[26].
Nota 2 de Mateus 3.
Os autores dos Evangelhos às vezes diferem
quando citam as palavras que Jesus pronunciou. Também costumam diferir quando
se referem ao mesmo fato, por exemplo, a inscrição na cruz. Os céticos se
valeram dessas variações como uma prova de que os autores dos Evangelhos não
são fidedignos; ainda afirmam que mentem, e que portanto não são inspirados. Um
exame cuidadoso, demonstra o contrário. Os que escreveram os Evangelhos, o
mesmo que outros seguidores de Cristo, consideravam-se a si mesmos como
testemunhas dos acontecimentos da vida de nosso Senhor. Faziam depender todo da
veracidade de seu depoimento.
Agora, se num tribunal moderno as
testemunhas coincidem em tudo exatamente a respeito de um fato, a conclusão não
é que são verazes senão que são perjuros. Por quê? Porque a experiência ensina
que não há duas pessoas que vejam um acontecimento exatamente da mesma maneira.
Um detalhe impressiona a uma testemunha; outro detalhe impressiona a outro.
Ademais, podem ter ouvido exatamente as mesmas palavras quanto ao mesmo
fato, mas cada um relata as palavras de uma maneira algo diferente. Até uma
testemunha pode se referir a certas partes de uma conversa que outra testemunha
não refere. Mas, enquanto não tenha uma clara contradição no pensamento ou no
significado das diversas declarações, pode considerar-se que as testemunhas
disseram a verdade.
Certamente, declarações que a primeira vista
parecem contraditórias com freqüência resultam não o ser, senão que são
complementares. Mateus 27: 37; Marcos 5: 2; 10: 46.
Observou-se com justiça que tão só um homem
honrado pode dar-se o luxo de ter má memória. Os que dependem de um relato
falso para enganar ao público, têm que o repassar com freqüência para que não
perca sua verossimilitude. O homem veraz não repete seu relato cada vez
exatamente com as mesmas palavras é quase
seguro que não o fará, mas há uma consistência interna e uma harmonia no
relato que resultam evidentes para todos. Um relato tal tem vida e reluz
adiante de nossos olhos porque seu narrador revive o espírito e o sentimento
dos fatos. Mas quando um indivíduo conta e repete um relato com a exatidão de
um fonógrafo, o mais do que podemos dizer dele, usando de muita caridade, é que
se converteu num tedioso escravo da mera forma das palavras e que não apresenta
um quadro vívido do que aconteceu realmente ou do que se disse
A experiência acumulada, e especialmente a
experiência dos tribunais através de longos anos, leva à conclusão de que um
depoimento veraz não precisa ser em
realidade, não devesse ser idêntico, como uma cópia com papel carvão ou um
xérox, com o depoimento das diferentes testemunhas de um fato, o que inclui seu
depoimento não só do visto, senão também do que se ouviu em determinado
momento.
Fica desqualificada a acusação de que os
autores dos Evangelhos não são fidedignos porque diferem seus relatos. Pelo
contrário, esses escritores proporcionam uma claríssima prova de que não se
confabularam, de que cada um informou por seu lado o que mais impressionou sua
mente iluminada pelo Céu a respeito da vida de Cristo. Escreveram seus relatos
mais ou menos diferentes em momentos diferentes e
Ante estes fatos, resulta injusta a acusação de que os escritores dos
Evangelhos não são inspirados porque apresentam variantes quanto às palavras de
Cristo. Que razões têm os céticos para supor que se os evangelistas fossem
inspirados, apresentariam ao pé da letra as palavras de nosso Senhor? Nenhuma
Precisamente, o fato de que os autores dos
Evangelhos apresentam com variantes as palavras de nosso Senhor, não representa
talvez em si mesmo uma prova de que por inspiração penetraram nos alcances e as
intenções das palavras de Jesus? De passagem: Cristo falava em aramaico e os Evangelhos foram escritos
Poderíamos aqui aplicar, com as devidas
escusas, as palavras da Escritura: A letra mata, mas o espírito vivifica. II
Corintios 3: 6. Há um espírito vivificante que se percebe através dos
quatro Evangelhos, um espírito que facilmente poderia ter sido sufocado ou
apagado se os evangelistas tivessem apresentado quatro relatos idênticos[27].
ENSINAVA - Cristo decepcionou
esta esperança de mundana grandeza. No sermão do monte, procurou desfazer a
obra da falsa educação, dando a seus ouvintes conceitos exatos de Seu reino,
bem como de Seu próprio caráter. Ensinou-lhes alguma coisa infinitamente melhor
do que haviam conhecido.
Sem lhes combater as idéias acerca do reino de
Deus, disse-lhes as condições de entrada ali, deixando-os tirar suas próprias
conclusões quanto à natureza do mesmo.
As verdades que [Jesus] ensinou não são menos
importantes para nós que para a multidão que O seguia. Não menos do que eles,
necessitamos nós de aprender os princípios fundamentais do reino de Deus[28].
[1] O Maior Discurso de Cristo pp.
[2] Comentário ao Novo Testamento, Mateus, vol. 1,
William Barclay. Editora Clie, pp. 102 e 103.
[3] Comentário ao Novo Testamento, Mateus, vol. 1,
William Barclay. Editora Clie, pp. 103 e 105.
[4] ONTIVV, Russell Norman
Champlin, Ph. D. Vol. 1, p. 302.
[5] BJ, p. 1.845.
[6] Bíblia, Edições Loyola, p. 994.
[7] Bíblia Sagada, Edições Paulinas, tradução da
Vulgata, Matos Soares, p. 1064.
[8] Carta 258, 1907.
[9] Manuscrito 72, 1901.
[10] Mateus, Introdução e Comentário, R. V. G.
Tasker, Mundo Cristão, p. 47.
[11] Mateus, Introdução e
Comentário, R. V. G. Tasker, Mundo Cristão, p. 48.
[12] The Gospel and the Law of Christ,
Longmans, 1947, p. 19.
[13] ONTIVV, Russell Norman
Champlin, Ph. D. Vol. 1, p. 300.
[14] CBASD, vol. 5, pp. 313 e 314.
[15] BJ, p. 1.845.
[16] Bíblia Círculo do Livro, Editora Vozes, p. 1182.
[17] Bíblia Anotada, Editora Mundo Crsitão, Charles
C. Ryrie, p. 1187.
[18] CBASD, Vol. 6, p. 314.
[19] O Maior Discurso de Cristo, p. 4.
[20] DTN, p. 281.
[21] CBASD, Vol. 6, p. 314.
[22] CBASD, Vol. 6, p. 314.
[23] ONTIVV, Russell Norman Champlin, Ph. D. Vol.
1, p. 302.
[24] O Maior Discurso de Cristo, pp. 4 e 5.
[25] Comentário ao Novo
Testamento, Mateus, vol. 1, William Barclay. Editora Clie, pp. 105 e 107.
[26] CBASD, vol. 6, pp. 314 e 315.
[27] CBASD, vol. 5,
pp. 298 e 299.
[28] DTN, p. 282.