20º
MATEUS
06
INTRODUÇÃO
A
MOTIVAÇÃO DA RECOMPENSA NA VIDA CRISTÃ
Quando
estudamos os versos iniciais de Mateus 6, nos deparamos
imediatamente com uma questão da mais alta importância: Que lugar tem a
motivação da recompensa na vida cristã? Três vezes nesta seção, Jesus diz que
Deus recompensa aos que Lhe tem prestado a classe de serviço que Ele deseja Mateus
6: 4, 6, 18. Esta questão é tão importante que faremos bem nos deter e
examinar antes de iniciar nosso estudo do capítulo em detalhe.
Afirma
muito claramente que a motivação da recompensa não tem absolutamente nenhum
lugar na vida cristã. O conceito é que devemos ser bons por ser bons; que a
virtude é sua própria recompensa, e que tem que desenterrar da vida cristã a ideia
da recompensa. Houve um antigo santo que dizia que queria apagar todos os fogos
do inferno com água, e abrasar todos os gozos do céu com fogo, para que as
pessoas buscassem a bondade somente por amor a bondade mesma, para que a ideia
de recompensa e castigo fosse eliminada totalmente da vida. Foi isto que
inspirou o grande soneto espanhol:
Não me
move, meu Deus, para querer o Céu que me tens prometido,
Nem me
move ao inferno, tão temido, para deixar por isto te ofender.
Tu me
moves, Senhor, à Cruz escarnecida;
Move
para ver Teu corpo ferido, Tu que enfrentas a morte.
Move-me
no Teu amor, de tal maneira
Ainda
que não houvesse Céu eu Te amaria,
E ainda
que não houvesse inferno, Te temeria.
Não me
tens que dar porque Te queira; porque, se o que espero não esperaria,
O mesmo
que Te quero que seja o que Tu queres.
Esta é
a expressão de uma grande nobreza espiritual. Jesus não Se omitiu de falar das
recompensas de Deus, que fez por três vezes nesta passagem. Dar esmola, fazer
oração e jejuar, Jesus nos assegura que não permanecerão sem sua recompensa
correspondente.
Este é
um exemplo isolado da ideia da recompensa e do ensino de Jesus.
Disse
aos que sofreram lealmente a perseguição e o insulto sem amargura, que sua
recompensa será grande (Mt. 5: 12). Disse que o que dá a um
desses Seus pequeninos um vaso de água fresca por quanto é discípulo, não
ficará sem sua recompensa (Mt. 10: 42). O ensino da Parábola
dos Talentos, ensina, que o serviço fiel receberá recompensa correspondente (Mt.
25: 14- 30). Na Parábola do Juízo Final, o ensinamento óbvio é que há
recompensa e castigo para nossa reação as necessidades de nossos semelhantes (Mt.
25:
1. É
uma regra indiscutível de vida que qualquer ação que não produz nenhum
resultado é fútil e sem sentido. Uma bondade que não tem nenhum fruto carece de
sentido. Como se tem dito muito bem: A
menos que algo sirva para algo, não serve para nada. A menos que a vida
cristã tenha um propósito e uma meta que vale a pena obter, se converte
2. O
desenterrar todas as recompensas e castigos da vida espiritual seria dizer que
a injustiça tem a última palavra. Não se pode pensar razoavelmente que o bem e
o mal acabem da mesma maneira. Isto seria dizer que a Deus não se importa se
somos bons ou não. Queria dizer, francamente, que não tem sentido ser bom, e
não haveria razão para viver de uma maneira em vez de outra. Eliminar todas as
recompensas e todos os castigos seria dizer que em Deus não há nem justiça nem
amor.
As
recompensas e os castigos são necessários para dar sentido a vida. Se não
houvesse, luta e sofrimento! o bem, seria levado ao vento.
O
conceito cristão da recompensa
A ideia
de recompensa na vida cristã, tem certas coisas que devemos ter claras.
1.
Quando Jesus falava de recompensas, definitivamente não estava pensando em
termos de recompensas materiais. É indubitavelmente certo que, no AT, as ideias
de bondade e de prosperidade material estão intimamente relacionadas. Se uma
pessoa prosperava, se seus campos eram férteis e suas colheitas abundantes, se
tivesse muitos filhos e muita fortuna, isto se tomava como uma prova de que era
uma boa pessoa.
Este é
precisamente o problema que se encontra no Livro de Jó. Ele se encontra em
desgraça; seus amigos vem convencê-lo de que essa desgraça tem que ser
resultado de seu pecado, acusação que Jó nega veementemente. Recordas
de um inocente que tenha perecido? Onde já se viu que justos fossem
exterminados? (Jó 4: 7). Se fores puro e reto, dizia Bildade,
Desde
agora a tua luz brilhará sobre ti e restaurará a casa de um justo (Jó 8: 6).
Disseste: Minha conduta é pura, sou inocente a teus olhos. dizia Zofar.
A mesma ideia queria contradizer o Livro de Jó era a de que a bondade
e a prosperidade material estão sempre juntas.
Fui
jovem e agora estou velho, mas nunca vi um justo abandonado, nem sua
descendência mendigando o pão (Sl. 37: 25). Cairão
mil ao teu lado e dez mil a tua direita, diz o salmista; Mas
tu não serás atingido. Certamente, com teus próprios olhos verás o salário dos
ímpios. Tu que dizes Iahweh é o meu abrigo, e fazes do Altíssimo teu refúgio. A
desgraça jamais te atingirá e praga nenhuma chegará a tua tenda (Sl.
91: 7-10). Estas são coisas que Jesus não havia dito. Não era a
prosperidade material que Jesus prometia a Seus seguidores. De fato lhes
prometia provas e tribulações, sofrimento, perseguição e morte. Certo é que
Jesus não estava pensando em recompensas materiais.
2. Temos que recordar que a recompensa mais elevada
nunca se dá ao que está buscando. Se está buscando uma recompensa,
contabilizando o que crê haver ganhado e merecer, perderá o que busca. E
perderá porque vê a Deus doador da vida de maneira equivocada. O que sempre
está calculando sua recompensa, pensa em Deus como um juiz, ou como um
contador, e sobre tudo na vida
O erro
básico deste ponto de vista é que concebe a vida em termos da lei e da letra e
não no amor. Se amamos profundamente uma pessoa, com humildade e sem egoísmo,
estaremos completamente seguros de que, ainda que déssemos a essa pessoa todo
universo, ainda estaríamos em dúvida; a última coisa que pensaríamos seria ter
ganho uma recompensa. Se tem um ponto de vista legal da vida, não há mais o que
pensar sobre recompensa que se tem ganho; mas se não tem o ponto de vista do
amor, a ideia de recompensa nunca lhe passará pela cabeça.
O
grande paradoxo da recompensa cristã é esta: A pessoa que anda buscando uma
retribuição, e que calcula o que se lhe deve, não recebe; A pessoa cuja única
motivação é o amor, e que nunca pensa haver merecido no que faz é o que recebe.
O curioso é que a recompensa é ao mesmo tempo um subproduto e uma etapa final
da vida cristã.
A
recompensa cristã
Agora
devemos passar a perguntar: Quais são as recompensas da vida cristã?
1.
Comecemos sinalizando uma verdade básica e geral. Se temos visto que Jesus
Cristo não pensa em termos de bênção material absoluta, o que recebemos na vida
cristã são recompensas somente para uma pessoa que tenha mentalidade
espiritual? Para uma pessoa de mentalidade materialista não seria bênção de qualquer
classe. As recompensas cristãs são só para os cristãos.
O poeta
George Herbert formava parte de uma pequena roda de amigos que se reuniam para
tocar instrumentos musicais como uma pequena orquestra. Uma vez ia a caminho
para reunir-se com o grupo, quando se encontrou com um motorista que havia
atolado seu carro no barro da estrada. George Herbert deixou de lado seu instrumento
e foi ajudar o homem. Levou muito tempo para desatolar o carro, e acabou todo
cheio de barro. Quando chegou a casa de seus amigos, já era demasiado tarde
para o tocar. Contou o que havia detido
Godfrey
Winn fala de um homem que era o melhor cirurgião plástico da Inglaterra.
Durante a guerra, deixou sua consulta particular que lhe rendia dez mil libras
esterlinas ao ano, uma grande quantidade monetária, para dedicar todo seu tempo
a remodelar os rostos e os corpos dos aviadores queimados ou mutilados
Uma
senhora parou uma vez a Dale de Birmingham na rua. Que Deus lhe abençoe, doutor Dale, E disse. Ela se negou peremptoriamente
a dar seu nome. Só lhe deu graças e lhe abençoou e seguiu seu caminho. Dale
havia estado muito deprimido até aquele momento. Mas disse: A névoa se abriu e chegou a luz do sol;
respirei o ar livre das montanhas de Deus. E quanto à riqueza material, não
me atrai mais do que antes; mas quanto a profunda satisfação que sente um
pregador que descobre que tem ajudado alguém, havia ganho uma riqueza
indescritível.
A
primeira recompensa cristã é a satisfação que não há dinheiro em todo mundo que
se possa comprar.
EXEGESE
A Esmola em segredo
1 - Guardai-vos
de praticar a vossa justiça diante dos homens para serdes vistos por eles. Do
contrário, não recebereis recompensa junto a vosso Pai que está nos céus.
GUARDAI-VOS - Depois de ocupar-se da verdadeira justiça Mateus 5, Jesus passa
agora a ocupar-se da aplicação prática da justiça aos deveres do cidadão do
reino dos céus (Mt. 6). Os cristãos devem evitar fazer alarde de seus atos de culto e de
caridade. Mediante três exemplos, atos caritativos versos
Continuando Sua
resposta aos discípulos de João, Jesus disse uma parábola: Ninguém tira um pedaço de um
vestido novo para coser em vestido velho, pois que romperá o novo e o remendo
não condiz com o velho (Lc. 5: 36). A mensagem do Batista não devia ser
entremeada com a tradição e a superstição. Uma tentativa de misturar as
pretensões dos fariseus com a devoção de João, só tornaria mais evidente a
ruptura em ambas.
Nem podiam os
princípios do ensino de Cristo ser unidos com as formas do farisaísmo. Cristo
não cobriria a ruptura feita pelos ensinos de João. Tornaria mais distinta a
separação ente o velho e o novo. Jesus ilustrou posteriormente este fato,
dizendo: Ninguém deita vinho novo em odres velhos; doutra sorte o vinho novo
romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão (Lc. 5: 37).
Os odres de couro usados como vasos para guardar o vinho novo ficavam depois de
algum tempo secos e quebradiços, fazendo-se então imprestáveis para tornar a
servir ao mesmo fim. Por meio dessa ilustração familiar, Jesus apresentou a
condição dos guias judaicos. Sacerdotes, escribas e principais se haviam fixado
numa rotina de cerimônias e tradições. Contraíra-se-lhes o coração como os
odres de couro a que Ele os comparara. Ao passo que se satisfazia com uma
religião legal, era-lhes impossível tornarem-se depositários das vivas verdades
do Céu. Julgavam a própria justiça toda suficiente, e não desejavam que um novo
elemento fosse introduzido
Os fariseus
julgavam-se demasiado sábios para necessitar instruções, demasiado justos para
precisar salvação, muito altamente honrados para carecer da honra que de Cristo
vem. O Salvador deles Se desviou em busca de outros que recebessem a mensagem
do Céu. Nos ignorantes pescadores, no publicano na alfândega, na mulher de
Samaria, no povo comum que O escutava de boa vontade, encontrou Ele Seus novos
odres para o vinho novo. Os instrumentos a serem usados na obra evangélica, são
as almas que recebem com alegria a luz a elas enviada por Deus. São esses Seus
instrumentos para a comunicação do conhecimento da verdade ao mundo. Se,
mediante a graça de Cristo, Seu povo se torna odres novos, Ele os encherá de
vinho novo.
O ensino de Cristo,
conquanto representado pelo vinho novo, não era uma nova doutrina, mas a
revelação daquilo que fora ensinado desde o princípio. Mas para os fariseus a
verdade perdera sua original significação e beleza. Para eles, os ensinos de
Cristo eram, em quase todos os respeitos, novos; e não eram reconhecidos nem
confessados.
Jesus mostrou o
poder dos falsos ensinos para destruir a capacidade de apreciar e desejar a
verdade. Ninguém, disse Ele, tendo bebido o velho quer logo o novo,
porque diz: Melhor é o velho (Lc. 5: 39). Toda a verdade dada ao mundo
por meio de patriarcas e profetas resplandeceu com nova beleza nas palavras de
Cristo. Mas os escribas e fariseus não tinham nenhum desejo quanto ao precioso
vinho novo. Enquanto não se esvaziassem das velhas tradições, costumes e
práticas, não tinham, na mente e no coração, lugar para os ensinos de Cristo.
Apegavam-se às formas mortas, e desviavam-se da verdade viva e do poder de Deus[3].
VOSSA JUSTIÇA - Literalmente: Fazer vossa justiça; variante: Dar esmolas, isto é, praticar as
boas obras que tornam o homem justo diante de Deus. Na opinião dos judeus, as
principais obras eram a esmola (
A palavra grega
dikaiosún, aqui traduzida como justiça, significa piedade. Os três exemplos que se dão: esmolas, orações e jejuns, se apresentam
para explicar o princípio que se trata neste verso.
As três ilustrações que se dão representam as três formas mais comuns de justiça farisaica. Deve
destacar-se que Jesus de nenhum modo se opôs aos atos religiosos; só se
preocupava de que fossem impelidos por motivos puros e se realizassem sem
ostentação[5].
DIANTE DOS HOMENS - Como em desfile ante eles
com o propósito de chamar a atenção e admiração ver comentário verso 2[6].
PARA SERDES VISTOS - Grego: theáomai, contemplar, olhar. A palavra teatro provem desta
mesma raiz. As ações piedosas realizadas diante dos homens, para serem, vistos por eles tinham o
propósito de ganhar a adulação deles[7].
A VOSSO PAI - Literalmente: do lado de vosso Pai ou na presença de vosso Pai[8].
O
CORRETO POR UM MOTIVO ERRÔNEO
Guardai-vos
de praticar a vossa justiça diante dos homens para serdes vistos por eles. Do
contrário, não recebereis recompensa junto a vosso Pai que está nos céus. (Mt.
6: 1).
Para os
judeus, haviam três grandes obras prioritárias na vida religiosa, três grandes
pilares sobre que se assentava uma vida boa: a esmola, a oração e o jejum.
Jesus não havia discutido nem por um momento; o que Lhe desabonava era que na
vida humana as coisas mais autênticas se fazem por motivos falsos.
O que
parece estranho é que, estas três grandes boas obras prioritárias se prestem
tão facilmente por motivos errôneos. Jesus advertia que, quando estas coisas se
fazem com a única intenção de dar glória ao que pratica, perde muito a parte
mais importante de seu valor. Pode ser que uma pessoa dê esmola, não realmente
para ajudar ao próximo, mas simplesmente para demonstrar sua própria
generosidade, e para reforçar um agradecimento de alguém e receber louvor de
muitos. Pode ser que uma pessoa tenha feito uma oração de tal maneira que sua
oração não vá dirigida realmente a Deus, mas a seus semelhantes. Fazer oração
era simplesmente um intento para demonstrar sua piedade excepcional de maneira
que nada deixasse de dar conta. Pode ser que uma pessoa jejue, não realmente
para o bem de sua alma, nem para humilhar-se diante de Deus, mas simplesmente
para mostrar ao mundo como esplendidamente disciplinada e sacrificada que ele
é. Pode ser que uma pessoa tenha boas obras simplesmente para ganhar louvores
das pessoas, para aumentar seu próprio prestígio e para mostrar ao mundo o quão
bondoso ele é.
Segundo
Jesus, não há dúvida de que esta classe de pessoas recebem certa classe de
reconhecimento. Três vezes Jesus usa a frase: De certo vos digo que já
receberam sua recompensa. (Mt. 6: 2). Seria melhor traduzida: Já
tem recebido seu pagamento completo. A palavra no original é o verbo apejein, que era o termo técnico
comercial e contábil para receber um pagamento total. Era a palavra que se
usava para preencher os recibos. Por exemplo, um homem firma o recibo que dá a
outro: Ele recebeu apejô o pagamento
de qualquer bem. Um publicano dá um recibo que escreve: Eu recebi apejô de ti pelo imposto devido. Um homem vende um
escravo e dá um recibo que diz: Eu recebi
apejô o preço total que se me devia.
O que
Jesus está dizendo é o seguinte: Se der esmola para fazer gala da tua própria
generosidade, receberás a admiração das pessoas, porém isto não será recebido
nunca no céu. Isto será tua paga total. Se fazes oração de tal maneira que
demonstre tua piedade a vista das pessoas, ganharás uma reputação de ser uma
pessoa extremamente devota, porém isto nunca será reconhecido por Deus. Se
jejuas de tal maneira que todas as pessoas se admiram de tua prática, te
conhecerão como uma pessoa extremamente abstêmia e ascética, porém isto não
será aceito nunca. Jesus está dizendo: Se tudo o que te propões é conseguir reconhecimento
do mundo, não cabe dúvida de que conseguirás, porém não deves esperar as
recompensas que só Deus pode dar. E seria uma lástima e miopia que se apegasse
aos méritos do tempo, e deixasse escapar as bênção da eternidade[9].
O
Quarto Passo
Guardai-vos
de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por
eles; doutra sorte não tereis galardão junto de vosso Pai celeste. (Mt. 6: 1).
Com Mateus. 6: 1
chegamos a outro dos grandes versos de transição do Sermão do
Monte. Estudamos o capítulo 5 de Mateus. Esse capítulo nos apresentou
três grandes elementos na formação de uma vida cristã. O primeiro foram as
Bem-aventuranças (Mt. 5:
A
primeira parte do capítulo trata de três áreas da piedade pessoal: a esmola, a
oração e o jejum. Visto serem esses atos comuns na piedade judaica, Jesus
utiliza essas áreas para ilustrar princípios aplicáveis a todos os atos da
piedade religiosa. Esses três atos exemplificam mais a piedade do que uma
exaustiva lista de práticas cristãs.
Note que
Jesus não ordena essas atividades. Ele simplesmente diz: Quando deres esmola..., Quando
orares... Supõe-se que esses atos sejam praticados pelos cidadãos do
reino dos Céus. Esse é um fato curioso, já que uma de Suas três ilustrações, o
jejum, caiu em desuso entre os cristãos evangélicos, sendo até mesmo
considerado, por alguns, perversão da Idade Média.
Orar,
jejuar e dar esmolas. O que têm eles
Ao
procurarmos praticar os importantes atos de devoção, que integram a vida
cristã, dá-nos hoje a Tua ajuda, ó Pai[10].
Está
Jesus Se Contradizendo?
Nisto é
glorificado Meu Pai, em que deis muito fruto; e assim vos tornareis Meus
discípulos (Jo. I5: 8).
Jesus
me deixa confuso. Em Mateus 5: 16, Ele me diz para deixar
minha luz brilhar, a fim de que os outros vejam minhas boas obras e glorifiquem
ao Pai celestial. Agora, em Mateus 6: 1, Ele me diz para evitar
praticar minha piedade diante dos outros, com a finalidade de ser visto por
eles.
Estou
confuso! Acaso dar aos pobres não é uma boa ação? Como posso esconder minha luz
e fazê-la resplandecer ao mesmo tempo? Embora, superficialmente, esses dois
versos pareçam contraditórios entre si, são na verdade ensinos complementares.
O tema abordado em Mateus 5: 16 é o testemunho público, ao passo que a oração, a
esmola e o jejum são devoções pessoais.
Mais
importante ainda: o objetivo de Mateus 5: 16 é a glória de Deus,
enquanto as falsas práticas de piedade do capítulo 6 visam à glorificação de
seus praticantes. Segundo esse critério, elas merecem condenação, visto que
toda adoração e todo ato da vida cristã devem ter o propósito de honrar a Deus.
Os
cristãos devem viver de tal maneira que as pessoas, ao olharem para eles,
glorifiquem a Deus. Um cristão não pratica nenhum ato de adoração para ser
visto ou admirado pelos outros. Frederick Dale Bruner declara belamente o
sutil equilíbrio entre Mateus 5: 16 e 6: 1, quando
escreve: É correto praticar boas obras de
um modo que, quando as pessoas as virem, pensem em Deus; é errado praticar boas
obras de um modo que, quando as pessoas as virem, pensem em nós.
Isto
não é uma coisa fácil de fazer. Todos somos tentados a amar a nós mesmos de
maneiras não muito saudáveis. Graças à maneira franca de Jesus falar, sabemos
que precisamos ser cuidadosos quanto à nossa ostentação espiritual. E assim, ao anunciarmos diante da igreja
que, na semana passada, Deus fez alguma coisa grandiosa em favor de alguém,
por intermédio do nosso testemunho, garantimos que o humilde instrumento de Deus nossa
pessoa ganhe destaque. Os demais rapidamente entenderão a estratégia e dirão
para si mesmos: Dou graças a Deus porque não sou como esse. E com um único
golpe caímos no mesmo poço de farisaísmo. Dar realmente a Deus a glória
constitui um ato de graça[11].
2 - Por
isso quando deres esmola não te ponhas a trombetear em público, como fazem os
hipócritas nas sinagogas e nas ruas, com o propósito de serem glorificados
pelos homens. Em verdade vos digo. Já receberam sua recompensa.
TROMBETAR - Tocar
trombeta. Não se
sabe se deve entender literalmente esta ilustração de Jesus: se quem dava
esmolas fazia soar trombetas para chamar o atendimento a sua caridade, ou se
deve entender como uma figura de dicção. Na literatura hebraica não aparece nenhum caso no qual se tenha feito isto, mas
aparece na literatura de outros antigos países orientais. A primeira vista,
poderia parecer que as palavras como fazem os
hipócritas sugeririam que Jesus estava
referindo a um fato literal. No entanto, os hipócritas também poderiam
ter feito soar trombetas simbólicas. Cristo repreende o mau de dar grande publicidade
aos atos caritativos[12].
HIPÓCRITAS - No
pensamento de Jesus, esse epíteto, que visa a todos os falsos devotos que
apresentam uma piedade afetada e ruidosa, aplica-se especialmente a seita dos
fariseus (Mt. 15: 7; 22: 18; 23: 13 -15). Entre os judeus o termo grego hypockrités que traduz no hebraico hameph não designa apenas o homem de
piedade fingida e exibicionista, mas de modo geral o homem de caráter
pervertido e mau, o ímpio em suma[13].
Grego: hupokrités provem de um verbo que significa fingir,
dissimular. Os judeus atendiam aos necessitados com contribuições impostas
aos membros da comunidade segundo cada um pudesse pagar. Os fundos assim
conseguidos eram aumentados por meio de doações voluntárias. Se faziam pedidos
especiais nas reuniões religiosas públicas nas sinagogas, ou em reuniões ao ar
livre que costumavam realizar nas ruas. Nestas ocasiões, as pessoas se sentiam
tentadas a prometer grandes somas de dinheiro para conseguir o louvor dos que
estavam ali reunidos. Também se acostumavam permitir que o que tivesse
contribuído com uma soma excepcionalmente grande se assentasse num lugar de
honra junto aos rabinos.
Com demasiada frequência, o desejo de ser louvado era o objetivo desses
donativos. Ocorria que muitos prometiam grandes somas, mas depois não cumpriam
suas promessas. A referência que Jesus fez à hipocrisia sem dúvida incluía
também esta forma de fingimento[14].
JÁ RECEBERAM SUA RECOMPENSA - Já têm sua recompensa. O grego
faz ressaltar a ideia de que já receberam plenamente sua paga. O verbo grego que aqui se traduz têm aparece com frequência em
recibos escritos em antigos papiros gregos onde significa cancelado ou recebido. Jesus disse
que os hipócritas já tinham recebido tudo o que teriam de receber. Praticavam a
caridade como uma transação estritamente comercial, mediante a qual esperavam
comprar a admiração pública; não se preocupavam por aliviar a desgraça do
pobre. Essa recompensa seria a única que teriam de receber[15].
Repetição:
Uma Lei de Aprendizagem
Quando,
pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas,
nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos
digo que eles já receberam a recompensa (Mt. 6: 2).
Três
vezes no capítulo 6 Jesus utiliza o mesmo padrão para atingir Seu
objetivo. Ele sabia que a mente humana enfraquecida pelo pecado precisa ouvir
as coisas mais de uma vez para assimilar uma lição. E Jesus é o mestre por
excelência.
Repare
no Seu estilo. Primeiro, Ele delineia o princípio geral no verso inicial: Não
pratique atos piedosos para ser visto pelos outros. Os que assim procedem não
receberão outra recompensa a não ser sua própria atitude egocêntrica. Depois,
Ele passa a ilustrar essa lição principal a respeito da esmola versos
Todas
as três ilustrações seguem o mesmo padrão. Primeiro, vem a descrição da falsa
forma de piedade, que se concentra na exibição pública da santidade do adorador. Por causa de sua falsa motivação pois adoram a si mesmos ou chamam a atenção
para si mesmos, embora afirmem estar adorando a Deus e chamando a atenção para
Ele, Jesus os chama de hipócritas em todas as três
ilustrações.
A
palavra hipócrita, no grego,
era usada para designar um ator no palco. Ora, há um aspecto positivo
A
segunda metade de cada ilustração sugere a maneira apropriada de cumprir a
obrigação. Em cada caso, a ideia central é a de que a motivação para a devoção
deve fundamentar-se mais no relacionamento da pessoa com o Pai do que no desejo
de aparentar bondade. As três ilustrações terminam com a afirmação de que Deus
recompensará os fiéis[16].
A
Questão das Recompensas
Pois que aproveitará o homem se
ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua
alma? Porque o Filho do homem há de vir na glória de Seu Pai, com os Seus
anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras (Mt. 16: 26- 27).
Conta-se
a história de um homem que descia por uma estrada levando um balde de água numa
das mãos e um balde de fogo na outra. Ao lhe perguntarem o que ele iria fazer
com esses dois baldes, ele respondeu que iria incendiar o Céu com o balde de
fogo e inundar o inferno com o balde de água. Seu interesse não estava nem numa
nem noutra coisa. Afirmava que sua razão para ser cristão era mais profunda do
que as recompensas. Pregava a bondade somente por amor à bondade. Concluía que
toda a ideia de recompensa não era cristã.
Muitas
pessoas acham detestável a ideia de recompensas para a piedade pessoal. Contudo,
a passagem que vai de Mateus 6:
Uma
razão por que as pessoas parecem ser contra a ideia de recompensa para a
piedade pessoal, é que a princípio isto parece comunicar a ideia de salvação
por mérito. Mas esse raciocínio deixa de levar em consideração o fato de que o
Sermão do Monte é dirigido aos que já estão salvos. Repetidas vezes nesses
capítulos, Jesus fala àqueles que se dirigem a Deus como Pai. Eles já pertencem à
família de Deus.
Assim,
seus atos de devoção não são atos meritórios para entrar no reino, mas reações
de amor e adoração por já estarem dentro dele.
Jesus
não tinha problema com a ideia de Céu ou de inferno. Falava repetidas vezes de
ambos, como os respectivos resultados das escolhas que as pessoas fazem ao
longo da vida. A escolha mais importante que podemos fazer é decidir quem será
o Senhor da nossa vida. É bastante apropriado almejar nossa bendita recompensa[17].
A
Recompensa do Cristão
Mas,
como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em
coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam 1Ct. 2: 9).
Um
menininho sentou-se silenciosamente num trem do Oeste. Era um dia quente,
poeirento e bastante desconfortável para os viajantes. Na verdade, era o dia
mais desinteressante de toda a viagem. Mas o pequenino sentou-se e ficou a
observar pacientemente os campos e cercas que passavam em rápida sucessão, até
que uma senhora idosa e maternal se inclinou sobre ele e perguntou
compassivamente:
Você
não está cansado da longa viagem, querido? Não está cansado da poeira e do
calor?
O
jovenzinho levantou os olhos que brilhavam e replicou com um sorriso: Sim,
estou. Mas não me importo, pois sei que meu pai vai me encontrar no fim da
viagem.
Este é
um belo pensamento. Não importa quão monótona, desanimadora ou mesmo dolorosa
seja a vida, como cristãos temos alguém à nossa espera no fim de nossa jornada
terrena. Nosso Pai nos espera. Esse é o nosso incentivo. É essa promessa que
nos faz prosseguir. Nosso Criador nos encontrará, trazendo consigo a Sua
recompensa. Mas enquanto os cristãos esperam a recompensa final, não devem
passar por alto as recompensas diárias da vida cristã. Primeiro, temos a
certeza de estar fazendo as coisas certas. Isso dá aos cristãos paz mental
inigualável.
Segundo,
já agora desfrutamos da recompensa de ajudar outras pessoas. Essa é uma
satisfação que vale mais do que ouro ou prata. Como cristãos, precisamos
conscientemente criar oportunidades para mais bênçãos decorrentes da caridade.
Uma
terceira recompensa atual para o trabalho fiel ao Senhor é ainda mais
trabalho. Essa é uma das grandes lições da parábola dos talentos. Aqueles que
realizaram muita coisa terão o privilégio de serviço mais amplo à medida que se
tornam mais e mais semelhantes ao seu Mestre.
Nosso
Pai, ao pensarmos em nossa recompensa cristã tanto neste mundo como no mundo
vindouro, pedimos uma renovada porção de Tua graça para que continuemos a ser
recipientes de Tuas bênçãos[18].
Honrar
a Quem?
Eu não
aceito glória que vem dos homens. ... Como podeis crer, vós os que aceitais
glória uns dos outros e, contudo, não procurais a glória que vem do Deus único?
(Jo. 5: 41- 44).
Uma das
escolhas decisivas da vida é a quem queremos honrar: a Deus ou a homens? A quem
buscamos agradar? De quem buscamos o aplauso? O que estamos dispostos a fazer
para receber esse favor ou ouvir esse aplauso?
Estas
são perguntas um tanto chocantes, porque se aproximam do centro do que somos e
de como vivemos nossa vida diária.
Todos
sabemos a resposta certa para essas perguntas. Devemos ser como Jesus, que não
dava a mínima para o aplauso humano, mas valorizava apenas a aprovação do Pai.
O
problema é que não somos Jesus. Todos, com demasiada frequência, olhamos por
sobre os ombros para ver os que os outros pensam de nós. Como cristãos, sabemos
que não devemos andar atrás do aplauso mundano que poderíamos obter em
Hollywood ou a glória que poderíamos receber como presidente da General
Motors. Obviamente, reconhecemos que não é o sucesso que está errado, mas o
atrair a atenção para nós mesmos como os supostos responsáveis por esse
sucesso.
Como
cristãos, geralmente conseguimos ver além dessa espécie de orgulho mundano. Na
maioria dos casos, esse não é o nosso problema. Mas temos um equivalente
espiritual disso. Contendemos com o orgulho espiritual e eclesiástico.
Veja
que grande evangelista sou eu! Que brilhante sermão eu preguei! Contribuo mais
com a igreja que qualquer outra pessoa! Por que vocês não podem apenas ser
humildes como eu?
Moral
da história: São infinitas as formas pelas quais podemos buscar honra dos
outros ou até de nós mesmos. Este é o problema contra o qual os fariseus
lutavam. E Jesus quer que nossa justiça, mesmo nessas áreas da vida, exceda a
dos escribas e fariseus. Mas se isso acontecer, por favor não faça alarde nem
chame a atenção para isso. Minha suposição é a de que, se já chegamos onde
devíamos estar em nossa vida cristã, não saberemos sequer que chegamos, porque
Deus será tudo e reconheceremos que sem Ele nada somos[19].
Não
se Pode Enganar a Deus
Nada,
em toda a criação, está oculto aos olhos de Deus. Tudo está descoberto e
exposto diante dos olhos Daquele a quem havemos de prestar contas (Hb. 4: 13).
O bolo
estava horrível. Na verdade, foi o pior bolo que já provei na minha vida. Esse
era o problema. Afinal de contas, fora feito especialmente para meu
aniversário pela minha noiva. E eu não podia ferir os sentimentos dela, mas com
toda a certeza eu não conseguiria comer aquilo.
Felizmente,
no dia seguinte a meu aniversário, ela foi para a casa da irmã dela por uns
dias, deixando o resto do bolo comigo. Mas agora aqueles dias haviam
terminado. Em poucas horas, ela voltaria e eu seria apanhado.
Talvez,
pensava eu, eu pudesse atirar o bolo no matagal do terreno baldio em frente.
Mas, com o azar que eu tenho, ela passaria por aquele terreno e iria para casa
com o bolo nos sapatos. Isso não iria funcionar. Jogar no lixo, também não.
Algumas migalhas delatoras grudadas no fundo do cesto seriam a minha ruína.
Finalmente
tive uma ideia! Por que não pensara nisso antes? Peguei o bolo e andei na ponta
do pé até o banheiro. Com a porta fechada, quebrei rapidamente o bolo em
pequenos pedaços, lancei-os no vaso sanitário, puxei a descarga e fiquei
assistindo a um potencial desastre de família escoar para o esquecimento.
Finalmente
livre! Que sentimento maravilhoso! Minha jovem noiva ficou encantada ao saber
que eu havia apreciado o bolo.
A lição
é simples: Você pode enganar algumas pessoas por algum tempo.
Naturalmente,
o que funciona com as pessoas não funciona com Deus. Ele vê não somente a ação,
mas também o motivo por trás da ação. Ele quer tomar hoje minha vida, meu
coração, e purificá-los. Ele quer ir mais fundo do que as coisas que faço, Ele
quer mudar a razão por que faço as coisas, ainda que sejam coisas cristãs. Ele
quer que eu O adore somente porque Ele é o Senhor da minha vida.
Senhor,
ajuda-me hoje em minhas lutas íntimas. Ajuda-me não apenas a fazer as coisas
certas, mas a fazê-las pelas razões certas[20].
3 - Tu,
porém, quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua
direita.
QUANDO DERES ESMOLA - Emprega-se aqui o pronome tu. Jesus se dirigia a cada
membro do grupo
Comentário: Êxodo
22: 25 - Usura. Hoje
em dia geralmente esta palavra implica uma taxa de juro exorbitante.
Nos dias de Moisés,
a palavra assim traduzida significava qualquer quantidade de interesse, grande
ou pequeno. A taxa de juro que um agiota podia cobrar não estava então regulado
pela lei, e podia esperar-se que os agiotas sem consciência tratassem
implacavelmente a quem se achassem
No tempo de Moisés,
as transações comerciais não eram como as atuais. Em termos gerais, um homem
dependia de seus próprios recursos para suas operações comerciais e se pedia e
se dava pouco dinheiro emprestado em comparação com o que se faz hoje. Na
prática, só um irmão que tinha empobrecido pedia dinheiro emprestado.
Portanto, pareceria que longe de condenar as transações comerciais comuns, que
implicam emprestar dinheiro ou tomá-lo prestado, as leis de Moisés nem sequer
se ocupam delas. Parece que Cristo aprovou o princípio de obter ganhos, o que
inclui interesses sobre empréstimos, nas transações comerciais regulares (Mt.
25: 27; Lucas 19: 23.
Tem validez em
nossos dias o princípio inerente na lei de Moisés quanto à usura, de não se
aproveitar de alguém que esteja acossado por circunstâncias adversas. Nunca se
deve exigir de outro mais do que o que é justo, seja pobre ou rico.
É o espírito de avareza, de extorsão, de um proceder rígido e a paixão pelo
ganho, mesmo com prejuízo para outros, o que é condenado. Devemos nos
compadecer das necessidades dos outros, e nunca prestar ouvidos surdos a seu
clamor nem aproveitar-nos deles quando fazem frente a dificuldades[21].
Comentário: Levítico 25: 25. Quando teu irmão empobrecia. Essa legislação favorecia ao pobre e o animava a trabalhar para
recuperar sua propriedade. Deus procurava impedir que alguns chegassem a ser
muito ricos e os outros muito pobres. Se tivesse seguido o plano original de
Deus para a terra e a servidão, não se tivessem conhecido situações de extrema
riqueza nem de extrema pobreza[22].
Comentário: Levítico 25: 35. Quando teu irmão. Devia
ajudar-se ao irmão, ao estranho ou ao forasteiro que necessitasse. O que
estivesse em situação privilegiada não devia cobrar usura do irmão pobre, nem
obter ganho do alimento que lhe vendesse (Êx. 22: 25). Desse modo se mostra
novamente o cuidado de Deus para os pobres. Deus tinha livrado a Israel de
Egito e estava a ponto de levá-lo à terra de Canaã. Bem como eles tinham
recebido tanta bondade, Deus desejava que fossem bondosos com os desafortunados
(Mt.
10: 8). Só assim poderiam receber a aprovação divina[23].
Comentário: Deuteronômio 15: 7. Pobre. Literalmente, um necessitado. A pobreza parece que
sempre existiu Deuteronômio 15: 11; (Mt. 26: 11. No entanto, pode fazer-se
muito por reduzir e aliviar os sofrimentos que acompanha. Sempre que tenha
entre os homens diversidade de talentos, terá alguns necessitados de ajuda. Os
membros da igreja poderiam ocupar-se muito mais dos menos favorecidos, sem
deixar de fazer evangelismo público.
Nem fecharás tua mão. Verbo que se traduz fechar também significa retirar.
É como se um homem pusesse as mãos nos bolsos, ou detrás das costas, recusando a
estendê-las num gesto de generosidade. Em I João 3: 17 o apóstolo João diz: Mas o
que tem bens deste mundo e vê seu irmão ter necessidade, e fecha contra ele seu
coração, como mostra o amor de Deus nele? A resposta evidente é que o
amor divino não pode morar no coração de tal pessoa[24].
Comentário: Deuteronômio 15: 11. Não faltarão. Cristo faz
referência a isto em Mateus. 26: 11. Nunca cessará a
necessidade de demonstrar generosidade e caridade cristãs. Tiago 2: 5.
diz que os pobres são os que Deus elegeu para si. Os pobres necessitados têm
direito a reclamar a ajuda dos que têm meios e deve dar ajuda que precisam, não
de má vontade, mas liberalmente, A aparente contradição entre este verso
e o verso
4 se deve a que no verso 4 se contempla o resultado da
cooperação com o plano aqui exposto. Mas nunca chegaria o momento quando não
tivesse oportunidade de ajudar a algum semelhante.
Abrirás tua mão. Usa-se aqui a forma enfática hebraica: Certamente
abrirás tua mão. A forma deste verbo significa a entrada de uma loja (Gn.
18: 1, 2, 10), de uma casa habitação (Êx. 12: 22), do
tabernáculo (Êx. 38: 8), e da casa do rei (2Sm. 11: 9). Abrir
a mão implica, portanto, compartir os bens do lar[25].
TUA MÃO ESQUERDA - Diz-se que entre os árabes, ambas as mãos, à
esquerda e a direita, representam os amigos íntimos. Jesus disse que não tinha
necessidade de que os amigos, nem sequer os mais íntimos, se inteirassem dos
atos piedosos de alguém. Nesta figura de dicção, Cristo emprega uma hipérbole
para dar ênfase. Não quer dizer que sempre tem de dar-se esmolas
Dar
Como Jesus Deu
Mas
quando você der esmola, que a sua mão esquerda não saiba o que está fazendo à
direita, deforma que a sua ajuda seja prestada em segredo. E seu Pai, que vê o
que é feito em segredo, o recompensará. (Mt. 6: 3 e 4).
Foi realmente muito desagradável.
A
igreja estava no meio de uma campanha de construção, e o pastor, postado na
frente, fazia um apelo por uma oferta pública. Quem dará 2.000 dólares? gritava ele com entusiasmo. Aqueles que estiverem dispostos a dar 2.000
dólares, por favor, fiquem de pé! Um irmão se levantou, e todos os olhos se
voltaram para ver quem havia dado tão grande contribuição. Ali estava ele, de
pé, com um sorriso de orelha a orelha, agitando o talão de cheques acima da
cabeça.
E ali
estava eu, sentado como frequentador mais ou menos regular de uma congregação
adventista, da qual me recusava fazer parte. Como visitante não cristão, fiquei
consternado. Naquela época eu ainda não havia lido meu NT todo, mas o havia
feito até Mateus 6. Por que, indagava eu, a igreja que afirma ter a
verdade precisava empregar métodos antibíblicos de levantamento de fundos? Será
que a igreja, para captar recursos, precisa manipular a vaidade óbvia de um
irmão exibido como aquele que ficou de pé? Por que será que ele estava
contribuindo? Por que o pastor estava usando aquele método?
Gostaria
de poder dizer que aquela foi a última vez que vi essa técnica sendo usada.
Lamentavelmente, é mais fácil apelar para a vaidade do que para a dedicação.
Sem dedicação, porém, a doação não vale nada.
A boa
nova é que não somos obrigados a corresponder a essas táticas. E se estamos
seguindo a Jesus, não as usaremos nem corresponderemos a elas. Jesus disse que
devemos praticar nossas boas ações de maneira anônima, tendo só a Deus por
testemunha.
Ao
dizer isto, Ele estava dando um golpe, não nas bordas do problema do pecado,
mas no seu próprio centro. Deus quer que entreguemos a Ele nosso coração. Na
verdade, Ele quer que todas as ações cristãs que praticarmos procedam de um
coração que O ama de maneira suprema.
Dar é
agir como Deus, que deu Seu Filho. Ele quer que imitemos Sua pessoa caridosa,
mas deseja que o façamos pelo motivo correto[27].
A
Obra Duas Vezes Bendita
Pois nunca deixará de haver
pobres na terra; por isso, eu te ordeno: livremente, abrirás a mão para o teu
irmão, para o necessitado, para o pobre na tua terra ( Dt. 15: 11).
A obra
de beneficência, é duas vezes bendita. Enquanto aquele que dá ao necessitado beneficia
a outros, é ele próprio beneficiado em medida ainda maior. A graça de Cristo no
coração desenvolve traços de caráter opostos ao egoísmo; traços que refinarão,
enobrecerão e enriquecerão a vida. Atos de bondade praticados em segredo,
ligarão corações entre si, unindo-os mais estreitamente ao coração Daquele de
quem provém todo generoso impulso. As pequeninas atenções, os pequenos atos de
amor e sacrifício, os quais emanam da vida tão suavemente como o aroma se
desprende da flor, constituem parte importante das bênçãos e felicidade da
vida. E verificar-se-á por fim que a negação do próprio eu para o bem e a
felicidade dos outros, embora humilde e não louvada aqui, é reconhecida no Céu
como o sinal de nossa união com Ele, o Rei da glória, que era rico, e contudo
Se tornou pobre por amor de nós. O Maior
Discurso de Cristo, pp. 82 e 83.
A obra
duas vezes bendita. Que pensamento primoroso! Ao ajudar silenciosamente aos
outros, estamos ajudando a nós mesmos. Estamos desenvolvendo nosso caráter.
Estamos nos tornando mais parecidos com o Deus que foi tão generoso para
conosco. E durante o processo, estamos ajudando alguém que verdadeiramente
precisa de ajuda.
O
ministério da ajuda silenciosa exerce influência sobre nossa própria vida. E
parte do processo pelo qual Deus toma pessoas egoístas e as transforma à Sua
imagem.
Não é, porém, um processo
natural. Longe disso. O natural para nós é reter o que é nosso e construir
casas cada vez maiores e comprar carros cada vez mais luxuosos. Ou se damos
algo, achamos que devemos ter ao menos um edifício ou uma sala com o nosso
nome, como lembrança de nossa generosidade.
Prestar
ajuda em segredo é uma coisa muito diferente. Mas, disse Jesus, traz sua
própria recompensa incomparável.
Ajuda-me,
Senhor, a ser mais semelhante a Ti[28].
4 - Para
que tua esmola fique em segredo; e teu Pai, que vê no segredo te recompensará.
FIQUE
VÊ NO SEGREDO - Deus vê as intenções secretas do
coração que movem à ação, e por essas intenções, e não pelas ações mesmas, os
homens receberão louvor de Deus no dia do juízo (1Ct. 4: 5; Rm. 2: 16)[30].
COMO
NÃO DAR
Por
isso quando deres esmola não te ponhas a trombetear em público, como fazem os
hipócritas nas sinagogas e nas ruas, com o propósito de serem glorificados
pelos homens. Em verdade vos digo. Já receberam sua recompensa. Tu, porém,
quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita, Para
que tua esmola fique em segredo; e teu Pai, que vê no segredo te recompensará. (Mt.
6:
Para os
judeus, o dar esmola era o mais sagrado de todos os deveres religiosos. Até que
ponto era sagrado se vê por este texto de que os judeus usavam a mesma palavra tsedaqá tanto para justiça como para esmola.
O dar esmola e ser justo eram a mesma coisa. O dar esmola era ganhar méritos a
vista de Deus, e era até ganhar propiciação e perdão dos pecados passados. É melhor dar esmola que amontoar ouro; a
esmola livra da morte, e limpa todo pecado. Tobias 12: 8.
Pois a caridade feita a um pai não será
esquecida, e no lugar de teus pecados ela valerá como reparação. Eclesiástico
3: 14
Havia
um dito rabínico: Maior é o que dá esmola
do que oferece todos os sacrifícios. A esmola está na cabeça e no catálogo
das boas obras.
Assim é
que era natural e inevitável que uma pessoa que quisesse ser boa se
concentrasse
Porém
como em tantas outras coisas, a prática se dava muito por orientação do
preceito. O doador dava de forma que todo as pessoas pudessem ver o que dava, e
dava muito com o objetivo de glória a si mesmo do que para ajudar o outro.
Durante os cultos da sinagoga se faziam oferendas para os pobres, e havia
alguns que se cuidavam muito bem de que fossem vistos como grandes doadores. J.
J. Wetstein cita um costume oriental dos tempos antigos: No Oriente, a água é
tão escassa que algumas vezes havia que comprá-la. Quando uma pessoa queria
fazer uma boa obra, e trazer bênção sobre sua família, se dirigia ao vendedor
de água e em voz bem alta dizia: Dá um
gole aos sedentos! E o comerciante de água buscava a água no mercado e
dizia: Oh, sedentos gritava: vinde
beber de graça! E o generoso estava a seu lado e dizia: Bendize-me, porque sou eu que te ofereço esta água. Esta é
precisamente a classe de coisa que Jesus condena. Chama hipócritas aos que
fazem tais coisas. A palavra hypokritês
quer dizer ator em grego. Esta classe de gente são realmente farsantes que
fazem seu papel para que recebam aplausos.
RAZÕES
PARA DAR
Vejamos
agora algumas das razões que existe por trás do ato de dar.
1.Pode
se dar por um sentimento de dever. Pode ser que dê, não porque quer dar, mas
porque pensa que é um dever do qual não se pode fugir. Pode ser que uma pessoa
chegue a considerar, talvez inconscientemente, que os pobres estão no mundo
para permitir a ele cumprir com este dever e adquirir assim méritos aos olhos
de Deus.
Catherine
Carswell,
Não
cabe dúvida de que aquilo estava muito bom; porém ele dava certo ar de respeitabilidade,
e incluía um sermão. Estava claro que ele se sentia de uma categoria moral
completamente diferente daqueles a quem dava. Se diz de um grande homem, porém
superior: Com tudo o que dá, nunca se dá
a si mesmo. Quando se dá, desde um pedestal; quando se dá sempre com certo
cálculo; quando se dá por sentimento de dever, até por um sentimento cristão de
dever, se pode ser generoso com as coisas, porém, nunca se dá é a si mesmo, e
portanto este tipo de dar é incompleto.
2. Pode
ser que dê por razões de prestígio. Ou dê para receber glória de dar. O mais
provável é que nada o supera, se não se der nenhuma publicidade, não daria
nada.
Se não
dão graças e não reconhece com louvor e honra, se ofende. Oferta, não para a
glória de Deus, mas para sua própria. Dá, não exclusivamente para ajudar uma
pessoa necessitada, mas para gratificar sua própria vaidade e seu próprio
sentido de poder.
3. Por
um sentido de obrigação. Porque o amor e a amabilidade que flui de seu coração
não lhe deixam fazer outra coisa. Por mais intencionado que seja, sente-se
obrigado a ajudar ao necessitado.
O
doutor Johnson difundia una atmosfera de amabilidade. Havia uma pobre criatura
que se chamava Robert Levett, que havia sido camareiro em Paris e médico nos
bairros mais pobres de Londres. Tinha uma aparência e uns modos, como dizia
Johnson, que afastavam os ricos e aterravam os pobres. Chegou a formar parte da
casa de Johnson. Boswell estava alucinado com este assunto, porém Goldsmith
conhecia intimamente Johnson. Dizia de Levett: É pobre e honrado, o que já é suficiente recomendação para Johnson.
Agora é pobre de honra, e isto lhe assegura a proteção de Johnson. A
indigência era o passaporte para o coração de Johnson.
Boswell
conta esta anedota de Johnson: Quando
voltava uma vez a tarde para casa se encontrou com uma pobre mulher tirada da
rua, tão esgotada que não podia nem falar. A encontrou caída e a levou para sua
casa, onde descobriu que era uma destas pobres mulheres que haviam caído no
vício, na pobreza e na enfermidade. Em
vez de tratá-la rudemente, teve o cuidado de cuidar por um longo tempo com toda
ternura, e por um preço considerável até que recuperou a saúde, e fez o
possível para dar uma maneira virtuosa de vida. Tudo o que Johnson fez àquela
mulher não o fez num sentido de publicidade mas havia sido seu coração que lhe
havia sido impulsionado a ajudar.
Uma das
páginas mais preciosas da história da literatura é a que nos apresenta
Johnson, nos dias de sua pobreza, voltando para casa de madrugada e, a medida
que ia passando estressado, deixava algo nas mãos dos pobres e vagabundos que
dormiam nas ruas porque não tinham onde repousar. Hawkins nos conta que alguém
lhe perguntou como podia ter a casa cheia de vagabundos e de pessoas
abandonadas. Johnson respondeu: Se eu não
os ajudo, nada se fará; e não se deve perder a necessidade. Aqui temos o
dar como é devido, que surge do amor de um coração humano, em que repousa o
amor de Deus.
Temos
um ditado deste perfeito dar em Jesus Cristo mesmo. Paulo escreveu a seus
amigos de Corinto: Com efeito, conheceis a generosidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que
por causa de vós se fez pobre, embora fosse rico, para vos engrandecer com sua
pobreza (2Ct. 8: 9). Nosso dar não deve ser nunca áspero e superior ao
resultado do sentimento de dever; a menos que temos que fazê-lo para exaltar
nosso ego e prestígio entre as pessoas; deve fluir instintivamente de um
coração amante; devemos dar aos outros como Jesus Cristo nos tem dado a Si
mesmo a nós[32].
Dando
com Alegria
Aquele
que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com
abundância também ceifará. Cada um contribua segundo tiver proposto no coração,
não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria (2Ct.
9: 6 e 7).
É uma
lei natural. Se você não planta sementes, não pode ter uma colheita. Se planta
apenas algumas sementes, terá apenas uma pequena colheita. Se planta muito,
pode esperar colher muito.
Paulo
está nos dizendo que a mesma lei funciona também na esfera espiritual. Os que
são mesquinhos para com Deus e para com os outros podem esperar poucas bênçãos
em comparação a outros que são mais generosos. A generosidade é contagiosa, e
influenciamos os que estão ao nosso redor, inclusive nossos filhos. Se
perceberem que somos pães-duros, a tendência deles será crescer pães-duros e
mesquinhos. O que semeamos e como semeamos produz seus efeitos à medida que nossa
influência irradia através do espaço e do tempo.
Deus
não quer apenas que demos secretamente, mas quer que contribuamos com alegria.
Uma de minhas histórias bíblicas favoritas sobre dar com alegria é a história
da viúva que depositou duas pequenas moedas no tesouro do templo. O valor
monetário de sua oferta era extremamente pequeno, contudo Jesus, chamando
os Seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta viúva pobre
depositou no gazofilácio mais do que o fizeram todos os ofertantes. Porque
todos eles ofertaram do que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo
quanto possuía, todo o seu sustento. (Mc. 12: 43 e 44).
Sua
oferta foi reconhecida no Céu porque seu coração estava nela. Ela era uma
pessoa que dava com alegria. Isto é o que Deus quer de cada um de nós. Ele quer
que contribuamos de coração. Mais importante do que a quantidade é o espírito
com que damos nossas ofertas.
O
próprio propósito de dar é tornar-nos mais semelhantes a Deus, o Pai, e Jesus,
o Filho, os quais deram de Si para que fôssemos abençoados, tanto neste
mundo como no mundo por vir. Deus deseja que eu dê com alegria[33].
LEITURA
ADICIONAL
A Verdadeira
Motivação
Guardai-vos de
exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles (Mt.
6: 1).
As palavras de
Cristo no monte eram uma expressão daquilo que fora o mudo ensino de Sua vida,
mas que o povo deixara de compreender. Eles não entendiam como, tendo tão
grande poder, Ele não buscava empregá-lo em garantir-Se aquilo que reputavam o
maior bem. Seu espírito, motivos e métodos eram opostos aos de Jesus. Conquanto
pretendessem ser muito zelosos da honra da lei, sua própria glória era o
verdadeiro objetivo que buscavam; e Cristo queria tornar-lhes isto manifesto
que o amante de si mesmo é um transgressor da lei.
Os princípios
nutridos pelos fariseus, porém, são os que formam as características da
humanidade em todos os séculos. O espírito de farisaísmo é o espírito da
natureza humana; e, quando o Salvador mostrou o contraste entre Seu próprio
espírito e métodos e os dos rabis, Seu ensino se aplicava igualmente ao povo de
todos os tempos.
Nos dias de Cristo,
os fariseus procuravam continuamente conseguir o favor do Céu a fim de obter
honra e prosperidade mundanas, as quais consideravam como sendo a recompensa da
virtude. Ostentavam ao mesmo tempo seus atos de caridade diante do povo com o
intuito de atrair-lhes a atenção, e adquirir reputação de santidade.
Jesus lhes censurou
a ostentação, dizendo que Deus não reconhece um serviço como esse, e que a
lisonja e a admiração do povo, as quais tão ansiosamente buscavam, seriam a
única recompensa que haviam de ter.
Quando tu deres
esmola,
disse Ele, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita, para que a
tua esmola seja dada ocultamente, e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará
publicamente (Mt. 6: 3 e 4).
Com essas palavras
Jesus não ensinou que os atos de bondade devem ser sempre conservados em
segredo. Paulo, o apóstolo, escrevendo inspirado pelo Espírito Santo, não
oculta o generoso sacrifício dos cristãos macedônios, mas fala da graça por
Cristo neles operada, de maneira que outros foram possuídos do mesmo espírito.
Ele também escreveu à igreja de Corinto, dizendo: Vosso zelo tem estimulado muitos
(2Cr. 9: 2).
As próprias palavras
de Cristo esclarecem Sua intenção, que nos atos de caridade o objetivo não deve
ser atrair louvor e honra dos homens. A verdadeira piedade nunca promove um
esforço para ostentação. Os que desejam palavras de elogio e lisonja, delas se
nutrindo como de um bocado delicioso, são cristãos apenas de nome.
Por meio de suas
boas obras devem os seguidores de Cristo trazer glória, não para si mesmos, mas
para Aquele mediante cuja graça e poder eles operaram. É por meio do Espírito
Santo que toda boa obra é efetuada, e o Espírito é dado para glorificar, não o
recebedor, mas o Doador. Quando a luz de Cristo brilha na alma, os lábios se
encherão de louvor e ação de graças a Deus. Vossas orações, o cumprimento de
vossos deveres, vossa beneficência, vossa abnegação, não serão o tema
de vossos pensamentos ou conversação. Jesus será engrandecido, o eu
oculto, e Cristo aparecerá como tudo em todos.
Cumpre-nos dar em
sinceridade, não para fazer ostentação de nossas boas ações, mas por piedade e
amor para com os sofredores. A sinceridade de desígnio, a verdadeira bondade de
coração, eis o motivo a que o Céu dá valor. A alma sincera em seu amor, que põe
todo o coração em sua devoção, Deus considera mais preciosa que as barras de
ouro de Ofir.
Não devemos pensar
na recompensa, mas no serviço; todavia a bondade manifestada nesse espírito não
deixará de ter o seu galardão. Teu Pai, que vê em secreto, te recompensará
publicamente (Mt. 6: 4). Conquanto seja verdade que Deus mesmo é o
nosso grande Galardão, que abrange todos os outros, a alma só O recebe e frui à
medida que se Lhe assemelha no caráter. Unicamente os semelhantes se podem
apreciar. É à medida que nos entregamos a Deus para o serviço da humanidade,
que Ele Se nos dá.
Ninguém pode dar em
seu coração e vida lugar para a corrente da bênção de Deus fluir em direção a
outros, sem que receba em si mesmo uma preciosa recompensa. As encostas de
montanhas e as planícies que oferecem caminho às correntes montesinas para
chegarem ao mar, nenhum prejuízo sofrem com isso. O que dão lhes é
centuplicadamente retribuído. Pois a corrente que passa cantando em sua marcha,
deixa após si dádivas de verduras e de frutas. A relva a sua margem tem mais
vivo verdor, as árvores mais opulência de cores, as flores são mais abundantes.
Quando o solo jaz despido e escuro sob o ressecante calor do Sol, uma linha
verdejante indica o curso do rio; e a planície que abre o seio para
conduzir o tesouro da montanha ao mar, encontra-se viçosa e revestida de beleza
- testemunha da recompensa que a graça de Deus comunica a todos os que se
entregam como condutos a fim de ela poder fluir ao mundo.
Tal é a bênção
daqueles que mostram misericórdia aos pobres. Diz o profeta Isaías:
Não é também que repartas o teu pão com o faminto e recolhas em casa os pobres
desterrados? E, vendo o nu, o cubras e não te escondas daquele que é da tua carne?
Então, romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará. ...
E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares secos;... E
serás como um jardim regado e como um manancial cujas águas nunca faltam (Is.
58: 7, 8 e 11).
A obra de
beneficência é duas vezes bendita. Enquanto aquele que dá ao necessitado
beneficia a outros, é ele próprio beneficiado em medida ainda maior. A graça de
Cristo no coração desenvolve traços de caráter opostos ao egoísmo, traços que
refinarão, enobrecerão e enriquecerão a vida. Atos de bondade praticados em
segredo ligarão corações entre si, unindo os mais estreitamente ao coração
Daquele de quem provém todo generoso impulso. As pequeninas atenções, os
pequenos atos de amor e sacrifício, os quais exalam da vida tão suavemente como
o aroma se desprende da flor, constituem parte importante das bênçãos e
felicidade da vida. E verificar-se-á por fim que a negação do próprio eu para o
bem e a felicidade dos outros, embora humilde e não louvada aqui, é reconhecida
no Céu como o sinal de nossa união com Ele, o Rei da glória, que era rico,
e, contudo Se tornou pobre por amor de nós.
Os atos de bondade
podem ser praticados em oculto, mas não se podem esconder os resultados sobre o
caráter do que os pratica. Se, como seguidores de Cristo, trabalhamos com
sincero interesse, o coração achar-se-á em íntima correspondência com Deus, e o
Seu Espírito, operando em nosso espírito, despertará, em resposta ao divino
toque, às sagradas harmonias da alma.
Aquele que dá
crescentes talentos aos que sabiamente desenvolveram os dons que lhes foram
confiados agrada-Se de reconhecer o serviço de Seu povo crente no Amado,
mediante cuja graça e força eles agiram. Aqueles que houverem buscado o
desenvolvimento e a perfeição do caráter cristão mediante o exercício de suas
faculdades em boas obras hão de, no mundo por vir, ceifar aquilo que semearam.
A obra iniciada na Terra há de atingir sua consumação naquela vida mais elevada
e santa que se perpetuará por toda a eternidade[34].
[1] Comentário ao Novo
Testamento, Willian Barclay, Mateus, vol. 1, pp.
[2] CBASD, vol. 5, p. 334.
[3] O Desejado de Todas as
Nações,
[4] BJ, p. 1848.
[5] CBASD, vol. 5, p. 334.
[6] CBASD, vol. 5, p. 334.
[7] CBASD, vol. 5, p. 334.
[8] CBASD, vol. 5, p. 334.
[9] Comentário ao Novo
Testamento, Willian Barclay, Mateus, vol. 1, pp.
[10] Caminhando com Jesus, no
Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 180.
[11] Caminhando com Jesus, no
Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 181.
[12] CBASD, vol. 5, p. 334.
[13] BJ, p. 1848.
[14] CBASD, vol. 5, p. 334.
[15] CBASD, vol. 5, pp. 334 e
335.
[16] Caminhando com Jesus, no
Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 182.
[17] Caminhando com Jesus, no
Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 183.
[18] Caminhando com Jesus, no
Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 184.
[19] Caminhando com Jesus, no
Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 185.
[20] Caminhando com Jesus, no
Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 186.
[21] CBASD, vol. 1, pp. 634 e
635.
[22] CBASD, vol. 1, p. 826.
[23] CBASD, vol. 1, p. 826.
[24] CBASD, vol. 1, p. 1.019.
[25] CBASD, vol. 1, p. 1.019.
[26] CBASD, vol. 5, p. 335.
[27] Caminhando com Jesus, no
Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 187.
[28] Caminhando com Jesus, no
Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 188.
[29] CBASD, vol. 5, p. 335.
[30] CBASD, vol. 5, p. 335.
[31] CBASD, vol. 5, p. 335.
[32] Comentário ao Novo
Testamento, Willian Barclay, Mateus, vol. 1, pp.
[33] Caminhando com Jesus, no
Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 189.
[34] O Maior Discurso de
Cristo,