25º
PERDOA-NOS
Mateus 6
Itamar
EXEGESE
12 - E
perdoa-nos as nossas dívidas como também nós perdoamos aos nossos devedores.
E - Grego: afíêmeu, palavra comum no
NT, que com frequência significa deixar, Mateus 4:11 ou despedir,
Marcos 4:36, mas que também se traduz corretamente com
a ideia de remeter, João 20:23, ou perdoar, Lucas 5:21 e 23. Quando se
emprega a palavra com este segundo sentido, faz-se ressaltar a ideia de que o
perdão deixa sem culpa ao pecador[1].
NOSSAS DÍVIDAS - Grego: oféilêma, palavra comumente empregada para referir-se às dívidas legais. Romanos
4:4, mas usada aqui no sentido de dívidas morais e espirituais. Aqui
representa o pecado como dívida e o pecador como devedor. A passagem paralela
de Lucas
diz pecados
Lucas 11:4[2].
COMO TAMBÉM PERDOAMOS - Como já perdoamos.
No grego uns poucos manuscritos usam
o presente, mas a evidência textual estabelece o uso do aoristo pretérito indefinido. Não devemos nos atrever pedir perdão
se não perdoamos já o nosso próximo[3].
A NOSSOS DEVEDORES - As pessoas que nos fizeram mal, ou nos
prejudicaram.
Comentários de Mateus
18:23 a 35.
Parábola do Devedor Implacável
23 - Eis porque o Reino dos Céus é semelhante a
um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos.
EIS QUE - Os dois devedores, Mateus 18:23 a 35. No capítulo 18 há uma parábola
que ilustra o verdadeiro espírito do perdão.
UM REI - Já que esta parábola representa o trato do Senhor para conosco e a forma
como deveríamos tratar a nossos próximos, o rei representa Cristo[4].
FAZER CONTAS - Ajustar contas[5].
SERVOS - Os servos eram, em realidade, servidores públicos do reino[6].
24 - Ao começar o acerto, trouxeram um que devia dez mil talentos.
TROUXERAM UM - Só um servidor público de
elevada hierarquia poderia estar endividado como o estava este servo.
DEZ MIL TALENTOS - Quase cento setenta quatro
toneladas de ouro; quantias exorbitantes, escolhidas intencionalmente[7].
Esta soma equivaleria a uns 340.000 kg
de prata, o que teria permitido empregar a 10.000 jornaleiros durante uns 20
anos[8].
25 - Não tendo este como pagar, o senhor ordenou
que o vendessem, juntamente com a mulher e com os filhos e todos os seus bens
para pagamento da dívida.
NÃO TENDO ESTE COMO PAGAR - Na Antiguidade, e até em tempos relativamente recentes, ainda nos países
ocidentais, podia enviar-se ao cárcere aos devedores. No Oriente Próximo o
devedor podia ser vendido por seu credor como escravo junto com sua
família.
O senhor ordenou que fosse vendido com
sua família e todas suas posses. Segundo as disposições da lei mosaica, um
hebreu podia vender-se a si mesmo ou ser vendido por um credor, mas era vendido
só por um tempo limitado. Quando comprares um servo hebreu, seis anos ele servirá; mas no sétimo
sairá livre, sem pagar nada. Êxodo 21:2.
SERVO HEBREU - Não devia ter uma coisa
tal como uma servidão permanente e involuntária de um escravo hebreu submetido a um amo hebreu. Levítico 25:25 a 55. No entanto, devido a que a escravatura era uma
instituição estabelecida e geral, Deus permitiu sua prática. Contudo, ao mesmo
tempo procurou mitigar os males que a acompanhavam. Nos países pagãos os
escravos eram comumente considerados mais como animais que como homens. Isto
era tanto mais repreensível já que a escravatura não implicava necessariamente
nenhuma deficiência mental ou moral no escravo. Os escravos, com frequência
eram mais inteligentes e capazes do que seus amos. A grande maioria dos
submetidos a uma escravatura involuntária nasceu nela ou foram submetidos pelos
azares da guerra. De maneira que a escravatura não era pelo geral um castigo
merecido, senão com mais frequência, uma desgraça imerecida. Esses
desafortunados não tinham direitos políticos e somente uns poucos privilégios
sociais. Não obstante, quase sempre estavam submetidos a um amo que em todo
sentido era inferior a eles. Suas famílias podiam ser desfeitas em qualquer
momento e divididas entre outros proprietários. Estavam submetidos a cruéis
tratos sem nenhuma compensação, exceto nos casos de lesão grave. Podiam-se
exigir os trabalhos mais duros, em locais pouco melhores que prisões, em minas
insalubres, ou amarrados aos remos das galeras para uma tarefa agonizante
durante anos intermináveis.
Por contraste, o Senhor protegeu
cuidadosamente os direitos dos escravos hebreus,
e mesmo fez que a sorte dos escravos estrangeiros fosse muito mais agradável do
que em qualquer outra nação. O trato duro estava expressamente proibido. Levítico 25:43. Para o amo,
todavia o escravo era seu irmão. Deuteronômio 15:12; Filemom
16. Ao pagar o preço do resgate de
um escravo, devia ser computado o tempo que tinha servido a seu amo valorizando seus dias de trabalho como os de um jornaleiro. Levítico 25:50. O cálculo do preço do resgate incluía o tempo que faltava até o ano do
jubileu. Levítico 25:48 a 52. O espírito destas leis acerca dos escravos é o mesmo que expressa Paulo
em Colossenses 4:1 e o que enunciou ao enviar ao escravo cristão Onésimo de volta a seu amo
cristão em Filemom 8 a 16. Em espírito, a lei de Moisés se opõe à escravatura. Sua ênfase na
dignidade do homem como feito à imagem de Deus, seu reconhecimento de que toda
a humanidade se originou num casal, continha em princípio à afirmação de todo
direito humano. Levítico 25:39 a 42; 26:11 a 13. Geralmente os israelitas chegavam a ser escravos dos de sua própria raça devido à pobreza. Levítico 25:35 39 e às vezes por
um crime. Êxodo 22:3. Os filhos às vezes eram vendidos para cancelar uma dívida. 2 Reis 4:1 a 7. Em épocas
posteriores, devido aos azares da guerra, foram levados como escravos a países
estrangeiros. II Reis 5:2 e 3.
AO
SÉTIMO - Isto não se refere ao ano
sabático. Êxodo 23:11; Levítico 25:4, senão ao começo do sétimo ano após que o homem se convertia em escravo.
Deuteronômio 15:12. Quando chegava o ano do jubileu, o escravo hebreu devia ser liberado, sem tomar em conta quantos anos tinha
servido. Levítico 25:40. Caso contrário, sua servidão terminava à finalização do sexto ano. Não
só seu amo devia conceder-lhe a liberdade senão que estava obrigado a
proporcionar-lhe provisões oriundas do gado, da era e do lagar. Deuteronômio 15:12 a 15 a fim de que pudesse começar de novo sua vida. Desta maneira, na
primeira das leis civis encontramos benévolas disposições cujo espírito
humanitário caracteriza toda a legislação mosaica. Nenhuma outra nação da Antiguidade
tratou a seus escravos nesta forma bondosa[9].
Segundo o número dos anos decorridos depois do jubileu, comprarás de teu
compatriota e segundo o número de anos das colheitas ele te estabelecerá o
preço de venda. Levítico 25:15;
Comentário:
NÚMERO DOS ANOS - Ninguém podia vender a terra perpetuamente, senão só até o ano do
jubileu. Nesse ano, todas as terras voltavam a seus donos originais. Isto não
causava problemas para o que tinha comprado a propriedade e agora devia devolvê-la,
já que o que tinha comprado sabendo claramente que devia devolvê-la no ano do
jubileu. De tal maneira se um homem vendia sua propriedade cinco anos antes do
ano do jubileu, não recebia muito dinheiro por ela; pois só ficavam poucas
colheitas antes desse ano[10].
Quando um dos teus
irmãos, hebreu ou hebreia, for vendido a ti ele te servirá
por seis anos. No sétimo ano tu o deixarás ir em liberdade. Deuteronômio 15:12.
Comentário:
SE VENDER - Êxodo 21:2 a 6;
Jeremias 34:9 a 14. Um homem podia
vender-se como escravo, ou ser vendido por ordem judicial. Em todos os casos os
escravos israelitas deviam ser bem tratados por seus irmãos e, quando não eram
isentados antes, eram postos em liberdade no ano sétimo. Êxodo 21:20, 26, 27; Levítico 25:39, onde se detalham as obrigações do amo e respeito à forma de tratar aos
escravos.
AO SÉTIMO - O ano sabático afetava todos os aspectos da vida. Levítico 25:2. Mas não deve
confundir-se o sétimo ano, ano da libertação do escravo, com o ano de descanso
sabático. O ano da libertação do escravo seguia a seis anos de servidão. Podia
coincidir com o ano sabático, ainda que não necessariamente. A escravatura era
uma instituição social aceita nesses tempos, mas Deus ordenou leis para
proteger aos escravos como filhos de Deus, como irmãos numa comunidade
religiosa, e como cidadãos de um sistema social que tinha por meta a liberdade
dos homens[11].
As disposições legais protegiam essa pessoa do trato duro que costumava
dar-se a um escravo. Levítico 25:39;
Deuteronômio 15:15. Deveria recordar-se que a parábola tem por meta
ensinar uma verdade central, e que muitos de seus detalhes são de pouca
importância e se adicionam só a fim de arredondar a história. À parte da
parábola que fala de que o servo tinha de ser vendido como escravo não deve
interpretar-se no sentido de que Deus vende a alguém como escravo[12].
26 - O servo, porém, caiu a seus pés e, prostrado, suplicava-lhe: Dá-me um
prazo e eu te pagarei tudo.
PROSTRADO – Uma maneira comum usual no Oriente de expressar
máximo respeito e reverência aos homens, aos ídolos e a Deus. Ester 8:3; Isaías 46:6; Daniel 3:7[13].
27 - Diante
disso, o senhor, compadecendo-se do servo, soltou-o e perdoou-lhe a dívida.
PERDOOU-LHE A DÍVIDA
- Em forma
figurada, a dívida representa o registro de pecados computados contra nós. Bem
como o devedor da parábola somos completamente incapazes de cancelar essa
dívida. Mas quando nos arrependemos para valer, Deus nos livra da dívida[14].
28 - Mas, quando sai dali, esse servo encontrou um dos seus companheiros de
servidão, que lhe devia cem denários e, agarrando-o pelo pescoço, pôs a se a
sufocá-lo e a insistir: Paga-me o que me deves.
ENCONTROU UM - Não
se diz se o encontrou por acaso, ou se saiu a procurá-lo; mas isto não importa
para a lição da parábola[15].
CEM DENÁRIOS - Menos de trinta gramas de ouro[16].
Em si a dívida era de certa importância, pois o denário representa o
salário de todo um dia para o trabalhador comum. No entanto, em comparação com
a primeira dívida, esta era insignificante[17].
29 - O companheiro, caindo a seus pés,
rogava-lhe. Dá-me um prazo e eu te pagarei.
30 - Mas ele não quis ouvi-lo; antes, retirou-se e mandou lançá-lo na prisão
até que pagasse o que devia.
NÃO QUIS - Este credor cruel era implacável em sua
demanda de que se pagasse o que lhe devia. É difícil conceber tal defeituosa
compaixão. Seu egoísmo lhe impedia ver a magnitude de sua própria dívida e
apreciar a grandeza da misericórdia que lhe brindava, levou-o a ser desumano
com seu conservo[18].
PRISÃO - Neste caso, o senhor ordenou que fosse vendido com sua família e todas
suas posses. Segundo as disposições da lei mosaica, um hebreu podia vender-se a si mesmo ou ser vendido por um credor, mas
era vendido só por um tempo limitado. Êxodo 21:2; Levítico 25:15; Deuteronômio 15:12. As disposições legais protegiam essa pessoa do trato duro que costumava
ser dado a um escravo. À parte da parábola que fala de que o servo tinha de ser
vendido como escravo não deve interpretar-se no sentido de que Deus vende a
alguém como escravo[19].
31 - Vendo os seus companheiros de servidão o que acontecera, ficaram muito
penalizados e, procurando o senhor, contaram-lhe todo o acontecido.
PENALIZADOS - Os conservos costumavam proteger-se
mutuamente, ocultando ao rei os pequenos furtos feitos a expensas de seu
senhor, mas nesta ocasião não puderam reprimir-se de delatar seu conservo ao
observar um proceder tão desconsiderado[20].
34 - Assim encolerizado, o senhor o entregou aos verdugos, até que pagasse
toda a dívida.
ENCOLERIZADO - Notar
o contraste com a compaixão que o rei tinha manifestado quando a dívida era com
ele mesmo. O rei podia tolerar com paciência essa perda, porque para ele era um
pouco de pouca importância. Mas a injustiça feita a um de seus súbditos
provocou nele uma justa indignação[21].
VERDUGOS - A palavra grega empregada aqui
é a que se usa habitualmente para designar aos carcereiros ou aos verdugos. Seu
sentido literal é o que atormenta[22].
35 - Eis como meu Pai celeste agirá convosco, se
cada um de vós não perdoar, de coração, ao seu irmão.
AGIRÁ CONVOSCO - O que se nega a perdoar a outros, elimina a
esperança de ser perdoado. Esta é a grande lição da parábola: o abismal
contraste entre a crueldade e a falta de misericórdia do homem para com seus
próximos e a longanimidade e a misericórdia de Deus para conosco. Antes que
acusemos a outros ou exijamos deles o que nos corresponde, faríamos bem em
considerar primeiro o modo em que Deus nos tratou em circunstâncias similares e
como quereríamos que outros nos tratassem se a situação se invertesse. Mateus 6:12 14 e 15. Em
vista da infinita misericórdia de Deus para conosco, deveríamos também
manifestar misericórdia para com outros[23].
DE CORAÇÃO - A falha que tinha na pergunta de Pedro, Mateus 5:21 e 22 era que o perdão ao qual fazia referência não provia do coração, mas um
perdão legal, rotineiro, baseado no conceito de conseguir a justificativa
mediante obras. Como foi difícil Pedro captar o novo conceito de uma obediência
cordial, impelido pelo amor a Deus e a seu próximo! Assim conclui a resposta de
Jesus à pergunta de Pedro, resposta que também abarca indiretamente a pergunta
a respeito de quem seria o maior no reino dos céus. O maior é, singelamente,
aquele que de todo coração reflete na misericórdia de seu Pai celestial e pensa
no trato com seu próximo. Esta é a verdadeira medida do caráter em nosso trato
com nosso próximo.
Tal como o declarou Jesus de
forma enfática no Sermão da Montanha, o que determina a natureza de qualquer
ação é o que a motiva. Por isso, ainda as ações que parecem ser boas, se são
realizadas com o propósito de comprar-se a estima dos homens, não têm valor à
vista do céu. Mateus 6:1 a 7. As palavras de perdão, conquanto seja importantes, não são decisivas à
vista de Deus. É importante a atitude do coração que dá às palavras essa
plenitude de significado que de outro modo não teriam. A pretensão de perdoar,
motivada pelas circunstâncias ou por propósitos interiores, pode enganar àquele
a quem é concedido o perdão, mas não engana ao que conhece o coração. 1 Samuel 16:7. O perdão
sincero é um aspecto importante da perfeição cristã Mateus 5:48[24].
Sede misericordiosos como
misericordioso é vosso Pai
Não
procures distinguir o homem digno do que não é. Que a teus olhos todos os
homens sejam iguais para os amares e os servires da mesma forma. Poderás assim
levá-los todos ao bem. Não partilhou o Senhor a mesa dos publicanos e das
mulheres de má vida, sem afastar de Si os indignos? Do mesmo modo, concederás
tu benefícios iguais e honras iguais ao infiel, ao assassino, tanto mais que
também ele é teu irmão, pois participa da única natureza humana. Aqui está, meu
filho, um mandamento que te dou: que a misericórdia pese sempre mais na tua
balança, até ao momento em que sentires em ti a misericórdia que Deus tem para
com o Mundo.
Quando
percebe o homem que atingiu a pureza do coração? Quando considerar que todos os
homens são bons, e nem um lhe apareça impuro e maculado. Então, em verdade ele
é puro de coração. Mateus 5:8.
O que é
esta pureza? Em poucas palavras, é a misericórdia do coração para com o
universo inteiro. E o que é a misericórdia do coração? É a chama que o inflama
por toda a criação, pelos homens, pelos pássaros, pelos animais, pelos
demônios, por todo o ser criado. Quando o homem pensa neles, quando os olha,
sente os olhos encherem-se das lágrimas de uma profunda, de uma intensa piedade
que lhe aperta o coração, e que o torna incapaz de ouvir, de ver, de tolerar o
erro ou a aflição, mesmo ínfimos, sofridos pelas criaturas. É por isso que na
oração acompanhada por lágrimas devemos sempre pedir tanto pelos seres
desprovidos de fala como pelos inimigos da verdade, como ainda pelos que a
maltratam, para que sejam salvos e purificados. No coração do homem nasce uma
compaixão imensa e sem limites, à imagem de Deus[25].
PERDÃO
HUMANO E DIVINO
Perdoa nossas dívidas como também nós perdoamos aos nossos
devedores. Pois se perdoardes aos homens os seus delitos, também vosso Pai
celeste vos perdoará os vossos delitos. Mateus 6:12, 14 e 15.
Antes
que alguém possa fazer honradamente este pedido da Oração do Senhor, deve se
dar conta de que necessita fazê-la. Quer dizer: antes que uma pessoa possa
fazer este pedido deve ter o sentimento de pecado. O pecado não é uma palavra
popular hoje em dia. Aos homens e as mulheres não lhes é agradável serem chamados
de pecadores, e que lhes tratem como pecadores que merecem o inferno.
O mal é
que quase todo mundo tem uma ideia equivocada sobre o pecado. Estão de acordo
em que um ladrão, um bêbado, um assassino, um adúltero, um blasfemo, são
pecadores; porém eles não são culpados de nenhum destes pecados; vivem uma vida
decente, normal, corriqueira, respeitável e nunca tem estado em perigo de que
os levassem a juízo, ou à prisão. Portanto creem que o pecado não tem nada a
ver com eles.
O NT
usa cinco palavras diferentes para o pecado.
1. A palavra mais frequente é hamartía. Esta era em sua origem
uma palavra relacionada com o tiro, e quer dizer não acertar o alvo. Hamartía era
falhar o tiro. Portanto, pecado é falhar em ser o que nos havia sido
possível e teríamos capacidade para chegar a ser.
Charles
Lamb nos apresenta um personagem chamado Samuel de Grice. Grice era um jovem
brilhante que nunca chegou a ser o que prometia. Lamb disse que houve três
etapas em sua vida. Houve um tempo quando as pessoas diziam: Ele fará algo. Houve um tempo em que as
pessoas diziam: Poderia fazer algo se
quisesse. Houve um tempo e que as pessoas diziam: Poderia ter feito algo, se tivesse vontade. Edwin Muir disse em sua
Autobiografia:
Ao chegar a certa idade, todos nos, bons e maus, estamos sob
influência de pensamentos que havia em nós que nunca se tinham tornado
realidade de fato; porque, em outras palavras, não somos o que deveras
pensamos.
Isto é
exatamente hamartía; é
precisamente a situação em que todos nos encontramos. Somos tão bons maridos e
esposas como poderíamos ser? Somos tão bons filhos ou filhas como poderíamos
ser? Somos tão bons trabalhadores ou empresários como poderíamos ser? há alguém
que pretenda ser tudo o que houvesse podido ser, ou haver feito tudo o que
houvesse podido fazer? Quando nos damos conta que o pecado quer dizer errar o
alvo, fracassar na empresa de ser tudo o que nos havia sido possível e teríamos
capacidade para chegar a ser, então está claro que cada um de nos é um pecador.
2. A
segunda palavra para pecado é: parábasis, que quer dizer literalmente traspassar.
O pecado passa do raio que separa o bem e o mal.
Estamos
sempre do lado devido da linha que divide a honestidade da desonestidade? Não
tem havido nunca em nossas vidas nenhum detalhe desonesto?
Estamos
sempre do lado direito da linha que divide a verdade da falsidade? Em que não
temos tergiversado, evadido ou nunca distorcendo a verdade, com nossa palavra,
atitude, silêncio ou inibição?
Estamos
sempre do lado direito da linha que divide a amabilidade e a cortesia do
egoísmo e da aspereza? Nunca em nossas vidas praticamos alguma ação ou palavra
sem amor?
Quando
pensamos nestes termos, não há ninguém que possa pretender haver se mantido
sempre do lado correto da linha divisória.
3. A
terceira palavra para pecado é: paraptôma, que quer dizer deslizar
se para o outro lado. É o que se passa em um solo escorregadio e
gelado. Não é tão deliberado como parábasis, mas sem dúvida é algo que
todos temos experimentado. Uma ou outra vez dizemos que nos tem escapado uma
frase, ou um gesto; uma e outra vez tem algo que nos faz perder o equilíbrio,
um impulso ou uma paixão que se tem apoderado de nos momentaneamente fazendo
com que nos percamos o controle. Os melhores de nós podem deslizar. Pecamos
quando a situação nos surpreende com a guarda baixa.
4. A
quarta palavra para pecado é: anomia, que quer dizer ilegalidade.
Anomia é o pecado da pessoa que sabe o que deve fazer, e sem dúvida
não faz ou faz o contrário; é o pecado da pessoa que conhece a lei, mas transgride.
O primeiro de todos os instintos humanos é de fazer o que gosta; e portanto
chegam a vida de qualquer pessoa momentos quando queria saltar as normas e desafiar
as leis e fazer com o tema do proibido.
Ainda
que alguns possam dizer que nunca quebrantaram os Dez Mandamentos, não há ninguém
que possa dizer que não tenha vontade de quebrantar algum deles.
5. A
quinta palavra para pecado é: ofeilêma, que é a que se usa no centro
da Oração do Senhor; e que quer dizer: dívida. Quer dizer faltar pagar o que se deve, deixar
de fazer o que é devido. Não pode haver nenhuma pessoa que se atreva a
pretender haver cumprido plenamente seu dever para com Deus e para com seus
semelhantes: Não existe tal perfeição na humanidade.
Quando
chegamos a ver o que é realmente o pecado, nos damos conta de que é uma
enfermidade universal que padecem todas as pessoas. A respeitabilidade externa
é a vista dos demais, e a pecaminosidade interna a vista de Deus. É o pedido da
Oração do Senhor que todo ser humano necessita fazer.
Não só
se tem que dar conta de que necessita fazer este pedido; necessita dar conta do
que está fazendo e quando faz. De todos os pedidos da Oração do Senhor, este é
o mais aterrador.
Perdoa
nossas dívidas como nós perdoamos a nossos devedores. O
sentido literal é: Perdoa nossos pecados na mesma
proporção em que nós perdoamos aos que têm pecado contra nós.
Nos versos
14 e 15, Jesus diz da maneira
mais clara possível que se perdoamos aos outros, Deus nos perdoará; porém se nos
negamos a perdoar aos outros, Deus se negará a nos perdoar. Está totalmente
claro que, se fazemos este pedido com uma ferida aberta com uma desavença sem
acero em nossa vida, estamos pedindo a Deus que não nos perdoe.
Se
dizemos: Jamais perdoarei Fulano pelo que
me fez; e passamos a tomar este pedido em nossos lábios, estamos
deliberadamente pedindo a Deus que não nos perdoe. O perdão, como a paz, é algo indivisível. O perdão humano e o
divino não podem estar separados, são intercomunicáveis. Nosso perdão aos semelhantes
e o perdão de Deus a nós não podem ser separados; estão vinculados. Se pensarmos
no que estamos dizendo quando fazemos este pedido, haveria ocasiões que não nos
atreveríamos a fazê-lo.
Quando
Robert Louis Stevenson vivia nas Ilhas do Mar do Sul, ao fazer o culto familiar
pelas manhãs sempre terminava com a Oração do Senhor. Uma manhã, no meio da
Oração, ele se colocou em pé; havia estado de joelhos, e saiu de sua casa. Sua
saúde era sempre muito precária, e sua mulher saiu atrás dele pensando que
poderia sentir-se mal. Você está bem?
Ela lhe perguntou. Só uma coisa, disse
Stevenson: Que não estou em condições de
fazer a Oração do Senhor hoje. Não é possível estar em condições de fazer
esta Oração quando seu coração está dominado por um espírito de ressentimento.
Se não está em paz com seus semelhantes, tampouco pode estar em paz com Deus.
Para haver
esse perdão cristão em nossa vida, são necessárias três coisas.
1.
Devemos aprender a compreender. Sempre há uma razão para que alguém faça algo.
Se está antipático ou descortês ou de mau gênio, preocupado ou angustiado;se
nos trata com rudeza ou desagrado, possivelmente haja entendido mal ou se lhe
tenha informado mal acerca de algo que tenhamos dito ou feito. Que seja vítima
de seu entorno ou de sua herança. Que tenha tal temperamento e a vida lhe
resulte difícil,ou as relações humanas são um problema. O perdão nos seria
muito mais fácil se fizéssemos um esforço por compreender, antes de permitirmos
condenar.
2.
Devemos aprender a esquecer. Mesmo que sigamos com desprezo e ofensa, não há esperança
de que não cheguemos a perdoar. Dizemos: Não
posso esquecer o que me fez Fulano; ou: Não
me esquecerei nunca como me tratou, ou se
me tratou em tal lugar. São ditos perigosos, porque podemos chegar a fazer
que nos seja humanamente impossível o perdão. Podemos imprimir indelevelmente
em nossa memória.
Uma
vez, o famoso homem de letras escocês Andrew Lang escreveu e publicou algo
muito amável acerca de um livro de um autor de novela, que o atacou com insultos
e calúnias. Após três anos, Andrew Lang estava conversando com o poeta laureado
Robert Bridges. Robert viu que Andrew lia certo livro, e lhe disse: Este é outro livro que aquele cachorro mal
agradecido que se portou tão vergonhosamente contigo. Mas, para sua
surpresa, descobriu que Andrew Lang nem sequer sonhava sobre o assunto. Se havia
esquecido completamente daquele ataque insultante e calunioso. Ao perdoar,
disse Bridges, era o sinal da grandeza do homem; mas esquecer era sublime. Só o
espírito purificador de Cristo pode quitar dentre nossas recordações as velhas
amarguras que devemos esquecer.
3.
Devemos aprender a amar. O amor cristão, agapê, é esta benevolência
inconquistável, esta boa vontade invencível que não buscará nunca nada mais que
o bem supremo da pessoa amada, sem ter em conta como nos trata nem o que nos
faz. Este amor pode vir a nos somente quando Cristo, Que é este amor, vem morar
em nosso coração e não virá sem que o convidemos.
Para
ser perdoados temos que perdoar, e esta é uma condição que só o poder de Cristo
nos pode ajudar cumprir[26].
O Pecado é Abrangente
E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como
nós temos perdoado aos nossos devedores. Mateus 6:12.
Antes
de fazer essa oração deveríamos reconhecer a necessidade de fazê-la. É preciso
admitir com franqueza que somos pecadores. Perdoa-nos as nossas dívidas.
Muitos
membros da igreja falham nesse ponto. Pensam no pecado em termos de ser um
bêbado, um assassino, etc. O pecado é mais amplo do que isto. As cinco
primeiras palavras para pecado no NT mostram que ele infecta e afeta todos os
aspectos de nossa vida.
A
primeira palavra é harmartia,
significa literalmente errar o alvo.
O pecado como harmartia é deixar de
ser o que poderíamos ter sido. William Barclay ilustra esse ponto com três
estágios na nossa vida. Primeiro, vem o tempo em que as pessoas dizem: Ele fará
alguma coisa. Depois elas podem dizer: Ele poderia fazer alguma coisa, se quisesse.
E finalmente as pessoas dizem: Ele poderia ter feito alguma coisa.
O
pecado como harmartia é abrangente. É
não ser tudo quanto poderíamos ter sido. E quem poderia ter sido um melhor
esposo, esposa, empregado, filho, filha, e assim por diante?
A
segunda palavra para pecado é parabasis,
que traz consigo a ideia de ultrapassar a linha que separa o certo do errado. O
pecado como parabasis abrange vários
aspectos em nossa vida. Será que nunca ultrapassamos a linha numa atitude indelicada
ou numa palavra ou pensamento descortês?
A
terceira palavra para pecado é paptoma,
que quer dizer escorregar, igual ao que acontece quando uma pessoa escorrega
numa estrada coberta de gelo. Essa espécie de pecado pode ser ilustrada pelo
escorregar no temperamento ou nas paixões.
A
quarta palavra para pecado é anomia,
ou ilegalidade. Esse é pecado da pessoa que sabe o certo, mas faz o errado.
Isto é o que a maioria de nós considera pecado.
A
última palavra para pecado é opheilema,
que é a palavra usada em Mateus 6:12. Opheilema significa
débito, deixar de pagar o que se deve. E ninguém pode alegar que pagou todas as
suas dívidas para com Deus.
O
pecado é mais abrangente do que imaginamos. Todo precisou orar diariamente
baseados nos conceitos da oração do Senhor[27].
Devedores
Audaciosos
E é
assim também que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui
justiça, independentemente de obras: Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades
são perdoadas, e cujos pecados são cobertos, bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará
pecado. Romanos 4 6 a 8.
Segundo o pensamento rabínico, todo pecado criava uma dívida
para com Deus, ao passo que toda obra de justiça contribuía para o acúmulo de
créditos do crente perante Deus. Enquanto o acúmulo de boas obras formava uma
espécie de ponte para Deus, o acúmulo de dívidas morais separava as pessoas
Dele.
O conceito de dívida moral era, portanto, bastante
familiar para os judeus. Jesus emprega o bem conhecido conceito de dívida moral
e as ideias a ele relacionadas para nos dizer que devemos ir ao Pai e pedir-Lhe
que anule nossas dívidas.
Pense nisso! A ideia em si é bastante insolente . É uma
atitude audaciosa para um devedor aproximar-se de um credor e pedir que lhe
perdoe um débito. Contudo, Jesus nos ensina a nos aproximarmos de Deus dessa
maneira insolente.
O NT também ensina, por meio de seus diversos autores, que
Deus está mais do que disposto a cancelar nossa dívida, porque nos ama e porque
aceitamos Seu amor no sacrifício de Jesus. Deus é um cancelador de dívidas para
os que buscam o Seu perdão. Esse é um milagre da graça. Deus não nos dá o que
merecemos. Ele nos dá o que precisamos.
É interessante notar, nesse ponto, que a versão de Lucas
da Oração do Senhor emprega a palavra pecado, Lucas 11:4, em vez de dívida,
conforme encontramos em Mateus. Os pecados, obviamente, representam
atos de comissão, enquanto as dívidas incluem os atos de omissão. O perdão de
Deus abrange, portanto, todos os nossos pecados. Tanto as coisas que fazemos
conscientemente contra Deus e contra o nosso próximo, como as coisas que
deveríamos ter feito por eles, acham-se incluídas nas duas versões da Oração do
Senhor.
Em resumo, todos os nossos pecados podem ser levados ao pé
da cruz. Agradecemos-Te, ó Senhor, por sermos capazes de ir confiantemente a
Ti e por sempre atenderes aos sinceros pedidos de perdão[28].
Adeus
à Graça Barata
Perdoa-nos
os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo o que nos deve. Lucas 11:4.
Talvez a palavra mais importante na versão de Mateus,
da Oração do Senhor, seja a palavra como. Pedimos a Deus que nos perdoe
assim como perdoamos aos outros. Lucas emprega a palavra pois,
embora a ideia subjacente seja a mesma. O perdão divino e o humano estão
relacionados. Devemos perdoar, assim como somos perdoados. Ora, isso não é
fácil para a maioria de nós. A maior parte de nós gosta de receber perdão, mas
não vamos além do nosso caminho a fim de buscar oportunidades para concedê-lo.
Jesus aqui está falando aos cristãos. E os cristãos são
pessoas que experimentaram a grandeza das misericórdias de Deus. Na verdade, os
cristãos são tão agradecidos que desejam transmitir a outros essas misericórdias.
Uma atitude como essa não surge naturalmente. Nascemos com
o desejo de retaliar e pagar na mesma moeda o que fazem conosco. Nascemos com
um coração que não perdoa facilmente.
Isso nos leva a um importante pormenor em Mateus
6:12. Os cristãos são pessoas transformadas. Eles não somente tomam
parte no banquete da graça de Deus; também se tornam dispensadores dessa
graça. Os cristãos são pessoas que chegaram a compreender que não podem amar a
Deus sem amar os filhos dEle.
A graça barata denota que as pessoas recebem de Deus o
perdão, mas depois voltam a viver a mesma vidinha
de antes. Jesus, porém, põe um fim na graça barata. A graça de Deus por
intermédio de Jesus não apenas perdoa nossas dívidas, mas também muda nossa
vida pelo novo nascimento. Jesus não diz: Aceite
Meu perdão e continue a viver como antes. Não. Ele diz: Agora que você foi
perdoado, vai agir como Eu. Vai cumprir as bem-aventuranças para ser
misericordioso. Mateus 5:7. Vai procurar ser perfeito como é perfeito o Pai
que está no Céu, porque você amará, e vai perdoar, até mesmo seus inimigos versos
43 a 48.
A salvação é um tecido sem costura. Você não pode ser
perdoado ou justificado, sem ao mesmo tempo ser santificado e transformado. Os
cristãos perdoarão como Deus perdoa; perdoarão da mesma maneira[29].
Chaves
Para Perdoar
Qual
destes três você acha que foi
o próximo do homem que caiu nas mãos dos
assaltantes? Aquele que teve misericórdia dele; respondeu o perito na lei.
Jesus lhe disse: Vá e faça da mesma forma. Lucas 10:36 e 37.
Jamais
perdoarei aquela mulher pelo que ela me fez. Jamais esquecerei aquela atitude
cruel do meu pastor.
Você já abrigou algum dia esses pensamentos? Já nutriu
esses fortes sentimentos para com outra pessoa que verdadeiramente foi injusta
com você ou com alguém que lhe é caro?
A maioria de nós sim. A maioria de nós luta para perdoar e
esquecer. A maioria de nós se esforça para compreender o fato de que devemos
ser como Jesus, que podia orar: Perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem,
enquanto eles O pregavam na cruz.
Contudo, Deus diz que devemos ser como Ele. Devemos ter
espírito perdoador assim como Deus.
Mas como, podemos perguntar? Isso nos leva às chaves do
perdão. há certas coisas que nos ajudarão a aprender a perdoar.
A primeira é a compreensão. Existem razões muito boas por
que as pessoas fazem as coisas. Quando dedicamos tempo para descobrir as razões
delas, muitas vezes fica mais fácil perdoá-las.
A segunda é o esquecimento. Precisamos aprender a
esquecer. Muita gente continua nutrindo sentimentos de ira e ressentimento. A
maioria de nós precisa do poder purificador de Jesus para afastar essas coisas
da nossa lembrança. Temos uma escolha. Podemos permanecer no negativo, ou
podemos deixar que Ele nos encha de pensamentos novos e limpos.
A terceira é o amor. Temos visto repetidas vezes em nosso
estudo do Sermão do Monte que o amor agape de Deus é essa boa vontade
para com os outros, que quer apenas o melhor para eles, não importa como nos
tratem.
A quarta é a visão da cruz. Os verdadeiros perdoadores
precisam de uma imagem diária da cruz. Precisamos reconhecer que Jesus morreu em
nosso lugar. Em consequência disso, reconhecemos a necessidade de ser
misericordiosos e perdoadores, assim como nosso Salvador[30].
7.
PERDOA-NOS AS NOSSAS DÍVIDAS ASSIM COMO NÓS TEMOS PERDOADO AOS NOSSOS DEVEDORES
Nesta
oração Jesus menciona seis petições. Três delas se referem a Deus, e três a
nós. Todas as seis são sumamente importantes, mas Ele parece dar um enfoque
especial a uma delas. Ele não conferiu destaque nem a Santificado seja o teu nome,
nem a Venha o teu reino, nem a Faça-se a tua vontade assim na terra como
nos Céus, embora todos estes fatos sejam de grande importância.
Tampouco
Ele enfatiza nossa necessidade de pão, embora seja verdade que sem o alimento
todos perecemos. Mas, depois de apresentar toda a oração, o Senhor resolve
destacar uma das petições, e faz um comentário especial a respeito dela.
Trata-se da seguinte: Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós
temos perdoado aos nossos devedores. O comentário que ele faz é: Se,
porém, não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tão pouco vosso Pai vos
perdoará as vossas ofensas. Mateus 6:15.
Não é
que Deus somente conceda o perdão na base da permuta. O perdão que damos a
outrem não é uma condição para que o perdão divino seja concedido a nós. Antes
Ele condiciona nossa própria recepção do perdão de Deus.
Shakespeare disse: A misericórdia não pode ser forçada; ela
desce suavemente como a chuva fina que cai do céu. Entretanto, é possível,
por exemplo, colocar-se sobre uma planta uma cobertura de ferro, e assim
impedir que a água da chuva chegue até ela. Do mesmo modo, podemos rodear nosso
coração com uma cerca de rancor e assim estaremos impedindo a entrada da
misericórdia de Deus.
Uma
atitude errada para com outra pessoa pode prejudicá-la ou não, mas é certo que
prejudica a nós.
O
educador americano Booker T. Washington definiu a questão muito bem quando
disse: Nunca permitirei que minha alma
seja aviltada pelo ódio.
Num
Programa da TV norte-americana chamado Amós
e Andy, havia um homem alto que sempre que encontrava Andy dava-lhe um tapa
no peito. Por fim, este ficou cansado daquilo e preparou-lhe uma represália. Agora estou preparado, disse ele a Amós.
Coloquei uma carga de dinamite no
bolsinho interno do paletó, e quando ele me der o tapa, sua mão vai explodir.
Ele se esquecera de que o seu coração também explodiria. A dinamite do ódio
pode realmente infligir sofrimentos a outrem, mas também destruirá nosso
coração.
As
palavras perdão e perdoado são inseparáveis. Estão
sempre juntas. Quando a Rainha Caroline da Inglaterra morreu, Lord Chesterfield
disse uma frase muito triste: Uma mulher
que não perdoava, agora morre sem ser perdoada.
Na
cruz, Jesus pronunciou as palavras: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que
fazem. Geralmente, quando alguém pratica um ato condenável, sem maldade
consciente, nós apenas deploramos o fato. Existe, porém, um motivo mais forte
para não guardarmos rancor contra ninguém: porque
nós não sabemos. Se compreendêssemos as razões que levam cada pessoa a agir
como age, nosso julgamento não seria tão rigoroso.
Tendo
nós um conhecimento tão limitado uns dos outros, é um pouco temerário nos
colocarmos na posição de juízes. A Bíblia diz: A Mim pertence à vingança; Eu
retribuirei, diz o Senhor. Romanos 12:19. É mais sábio deixar o assunto
por conta de Deus.
Li em
algum lugar o seguinte poema:
Será que Deus abandonou os céus, deixando a
teus cuidados julgar entre o que é certo e errado, e o que é que cada um deve
fazer?
Creio que ele ainda lá está. E sabe a hora
certa de aplicar a vara. Quando julgares a outros. Lembra-te: tu não és Deus.
Ele disse que devemos orar assim: Como nós temos perdoado aos
nossos devedores.
Certo
casal foi a um orfanato para tentar adotar uma criança. Havia ali um garotinho
que os atraiu muito. Conversaram com ele e lhe falaram das coisas que poderiam
dar-lhe. O que é que você deseja? Ao
que ele respondeu: Só quero que alguém me
ame.
Isto é
o que todo ser humano deseja. No fundo do coração de cada um de nós existe uma
grande fome de amor. O problema da solidão é bem mais sério do que pensamos.
Entretanto, a maioria das pessoas não é muito fácil de amar. Em geral, elas têm
tantos defeitos; dizem o que não devem e muitas possuem espírito antagônico,
quase repulsivo. Contudo, Jesus disse: Perdoa-nos... Como nós temos perdoado aos
nossos devedores. Esta foi à única petição que ele enfatizou e talvez
seja esta a mais difícil de fazer.
Se, porém, não perdoardes aos homens as
suas ofensas; débitos, pecados! Qualquer uma destas palavras
exprimirá bem o que o Senhor tinha em mente. O vocábulo débito sugere a ideia
de um não cumprimento de certas obrigações, que não são apenas financeiras. há débitos
que resultam de implicações de amizade, de nossa cidadania, etc.
Ofender
significa ferir a outrem de algum modo. Nossos conhecidos nos ofendem abusando de nosso tempo e de nosso nome ao falarem mal
de nós, etc. Podemos ser ofendidos de diversos modos.
A
palavra pecado fala de vício e conduta errônea, e vemos muito disso em nossos
amigos. Quanto mais observamos os erros de nossos conhecidos, mais difícil se
nos torna dizer esta petição: Como nós temos perdoado aos nossos devedores.
Muitas vezes dedicamos afeição a certas pessoas, e depois somos tristemente
decepcionados por ela.
Às
vezes, nos sentimos como Sir Walter Raleigh, que antes de sua morte escreveu à
esposa: Não sei a que amigo encaminhar-te,
pois os meus me abandonaram no momento da provação.
Algumas
pessoas já foram tão magoadas, que são incapazes de pensar como o poeta
Tennysson que disse:
Eu sei que é verdade, haja o que houver, E
sinto isto, mesmo em meio ao sofrimento; É melhor amar e sofrer, Do que nunca
amar.
Devemos
notar, porém, que Jesus disse: Perdoa-nos as nossas dívidas. Ele chama
atenção, em primeiro lugar, para nossas próprias dívidas, ofensas e pecados. As
faltas dos outros também são encontradas em nós. Talvez não sejam exatamente as
mesmas e podem ser até piores. Ele não disse: Perdoa-nos se nós pecarmos.
Não existe nenhum se.
Façamos
a nós mesmos, com toda a sinceridade, as seguintes perguntas: Qual é meu erro mais grave? Isto é, onde é
que tenho falhado em meu dever? Que pessoas tenho ofendido? Quais os pecados
que tenho cometido? Cada um de nós terá suas próprias respostas para estas
perguntas. Todos nós erramos.
Entretanto,
nossos amigos e conhecidos também terão respostas a estas perguntas. Também
eles erram. O importante é sabermos que, se estivermos dispostos a perdoá-los,
então poderemos receber o perdão de Deus. Quanto a mim, isto me parece mais que
justo. O que pensa você?[31]
Como Aumentar a Fé e
a Confiança
Cristo recebia
constantemente do Pai, para que nos pudesse comunicar. A palavra que ouvistes,
disse Ele, não é Minha, mas do Pai que Me enviou. João 14:24. O Filho
do Homem não veio para ser servido, mas para servir. Mateus 20:28.
Vivia, meditava e orava não para Si mesmo, mas para os outros. Depois de passar
horas com Deus, apresentava-Se manhã após manhã para comunicar aos homens a luz
do Céu. Cotidianamente recebia novo batismo do Espírito Santo. Nas primeiras
horas do novo dia o Senhor O despertava de Seu repouso, e Sua alma e lábios
eram ungidos de graça para que a pudesse transmitir a outros. As palavras Lhe
eram dadas diretamente das cortes celestes, palavras que pudesse falar
oportunamente aos cansados e oprimidos. O Senhor Iahweh, disse, Me
deu uma língua erudita, para que Eu saiba dizer, a seu tempo, uma boa palavra
ao que está cansado: Ele desperta-Me todas as manhãs, Me desperta o ouvido para
que ouça como aqueles que aprendem. Isaías:4
As orações de Cristo
e Seu habito de comunhão com Deus impressionavam muito os discípulos. Um dia,
depois de breve ausência de Seu Senhor, encontraram-nO absorto em súplicas.
Parecendo inconsciente da presença deles, continuou orando em alta voz. O
coração dos discípulos foi movido profundamente. Ao cessar Ele de orar,
exclamaram: Senhor ensina-nos a orar. Lucas 11:1.
Correspondendo ao
pedido, Cristo proferiu a oração do Senhor, tal como a dera no sermão da montanha.
Ilustrou, então, por meio de uma parábola, a lição que desejava dar-lhes.
Qual de vós, disse, terá
um amigo e, se for procurá-lo à meia-noite, lhe disser: Amigo, empresta-me três
pães, pois que um amigo meu chegou à minha casa, vindo de caminho, e não tenho o
que apresentar-lhe; se ele, respondendo de dentro, disser: Não me importunes;
já está à porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso
levantar-me para tos dar. Digo-vos que, ainda que se não levante a dar-lhos por
ser seu amigo, levantar-se-á, todavia, por causa da sua importunação e lhe dará
tudo o que houver mister. Lucas 11:5 a 8.
Cristo representa
aqui o suplicante solicitando, para que pudesse dar. Precisa obter pão, senão
não pode suprir as necessidades de um viajante cansado e retardatário. Embora o
vizinho não queira ser importunado, não desanimará seu pedido; o amigo precisa
ser auxiliado; e finalmente a sua importunação é recompensada; seus desejos são
satisfeitos.
Do mesmo modo os
discípulos deveriam solicitar bênçãos de Deus. No alimentar a multidão e no
sermão sobre o pão do Céu, Cristo lhes descobrira sua obra como representantes
Seus. Deviam dar ao povo o pão da vida. Ele que lhes designara a obra, viu
quantas vezes sua fé seria provada. Frequentemente se lhes deparariam situações
imprevistas e reconheceriam sua insuficiência humana. Pessoas famintas do pão
da vida iriam ter com eles, e eles se sentiriam destituídos de recursos.
Precisavam receber alimento espiritual, pois de outro modo nada teriam para
repartir. Não deviam, porém, despedir pessoa alguma sem alimentá-la. Cristo
lhes apontou a fonte de provisão. O homem não despediu o amigo que a ele
recorreu para hospedar-se, embora chegasse à hora inoportuna da meia-noite.
Nada tinha para apresentar-lhe, mas recorreu a alguém que tinha alimento e
insistiu em sua petição até o vizinho lhe suprir a necessidade. E não supriria
Deus, que enviou Seus servos para alimentar os famintos, o de que precisassem
para Sua própria obra?
Mas o vizinho
egoísta da parábola não representa o caráter de Deus. A lição é tirada, não por
comparação, mas por contraste. O homem egoísta atenderá a um pedido urgente,
para livrar-se de alguém que lhe perturba o repouso. Deus, porém, Se deleita em
dar. É cheio de compaixão e anseia por atender às petições dos que a Ele
recorrem pela fé. Dá-nos para que sirvamos a outros e deste modo nos
assemelhemos a Ele.
Cristo declara: Pedi,
e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á; porque qualquer
que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á. Lucas 11:9 e
10.
O Salvador continua:
Qual
o pai dentre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou também,
se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente? Ou também, se lhe pedir um
ovo, lhe dará um escorpião? Pois, se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas
aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles
que Lho pedirem? Lucas 11:1 a 13.
Para fortalecer-nos
a confiança em Deus, Cristo nos ensina a dirigirmos-nos a Ele por um nome novo,
um nome enlaçado com as mais caras relações do coração humano. Concede-nos o
privilégio de chamar o infinito Deus de nosso Pai. Este nome dito a Ele ou
Dele, é um sinal de nosso amor e confiança para com Ele, e um penhor de Sua
consideração e parentesco conosco. Pronunciado ao pedir Seu favor ou bênçãos,
soa-Lhe aos ouvidos como música. Para que não julgássemos presunção invocá-Lo
por este nome, repetiu-o muitas vezes. Deseja que nos familiarizemos com este
trato.
Deus nos considera
filhos Seus. Redimiu-nos do mundo indiferente, e nos escolheu para tornar-nos
membros da família real, filhos e filhas do celeste Rei. Convida-nos a Nele
confiar, com confiança mais profunda e mais forte que a do filho no pai
terrestre. Os pais amam os filhos, mas o amor de Deus é maior, mais largo e
mais profundo do que jamais pode sê-lo o amor humano. É incomensurável.
Portanto, se os pais terrestres sabem dar boas dádivas a seus filhos, quanto
mais não dará nosso Pai do Céu o Espírito Santo àqueles que Lho pedirem?
As lições de Cristo
referentes à oração devem ser ponderadas cuidadosamente. Há uma ciência divina
na oração, e Sua ilustração apresenta-nos princípios que todos necessitam
compreender. Mostra qual é o verdadeiro espírito da oração, ensina a
necessidade de perseverança ao expormos nossas súplicas a Deus, e nos assegura
Sua boa vontade de ouvir as orações e a elas atender.
Nossas orações não
devem ser uma solicitação egoísta, meramente para nosso próprio benefício.
Devemos pedir para podermos dar. O princípio da vida de Cristo deve ser o
princípio de nossa vida. Por eles Me santifico a Mim mesmo,
disse, referindo-Se aos discípulos, para que também eles sejam santificados.
João 17:19. A mesma devoção, o mesmo sacrifício, a mesma submissão às
reivindicações da Palavra de Deus, manifestos em Cristo, devem ser vistos em
Seus servos. Nossa missão no mundo não é servir ou agradar a nós mesmos;
devemos glorificar a Deus, com Ele cooperando para salvar pecadores. Devemos
suplicar de Deus bênçãos para partilhar com outros. A capacidade de receber só
é preservada compartilhando. Não podemos continuar recebendo os tesouros
celestiais sem os transmitir aos que estão ao nosso redor.
Na parábola, o
suplicante foi repelido várias vezes; porém não desistiu de sua intenção.
Assim, nossas orações nem sempre parece serem atendidas imediatamente; mas
Cristo ensina que não devemos cessar de orar. A oração não se destina a efetuar
qualquer mudança em Deus, deve elevar-nos à harmonia com Ele. Ao Lhe fazermos
alguma petição, pode ver que nos é necessário examinar o coração e
arrepender-nos do pecado. Por isso nos faz passar por dificuldades, provações e
humilhações, para que vejamos o que impede em nós a operação do Espírito
Santo.
Ha condições para o
cumprimento das promessas de Deus, e a oração nunca pode substituir o dever. Se Me
amardes, diz Cristo, guardareis os Meus mandamentos. João 14:15.
Aquele que tem os Meus mandamentos e os guarda, este é o que Me ama; e aquele
que Me ama será amado de Meu Pai, e Eu o amarei e Me manifestarei a ele. João
14:21. Aqueles que apresentam suas petições a Deus, reivindicando Sua
promessa, enquanto não satisfazem as condições, ofendem a Iahweh. Apresenta o
nome de Cristo como autoridade para o cumprimento da promessa, porém não fazem
aquilo que demonstraria fé em Cristo e amor a Ele.
Muitos infringem a
condição sob a qual são aceitos pelo Pai. Devemos examinar minuciosamente o ato
de confiança de nos achegarmos a Deus. Se formos desobedientes apresentamos ao
Senhor uma nota para ser paga, quando não preenchemos as condições que no-la
tornaria pagável. Expomos a Deus Suas promessas e Lhe pedimos cumprir as
mesmas, quando se o fizesse desonraria Seu nome.
A promessa é: Se
vós estiverdes em Mim, e as Minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o
que quiserdes, e vos será feito. João 15:7. E João declara: Nisto
sabemos que O conhecemos: se guardarmos os Seus mandamentos. Aquele que diz: Eu
conheço-O e não guarda os Seus mandamentos é mentiroso, e nele não está à
verdade. Mas qualquer que guarda a Sua Palavra, o amor de Deus está nele
verdadeiramente aperfeiçoado; nisto conhecemos que estamos Nele. I João 2:3 a 5.
Um dos últimos
mandamentos de Cristo aos discípulos foi: Que vos ameis uns aos outros; como Eu vos
amei a vós. João 13:34. Obedecemos a este mandamento, ou cultivamos
rudes traços de caráter diferentes dos de Cristo? Se causarmos de qualquer
maneira dores e tristezas a outros, é nosso dever confessar nossa falta e
procurar reconciliação. Esta é uma preparação essencial para nos podermos
achegar pela fé a Deus para Lhe solicitar as bênçãos.
Ha outro ponto frequentemente
negligenciado por aqueles que procuram a Deus em oração. Tendes sido fiéis para
com vosso Deus? O Senhor declara pelo profeta Malaquias: Desde os dias de vossos pais, vos
desviastes dos Meus estatutos e não os guardastes; tornai vós para Mim, e Eu
tornarei para vós, diz o Senhor dos Exércitos; mas vós dizeis: Em que havemos
de tornar? Roubará o homem a Deus? Todavia vós Me roubais e dizeis: Em que Te
roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas. Malaquias 3:7 e 8.
Como Doador de todas
as bênçãos, Deus requer certa porção de tudo quanto possuímos. Esta é uma
providência para sustentar a pregação do evangelho. Restituindo a Deus essa
parte, testemunharemos nosso apreço por Suas dádivas. Como podemos, pois,
reivindicar Suas bênçãos, se retemos o que Lhe pertence? Como podemos esperar
que nos confie coisas celestiais, se somos mordomos infiéis das terrenas? Pode
ser que nisso esteja o segredo das orações não atendidas.
Em Sua grande
misericórdia, o Senhor está pronto a perdoar, e diz: Trazei todos os dízimos à casa do
tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim...
Se Eu não vos abrir as janelas do Céu e não derramar sobre vós uma bênção tal,
que dela vos advenha à maior abastança. E, por causa de vós, repreenderei o
devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; e a vide no campo vos não
será estéril... E todas as nações vos chamarão bem-aventurados; porque vós
sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos. Malaquias 3:10 a 12.
O mesmo se dá com
todos os reclamos de Deus. Todas as dádivas são prometidas sob a condição de
obediência. Deus tem um Céu cheio de bênçãos para aqueles que com Ele
cooperarem. Todos quantos Lhe são obedientes podem com confiança pedir o
cumprimento de Suas promessas.
Devemos mostrar
firme e inabalável confiança em Deus. Às vezes, Ele tarda a responder para
provar-nos a fé ou experimentar a sinceridade de nosso desejo. Havendo nós
pedido em harmonia com Sua Palavra, devemos crer em Sua promessa, e insistir em
nossas petições com determinação inabalável.
Deus não nos diz:
Pedi uma vez, e dar-se-vos-á. Requer que peçamos. Persistir incansavelmente em
oração. A súplica persistente põe o peticionário em atitude mais fervorosa, e dá-lhe
maior desejo de receber o que pede. Junto ao túmulo de Lázaro, Cristo disse a
Marta: Não lhe falei que, se você cresse, veria a glória de Deus?João 11:40.
Muitos, porém, não
possuem fé viva. Esta é a razão de não provarem mais do poder de Deus. Sua fraqueza
é consequência da incredulidade. Têm mais fé em seu próprio recurso do que na
operação de Deus por eles. Procuram guardar-se a si mesmos. Planejam e
arquitetam, mas oram pouco e têm pouca confiança real em Deus. Pensam possuir
fé, mas é somente o impulso do momento. Por não reconhecerem sua própria
necessidade ou a voluntariedade de Deus em dar, não perseveram em
apresentar perante o Senhor suas súplicas.
Nossas orações devem
ser tão fervorosas e persistentes, quanto à petição do amigo necessitado que solicitasse
os pães à meia-noite. Quanto mais sincera e perseverantemente pedirmos, tanto
mais íntima será nossa união espiritual com Cristo. Receberemos maiores
bênçãos, porque possuímos maior fé.
Nossa parte é orar e
crer. Vigiai em oração. Vigiai e cooperai com o Deus que ouve as orações.
Lembrai-vos de que somos cooperadores de Deus. 1 Coríntios 3:9. Falai e procedei
em harmonia com vossas orações. Fará diferença infinita para vós, se a provação
manifestar que vossa fé é genuína, ou que vossas orações são apenas
formais.
Quando surgirem
perplexidades, e dificuldades vos confrontarem, não espereis auxílio de homens.
Confiai inteiramente em Deus. O costume de contar as dificuldades a outros, só
nos torna fracos e não lhes traz força. Sobrecarrega-os com o fardo de nossas
fraquezas espirituais, que não podem remediar. Procuramos os recursos de homens
errantes e finitos, quando poderíamos ter a força do Deus infalível e
infinito.
Não precisamos ir
aos extremos da Terra em busca de sabedoria, porque Deus está perto. Não é a
capacidade que agora possuímos ou havemos de possuir, que nos dará êxito. É o
que o Senhor pode fazer por nós. Deveríamos depositar muito menos confiança no
que o homem é capaz de fazer, e muito mais no que Deus pode fazer para cada alma
crente. Anseia Ele que Lhe estendamos as mãos pela fé. Anseia que esperemos
grandes coisas Dele. Anela dar-nos sabedoria, tanto nos assuntos temporais como
nos espirituais. Pode aguçar o intelecto. Pode dar tato e habilidade.
Empreguemos nossos talentos na obra, peçamos a Deus sabedoria, e ser-nos-á
dada.
A Palavra de Cristo
como nossa segurança. Não nos convidou a ir a Ele? Nunca nos permitamos
falar de modo desesperançado e desanimado. Perderemos muito, se o fizermos. Olhando
as aparências e lamentando quando vêm dificuldades e angústias, damos prova de
fé doentia e débil. Falemos e procedamos como se a vossa fé fosse invencível. O
Senhor é rico em recursos; pertence-Lhe todo o mundo. Pela fé olhemos para o
Céu. Contemplemos Aquele que tem luz e poder e eficiência.
Ha na fé genuína,
firmeza e constância de princípio, e estabilidade de propósito, que nem o tempo
nem fadigas podem enfraquecer. Os jovens se cansarão e se fatigarão, e os
mancebos certamente cairão. Mas os que esperam no Senhor renovarão as suas
forças e subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão; caminharão e
não se fatigarão. Isaías 40:30 e 31.
Muitos há que anelam
auxiliar a outros, mas sentem que não possuem capacidade ou luz espiritual para
partilhar. Apresentem estes as suas petições perante o trono da graça. Rogue
pelo Espírito Santo. Deus mantém cada promessa que fez. Com a Bíblia nas mãos,
diga: Fiz como disseste. Apresento Tua promessa: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e
achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Lucas 11:9.
Precisamos não só
pedir em nome de Cristo, mas também pela inspiração do Espírito Santo. Isto
explica o que significa o dito de que: O mesmo Espírito intercede por nós com
gemidos inexprimíveis. Romanos 8:26. Tais orações Deus Se deleita em
atender. Quando proferirmos uma oração com fervor e intensidade no nome de
Cristo, há nessa mesma intensidade o penhor de Deus de que Ele está prestes a
atender à nossa súplica muito mais abundantemente além daquilo que
pedimos ou pensamos. Efésios 3:20.
Cristo disse: Tudo
o que pedirdes, orando, crede que o recebereis e tê-lo-eis. Marcos 11:24. Tudo
quanto pedirdes em Meu nome, Eu o farei, para que o Pai seja glorificado no
Filho. João 14:13. E o amado João, sob inspiração do Espírito Santo,
diz com clareza e confiança: Se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua
vontade, Ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos,
sabemos que alcançamos as petições que Lhe fizemos. I João 5:14 e 15.
Portanto insistamos em nossas petições ao Pai em nome de Jesus. Deus honrará
esse nome.
O arco-íris sobre o
trono é a garantia de que Deus é verdadeiro e que Nele não há mudança nem
sombra de variação. Temos pecado contra Ele e somos indignos de Seu favor;
todavia Ele mesmo nos pôs nos lábios a mais maravilhosa de todas as petições: Não
nos rejeites por amor do Teu nome; não abatas o trono da Tua glória; lembra-Te
e não anules o Teu concerto conosco. Jeremias 14:21. Quando a Ele
formos, confessando nossa indignidade e pecado, Ele Se comprometeu a
atender-nos ao clamor. A honra de Seu trono foi-nos dada como penhor do
cumprimento de Sua Palavra.
Como Arão, que
simbolizava a Cristo, nosso Salvador no santuário celestial traz sobre o
coração o nome de Seu povo. Nosso grande Sumo Sacerdote Se lembra de todas as
palavras pelas quais nos animou a confiar. Lembra-Se continuamente de Seu
concerto.
Todos os que O
buscarem, O acharão. A todos os que batem será aberta a porta. Não será dada a
desculpa: Não me importunes; a porta está cerrada; não desejo abri-la. Jamais
será dito a alguém: Não vos posso auxiliar. Os que pedem pão à meia-noite para
alimentar pessoas famintas, serão atendidos.
Na parábola, aquele
que solicita pão para o estrangeiro, recebe tudo o que houver mister. Lucas
11:8. E em que medida nos dará Deus, para que possamos compartilhar com
outros? Segundo a medida do dom de Cristo. Efésios 4:7. Anjos vigiam
com intenso interesse para ver como os homens procedem com seu próximo.
Notam-se que alguém
demonstra para com os errantes simpatia semelhante à de Cristo, agrupam-se em
torno Dele e lembram-lhe palavras para proferir, que serão para a pessoa como o
pão da vida. Assim, Deus, segundo as Suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em
glória, por Cristo Jesus. Filipenses 4:19. Tornará vosso testemunho
sincero e real, forte no poder da vida futura. A Palavra do Senhor será em
vossa boca verdade e justiça.
Ao trabalho pessoal
por outros, deve preceder muita oração particular, pois requer grande sabedoria
o compreender a ciência da salvação de pessoas. Antes de comunicar-vos com os
homens, comungai com Cristo. Junto ao trono da graça celestial preparai-vos
para ministrar ao povo.
Quebrante-se o
coração pelo anelo que tem de Deus, do Deus vivo. A vida de Cristo mostrou o
que a humanidade pode fazer se participar da natureza divina. Tudo quanto
Cristo recebeu de Deus, podemos nós possuir também. Portanto, pedi e recebei.
Com a perseverante fé de Jacó, com a invencível persistência de Elias reclamai
tudo quanto Deus prometeu.
Que vossa mente seja
possuída pelas gloriosas concepções de Deus. Una-se vossa vida, por elos
ocultos, à vida de Jesus. Aquele que fez que das trevas resplandecesse a luz,
deseja resplandecer em vosso coração para iluminação do conhecimento da gloria
de Deus, na face de Jesus Cristo. O Espírito Santo tomará as coisas de Deus e
vo-las revelará, transmitindo-as como força viva ao coração obediente. Cristo
vos conduzirá ao limiar do Infinito. Podeis contemplar a glória além do véu, e
revelar aos homens a suficiência Daquele que vive eternamente para interceder
por nós[32]·.
LEITURA
ADICIONAL
Perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a qualquer que
nos deve. Lucas 11:4.
Jesus nos ensina que só poderemos receber o perdão de Deus se também nós
perdoarmos aos outros. É o amor de Deus que nos atrai para Ele, e esse amor não
nos pode tocar o coração sem criar amor por nossos irmãos.
Terminando a oração do Senhor, Jesus acrescentou: Se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial
vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas,
também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas. Mateus 6:14 e 15.
Aquele que não perdoa, obstrui o próprio conduto pelo qual, unicamente, pode
receber misericórdia de Deus. Não deve pensar que, a menos que os que nos
prejudicaram, confessem o mal, estamos justificados ao privá-los de nosso
perdão. É dever deles, sem dúvida, humilhar o coração pelo arrependimento e
confissão; cumpre-nos, porém, ter espírito de compaixão para com os que pecaram
contra nós, quer confessem quer não suas faltas. Não importa quão cruelmente
nos tenham ferido, não devemos acariciar nossos ressentimentos, simpatizando
com nós mesmos pelos males que nos são causados; mas, como esperamos nos sejam
perdoadas nossas ofensas contra Deus, cumpre-nos perdoar a todos os que nos têm
feito mal.
O perdão, porém, tem sentido mais amplo do que muitos supõem. Dando a
promessa de que perdoará abundantemente,
Deus acrescenta, como se o significado dessa promessa excedesse a tudo que
pudéssemos compreender: Os Meus pensamentos
não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os Meus caminhos, diz o
Senhor. Porque, assim como os céus são mais altos do que a Terra, assim são os
Meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os Meus pensamentos, mais
altos do que os vossos pensamentos. Isaías 55:8 e 9. O perdão de Deus
não é meramente um ato judicial pelo qual Ele nos livra da condenação. É não
somente perdão pelo pecado, mas livramento do pecado. É o transbordamento de
amor redentor que transforma o coração. Davi tinha a verdadeira concepção do
perdão ao orar: Cria em mim, ó Deus,
um coração puro e renova em mim um espírito reto. Salmo 51:10. E noutro
lugar ele diz: Quanto está longe o
Oriente do Ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões. Salmo 103:12.
Deus, em Cristo, ofereceu-Se por nossos pecados. Sofreu a cruel morte de
cruz, carregou por nós o peso da culpa, o
justo pelos injustos. 1 Pedro 3:18, a fim de poder manifestar-nos Seu
amor, e atrair-nos a Si. E diz: Sede
uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros,
como também Deus vos perdoou em Cristo. Efésios 4:32. Que Cristo, a
divina Vida, habite em vós, e manifeste por vosso intermédio o amor de origem
celeste que irá inspirar esperança no desalentado e levar paz ao coração ferido
pelo pecado. Ao aproximar-nos de Deus, eis a condição que temos de satisfazer
ao pisar o limiar; que, recebendo misericórdia de Sua parte, nos entreguemos a
nós mesmos para revelar a outros Sua graça.
O elemento essencial para que possamos receber e comunicar o amor
perdoador de Deus é conhecer e crer o amor que Ele nos tem. 1 João 4:16. Satanás opera por meio
de todo engano de que pode dispor a fim de não distinguirmos esse amor.
Levar-nos-á a pensar que nossas faltas e transgressões têm sido tão ofensivas
que o Senhor não tomará em consideração nossas orações, e não nos abençoará nem
salvará. Não podemos ver em nós mesmos senão fraqueza, coisa alguma que nos
recomende a Deus, e Satanás nos diz que é inútil; não podemos remediar nossos
defeitos de caráter. Quando tentamos ir ter com Deus, o inimigo segreda: Não adianta orares; não praticaste aquela má
ação? Não pecaste contra Deus, e não violaste tua consciência? Temos,
porém, o direito de dizer ao inimigo que o
sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado. 1 João 1:7.
Quando sentimos que pecamos, e não nos é possível orar, é o momento de orar.
Talvez nos sintamos envergonhados e profundamente humilhados; devemos, porém,
orar e crer. Esta é uma palavra fiel e
digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os
pecadores, dos quais eu sou o principal. 1 Timóteo 1:15. O perdão, a
reconciliação com Deus, não nos é concedido, como recompensa por nossas obras,
não é outorgado em virtude dos méritos de homens pecadores,
mas é uma dádiva feita a nós, a qual tem na imaculada justiça de Cristo o
fundamento de Sua disposição.
Não devemos procurar diminuir nossa culpa escusando o pecado. Cumpre-nos
aceitar a divina avaliação do pecado, e essa é deveras pesada. Unicamente o
Calvário pode revelar a terrível enormidade do pecado. Caso devêssemos suportar
nossa própria culpa, ela nos esmagaria. Mas o Inocente tomou-nos o lugar;
conquanto não a merecesse, Ele assumiu a nossa iniquidade. Se confessarmos os nossos pecados,
Deus é fiel e justo para nos perdoar
os pecados e nos purificar de toda injustiça. 1 João 1:9. Gloriosa
verdade! Justo para com Sua lei, e, todavia Justificador de todos quantos
acreditam em Jesus. Quem, ó Deus, é
semelhante a Ti, que perdoas a iniquidade e que Te esqueces da rebelião do
restante da Tua herança? O Senhor não retém a Sua ira para sempre, porque tem
prazer na benignidade. Miqueias 7:18[33].
[1] CBASD, vol. 5, pp. 337 e
338.
[2] CBASD, vol. 5, p. 338.
[3] CBASD, vol. 5, p. 338.
[4] CBASD, vol. 5 p. 438.
[5] CBASD, vol. 5 p. 438.
[6] CBASD, vol. 5 p. 438.
[7] BJ, p. 1873.
[8] CBASD, vol. 5, p. 438.
[9] CBASD, vol. 1, pp. 623 e
624.
[10] CBASD, vol, 1, p. 825.
[11] CBASD, vol. 1, pp. 1.019
e 1.020.
[12] CBASD, vol. 5, p. 438.
[13] CBASD, vol. 5, p. 283.
[14] CBASD, vol. 5, p. 438.
[15] CBASD, vol. 5, p. 439.
[16] BJ, p. 1874.
[17] CBASD, vol. 5, p. 439.
[18] CBASD, vol. 5, p. 439.
[19] CBASD, vol. 5, p. 439.
[20] CBASD, vol. 5, p. 439.
[21] CBASD, vol. 5, p. 439.
[22] CBASD, vol. 5, p. 439.
[23] CBASD, vol. 5, p. 439.
[24] CBASD, vol. 5, p. 439.
[25] Santo
Isaac, o Sírio (séc. VII), monge em Nínive, perto de Mossul, no actual Iraque,
Discursos ascéticos, 1ª série, n.º 81
[26] Comentário ao Novo
Testamento, Willian Barclay, Editora Clie Mateus, vol. 1, pp.
[27] MM, 2001, No Monte das
Bem aventuranças, George Rua Knight, p. 222.
[28] MM, 2001, No Monte das
Bem aventuranças, George Rua Knight, p. 223.
[29] MM, 2001, No Monte das
Bem aventuranças, George Rua Knight, p. 224.
[30] MM, 2001, No Monte das
Bem aventuranças, George Rua Knight, p. 225.
[31] A Psiquiatria de Deus, Charles
L. Allen, Editora Betânia, pp. 90 a 94.
[32] Parábolas de Jesus,
Ellen Gold White, CPB, pp. 139 a 149.
[33] O Maior Discurso de Cristo, Ellen Gold White, CPB, pp. 113 a 116.