A Verdadeira Grandeza do
Reino
“Bem-aventurados
os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mateus 5:3).
POBRES DE ESPIRITO - Cristo retoma a
palavra pobre com o matiz moral que
já se percebe em Sofonias 2: 3 explicitado aqui pela expressão em
espírito, o que não ocorre em Lucas 6: 20. Despojados e oprimidos,
os pobres ou os humildes
estão disponíveis para o Reino dos Céus, eis o tema das Bem-aventuranças cfe. Lucas 4: 18; 7: 22; Mateus 11: 5;
Lucas 14: 13; Tiago 2:
Parece uma maneira surpreendente.
Reconhecem sua pobreza espiritual, e sentem necessidade de redenção. O
evangelho deve ser pregado ao pobre. Não ao espiritualmente orgulhoso, o que
pretende ser rico e de nada necessita, é Ele revelado, mas aos humildes e
contritos.
O coração orgulhoso esforça-se pôr
alcançar a salvação; mas tanto o nosso título ao Céu, como nossa idoneidade
para ele, encontram-se na justiça de Cristo. O Senhor nada pode fazer para a
restauração do homem enquanto ele, convicto de sua própria fraqueza e despido
de toda presunção, não se entrega a guia divina, Pode então receber o dom que
Deus está à espera de conceder. Coisa alguma é recusada à alma que sente a
própria necessidade. Ela tem ilimitado acesso Àquele em quem habita toda a
plenitude. Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo
nome é Santo: Num alto e santo lugar habito, e também com o contrito e abatido
de espírito para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração
dos contritos. Isaías 57: 15.
Grego: ptochós, palavra que se refere à pobreza extrema, à
miséria. Aqui ptochós
assinala aos que sentem uma verdadeira miséria espiritual e sentem agudamente
sua necessidade das coisas que o reino do céu tem para oferecer-lhes Atos
3: 6; ver comentário Isaias
55: 1. O que não sente sua necessidade espiritual, o que se crê rico, que se tem enriquecido e que de nenhuma
coisa tem necessidade, à vista do
céu é desventurado, miserável, pobre Apocalipse 3: 17. Só os
pobres de espírito entrarão no reino da graça divina. Os demais não
almejam as riquezas do céu e se negam a aceitar suas bênçãos [[2]].
Pobre. Comentário
Marcos 12: 42. Grego: ptochós, mendigo ou indigente. Lucas usa penichrós, uma forma poética mais
recente de pénés, que significa um
que vive com o indispensável e que tem que trabalhar em cada dia a fim de ter
algo que comer ao dia seguinte Lucas 21: 2. Pénés se deriva do verbo pénomai: trabalhar para ganhar a vida. Talvez Jesus queria que se destacasse
o espírito desta viúva em nítido contraste com a atitude dos fariseus para com
as viúvas. A pobreza desta viúva pode ter sido, em parte, da avareza de alguns
dos escribas e fariseus presentes nesta ocasião Mateus 23: 14. Disse
Cristo que eles devoram as casas das viúvas, Marcos 12: 40. Mas
aqui estava uma viúva que, com seu coração transbordante de amor a Deus, jogou tudo o
que tinha, todo seu sustento, verso 44. Que
contraste! [[3]].
Comentário Lucas 4: 18. Os pobres. Os pobres costumavam estar na graça dos inescrupulosos servidores
públicos, comerciantes e vizinhos. Por outra parte, supunha-se geralmente que o
sofrimento por ser pobre se devia à maldição de Deus, que a desgraça do pobre
era por sua própria culpa. Eram poucos os que simpatizavam com a triste
situação do pobre. O supremo amor de Jesus pelos pobres foi uma das grandes
evidências de que era o Messias, e quando João sofria no cárcere, Jesus lhe fez
notar este fato Mateus 11: 5. Os que padecem escassez dos bens deste mundo,
muitas vezes estão conscientes de suas necessidades e de sua dependência de Deus,
e portanto freqüentemente são susceptíveis à pregação do Evangelho. A Boa Nova
de Jesus significa alívio para os pobres, luz para os ignorantes, cura para os
doentes e liberdade para os escravos do pecado.
O povo cria que todo aquele que se interessasse em aliviar as
necessidades do pobre, era especialmente justo; e o dar esmolas chegou a ser
quase sinônimo de ser justo Atos 10:
Jesus estava pensando nos pobres de espírito
Mateus
5: 3, os que tinham necessidades espirituais e não materiais. Cristo
prometeu os recursos infinitos do reino dos céus aos pobres em espírito, aos
que sentem sua necessidade espiritual. Há quem só sentem a necessidade do que
este mundo pode oferecer; e quando se lhes prega o Evangelho deve acordar-se
neles seu interesse pelas coisas espirituais Apocalipse 3: 17 e 18. Os
ricos em fé são aqueles que ouvem e aceitam a mensagem evangélica Mateus
7: 24, e serão herdeiros do reino. Tiago 2: 5 [[4]].
Comentário de Lucas 6: 20. Vocês
os pobres. Lucas parece
dar-lhe às bem-aventuranças uma aplicação mais literal ou material do que Mateus. Esta
interpretação literal se faz ainda mais evidente nos ais que
registra Lucas 6: 24. No
entanto, este relato breve e literal das bem-aventuranças deveria ler-se à luz
da exposição mais completa e detalhada do Sermão do Monte tal como o registra Mateus. O agudo
contraste entre a pobreza, a fome e a perseguição que se sofrem agora e a
bem-aventurança futura verso
Não há nada que ofenda tanto a Deus, e
que seja tão perigoso para a alma humana, como o orgulho e a suficiência
própria, de todos os pecados é o mais desesperador, e o mais incurável [[6]].
Os humildes de espírito não são os
pobres de espírito, como pode sugerir uma infeliz tradução. Eles são sim os que
reconhecem de coração ser pobres no sentido de não poderem
realizar nenhum bem sem a assistência divina, dependência, e não tem nenhum poder em si mesmos que os ajude a
fazer o que Deus requer deles. O reino
dos céus a estes pertence, pois deste reino os orgulhosos por sua
auto-suficiência são inevitavelmente excluídos [[7]].
Parece uma maneira surpreendente de
começar a falar acerca da felicidade ao dizer: Benditos os pobres de espírito!
Há dois enfoques para se chegar ao sentido da palavra pobre. Como aparece nas
Bem aventuranças no grego, a palavra
que se usa para pobre é ptochós, refere-se à palavra Pênés que descreve uma pessoa que tem
que trabalhar para ganhar a vida; definiam os gregos como a palavra que
descreve um homem como autodiákonos, que
quer dizer o homem que atende suas próprias necessidades com suas próprias
mãos; Pênés descreve o trabalhador,
que não tem nada de supérfluo, que não é rico e nem tão pouco indigente. Porém
como temos visto, não é pênés a
palavra que se usa para esta bem-aventurança, mas ptochós, que descreve a pobreza absoluta. Está conectada com a raiz
ptôssein, que quer dizer encolher,
acovardar, a pobreza que golpeia até nos colocar de joelhos. Pênés descreve o homem que não tem nada
de supérfluo; ptochós descreve o
homem que não tem absolutamente nada. Isto torna esta bem-aventurança mais
surpreendente. Não quer dizer: Bendito o homem que está na pobreza absoluta,
bendito o indigente.
Como vimos anteriormente às bem-aventuranças
não foram ditas no grego mas no aramaico. Os judeus tinham uma maneira
especial ao usar a palavra pobre. No hebraico a palavra é ‘aní o ebyôn, estas palavras foram
desenvolvidas em quatro etapas no hebraico
alterando o seu significado.
1.
Iniciou significando
simplesmente pobre.
2.
Passou
a significar, porque é pobre, não possui influência, poder ou prestígio.
3.
Passou
a significar, por não ter influência, portanto é oprimido pelos homens.
4.
Por
último passou a descrever o homem que por não ter nenhum recurso terreno,
coloca toda sua confiança em Deus.
Assim era que no hebraico a palavra pobre
se usava para descrever a pessoa humilde e indigente que colocava toda sua
confiança
Agora analisemos o grego e o aramaico e
juntemos os dois. Ptochós descreve o
homem totalmente indigente, que não tem absolutamente nada;‘aní o ebyôn descreve o pobre, humilde e indefeso que põe toda a
confiança em Deus, portanto esta Bem aventurança quer dizer: Bendito é a pessoa que é consciente de sua
total incapacidade, e que põe toda sua confiança em Deus.Se a pessoa é
consciente de sua total incapacidade e coloca sua confiança em Deus, entrará em
sua vida duas coisas que são muito
preciosas:
1.
Estará totalmente
desligado das coisas.
2.
Dependerá
totalmente de Deus.
Ele saberá que só de Deus poderá vir ajuda,
esperança e força. A pessoa pobre de espírito se dá conta que as coisas não querem
dizer nada, e Deus quer dizer tudo.
Devemos ser cuidadosos em pensar que esta bem
aventurança considera uma coisa boa a miséria material. A pobreza não é boa.
Jesus não estava chamando de bem aventurados os que não tem o que comer, e a
saúde debilitada, por que tudo está contra.Esta classe de pobreza é um mal que
o Evangelho tenta eliminar. Tão pouco ser pobre de espírito é uma apologia para
os que não tem caráter. A pobreza de espírito bendita é quando a pessoa se dá
conta de sua absoluta falta de recursos para enfrentar a vida, e encontra ajuda
e força somente em Deus.
Jesus diz que tal pobreza herdará o Reino dos
Céus. Porque é assim. A oração do Senhor diz: Venha ao teu Reino, seja feita a
Tua vontade assim na Terra como no Céu. Temos a definição. O Reino de
Deus é uma sociedade em que a vontade de Deus se realiza perfeitamente tanto na
Terra como no Céu. Isto quer dizer que só se faz a vontade de Deus os cidadãos
do Reino, e só podemos fazer a vontade de Deus quando somos totalmente
conscientes de nossa absoluta dependência e incapacidade para enfrentarmos a
vida, e somente quando colocamos nossa confiança
“Ah Bem-aventurados os que tem consciência de
sua própria incapacidade, e que coloca toda sua confiança em Deus, porque só
assim pode render a Deus aquela perfeita obediência que o tornará cidadão do
Reino dos Céus” [[8]].
Trata-se de uma atitude de coração, o
reconhecimento da grandeza de Deus e a necessidade de desenvolvimento
espiritual, tendo a sua perfeição como modelo Mateus 5: 48. Essa
atitude é ao contrário do orgulho espiritual, que é um elemento negativo tanto
em nós como nos outros. Jesus jamais usou de ostentação e nunca manifestou
atitudes de soberba. Quer que seus discípulos o imitem. Pede simplicidade,
humildade, mansidão e bondade. O orgulho é uma das raízes principais do pecado:
a humildade de espírito é uma das raízes da vida cristã.
Essa bem-aventurança é um alicerce para as
demais, é uma pedra fundamental. O código ético de Jesus tem como base este
conceito [[9]].
DELES - A compreensão da necessidade
própria é a primeira condição para entrar no Reino da graça de Deus. Pôr estar
consciente de sua própria pobreza espiritual, é o publicano da parábola que desceu
à sua casa justificado antes que o fariseu que estava pleno de justiça própria,
Lucas
18:
Os publicanos, Mateus e Zaqueu junto com Maria Madalena,
aceitaram gostosamente o convite de Cristo que os fariseus rechaçaram [[11]].
REINO
DOS CÉUS
Cristo aqui nos fala tanto de seu futuro Reino
de glória como do Reino de Sua graça divina, no presente. Em seus ensinamentos,
Cristo falou muitas vezes do Reino da graça, e ao coração dos que aceitam sua
soberania celestial. Isto é ilustrado nas parábolas do trigo e do joio, do grão
de mostarda do fermento, do tesouro escondido, da pérola e da rede, Mateus
13: 24, 31, 33 e 47, e muitas outras.
Os judeus concebiam o Reino dos céus
baseado na força que obrigaria as nações da terra a submeter-se a Israel. Porém
o Reino que Cristo veio estabelecer é o que começa no coração dos homens,
penetra em suas vidas e transforma os corações e a vida de outros com dinâmico
e preponderante poder do amor [[12]].
Nesta seção encontramos o ensino de
Jesus sobre o modo como homens e mulheres devem orientar sua conduta ao
tornar-se súditos do reino de Deus, cristalizado na forma de instruções
diretas. Parte deste ensino é encontrada numa forma mais poética nas palavras
ilustrativas pronunciadas por Jesus
Comentário
Mateus 4: 17. O REINO DOS CÉUS. Expressão empregada exclusivamente por
Mateus 31 vezes
O reino dos céus ou reino
de Deus era o tema do ensino de Jesus Lucas 4: 43; 8: 1. Muitas
de suas parábolas começam com as palavras o reino dos céus é semelhante a Mateus 13:
24, 31, 33,
João proclamou a eminência do
estabelecimento do reino dos céus Mateus 3: 2. Jesus também declarou
que o reino se tinha acercado capítulo 4: 17 e instruiu a seus
discípulos, quando os enviou a pregar, que levassem a mesma mensagem capítulo
10: 7.
O reino dos céus se estabeleceu na
primeira vinda de Cristo. Jesus mesmo era o Rei, e os que acreditavam Nele eram
seus súditos. O território desse reino era o coração e a vida dos súditos.
Evidentemente a mensagem de Jesus se referia ao reino da graça divina. Mas,
como Jesus mesmo o indicou claramente, o reino da graça antecedia ao reino da
glória. Com respeito a este último, os discípulos perguntaram no dia da
ascensão: Senhor, restaurarás o reino a Israel neste tempo? Atos 1: 6 e 7.
O reino da graça se tinha acercado nos dias de Cristo Mateus 3: 2; 4: 17; 10: 7,
mas o reino da glória estava no futuro capítulo 24: 33. Só
quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos seus santos anjos com ele,
então se sentará em seu trono de glória. capítulo. 25: 31 [[14]].
Jesus não só falou sobre o reino no íntimo, ou o
reino vindouro, isto é no céu, mas particularmente sobre o reino que ele
esperava firmar sobre a terra, o reino que continuamente anunciara a partir do
batismo, o mesmo reino que
O fariseu e o publicano
Lucas 18: 9 - Contou ainda esta parábola
para alguns que, convencidos de serem justos, desprezavam os outros.
ESTA PARÁBOLA - Não há
uma clara relação entre esta parábola e a anterior a respeito do juiz injusto,
e não há como saber se as duas foram ditas na mesma ocasião. Esta parábola,
como a anterior, foi apresentada durante o mês de março do ano 31 d. C., em algum lugar da região de
Peréia [[16]].
CONVENCIDOS - Confiavam
DE
SEREM JUSTOS - Como
justos. Segundo suas próprias normas de justiça, as quais
os fariseus, observavam rigorosamente, ou pretendiam observar. A norma farisaica
de justiça consistia na estrita observância das leis de Moisés e das tradições
rabínicas. Em essência, era justiça pelas obras. O conceito farisaico,
legalista, da justiça, baseava-se na suposição de que a salvação devia
ganhar-se observando certas regras de conduta, e quase não prestavam atenção à
necessária consagração do coração a Deus e à transformação dos motivos e dos
propósitos da vida. Os fariseus realçavam a letra da lei, mas ignoravam o
espírito dela. O conceito de que a conformidade externa aos requerimentos
divinos era tudo o que Deus pedia, sem considerar o motivo que impulsionava a
cumpri-los, dava forma a sua maneira de pensar e de viver. Jesus tinha
advertido em diversas ocasiões a seus discípulos e a outros na contramão deste
conceito formalista da salvação Mateus 5: 20; 16: 6; Lucas 12: 1 [[18]].
DESPREZAVAM - Menosprezavam. Grego: exouthenéo, desprezar,
menosprezar, ter
Os
outros -
Os fariseus tratavam com desprezo a todos os que não aceitavam sua definição de
justiça nem regiam sua vida de acordo com ela [[20]].
10
- Dois homens subiram ao Templo para orar; um era fariseu e o outro
publicano.
DOIS
HOMENS - Jesus não quis dizer que não tivesse outras pessoas presentes, senão que
só menciona os dois a quem se refere à parábola. Um deles se considerava santo,
e foi ao Templo para se engrandecer diante de Deus e dos homens. O outro se
considerava pecador, e foi ao Templo para confessar seu pecado diante de Deus,
para suplicar sua misericórdia e obter o perdão [[21]].
SUBIRAM - Usa este verbo para referir à subida
desde as partes mais baixas da cidade até o monte Moriá. Para os fariseus
assistir à hora da oração pela manhã e pela tarde, bem como aos outros serviços
do Templo, era um ato de mérito que tinha o propósito de ganhar o favor de Deus
e a aprovação dos homens. A respeito dos atos religiosos celebrados com este
fim, Jesus disse: já têm sua recompensa Mateus 6: 2. Um espírito de
verdadeira humildade ante Deus e nosso próximo é uma das melhores evidências de
conversão Miquéias 6: 8 [[22]].
PARA ORAR - Provavelmente à hora da oração
matutina ou vespertina Lucas 1:
FARISEU - Nesse tempo, o fariseu representava o
mais alto nível de religiosidade judia [[24]].
PUBLICANO - Por outra parte, o publicano
representava o nível mais baixo da escala social judaica [[25]].
11
- O fariseu, de pé, orava interiormente deste modo: Ó Deus, eu te dou
graças porque não sou como o resto dos homens, ladrões, injustos, adúlteros,
nem como este publicano;
DE PÉ - Posto
INTERIORMENTE - Consigo mesmo. Em forma inaudível, só com movimentos de lábios ou em voz muito
baixa. O fariseu possivelmente estava dirigindo a si mesmo e não a Deus. É
possível que o fariseu tivesse se apartado a certa distância dos outros
adoradores reunidos nos átrios do Templo, como se tivesse sido demasiado bom
para juntar-se com eles ainda na oração [[27]].
Ó DEUS DOU-TE GRAÇAS - Sem
dúvida, o que em verdade queria dizer era: Deus Tu deves estar agradecido de
ter uma pessoa como eu entre os que vieram adorar-te. Sou incomparavelmente
superior às pessoas comuns [[28]].
NÃO SOU COMO O RESTO DOS HOMENS - Os outros homens. O resto dos seres humanos.
As pessoas comuns estavam longe de atingir a elevada norma de justiça própria
do fariseu. Sempre é perigoso determinar a medida de nossa justiça
comparando-nos com nosso próximo, não importa qual seja o estado deles Mateus
5: 48. Em notável contraste com a atitude do fariseu, Paulo se
considerou como o primeiro dos pecadores I Timóteo 1: 15 [[29]].
LADRÕES - Grego:
hárpax, ladrão; como adjetivo significa rapaz Mateus 7: 15; Lucas 11: 39.
O fariseu continua então com uma relação dos defeitos que não possui, confiado
em que assim será mais estimado por Deus. Apresenta uma lista de alguns pecados
dos quais não é culpado. Está agradecido por suas próprias virtudes e não pela
justiça e a misericórdia de Deus. Está agradecido de que mediante seu esforço
diligente se manteve estritamente dentro da letra da lei, mas parece
desconhecer totalmente o espírito que deve acompanhar à verdadeira obediência
para que seja aceitável a Deus [[30]].
INJUSTOS - Não tinha quebrantado manifestamente
a lei [[31]].
ADÚLTEROS - Mateus 5:
NEM COMO ESTE PUBLICANO - É
possível que a palavra este se utilize não só para designar ao publicano, senão
para expressar certo desprezo para ele
Lucas 14: 30; 15: 2. Este publicano se destacava porque
podia ser visto ainda estando longe do resto da multidão,
12
- Jejuo duas vezes por semana, pago o dízimo de todos os meus rendimentos.
JEJUO DUAS VEZES - Depois de
apresentar a lista dos pecados de que não era culpado, o fariseu passou a
enumerar as virtudes das quais se orgulhava especialmente, virtudes que sem
dúvida considerava que lhe comprariam a salvação. Segundo os fariseus, se uma
pessoa fazia suficientes atos meritórios, podia cancelar sua dívida de más
ações. Os fariseus se orgulhavam de jejuar Mateus. 6:
O jejum se praticava nas segundas-feiras e
nas quintas-feiras, especialmente nas sete semanas que decorriam entre a páscoa
e Pentecostes, e nos dois meses que separavam o fim da festa dos tabernáculos,
o 22º dia mês sétimo, da festa da dedicação, o 25º dia do mês nono; Levítico
23:
Os cristãos fervorosos jejuavam mais tarde
em quartas-feiras e sextas-feiras em certas épocas do ano, para evitar que se
os confundisse com os judeus que jejuavam nas segundas-feiras e nas
quintas-feiras. Na Didajé 8: 1,
documento cristão não canônico do século
II, faz-se a advertência: Vosso jejum não seja feito em comum com os
hipócritas, porque eles jejuam no segundo e no quinto dia da semana; mas vocês
jejuai o quarto dia e no dia da preparação [[34]].
DÍZIMOS DE TODOS OS MEUS RENDIMENTOS - Dízimos de
tudo. Ainda das coisas que não se mencionavam especificamente na lei
mosaica referente ao dízimo Mateus 23: 23; coisas tais como da hortelã
do endro e do cominho. Isso era mais do que exigia o ensino rabínico [[35]].
13
- O publicano, mantendo-se a distância, não ousava sequer levantar os
olhos para o céu, mas batia no peito dizendo: Meu Deus, tem piedade de mim,
pecador!
MANTENDO-SE À DISTÂNCIA - Estando longe. Provavelmente estava longe do fariseu e dos demais adoradores
porque sabia que todos o olhavam mal. Os demais não se sentiriam alegres de ter
que estar perto de um publicano ver Lucas 3: 12 [[36]].
LEVANTAR OS OLHOS - Alçar os olhos. Jesus levantou os olhos pelo menos uma vez para orar João
17: 1. Compare-se com a descrição de Ezequiel 18: 6, 15; verso 12,
na qual um justo é o que não levantou seus olhos aos ídolos. Acostumava-se orar
de pé, com as mãos levantadas ao céu I Reis 8: 22; Salmo 28: 2; 63: 4; 134: 2; I
Timóteo 2: 8 [[37]].
BATIA
NO PEITO - Golpeava-se o
peito. A atitude do cobrador de impostos testemunhava da sinceridade de suas
palavras e dava uma vívida expressão de seu sentimento de pequenez. Sentia-se
indigno ainda de orar, mas o entendimento de sua necessidade o impulsionava a
fazê-lo [[38]].
TEM PIEDADE - Sê propício. Sê misericordioso, tem compaixão. A primeira condição para ser
aceito por Deus é sentir a necessidade, ter a convicção de que sem a
misericórdia divina estaríamos completamente perdidos. Em contraste com o
fariseu, o publicano sem dúvida pensou em muitos pecados, e sabia que os tinha
praticado; pensou nas virtudes e sabia que não possuía nenhuma delas. Como o
apóstolo Paulo, sentia-se pecador I Timóteo 1: 15, que precisava
desesperadamente a graça divina. A misericórdia é um aspecto do amor divino,
aspecto que não se tinha manifestado e que não podia ter-se conhecido
plenamente até que o pecado entrou no universo. A
misericórdia é a expressão do amor divino manifesto a quem não merece. A
palavra grega que se traduz como sê
propício tem um significado muito parecido ao da palavra hebraica hesed Salmo 36, que costuma ser traduzida
como misericórdia
I
Crônicas 16: 34; Salmo 5 1: 1; 52: 1; 136:
PECADOR - O cobrador de impostos fala como se não tivesse
outros pecadores, como se ele fosse o único I Timóteo 1: 15. Coloca-se numa
classe aparte do fariseu. Não é tão virtuoso como os outros, é o pecador. O
fariseu se considerava muito superior aos demais Lucas 18: 11; o publicano
se considerava muito inferior aos outros [[40]].
14
- Eu vos digo que este último desceu para casa justificado, o outro não.
Pois todo que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.
EU VOS DIGO - Jesus com
freqüência empregou esta expressão para apresentar a declaração de uma verdade
importante ou para dar-lhe maior realce. A empregou para apresentar a conclusão
de um raciocínio ou de uma parábola. Lucas registra repetidas vezes esta
expressão: 4: 25; 9: 27; 10: 24; 12: 51; 13: 3, 5, 27; 17: 34; 18: 8, 14; 19: 40 [[41]].
JUSTIFICADO - Isto é,
aceito por Deus e declarado bem na frente dele. O fariseu cria que era justo verso
9, mas Deus não o considerava assim. O publicano se sentia pecador, e
este reconhecimento abriu o caminho para que Deus o declarasse sem pecado, um
pecador justificado pela misericórdia divina. A diferença estava na atitude dos
dois para consigo mesmos e para com Deus [[42]].
O OUTRO NÃO - Antes que. O fariseu se desqualificou a si
mesmo de maneira que não pôde receber a misericórdia e a graça de Deus. Seu
engrandecimento fechou a porta de seu coração às ricas correntes do amor divino
que produziram gozo e paz no publicano. A oração do fariseu não podia ser
aceitada por Deus porque não estava acompanhada pelo incenso dos méritos de
Jesus Cristo Êxodo 30: 8 [[43]].
EXALTA - Enaltece. Lucas 14: 11; Marcos 9:
LEITURA ADICIONAL
Os Humildes Herdam o
Reino
Cristo ansiava encher o mundo com uma paz e uma
alegria semelhantes aos que se hão de encontrar no mundo celestial... Com
clareza e com poder proferiu Ele as palavras que deveriam ressoar até nossos
dias, como um tesouro de bondade. Que preciosas palavras foram elas, e quão
repletas de animação! De Seus divinos lábios caíram com plena e abundante
certeza de bênçãos que mostraram ser Ele a fonte de toda bondade, e que era Sua
prerrogativa beneficiar e impressionar a mente de todos os presentes. Ele estava
empenhado em Sua peculiar e sagrada ocupação, e achavam-se à Sua disposição os
tesouros da eternidade. Ele não conhecia limites no emprego dos mesmos. Não era
nenhum roubo de Sua parte o agir na qualidade de Deus. Incluía em Suas bênçãos
os que haviam de formar Seu reino neste mundo. Ele trouxera ao mundo toda
bênção essencial à felicidade e alegria de toda pessoa, e perante aquela vasta
assembléia apresentava as riquezas da graça celeste, os acumulados tesouros do
Pai eterno, imortal...
Ele especifica os que se hão de tornar herdeiros
de Deus e co-herdeiros Seus. Proclama publicamente Sua escolha de súditos, e
lhes designa o lugar em Seu serviço como ligados a Ele. Os que possuem o
caráter aí especificado, partilharão com Ele a bem-aventurança e a glória e
honra que Lhe advirão para sempre [[45]].
Como um ensino estranho e novo, estas palavras caem nos ouvidos da
multidão admirada. Semelhante doutrina é contrária a tudo que ouviram dos
sacerdotes e rabinos. Nela não vêem coisa alguma que lisonjeie seu orgulho ou
lhes alimente as ambiciosas esperanças. Irradia, porém, deste novo Mestre um
poder que os conserva como que presos. Dir-se-ia que a doçura do amor divino
transcendesse de Sua presença, como da flor o perfume. Suas palavras caem como
a chuva sobre a erva ceifada, como os chuveiros que umedecem a terra. Salmo 72:
6. Todos sentem instintivamente que existe um Ser capaz de ler os
segredos da alma, e não obstante, deles Se aproxima com terna compaixão. Os
corações a Ele se abrem e, à medida que O escutam, o Espírito Santo lhes
desdobra alguma coisa do significado daquela lição de que a humanidade de todas
as épocas carece.
Nos dias de Cristo os guias religiosos do povo julgavam-se ricos
Jesus apresentara a taça de bênçãos aos que se julgavam ricos e de nada
carecidos Apocalipse 3: 17, e eles, com escárnio, volveram costas à
dádiva misericordiosa. Aquele que se julga são, que pensa ser razoavelmente bom
e se satisfaz com o seu estado, não procura tornar-se participante da graça e
justiça de Cristo. O orgulho não sente necessidade, fechando, pois, o coração a
Cristo e às bênçãos infinitas que Ele veio dar. Não há lugar para Jesus no
coração dessa pessoa. Os que são ricos e honrados aos próprios olhos, não oram
com fé, para receberem a bênção de Deus. Presumem estar cheios, por isso se
retiram vazios. Os que sabem que não se podem salvar a si mesmos, nem de si
praticar qualquer ação de justiça, são os que apreciam o auxílio que Cristo
pode conceder. São eles os humildes de espírito, aos quais Ele declara
bem-aventurados.
Aquele a quem Cristo perdoa, faz Ele primeiro penitente, e é função do
Espírito Santo convencer do pecado. Aquele cujo coração foi movido pela
convicção comunicada pelo Espírito de Deus, vê que em si mesmo nenhum bem
existe. Vê que tudo que já fez está misturado com o próprio eu e o pecado. Como
o pobre publicano, fica a distância, não ousando erguer os olhos ao céu, e
clamam: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! Lucas 18: 13. Essas
pessoas são abençoadas. Há perdão para o penitente, pois Cristo é o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. João 1:
Dos humildes de espírito, diz Jesus: Deles é o reino dos Céus. Mateus
5: 3. Este reino não é, como esperavam os ouvintes de Cristo, um
domínio temporal e terreno. Cristo estava a abrir aos homens o reino espiritual
de Seu amor, Sua graça, Sua justiça. A insígnia do reino do Messias
distingue-se pela imagem do Filho do homem. Seus súditos são os humildes de
espírito, os mansos, os perseguidos por causa da justiça. Deles é o reino dos
Céus. Conquanto não se tenha ainda realizado plenamente, iniciou-se neles a
obra que os tornará idôneos para participar da herança dos santos na luz. Colossenses 1: 12.
Todos os que têm a intuição de sua profunda pobreza de alma e vêem que
em si mesmos nada possuem de bom, encontrarão justiça e força olhando a Jesus.
Diz Ele: Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos. Mateus 11: 28.
Ele vos ordena que troqueis a vossa pobreza pelas riquezas de
Sua graça. Não somos dignos do amor de Deus, mas Cristo, nossa
segurança, é digno, e capaz de salvar abundantemente todos os que forem a Ele.
Qualquer que tenha sido vossa vida passada, por mais desanimadoras que
sejam vossas circunstâncias presentes, se fordes a Jesus exatamente como sois,
fracos, incapazes e em desespero, nosso compassivo Salvador irá grande
distância ao vosso encontro, e em torno de vós lançará os braços de amor e as
vestes de Sua justiça. Ele nos apresenta ao Pai, trajados nas vestes brancas de
Seu próprio caráter. Ele roga a Deus em nosso favor, dizendo: Eu tomei o lugar
do pecador. Não olhes a este filho desgarrado, mas a Mim. E quando Satanás
intervém em altos brados contra nossa alma, acusando-nos de pecado, e
reivindicando-nos como presa sua, o sangue de Cristo intercede com maior poder.
De Mim se dirá: Deveras no Senhor há justiça e força... No
Senhor será justificada e se gloriará toda a descendência de Israel. Isaias 45:
24 e 25 [[46]].
Um Sinal de Grandeza
A uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam
os outros, dirigiu Cristo a parábola do fariseu e do publicano. O fariseu sobe
ao Templo para adorar, não porque sente ser pecador necessitado de perdão, mas
por julgar-se justo e esperar obter elogio. Considera sua adoração um ato
meritório que o recomendará a Deus. Simultaneamente dará ao povo uma
demonstração elevada de sua piedade. Esperava assegurar-se o favor de Deus e
dos homens. Sua adoração é motivada pelo interesse próprio.
Está cheio de louvor próprio. Isto é evidente em seu olhar, porte e
oração. Apartando-se dos outros, como se quisesse dizer: Não vos chegueis a mim, porque
sou mais santo do que vós, põe de pé e ora consigo. Isaias 65: 5.
Todo satisfeito consigo mesmo, pensa que Deus e os homens o consideram com
igual complacência.
Ó Deus, graças Te dou, disse, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e
adúlteros; nem ainda como este publicano. Lucas 18: 11. Julga seu
caráter, não pelo caráter santo de Deus, mas pelo caráter de outros homens. Seu
espírito desvia-se de Deus para a humanidade. Este é o segredo de sua
satisfação própria.
Prossegue enumerando suas boas ações: Jejuo duas vezes na semana e dou
os dízimos de tudo quanto possuo. Lucas 18:
Todo aquele que em si mesmo confia que é justo, desprezará os demais.
Como o fariseu, julga a si próprio por outros homens, julga aos outros por si.
Sua justiça é avaliada pela deles, e quanto piores, tanto mais justo parece
ele. Sua justiça própria leva-o a acusar. Os demais homens, condena ele como
transgressores da lei de Deus. Deste modo manifesta o próprio espírito de
Satanás, o acusador dos irmãos. Impossível lhe é neste espírito entrar
O publicano entrou no Templo juntamente com outros adoradores, mas, como
se fosse indigno de tomar parte na devoção, apartou-se logo deles. Estando
em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito,
em profunda angústia e aversão própria. Sentia que transgredira a lei de Deus e
era pecador e poluído. Não podia esperar nem mesmo piedade dos circunstantes;
porque todos o observavam com desprezo. Sabia que em si não tinha méritos para
recomendá-lo a Deus, e em absoluto desespero, clamou: Ó Deus, tem misericórdia de mim,
pecador! Lucas 18: 13. Não se comparou com outros. Esmagado por um
senso de culpa, estava como que só, na presença de Deus. Seu único desejo era
alcançar paz e perdão; sua única súplica, a bênção de Deus. E foi abençoado. Digo-vos,
disse Cristo, que este desceu justificado para sua casa, e não aquele. Lucas 18: 14.
O fariseu e o publicano representam os dois grandes grupos em que se dividem
os adoradores de Deus. Seus primeiros representantes encontram-se nos dois
primeiros filhos nascidos neste mundo. Caim julgava-se justo, e foi a Deus com
uma simples oferta de gratidão. Não fez confissão de pecado, nem reconheceu que
carecia de misericórdia. Abel, porém, foi com o sangue que apontava ao Cordeiro
de Deus. Foi como pecador que confessava estar perdido; sua única esperança era
o imerecido amor de Deus. O Senhor Se agradou de seu sacrifício, mas de Caim e
de sua oferta não Se agradou. A intuição de necessidade, o reconhecimento de
nossa pobreza e pecado, é a primeira condição para sermos aceitos por Deus. Bem-aventurados
os pobres de espírito, porque deles é o reino dos Céus. Mateus 5: 3.
Para cada um dos grupos representados pelo fariseu e o publicano, há uma
lição na história do apóstolo Pedro. Na primeira parte de seu discipulado,
Pedro tinha-se por forte. Semelhante ao fariseu, não era a seus olhos como
os demais homens. Lucas 18: 11. Quando Cristo, na
noite em que foi traído, preveniu Seus discípulos: Todos vós esta noite vos
escandalizareis
Quando o cantar do galo lhe lembrou as palavras de Cristo, surpreso e
atônito pelo que acabava de fazer, voltou-se e olhou a seu Mestre. Simultaneamente
Cristo olhou a Pedro e sob aquele olhar aflito em que se misturavam amor e
compaixão por ele, Pedro conheceu-se. Saiu e chorou amargamente. Aquele olhar
de Cristo lhe partiu o coração. Pedro chegara ao ponto decisivo, e amargamente
se arrependeu de seu pecado. Foi como o publicano em sua contrição e
arrependimento, e como o publicano achou também graça. O olhar de Cristo lhe
assegurou o perdão.
Findou aí sua confiança própria. Nunca mais foram repetidas as velhas
afirmações de auto-suficiência. Depois da ressurreição, três vezes provou
Cristo a Pedro. Simão, filho de Jonas, disse, amas-Me mais do que estes? João
21: 15. Pedro agora não se exaltou sobre os irmãos. Apelou Àquele que
podia ler o coração. Senhor, respondeu, Tu
sabes tudo; Tu sabes que eu Te amo. João 21: 17.
Recebeu então Sua incumbência. Foi-lhe apontada uma obra mais ampla e
mais delicada que antes. Cristo lhe ordenou apascentar as ovelhas e os
cordeiros. Confiando-lhe ao cuidado as pessoas pelas quais o Salvador depusera
a vida, deu Cristo a Pedro a maior prova de estar convencido de sua
reabilitação. O discípulo outrora inquieto, orgulhoso, confiante em si mesmo,
tornara-se submisso e contrito. Desde então, seguiu o seu Senhor em abnegação e
sacrifício próprio. Era participante dos sofrimentos de Cristo; e quanto Ele Se
assentar no trono de Sua glória, Pedro será um participante da mesma.
O mesmo mal que levou Pedro à queda e excluiu da comunhão com Deus o
fariseu, torna-se hoje a ruína de milhares. Nada é tão ofensivo a Deus nem tão
perigoso para o espírito humano como o orgulho e a presunção. De todos os
pecados é o que menos esperança incute, e o mais irremediável.
A queda de Pedro não foi repentina, mas gradual. A confiança em si mesmo
induziu-o à crença de que estava salvo, e desceu passo a passo o caminho
descendente até negar a Seu Mestre. Jamais podemos confiar seguramente em nós
mesmos ou sentir, aquém do Céu, que estamos livres da tentação. Nunca se deve
ensinar aos que aceitam o Salvador, conquanto sincera sua conversão, que digam
ou sintam que estão salvos. Isso é enganoso. Deve-se ensinar cada pessoa a
acariciar esperança e fé; mas, mesmo quando nos entregamos a Cristo e sabemos
que Ele nos aceita não estamos fora do alcance da tentação. A Palavra de Deus
declara: Muitos serão purificados, e embranquecidos, e provados. Daniel 12: 10.
Só aquele que sofre a tentação... receberá a coroa da vida. Tiago 1: 12.
Os que aceitam a Cristo e dizem em sua primeira confiança: Estou
salvo! estão em perigo de depositar confiança
Era necessário que Pedro conhecesse seus próprios defeitos de caráter e
a necessidade de receber de Cristo poder e graça. O Senhor não podia livrá-lo
da tentação, mas sim salvá-lo da derrota. Estivesse Pedro disposto a aceitar a
advertência de Cristo, teria vigiado
Foi pela presunção que Pedro caiu; e por arrependimento e humilhação
seus pés foram firmados novamente. No relatório de sua experiência todo pecador
penitente pode achar encorajamento. Embora Pedro tivesse pecado gravemente, não
foi abandonado. As palavras de Cristo: Roguei por ti, para que a tua fé não
desfaleça, estavam-lhe escritas no mais íntimo do ser. Lucas
22: 32. Em sua amarga agonia de remorso, esta oração e a lembrança do
terno e misericordioso olhar de Cristo, deram-lhe esperança. Depois da
ressurreição, lembrou-se Cristo de Pedro e deu ao anjo a mensagem para as
mulheres: Ide, dizei a Seus discípulos e a Pedro que Ele vai adiante de vós para
a Galiléia; ali O vereis. Marcos 16: 7. O arrependimento de Pedro foi
aceito pelo Salvador compassivo.
E a mesma compaixão manifestada para salvar a Pedro é oferecida a todo
indivíduo que caiu em tentação. É o ardil especial de Satanás levar o homem ao
pecado e, então, deixá-lo desamparado e tremente, receando suplicar perdão. Por
que devemos temer, se Deus disse: Que se apodere da Minha força e faça paz
comigo; sim, que faça paz comigo.? Isaias 27: 5. Foram tomadas todas as
providências para nossas fraquezas e oferecido todo encorajamento para nos
chegarmos a Cristo.
Cristo ofereceu Seu corpo quebrantado para readquirir a herança de Deus,
para dar ao homem outra prova. Portanto, pode também salvar perfeitamente
os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.
Hebreus 7: 25. Por Sua vida imaculada, obediência e morte na cruz do
Calvário, intercedeu Cristo pela raça perdida. E agora o Príncipe de nossa
salvação não intercede por nós como mero peticionário, mas como um Conquistador
que reclama a vitória. Seu sacrifício está consumado e como nosso Intercessor
cumpre a obra que a Si mesmo Se impôs, apresentando a Deus o incensário que
contém os Seus méritos imaculados e as orações, confissões e ações de graças de
Seu povo. Perfumados com a fragrância de Sua justiça, sobem como cheiro suave a
Deus. A oferenda é inteiramente aceitável, e o perdão cobre todas as
transgressões.
Cristo Se comprometeu a ser nosso substituto e fiador, e não despreza
ninguém. Ele, que não pôde ver seres humanos sujeitos à ruína eterna sem
entregar Sua vida à morte por eles, contemplará com piedade e compaixão todo
aquele que reconhece não poder salvar-se a si próprio. Não contemplará nenhum
trêmulo suplicante, sem soerguê-lo. Ele, que pela expiação proveu ao homem um
infinito tesouro de força moral, não deixará de empregar esse poder
Em todo o poderio satânico não há força para vencer uma única pessoa que
se rende confiante a Cristo. “Dá vigor ao cansado e multiplica as forças ao que
não tem nenhum vigor” (Isaias 40: 29). “Se confessarmos os nossos pecados,
Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda
injustiça” (I João 1: 9). “O Senhor diz: Somente reconhece a tua iniqüidade,
que contra o Senhor, teu Deus, transgrediste” (Jeremias 3:13). “Então,
espalharei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas
imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei” (Ezequiel 36:25).
Todavia precisamos ter conhecimento de nós mesmos, conhecimento que
resultará em contrição, antes de podermos achar perdão e paz. O fariseu não
sentia convicção de pecado. O Espírito Santo não podia nele atuar. Sua vida
apoiava-se numa couraça de justiça própria, a qual as setas de Deus, farpadas e
desferidas pelos anjos, não podiam penetrar. Cristo só pode salvar quem
reconhece ser pecador. “Veio a curar os quebrantados do coração, a apregoar
liberdade aos cativos, e dar vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos”
(Lucas 4: 18 e 19). “Mas não necessitam de médico os que estão sãos” (Lucas 5:
31). Precisamos conhecer nossa verdadeira condição, do contrário não sentiremos
nossa carência do auxílio de Cristo. Precisamos compreender nosso perigo, senão
não correremos ao refúgio. Precisamos sentir a dor de nossas feridas, senão não
desejaremos cura.
O Senhor diz: “Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada
tenho falta ; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e
nu, aconselho-te que de Mim compres ouro provado no fogo, para que te
enriqueças, e vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da
tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas”. (Apocalipse
3: 17 e 18). O ouro provado no fogo é a fé que opera por amor. Somente isto nos
pode pôr
Nenhum homem pode de si mesmo entender seus erros. “Enganoso é o
coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jeremias
17: 9). Os lábios podem exprimir uma pobreza de espírito que o coração não reconhece.
Ao passo que fala a Deus de pobreza de espírito, pode o coração ensoberbecer-se
com a presunção de sua humildade superior e exaltada justiça. Só de um modo o
verdadeiro conhecimento do próprio eu pode ser alcançado. Precisamos olhar a
Cristo. O desconhecimento Dele é que dá aos homens uma tão alta idéia de sua
própria justiça. Ao contemplarmos Sua pureza e excelência, veremos nossa
fraqueza, pobreza e defeitos, como realmente são. Ver-nos-emos perdidos e sem
esperança, vestidos com o manto da justiça própria, como qualquer pecador.
Veremos que se afinal formos salvos, não será por nossa própria bondade, mas
pela graça infinita de Deus.
A oração do publicano foi ouvida porque denotava submissão,
empenhando-se para apoderar-se da Onipotência. O próprio eu nada parecia ao
publicano senão vergonha. Assim precisa ser considerado por todos os que buscam
a Deus. Pela fé, que renuncia a toda confiança própria, precisa o necessitado
suplicante apropriar-se do poder infinito.
Nenhuma cerimônia exterior pode substituir a simples fé e a renúncia
completa do eu. Todavia ninguém se pode esvaziar a si mesmo do eu. Somente
podemos consentir
Não é só no princípio da vida cristã que esta entrega do próprio eu deve
ser feita. Deve ser renovada a cada passo dado
Quanto mais nos achegarmos a Jesus e mais claramente discernirmos a
pureza de Seu caráter, tanto mais claramente discerniremos a extraordinária
malignidade do pecado, e tanto menos teremos a tendência de nos exaltar.
Aqueles a quem o Céu considera santos, são os últimos a alardear sua própria
bondade. O apóstolo Pedro tornou-se um fiel servo de Cristo e foi grandemente
honrado com luz e poder divinos; e tomou parte ativa na edificação da igreja de
Cristo; entretanto, Pedro jamais se esqueceu da tremenda experiência de sua
humilhação; seu pecado foi perdoado; contudo bem sabia que unicamente a graça
de Cristo lhe podia valer naquela fraqueza de caráter que lhe ocasionou a
queda. Em si mesmo nada achava de que se gloriar.
Nenhum dos apóstolos e profetas jamais pretendeu estar isento de pecado.
Homens que viveram mais achegados a Deus, homens que sacrificariam antes a vida
a cometer conscientemente uma ação injusta, homens que Deus honrou com luz e
poder divinos, confessaram a pecaminosidade de sua natureza. Nunca confiaram na
carne, nunca pretenderam ser justos em si mesmos, mas confiaram inteiramente na
justiça de Cristo. O mesmo se dará com todos os que contemplam a Cristo.
A cada avanço na experiência cristã nosso arrependimento
aprofundar-se-á. Justamente àqueles a quem Deus perdoou e reconhece como Seu
povo, diz Ele: “Então, vos lembrareis dos vossos maus caminhos e dos vossos
feitos, que não foram bons; e tereis nojo em vós mesmos das vossas
maldades e das vossas abominações” (Ezequiel 36: 31). “Outra vez, diz:
Estabelecerei o Meu concerto contigo, e saberás que Eu sou o Senhor; para que
te lembres, e te envergonhes, e nunca mais abras a tua boca, por causa da tua
vergonha, quando Me reconciliar contigo de tudo quanto fizeste, diz o Senhor
Iahweh” (Ezequiel 16: 62 e 63). Então nossos lábios não se abrirão para nos
gloriarmos. Saberemos que só em Cristo temos suficiência. Faremos nossa a
confissão do apóstolo: “Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita
bem algum” (Romanos 7: 18). “Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz
de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu,
para o mundo” (Gálatas 6: 14).
Em harmonia com esta experiência está o mandamento: “Operai a vossa
salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer
como o efetuar, segundo a Sua boa vontade” (Filipenses 2: 12 e 13). Deus não
vos ordena temer que deixará de cumprir Suas promessas, que Sua paciência se
cansará ou que Sua compaixão há de faltar. Temei que vossa vontade não seja
mantida em sujeição à vontade de Cristo, que vossos traços de caráter herdados
e cultivados vos dominem a vida. Porque Deus é o que opera em vós tanto o
querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade. Temei que o próprio eu se
interponha entre vosso espírito e o grande Artífice. Temei que vossa obstinação
frustre o elevado propósito que, por vosso intermédio, Deus deseja alcançar.
Temei confiar na própria força; temei retirar da mão de Cristo a vossa mão e
tentar caminhar pela estrada da vida sem Sua presença permanente.
Precisamos evitar tudo quanto estimule o orgulho e a presunção;
portanto, devemos acautelar-nos de fazer ou receber lisonjas ou louvores.
Lisonjear é obra de Satanás. Procede ele tanto com bajulações, quanto acusando
e condenando. Deste modo procura causar a ruína da alma. Aqueles que
louvam os homens, são usados por Satanás como agentes seus. Esquivem-se os
obreiros de Cristo de toda palavra de elogio. Elimine-se de vista o próprio eu.
Cristo, somente, deve ser exaltado. Dirija-se todo olhar e ascenda o louvor de
cada coração “Àquele que nos ama, e em Seu sangue no lavou dos nossos pecados”
(Apocalipse 1: 5).
A vida em que é acariciado o temor do Senhor não será uma vida de
tristeza e melancolia. É a ausência de Cristo que torna triste a fisionomia, e
a vida uma peregrinação de gemidos. Quem muito se considera e está cheio de
amor-próprio, não sente a necessidade de união vital e pessoal com Cristo. O
coração que não caiu sobre a Rocha, vangloria-se de sua integridade. Os homens
desejam uma religião dignificada. Desejam caminhar num caminho fácil para
admitir seus bons predicados. Seu amor-próprio e sua ambição de popularidade e
elogio excluem do coração o Salvador, e sem Ele só há melancolia e sombra. Mas
Cristo habitando na vida é uma fonte de alegria. Para todos os que O aceitam, a
nota predominante da Palavra de Deus é o regozijo.
“Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade e cujo
nome é santo: Em um alto e santo lugar habito e também com o contrito e abatido
de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e para vivificar o coração
dos contritos” (Isaias 57: 15).
Foi quando Moisés estava oculto na fenda da rocha, que mirou a glória de
Deus. E quando nos escondemos na Rocha partida é que Cristo nos cobrirá com Sua
mão traspassada e ouviremos o que o Senhor diz a Seus servos. A nós como a
Moisés, Deus Se revelará como “misericordioso e piedoso, tardio em iras e
grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que
perdoa a iniqüidade, e a transgressão, e o pecado” (Êxodo 34: 6 e 7).
A obra da redenção envolve conseqüências das quais é difícil ao
homem ter qualquer concepção. “As coisas que o olho não viu, e o ouvido não
ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que O
amam” (I Corintios 2: 9). Aproximando-se o pecador da cruz erguida, e
prostrando-se junto à mesma, atraído pelo poder de Cristo, dá-se uma nova
criação. É-lhe dado um novo coração. Torna-se uma nova criatura
“Assim diz o Senhor, o Redentor de Israel, o seu Santo, à alma
desprezada, ao que as nações abominam... os reis O verão e se levantarão; os
príncipes diante de Ti se inclinarão, por amor do Senhor, que é fiel, e do
Santo de Israel, que te escolheu” (Isaias 49: 7).
“Porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que
a si mesmo se humilha será exaltado” (Lucas 18: 14[47]).
[1] BJ, p. 1.845.
[2] CBASD, vol. 5, p. 316.
[3] CBASD, vol. 5, p. 633.
[4] CBASD, vol. 5, pp. 710 e 711.
[5] CBASD, vol. 5, p. 729.
[6] Parábolas de Jesus, p. 119.
[7] Mateus, Introdução e Comentário, R. V. G. Tasker, Mundo Cristão, pp. 48 e 49.
[8] Comentário
ao Novo Testamento, Mateus, vol. 1, William Barclay. Editora Clie, pp.
[9] ONTIVV, Russell Norman Champlin, Ph. D. Vol. 1, pp. 303 e 304.
[10] CBASD, vol. 5, p. 316.
[11] Camino de Felicidad, Taylor G. Bunch, p. 25.
[12] CBASD vol. 5, p. 316.
[13] Mateus, Introdução e Comentário, R. V. G.
Tasker, Mundo Cristão, pp. 47 e 48.
[14] CBASD, vol. 5 pp. 309 e
310..
[15] ONTIVV, Russell Norman
Champlin, Ph. D. Vol. 1, p. 304..
[16] CBASD, vol. 5 p. 825.
[17] CBASD, vol. 5 p. 824.
[18] CBASD, vol. 5 p. 824.
[19] CBASD, vol. 5 pp. 824 e 825.
[20] CBASD, vol. 5 p. 825.
[21] CBASD, vol. 5 p. 825.
[22] CBASD, vol. 5 p. 825.
[23] CBASD, vol. 5 p. 825.
[24] CBASD, vol. 5 p. 825.
[25] CBASD, vol. 5 p. 825.
[26] CBASD, vol. 5 p. 825.
[27] CBASD, vol. 5 p. 825.
[28] CBASD, vol. 5 p. 825.
[29] CBASD, vol. 5 p. 825.
[30] CBASD, vol. 5 p. 825.
[31] CBASD, vol. 5 p. 825.
[32] CBASD, vol. 5 p. 825.
[33] CBASD, vol. 5 pp. 825 e 826.
[34] CBASD, vol. 5 p. 826.
[35] CBASD, vol. 5 p. 826.
[36] CBASD, vol. 5 p. 826.
[37] CBASD, vol. 5 p. 826.
[38] CBASD, vol. 5 p. 826.
[39] CBASD, vol. 5 p. 826.
[40] CBASD, vol. 5 p. 826.
[41] CBASD, vol. 5 p. 826.
[42] CBASD, vol. 5 pp. 826 e 827.
[43] CBASD, vol. 5 p. 827.
[44] CBASD, vol. 5 p. 827.
[45] Manuscrito 118, 1905.
[46] O Maior Discurso de Cristo, pp.
[47] Parábolas de Jesus, pp.