O Pranto
Que Resulta Em Bênçãos
5 - Bem-aventurados os aflitos,
porque serão consolados.
Os códices D 33 565 700 Sy e o pai
Clemente Alexandrino 212 d. C.
invertem a ordem dos versos 4 e 5. Algumas autoridades
sobre questões textuais aceitam esta versão como original, como a Bíblia Jerusalém, mas a maioria prefere a ordem familiar.
Todas as traduções usadas para
comparação, neste comentário, retêm a ordem usual, exceto F, que evidentemente
segue autoridades. A coerência lógica
das sentenças parece igualmente boa de um modo ou de outro. A maioria das evidências dadas pelos manuscritos
indica que a ordem familiar era a original[1].
CHORAM - O pranto que dá
direito a consolação é o que tem pôr objeto os pecados, o afastamento de Deus,
as misérias do exílio terreno[2].
Pôr
estas palavras Cristo não ensina que o chorar em si mesmo tenha poder para
remover a culpa do pecado. Não sanciona a suposta ou voluntária humildade. O
choro a que Se refere, não consiste em melancolia e lamentação. Ao passo que
nos afligimos pôr causa do pecado, cumpre-nos regozijar-nos no precioso
privilégio de ser filhos de Deus.
A verdadeira tristeza pelo pecado é o
resultado da operação do Espírito Santo. Este revela a ingratidão da alma que
menosprezou e ofendeu o Salvador, levando-nos contritos ao pé da cruz. Pôr todo
o pecado é Jesus novamente ferido; e ao olharmos Àquele a quem traspassamos,
choramos as transgressões que lhe trouxeram angústia. Tal pranto levará a
renúncia do pecado.
Os mundanos talvez considerem este
choro uma fraqueza; mas é a força que liga o penitente ao Infinito com laços
que não se podem romper. Mostra que os anjos de Deus estão outra vez trazendo á
alma as graças perdidas mediante a dureza de coração e as transgressões. As
lágrimas do penitente não são senão as gotas de chuva que precedem o sol da
santidade. Esse sol prenuncia o regozijo que será uma viva fonte n'alma.
Para os que choram em
provação e dor, existe conforto. A amargura do desgosto e da humilhação é
preferível às satisfações do pecado. Pôr meio da aflição revela-nos Deus os
lugares infeccionados em nosso caráter, para que, por Sua graça, possamos
vencer nossas faltas... Quando provados, não nos devemos afligir e impacientar.
Não nos devemos rebelar, ou buscar fugir à mão de Cristo. Antes humilhar a alma
perante Deus. Os caminhos do Senhor são de misericórdia, e o fim é salvação[3].
Grego: pentheo, palavra que costuma indicar uma dor intensa em contraste com lupéomai, termo mais genérico que
significa mais bem entristecer-se Mateus 14: 9; I Pedro 1: 6. Assim, a
profunda pobreza espiritual dos pobres
Os que choram
são os que lamentam tanto os seus pecados e falhas, como o mal tão
preponderante no mundo, causando tanto sofrimento e miséria. A simpatia que
nasce desta lamentação traz consolação desde agora para aqueles que a praticam.
E o dia certamente chegará quando Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima.
Apocalipse 21: 4[5].
Temos que notar desde o princípio ao estudar esta bem-aventurança que a
palavra chorar que se usa aqui é a
mais forte que existe no grego. É
usada para referir-se a funerais, para expressar o profundo lamento frente à
morte de alguém que tinha sido muito amado. Na Septuaginta, a versão grega do NT,
se usa o choro de Jacó, quando soube da morte de seu filho José Gênesis
37: 34. Se define como a classe de lamento que se apodera de uma pessoa
que não pode ocultar. Não é uma dor específica que produz dor no coração, mas
incontáveis lágrimas.
Há três maneiras de ler esta Bem-aventurança:
1. Literalmente. Bendita a pessoa que suporta a dor mais
amarga que a vida pode produzir! Os árabes tem um provérbio: A luz do Sol produz um deserto. A terra em que sempre brilha o Sol acabará
convertendo-se num lugar árido que não pode crescer vida. Há certas coisas que
só a chuva pode produzir, e certas coisas só germinam na dor.
A aflição pode produzir duas coisas
2. Quando pensamos na primeira bem-aventurança vemos que sempre estará
bem desligar-se das coisas, porém não desligar-se das pessoas. Esse mundo seria
muito mais pobre se não houvessem pessoas que se compadecessem da dor e do
sofrimento do próximo. O Lord Shaftsbury foi um benemérito que dedicou sua vida
em favor dos menos favorecidos. Ele se sensibilizava com o sofrimento do
necessitado.
Quando era jovem e estudava em Harrow, ia por uma estrada quando
encontrou um funeral de um pobre. O ataúde era uma caixa feia e mal feita. Era
levada por um carro de mão por quatro homens que estavam bêbados, enquanto
empurravam o carro de mão com o caixão iam cantando canções indecentes e
gesticulando entre eles.
Quando estavam subindo uma encosta com o carro de mão, a caixa que era o
caixão funerário caiu do carro e se arrebentou. Alguns começaram a rir, outros
seguiram o caminho, outros se assustaram e outros deram de ombros, dizendo que
aquele problema não era deles, ainda que a situação era de pena. O jovem
Shaftsbury disse para si mesmo: “Quando crescer vou dedicar minha vida para que
estas coisas não aconteçam”. Depois deste incidente dedicou sua vida para
cuidar dos que necessitavam.
O cristianismo é cuidar dos demais. O que quer dizer a bem-aventurança:
Bendito o que se interessa intensamente pelos sofrimentos, angústias e
necessidade do próximo.
3. O principal pensamento desta bem-aventurança é: Bendito é a pessoa
que está desesperadamente dolorida por seu próprio pecado e indignidade.
A primeira mensagem de Jesus foi: “Arrependei-vos”. Arrepender-se quer
dizer abandonar os pecados. O que realmente muda em uma pessoa é encontrar-se
pronto de frente com algo que abra seus olhos e tome uma atitude frente ao
pecado. Um menino e uma menina podem ter uma vida sem pensar nos seus atos e
suas conseqüências, porém se em algum dia sucede algo o menino ou a menina vêem
a tristeza nos olhos dos pais, então de pronto tem consciência de que pecaram.
Este é o efeito que produz a cruz
O cristianismo inicia por um sentimento de aversão pelo pecado. Bendita
a pessoa que está intensamente consciente do que é pecado, cujo coração se
quebranta ao pensar no que fez a Deus e a Jesus, vê a cruz e sente oprimida
pelo estrago causado pelo pecado.
Quem passou por esta experiência será consolado, esta experiência se
chama penitência, do latin: penitenciar,
condoer, dolorir, o coração contrito e humilhado Deus jamais desprezará Salmo
51: 17. O caminho que conduz ao gozo do perdão passa pela dor
desesperada de um coração quebrantado.
Ah! Bem aventurado a pessoa que tem o
coração destroçado ante o sofrimento do mundo, e por seu próprio pecado, porque
em sua dor encontrará o gozo do Senhor[6].
Jesus falava novamente de um exercício espiritual, e não da expressão de
tristeza pessoal devido perda pessoal. Aludia à tristeza devido ao pecado, à
necessidade de arrependimento, ou alguém que sofria tristeza não merecida, por
motivo de perseguição por causa da justiça. Essa bem-aventurança parece ter
base em Isaias 61:
SERÃO
CONSOLADOS - Receberão consolação.
Grego: parakaléô, chamar
ao lado de, pedir ajuda, mandar chamar; também exortar, alegrar, consolar, reanimar, animar. Um verdadeiro amigo é
um paráklètos, e sua ajuda se
denomina paráklèsis.
Assim como Deus satisfaz a necessidade
espiritual com as riquezas da graça do céu verso 3, assim também responde ao
pranto pelo pecado com o consolo dos pecados perdoados. Se não se experimenta
primeiro uma sensação de necessidade, não se pode lamentar pelo que falta,
neste caso a retidão de caráter. Lamentar-se pelo pecado é, pois, o segundo
requisito para os que se apresentam como candidatos para o reino dos céus, e
sua seqüência, em forma natural, é depois do primeiro passo[8].
A chegada do Messias que é denominado o consolo de Israel
Isaias 61: 2; Lucas 2: 25, indica que Israel tinha razões para aguardar
tal consolo. Israel, dessa forma, poderia livrar-se de adversários opressivos,
nacionais ou individuais. Esse lamento não tem causa apenas no pecado, mas
também nos resultados do pecado no seio da sociedade. Provavelmente Jesus
inclui ambas as possibilidades. Paulo menciona a opressão exercida pelo mundo,
bem como a nossa ansiedade de libertação
Romanos
8: 18 e 19; II Corintios 4: 17; João 14: 3.
Aqueles que aprendem a permitir que a opressão, pessoal ou impessoal,
sirva de instrumento de instrução, que os conduza ao arrependimento e à
dependência de Deus, poderão encontrar, no fim um bom resultado de seu choro e
assim serão verdadeiramente Bem aventurados. Essa bem-aventurança é proveniente
do consolo divino, consolo no perdão e na restauração, bem como na participação
na manifestação dos filhos de Deus conforme os ensinos de Paulo.
Aprendemos que o dardo do sofrimento pode ser armado com a vida, e não
com o veneno da morte. Podemos chorar de muitos modos: pelos nossos pecados;
pelos pecados de nossa nação, pelos amigos e conhecidos; pelos males humanos;
pelos sofrimentos alheios. Aqueles que choram não se contentam com uma vida não
examinada, a qual, segundo disse Sócrates, nem é digna de ser vivida[9].
SALMO 51: INTRODUÇÃO
É um Salmo penitencial. Davi se destaca
como um dos grandes penitentes da Bíblia Salmos 6, 32, 38, 51, 102, 130 e 143.
É verdade que pecou gravemente, e também é verdade que repudiou energicamente o
pecado, rendendo-se com dor e contrição aos pés do Salvador. É significativo
que dos sete salmos penitenciais,
cinco são atribuídos ao rei e poeta Davi, este e o quarto e mais profundo dos
penitenciais apresentando o profeta Natã a parábola, Davi confessou
imediatamente: Pequei contra o Senhor II Samuel 12: 13[10].
O Salmo 51 é
penitencial. Davi o escreveu depois de
cometer seu grande pecado com Bete Seba, na angústia do arrependimento e a
repugnância de si mesmo. Educação, p. 160. É uma expressão do arrependimento de Davi, quando lhe chegou a mensagem
de repreensão de parte de Deus;... um hino que tinha de cantar-se nas
assembléias públicas de seu povo... para que outros se instruíssem pelo
conhecimento da triste história de sua queda. Patriarcas e Profetas, pp. 784 e
785. É uma oração em procura de perdão e de santificação mediante o
Espírito Santo. Acompanham à petição votos de gratidão pela misericórdia de
Deus e promessas para o futuro. Nenhuma outra passagem do AT apresenta um quadro tão patético do pecador verdadeiramente
arrependido que confia no poder de Deus para perdoar e restaurar como esta
descrição da reação de Davi. Este Salmo deve ser
estudado relacionando com II Samuel 12:
O Salmo 51 foi um
dos preferidos de João Bunyan. Pouco antes de ser executada em 1.554, Lady Jane
Grey recitou este Salmo de
joelhos ante o cadafalso.
Com referência ao sobrescrito, ver págs. 622,
633[11]
Este é o quarto e com certeza o maior dos sete Salmos Penitenciais. Surge dos momentos mais
sombrios do conhecimento que Davi tem de si mesmo, mas, além de explorar as
profundezas de sua própria culpa, pesquisa alguns dos pontos da salvação de
maior alcance. Os dois versos finais mostram que a nação, na sua propria hora
mais sombria, achou aqui palavras para sua própria confissão e para acender de
novo sua esperança[12].
O Salmo pode ser estudado pelos seus temas,
bem como no seu progresso da imploração para a segurança. No decurso dele,
muita coisa se aprende a respeito de Deus, do pecado e da salvação. É também
frutífero estudar as variedades de linguagem: os imperativos da petição, os
tempos presentes e passados da confissão, e os futuros que com gratidão, se
apagam à graça salvadora.
O nome de Davi, que reaparece aqui, será achado
em todos os títulos dos vinte dois Salmos que ainda restam deste
Segundo Livro, menos quatro deles[13].
EXEGESE
MISERERE
Este Salmo de penitência 6: 1mostra
um parentesco profundo com a literatura da profética, sobretudo com Isaias
e Ezequiel[14].
TÍTULO
A história do pecado de Davi e de seu
arrependimento se conta
1 - Do Mestre de canto. Salmo de Davi.
2 - Quando o profeta Natã foi
encontrá-lo, após ele ter estado com Betsabeia.
II Samuel 11 e 12.
PETIÇÃO
3 - Tem piedade de mim, ó Deus, por
teu amor! Apaga minhas transgressões, por tua grande compaixão!
TEM
PIEDADE
- Com o coração quebrantado ao compreender seu grande
pecado contra Urías e Betsabé, e carregado pelo peso de sua culpa, Davi clama a
Deus implorando misericórdia. Neste pedido não há nenhuma desculpa,
nenhuma intenção, nenhuma tentativa de justificar-se, nenhuma queixa contra a
justiça da lei que o condenava. Com verdadeira humildade, Davi só se culpa a si
mesmo[16].
A petição inicial, Compadece-te de mim, é a linguagem de
quem não faz jus a algum favor e implora. Benignidade, porém, é
uma palavra da aliança. Apesar de nada merecer, Davi sabe que ele ainda
pertence; cfe. o paradoxo das palavras do Filho pródigo: Pai... já não
sou digno de `ser chamado de teu filho. Lucas 15: 21.
Chegando ainda mais perto, apela ao termo calor de Deus, na palavra misericórdia, um termo emotivo que se
emprega, em Gênesis 43: 30 quando
José se movera no
seu íntimom pelo seu irmão. É semelhante à palavra visceral
no NT entranhável
compaixão[17].
BENIGNIDADE - Misericórdia. Quando não sentimos a
enormidade do pecado, falamos de justiça; quando experimentamos a necessidade
de um Salvador, falamos de amor[18].
O
perdão consiste em mais do que um espírito de ternura. O registro acusador do
pecado permanece, e a poluição se apega. A petição apaga significa, literalmente, uma ação como apagar o que está
escrito num livro ou lousa Êxodo 32: 32; Números 5: 23. Somente o
Evangelho poderia nos revelar a que preço seria possível apagar o escrito de
dívida que era contra nós. Colossenses 2:
NOTA ADICIONAL DO
SALMO 36
Hésed é uma palavra hebraica muito difícil de traduzir.
Aparece 245 vezes no AT, das quais a RVR traduz 221 como misericórdia. As
outras traduções que mais interessam são bondade
3 vezes, clemência 2 vezes, piedade 3 vezes, benevolência 2 vezes, graça 2 vezes, graça,
fidelidade, amor permanente.
A LXX em 135 casos traduz hésed como éleos: misericórdia; em outros casos o traduz como dikaiosúne: justiça ; ele mosún: piedade ou misericórdia; elpís: esperança,
e dóxa: glória. É pois, evidente que os tradutores viram que hésed podia traduzir-se com várias
acepções possíveis.
Usa-se a palavra hésed para descrever:
1.
As
relações entre pessoas.
2.
Entre
Deus e a humanidade. Quanto ao primeiro significado, tenho aqui estes exemplos:
2.1
As relações entre um filho e seu
pai moribundo Gênesis. 47: 29,
2.2
Entre
marido e mulher Gênesis 20: 13.
2.3
Entre
parentes Ruth 2: 20.
2.4
Entre
convidados Gênesis 19: 19.
2.5
Entre
amigos I Samuel 28: 8,
2.6
Entre um
rei e seus súbditos II Samuel 3: 8. Muitas
vezes se emprega a voz hésed para
referir-se à relação de Deus com a humanidade. Os versos 5, 7, 10 deste Salmo servem
como exemplo.
Em sentido geral poderia
dizer-se que,
Em relação com isto se adverte
que a palavra amor, que tem
um lugar tão destacado no NT como
característica de Deus I João 4: 7, 8; etc.
quase não aparece no AT. O
substantivo hebraico ahabah só se emprega
10 vezes para referir-se a Deus: Deuteronômio
7: 8; I Reis 10: 9; II Crônicas 2: 11; 9: 8; Isaias 63: 9; Jeremias 31: 3;
Oséias. 3: 1; 9: 15; 11: 4; Sofonias 3: 17.
O verbo se usa só duas
vezes no Pentateuco Deuteronômio 7: 13; 23: 5 e muito
raramente nos outros livros. Não por isto deve concluir-se que este atributo de
Deus eram quase totalmente desconhecidos pelos santos do AT e que por isso, raras vezes o exaltaram. Mas em boa medida
parece que o que os autores do NT
chamaram agápe: amor ver comentário Mateus 5: 43, foi
chamado hésed pelos escritores do AT.
Desafortunadamente o
vocábulo amor se
emprega para abarcar uma ampla gama de sentimentos e princípios: desde a enfatuação
sensual e a paixão, até a terna e benéfica relação de Deus para com seu povo.
Por isso, para muitos a tradução amor só tem
uma idéia parcial ou ainda errônea do caráter de Deus; no entanto, por falta de
um termo melhor, emprega-se o vocábulo amor como
tradução de ágape.
A RVA em muitos casos traduziu caridade,
vocábulo este que antes significava a forma mais perfeita de amor mais do que
atualmente se usa para referir-se a um bem, a uma esmola ou uma obra de
beneficência em favor dos necessitados. Se por amor
entendemos um amor divino tal como o que os autores bíblicos tentaram
apresentar, e se lhe tiramos a amor os
matizes de significado indesejados que muitas vezes se lhes dá, acepções que
não cabem no grego agápe, teremos uma
definição bem precisa de hésed,
sobretudo quando este se aplica a Deus.
Quando se emprega hésed para descrever as relações entre
pessoas, a tradução amor é um
termo abstrato, um princípio que governa a vida. Quando o amor se traduz em
algo correto, suas diversas manifestações já não levam o nome de amor, senão
que recebem definições específicas I Corintios 13. Por
outra parte, hésed não só expressa o
princípio abstrato do amor senão também suas diversas manifestações. José pediu
que o copeiro lhe mostrar hésed Gênesis 40:
14, conseguindo sua libertação do cárcere.
Hoje pedimos que se nos faça um favor, mas não podemos pedir que
se nos faça o amor. Quando
Rahab ocultou aos espiões, realizou uma obra de hésed Josué 2: 12. Em
recompensa por dar-lhes certa informação secreta, os homens da casa de José
ofereceram mostrar hésed ao homem de
Betel Juizes 1: 24. As misericórdias que Neemías fez na
casa de Deus foram hasadim, plural de
hésed Neemias 13:
14. Em paralelismo antitético, o sábio põe a hésed em contraposição com
a crueldade Provérbios 11: 17.
Portanto, quando se
emprega hésed para referir-se às
relações humanas, é melhor traduzí-lo pelo vocábulo que assinale o termo
específico do princípio geral do amor que se
manifesta. Tanto as versões antigas como as modernas seguem esta regra. Em Miquéias 6: 8 aparece
um exemplo de hésed em relação com a
conduta humana, que descreve um princípio mais geral. Afirma-se ali de que a
essência da verdadeira religião pode encontrar-se em praticar a justiça, amar o
próximo e andar em humilde diante de Deus.
Pode seguir-se a mesma
regra quando hésed descreve os atos
de Deus que são manifestações de temas específicos do amor. Por
exemplo, quando o servo de Abraão pediu hésed,
referia-se a um significado específico deste dom divino que precisava receber
para sair da dificuldade em que se achava. Nesse caso, parece melhor traduzir bondade ou favor, e não amor. Por
outra parte, quando o que se descreve é a idéia geral de hésed, é corretíssimo traduzír como amor. Quando
o salmista disse: Quão preciosa, oh Deus, é tua misericórdia hésed!
Salmo 36: 7, queria dizer: Quão
excelente é teu amor, oh Deus; e ao
dizer para sempre é sua misericórdia. Salmo 136: 1, 2, 3, etc.,
queria dizer: para sempre é seu amor.
O adjetivo hasid, que deriva da mesma raiz de hésed, literalmente significa: um que
pratica hésed. Hasid aparece 32 vezes no
hebraico. A RVR o traduz 21 vezes como santo, 5 vezes como misericordioso,
e 4 vezes como piedoso. Em sentido negativo se traduz uma vez como impío, e outra, como os que lhe temem. Em 22 casos a LXX traduz hasid como hósios, santo ou piedoso.
Já que hésed é um dos atributos mais
destacados de Deus, o que seja hasid,
será piedoso e justo. Quando se considera deste modo, hasid se acerca muito à idéia expressa na palavra agápe: amor, no NT I Corintios
13; I João 2: 5; 4: 7, 8; 5: 3. Este
adjetivo aparece muitas vezes em sua forma plural, hasidim.
Em resumo: podemos
considerar que a tradução amor
corresponde a hésed quando se toma em
conta o amor divino em seus aspectos gerais. Quando se fazem ressaltar termos
específicos, ou quando se definem relações humanas, o contexto determinará a
tradução correta[20].
Não merece nenhum favor, implora para a palavra
da aliança, sabe que nada merece.
MULTIDÃO - Davi
podia confiar plenamente na imensa misericórdia de Deus[21].
APAGA - Isto é, apagá-las do livro
onde se conserva o registro das ações humanas Êxodo 32: 32
e 33; Isaias 43: 25; 44: 22; Atos 3: 19. Após a apresentação da
parábola por Natã, Davi com o coração quebrantado reconhece o erro. O peso da
culpa é grande e Davi clama a Deus por misericórdia. Não há nenhuma desculpa,
não tenta justificar-se contra a condenação. Com verdadeira humildade Davi
culpa-se a si mesmo[22].
4 - Lava-me inteiro de minha
iniquidade e purifica-me do meu pecado!
LAVA-ME - Ou lava-me muito; lava-me a fundo. Jeremias 4: 14; Zacarias 13: 1. O mesmo verbo hebraico se usa também para falar da
lavagem das roupas. Gênesis 49:
11; Êxodo 19: 10[23].
PECADO - Maldade. Ver comentário Salmo 32: 1 e 2, onde
aparecem os diversos termos com os quais se descreve o pecado neste versículo e
nos seguintes. Abarcam-se os diferentes aspectos do pecado[24].
CONFISSÃO
5 - Pois reconheço minhas
transgressões e diante de mim esta sempre o meu pecado;
DIANTE DE
MIM - O
pecado torna-se uma figura acusadora, e enfatiza que está cônscio do pecado e
isto o aflige constantemente.
NASCIDO EM PECADO
O jovem que falava comigo acabara de perder o
emprego outra vez. Estava triste porque pagava seus estudos na universidade com
o dinheiro que recebia. O pior de tudo,
disse aflito, é que eu sou o único
culpado. Sou orgulhoso e explosivo e isso está destruindo a minha vida.
Como esse jovem, há muitas pessoas que percebem
que existe algo de errado com elas. Tentam mudar, mas não conseguem. São
conscientes de que há dentro delas uma força estranha que as leva a fazer
coisas que não gostariam de fazer, e se perguntam: Por que sou assim?
A resposta está no versículo de hoje. Davi
também tinha esse problema que o levou não a perder um emprego, mas quase a
vida eterna.
Este Salmo foi escrito depois que Davi
mandou assassinar Urias, para esconder seu adultério com a esposa do general.
Foi um pecado consciente, e premeditado. No início, quando a tentação apareceu,
ele tentou fugir. Mas descobriu que dentro dele havia uma força misteriosa que
o empurrava para longe de Deus e de Seus princípios.
Davi caiu e caiu feio. Meses depois, quando ele
pensava que tinha cometido o crime perfeito, confrontou-se com o profeta Natã e
não pôde fugir do seu pecado. O salmista correu desesperado, entrou numa cova
e, arrependido, escreveu o Salmo 51.
No verso de hoje, Davi fala da natureza
pecaminosa. Disse: Nasci
Ninguém é culpado de ter nascido assim. A culpa
que carregamos é não querer tomar o remédio para esse problema. Jesus morreu na
cruz do Calvário e comprou a nossa liberdade. Hoje, só continua sendo escravo
da natureza pecaminosa quem quer.
Não tente lutar sozinho. Com esforço humano você
pode disfarçar, aparentar e dissimular. Mas não pode mudar. A única esperança
de transformação está
6 - Pequei contra ti, contra ti
somente, pratiquei o que era mau aos teus olhos. Tens razão, portanto, ao
falar, e a tua vitória se manifesta ao julgar.
CONTRA TI
SOMENTE
- Davi não
pretendia dizer com estas palavras que não tinha prejudicado Urias e Betsabé,
senão que, em seu sentido mais profundo, todo pecado se comete contra Deus.
Quando Natã o acusou, Davi declarou: Pequei
contra Iahweh II Samuel 12: 13. José também reconheceu que, se cedia ante a
tentação, pecava contra Deus. Como, pois, faria eu este grande mau, e pecaria
contra Deus? Gênesis 39: 9[26].
PRATIQUEI O QUE ERA MAU AOS TEUS OLHOS - II Samuel 11: 27; 12: 9.
TENS RAZÃO - Nao se queixa, mas confessa seu erro, e
coloca-se nas mãos de Deus para a execução do juízo, louva ao Senhor. A
profundeza de sua confissão está visível no seu desejo de descobrir o íntimo e
o escondido de seu ser.
SE MANIFESTA AO JULGAR - Totalmente
puro e íntegro. Deus ao perdoar, manifesta seu poder sobre o mal e sua vitória
sobre o pecado[27].
Para que sejas reconhecido justo. Quando
Deus condena, não se pode acusá-lo de injustiça Romanos 3: 4[28].
Nossos corpos não pertencem a nós mesmos, o
próximo e nós fomos feitos à imagem de Deus.
7 - Eis que eu nasci na iniquidade,
minha mãe concebeu-me no pecado.
CONCEBEU-ME
NO PECADO
- Em maldade fui formado. Davi reconheceu que os meninos herdam a
propensão ao mau Jó 14: 4; Salmo
58: 3; PP p. 45 e 313; MC, pp. 288 e
289; GC, p. 588. Ao aludir a sua tendência inata a fazer o mau, não tratava
de desculpar-se; simplesmente explicava sua grande necessidade da misericórdia
de Deus[29].
Todo homem nasce impuro, Jó 14: 4; Provérbios 20: 9, e
por esta razão inclinado ao mal Gênesis 8: 21. Essa impureza radical
é alegada aqui como circunstância atenuante I Reis 8: 46 que deve ser
levada
Não se justifica, mas vê a grande necessidade da
misericórdia Divina, este crime não era contrário a sua natureza, fazia parte
de seu caráter, era uma expressão da criatura pervertida que ele havia sido, e
da raça degenerada da qual nasceu, reflete a precariedade da situação humana.
RESTAURAÇÃO
8 - Eis que amas a verdade do fundo
do ser, e me ensinas a sabedoria no segredo.
FUNDO DO
SER - No
íntimo. Salmo 15: 2.
NO SEGREDO - Deus penetra no fundo do homem e
pode transformá-lo. Poder-se-ia igualmente discernir um sentido figurado
aproximando este
verso de Ezequiel 13: 10 sobre os
profetas de mentira que rebocam os muros
rachados em vez de reconstruí-los Levítico 14: 43 sobre a
lepra dos muros. Aqui pelo contrário, mesmo o que esta recoberto rebocado e
escondido será purificado e restaurado pela sabedoria divina[30].
Davi almeja ter a
sabedoria que o guiará por um caminho puro[31].
Deus sabe o que vai no profundo de cada coração,
penetra fundo com a finalidade de transformá-lo, purificando e restaurando.
9 - Purifica-me meu pecado com
hissopo, e ficarei puro, lava-me e ficarei mais branco que a neve.
PURIFICA-ME - Hebraico: jata, cuja forma simples qal significa pecar, com
a conotação de errar o alvo. A forma
do verbo jata que se usa aqui pele significa fazer expiação[32].
Fazer
expiação.
Davi não possui forças próprias para resolver a situação, apela para Deus, o único
que tem poder para perdoá-lo.
HISSOPO - Planta
empregada para as purificações Levítico 14: 4; Números 19: 18[33].
Na lei levítica se usava o
hissopo nas cerimônias de purificação ver
comentário Êxodo 12: 22; Levítico 14: 4; Números 19: 18. Davi
reconhecia que só um remédio de sumo poder purificador podia limpá-lo de sua
impureza[34].
Uma alusão à purificação do leproso, aspergido
sete vezes com o sangue sacrifical, no qual foi molhado com um ramo de hissopo
como borrifador. Levítico14: 6 e 7, ou alguém que tivera algum contato com
defunto. Números 19:
LAVA-ME - Isaias
1: 16 e 18. Davi estava consciente do sentido
espiritual da lei cerimonial. O cristão deve fazer sua esta oração de Davi
quando o pecado lhe faz errar quer ser lavado e se tornar branco[36].
10 - Faze-me ouvir o júbilo e a
alegria, e dancem os ossos que esmagaste.
FAZE-ME OUVIR - Davi
almejava escutar as doces palavras do perdão divino ver comentário Salmo 32: 1 e 2. Este
era seu desejo supremo[37].
JÚBILO - Davi almejava ouvir
palavras de perdão, era o seu maior desejo, não espera meio socorro, mas
socorro total, contempla seus ossos esmagados e anela a esperança de que eles
voltem a dançar para que sinta novamente alegria.
OSSOS - Salmo 6: 2.
11 - Esconde tua face dos meus pecados
e apaga minhas iniquidades todas.
ESCONDE - Davi em meio às
lágrimas clama por perdão. Com este verso encerra-se a primeira parte do Salmo,
onde a culpa e a purificação são enfocados, os versos seguintes terão
como centro a salvação.
Salmo 13: 1. Davi
renova sua prece em procura de perdão com ferventísimos rogos e com lágrimas[38].
RENOVAÇÃO INTERIOR
12 - Ó Deus cria em mim um coração
puro, renova um espirito firme no meu peito.
CRIA - Hebraico: bara. ver comentário Gênesis 1: 1. Deus não só limpa o
coração; acredite em seu filho perdoado sem novo coração Ezequiel 36: 26. As palavras vos darei coração novo significam: Vos darei
uma mente nova. Uma clara convicção do dever cristão sempre acompanha à mudança de
coração[39]. O pedido de perdão
sempre deveria ir acompanhado de um pedido para que Deus renove e santifique o
coração Jeremias 24: 7; Ezequiel
11: 19; Romanos 12: 2; Efésios 2: 10; 4: 24[40].
UM ESPÍRITO FIRME - Um espírito constante. Davi
pede um espírito que seja firme em sua fé, constante
Davi não foi levado ao desespero, ora para que
Deus opere um milagre. Cria e um termo que somente Deus pode fazer, que pode
ser prolongado ou instantâneo.
Davi possuía o verdadeiro conceito do perdão Grego: Metanóia, mudança de rumo, esta deveria ser a petição de toda alma.
13 - Não me rejeites para longe de tua
face, não retires de mim teu Santo Espírito.
NÃO ME REJEITES - Não me jogues. Só
se pode encontrar a verdadeira felicidade na presença de Deus Salmo 13: 1;
16: 1 ; 30: 7; Gênesis 4: 14[43].
TEU SANTO ESPÍRITO - Ainda que compreendia que
seus pecados tinham contristado o Espírito Santo, Davi pedia que não fosse
privado da condução desse Espírito Isaias 63: 10; Efésios 4: 30[44].
14 - Devolve-me o júbilo da tua
salvação e que um Espírito generoso me sustente.
DEVOLVE-ME - Volta-me. Davi queria
sentir a alegria de seu coração antes do pecado, pede que Deus lhe conceda um
espírito disposto a servir, um espírito generoso, doador[45].
ESPIRITO GENEROSO - Espírito nobre. Melhor, espírito disposto. Davi
pede a Deus que o mantenha num estado mental disposto a servir-lhe[46].
15 - Vou ensinar teus caminhos aos
transgressores, para que os pecados voltem a ti.
ENSINAR - Quer testemunhar a
respeito das desgraças do pecado, e promete combater esta malignidade. Uma fé
alegre inicia uma pronta disposição para transmitir sua experiência de
restauração e levar seu exemplo como advertência contra os perigos do pecado. Quando
te converteres fortalece teu irmão. Lucas 22: 32.
Então ensinarei. Davi se volta dos rogos às
promessas. Promete ensinar a outros a malignidade do pecado para que abandonem
seus maus caminhos e procurem misericórdia e perdão.
TEUS CAMINHOS - Salmo 18: 21.
VOLTEM A
TI - Se converteram. Graças
ao exemplo de Davi muitos aprenderam que Deus concede misericórdia aqueles que
abandonam seus pecados, sem tomar em conta a profundidade que haviam caído.
Miguel Angelo escreveu este texto como lema em seu retrato de Savanarola[47].
ADORAÇÃO E HUMILDADE
16 - Livra-me do sangue, ó Deus, meu
Deus Salvador, e minha língua aclamará tua justiça.
SANGUE - Homicídios. Sem dúvida esta é
uma referência direta ao assassinato de Urias II Samuel 11:
Continua horrorizado com as consequências do
pecado, reconhece que a justiça pertence a Deus.
DEUS MEU SALVADOR - Deus de minha salvação. Salmo 18: 46;
25: 5; 27: 9. Davi reconhece que só se pode
encontrar salvação em Deus[49].
17 - Ó Senhor abre
meus lábios, e minha lingua anunciará o teu louvor.
ABRE MEUS
LABIOS
- É um grito de alguém cuja consciência levou a calar-se, envergonhado. Quer
adorar com liberdade e gratidão, e crê com a graça de Deus que assim será. O
perdão do pecado alivia a consciência e volta a paz, os lábios então pronunciam
louvores abundantes. Salmo 40: 3[50].
18 - Pois tu não queres um sacrificio
e um holocausto não te agrada.
NÃO QUERES
SACRIFÍCIO
- Ver comentário Salmo 40:
“Eu mesmo sou minha oferenda; que minha devoção
comprove depois de receber tão grande perdão, quanto eu amo” (S. J. Stone).
19 - Sacrifício a Deus e um espirito
contrito, coração contrito e esmagado, ó Deus tu não desprezas.
SACRIFÍCIO A DEUS - Os sacrifícios de Deus. Isto
é, os sacrifícios que Deus aprova[52].
ESPIRITO
QUEBRANTADO
- Expressa o profundo desejo Divino que é um coração quebrantado que não possui
forças para ser salvo, então roga e entrega-se ao Divino Mestre, não confia
O gozo por ter recebido o
perdão não impede que se senta tristeza e contrição por ter pecado[53].
A ORAÇÃO DE UM POVO
20 - Faze o bem a Sião, por teu favor,
reconstrói as muralhas de Jerusalém.
JERUSALÉM - A Sião. Davi ora para que o
desagrado causado a Deus por seu pecado não caia sobre Sião ver comentário Salmo 48:
RECONSTRÓI AS MURALHAS - Edifica os muros. Davi
pediu que nada interferisse com os trabalhos de fortificação da cidade sagrada II Samuel 5:
9; I Reis 3: 1; 9: 15 e
21 - Então te agradarás do sacrifício
de justiça, holocaustos e ofertas totais, e em teu altar se oferecerão novilhos.
SACRIFÍCIOS
DE JUSTIÇA - Os
sacrifícios oferecidos com o espírito de humildade e com os pecados confessados
são aceitos por Deus, os holocaustos não serão rotineiros, mas um culto de
adoração em que a presença do Salvador será enfocada. Após o perdão sua alma
louva com o Salmo 32.
Estes sacrifícios, que se
contrapõem aos que aparecem nos versos 16 e 17, são os
sacrifícios que Deus aceita: sacrifícios de justiça Salmo 4: 5,
oferecidos com o devido espírito e o devido motivo[56].
HOLOCAUSTO - As formas externas da
religião têm seu lugar. Foi Cristo quem instituiu a lei cerimonial. Os diversos
serviços prescritos nessa lei tinham grande valor como meios de instrução. O
pecado do povo consistiu em fazer dessas formas externas o principal da
religião. Davi reconhecia o significado e o valor dos ritos e cerimônias do
culto público quando eram manifestações externas de um espírito sincero.
Deveríamos vigiar para que as partes externas do culto público conservem o
espírito da adoração humilde. Não há nada de mal em seguir certas formas de
culto; o mal consiste em que falte uma religião sincera que inspire essas
formas rituais[57].
A
Reabilitação do Homem
As parábolas da ovelha e da dracma perdidas, e
do filho pródigo, apresentam em traços claros, o misericordioso amor de Deus
para com os que Dele se desviam. Embora se tenham Dele apartado, Deus não os
abandona na miséria. Está cheio de amor e terna compaixão para com todos os que
estão expostos às tentações do astucioso inimigo.
Na parábola do filho pródigo é nos apresentado
o procedimento do Senhor com aqueles que uma vez conheceram o amor paterno, mas
consentiram ao tentador levá-los cativos a sua vontade.
Um certo homem tinha dois filhos. E o mais
moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte da fazenda que me pertence. E ele
repartiu por eles a fazenda. E, poucos dias depois, o filho mais novo,
ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua. Lucas 15:
O filho mais novo cansara-se das restrições da
casa paterna. Pensou que sua liberdade era reprimida. O amor e cuidado do pai
foram mal-interpretados, e determinou seguir os ditames de sua própria
inclinação.
O jovem não reconhece qualquer obrigação para
com o pai, e não exprime gratidão, contudo reclama o privilégio de filho para
participar dos bens de seu pai. Deseja receber logo a herança que lhe caberia
pela morte do pai. Pensa só na alegria presente, e não se preocupa com o
futuro.
Depois de receber seu patrimônio, sai da casa
paterna para uma terra longínqua.
Com dinheiro em profusão e podendo fazer o que bem entende, lisonjeia-se de ter
alcançado o desejo de seu coração. Ninguém há, agora, que lhe diga: não faças
isto porque há de prejudicar-te, ou: faze aquilo porque é bom. Maus
companheiros ajudam-no a abismar-se mais e mais no pecado; e desperdiçou a sua fazenda, vivendo
dissolutamente.
A Bíblia fala de homens que dizendo-se sábios, tornaram-se loucos.
Romanos 1: 22. E esta é a história do jovem da parábola. A fazenda que
de forma egoísta pedira de seu pai, dissipou com meretrizes. Os tesouros de sua
varonilidade foram esbanjados. Os preciosos anos de vida, a força do
intelecto, as brilhantes visões da juventude, as aspirações espirituais - tudo
foi consumido no fogo do prazer.
Houve uma grande fome na Terra; ele começou a
padecer necessidade, e foi-se a um cidadão do país, que o mandou ao campo para
apascentar porcos. Para um judeu esta ocupação era a mais vil e degradante. O
jovem que se gloriava de sua liberdade, vê-se agora escravo. Está na pior das
escravaturas com as cordas do seu
pecado, será detido. Provérbios 5: 22. O brilho falso que o atraía
desapareceu, e sente o peso dos seus grilhões.
Naquela terra desolada e atingida pela fome,
sentado no chão, sem outros companheiros senão os porcos, é constrangido a
encher o estômago com as bolotas com que eram alimentados os animais. De todos
os alegres companheiros que o rodeavam nos seus dias prósperos, e que comiam e
bebiam a sua custa, nem um único ficou para animá-lo. A que se reduziu a sua
orgíaca alegria? Sufocando a consciência e aturdindo os sentimentos, achava-se
feliz; porém agora, sem dinheiro, com fome não saciada, com o orgulho
humilhado, a natureza moral atrofiada, a vontade enfraquecida e indigna de
confiança, seus sentimentos mais nobres aparentemente mortos, é o mais
miserável dos mortais.
Que quadro nos é apresentado da condição do
pecador! Embora envolto pelas bênçãos do amor de Deus, nada há que o pecador,
inclinado à satisfação própria e aos prazeres pecaminosos, mais deseje do que a
separação de Deus. Como o filho ingrato, reclama as boas coisas de Deus, como
suas por direito. Recebe-as como coisa muito natural, não agradece nem presta
serviço algum de amor. Como Caim saiu da presença do Senhor para procurar
morada; como o filho pródigo partiu
para uma terra longínqua. Lucas 15: 13, assim, no esquecimento de Deus,
procuram os pecadores a felicidade. Romanos
1: 28.
Qualquer que seja a aparência, toda vida centralizada
no eu, está arruinada. Todo aquele que procura viver separado de Deus,
dissipa seus bens. Desperdiça os preciosos anos, esbanja as forças do
intelecto, do coração e da alma, e trabalha para a sua eterna perdição. O homem
que se aliena de Deus, para servir a si mesmo, é escravo de Mamom. A mente, que
Deus criou para a companhia de anjos, degradou-se no serviço do que é terreno e
animal. Este é o fim a que tende quem serve o próprio eu.
Se você escolheu uma tal vida, sabe então que
gasta dinheiro com o que não é pão, e trabalho com o que não satisfaz. Virão
dias em que reconhecerá a sua degradação. Só, na longínqua terra, você sente a
miséria, e brada
O amor de Deus anela sempre aquele que dEle se
afastou, e põe em operação influências para fazê-lo tornar à casa paterna. O
filho pródigo, em sua miséria, voltou a si. O poder ilusório que Satanás sobre
ele exercia, foi quebrado. Viu que o sofrimento era conseqüência de sua própria
loucura, e disse: Quantos
trabalhadores de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!
Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai. Lucas 15:17 e 18. Miserável
como era, o pródigo achou esperança na convicção do amor do pai. Era aquele
amor que o estava impelindo para o lar. Assim, a certeza do amor de Deus é que
move o pecador a voltar para Ele. A
benignidade de Deus te leva ao arrependimento. Romanos 2: 4. Uma cadeia
dourada, a graça e compaixão do amor divino, é atada ao redor de toda pessoa
O filho resolve confessar sua culpa. Quer ir
ter com o pai e dizer-lhe: Pai, pequei
contra o Céu e perante ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho.
Mas, mostrando como é limitada a sua concepção do amor do pai, acrescenta: Faze-me como um dos teus trabalhadores.
Lucas 15: 18 e 19.
O jovem volta-se da manada de porcos e das
bolotas, e dirige o olhar para casa. Tremente de fraqueza e abatido pela fome,
põe-se a caminho com diligência. Não tem uma capa para ocultar suas vestes
esfarrapadas; mas sua miséria venceu o orgulho e apressa-se a suplicar a
posição de trabalhador, onde outrora estava como filho.
O jovem, alegre e despreocupado, quando
abandonou a mansão paterna, pouco imaginou a dor e saudade deixadas no coração
do pai. Quando dançava e folgava com os companheiros devassos, pouco meditava
na sombra que caíra sobre a casa paterna. E agora, enquanto percorre o caminho
de volta, com cansados e doloridos passos, não sabe que alguém aguarda a sua volta.
Mas quando ainda estava longe
o pai distingue o vulto. O amor tem bons olhos. Nem o definhamento causado
pelos anos de pecados pode ocultar o filho aos olhos do pai. E se moveu de íntima compaixão, e, correndo,
lançou-se-lhe ao pescoço num abraço terno e amoroso. Lucas 15: 20.
O pai não permite que olhos desdenhosos vejam
a miséria e as vestes esfarrapadas do filho. Toma de seus próprios ombros o
manto amplo e valioso, e lança-o em volta do corpo combalido do filho, e o
jovem soluça seu arrependimento, dizendo: Pai, pequei contra o Céu e perante ti e já não sou digno de ser chamado
teu filho. Lucas 15: 21. O pai toma-o consigo e leva-o para casa. Não
lhe é dada a oportunidade de pedir a posição do trabalhador. É um filho que
deve ser honrado com o melhor que a casa pode oferecer, e ser servido e
respeitado pelos criados e criadas.
O pai diz aos servos: Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão
e sandálias nos pés, e trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos e alegremo-nos,
porque este meu filho estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado. E
começaram a alegrar-se. Lucas 15:
Em sua irrequieta juventude, o filho pródigo
considerava o pai inflexível e austero. Que diferente é sua concepção dele agora!
Assim também os engodados por Satanás consideram Deus áspero e severo. Vêem-nO
esperando para os denunciar e condenar, como se não tivesse vontade de receber
o pecador enquanto houver uma desculpa legítima para não o auxiliar. Consideram
Sua lei uma restrição à felicidade humana, jugo opressor de que se alegram
Na parábola não é acusada nem censurada a má
conduta do filho pródigo. O filho sente que o passado está perdoado, esquecido
e apagado para sempre. E assim fala Deus ao pecador: Desfaço as tuas transgressões como a névoa, e os teus pecados, como a
nuvem. Isaias 44: 22. Porque perdoarei a sua maldade e nunca mais Me lembrarei
dos seus pecados. Jeremias 31: 34. Deixe o ímpio o seu caminho, e
o homem maligno, os seus pensamentos e se converta ao Senhor, que Se
compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é
Que segurança da voluntariedade de Deus em
receber o pecador arrependido! Escolheste, caro leitor, teu próprio caminho?
Vagaste longe de Deus? Aspiraste desfrutar os frutos da transgressão, só para
vê-los desfazerem-se em cinzas nos lábios? E agora que os teus bens estão
dissipados, teus planos malogrados e mortas as tuas esperanças, estás solitário
e desolado? Agora, aquela voz que te falou longamente ao coração, mas para a
qual não atentaste, chega a ti clara e distinta: Levantai-vos e andai, porque não será aqui o vosso descanso; por causa
da corrupção que destrói, sim, que destrói grandemente. Miquéias 2: 10.
Volta ao lar do Pai. Ele te convida, dizendo: Torna-te para Mim, porque Eu te remi. Isaias 44: 22.
Não dê ouvidos à sugestão do inimigo, de
permanecer afastado de Cristo até que se faça melhor, até que você seja
bastante bom para ir a Deus. Se esperar até lá, nunca irás a ele. Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-O enquanto está perto.
Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno, os seus pensamentos e se
converta ao Senhor, que Se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque
grandioso é
Levante-se e vá ter com seu Pai. Ele irá ao
seu encontro quando ainda estiver longe. Se aproximar-se um passo que seja,
Seu Pai celestial te tirará as vestes
manchadas de pecados. Na bela profecia de Zacarias, o sumo sacerdote Josué, que estava em pé diante do
anjo do Senhor, com vestimentas imundas, representa o pecador. E o Senhor
disse: Tirai-lhe estas vestes sujas. E
a ele lhe disse: Eis que tenho feito com que passe de ti a tua iniqüidade e te
vestirei de vestes novas... E puseram uma mitra limpa sobre sua cabeça e o
vestiram de vestes. Zacarias 3: 4 e 5. Assim Deus o vestirá de vestes de salvação, e o cobrirá com o manto da justiça. Isaias 61:10.
"Ainda que vos deiteis entre redis, sereis como as asas de uma pomba,
cobertas de prata, com as suas penas de ouro amarelo. Salmo 68: 13.
Levá-lo-á à sala do banquete, e o Seu
estandarte sobre você será o amor. Cantares 2: 4. Se
andares nos Meus caminhos, declara, te darei lugar entre os que estão aqui, mesmo entre os santos
anjos que circundam Seu trono.
Zacarias 3: 7.
E, como o noivo se alegra com a noiva, assim
Se alegrará contigo o teu Deus. Isaias 62: 5. Ele Se deleitará em ti com
alegria; calar-Se-á por Seu amor, regozijar-Se-á em ti com júbilo. Sofonias 3:
17. E o Céu e a Terra unir-se-ão ao Pai em cânticos de alegria: Porque este meu filho estava morto e
reviveu; tinha-se perdido e foi achado." Lucas 15: 24.
Até aqui, na parábola do Salvador, não há nota
discordante para destoar a harmonia da cena de júbilo; agora, porém, Cristo
introduz novo elemento. Ao voltar o filho pródigo, o primogênito estava no campo; e chegando-se à casa ouviu
a música e a dança. Lucas 15: 25.
Chamou um dos criados e perguntou-lhe que significavam essas coisas.
Retrucou-lhe este: Veio teu irmão; e
teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se
indignou e não queria entrar. Lucas 15: 27 e 28. Este irmão mais velho
não participara da ansiedade e expectativa do pai por aquele que se perdera.
Não partilha por isso da alegria paterna pela volta do errante. Os cânticos de
alegria não lhe inflamam contentamento ao coração. Pergunta a um servo pelo
motivo da festa, e a resposta aviva-lhe o ciúme. Não quer entrar para dar as
boas-vindas ao irmão perdido. O favor mostrado ao pródigo, considera-o um
insulto a si próprio.
Quando o pai sai para argumentar com ele, o
orgulho e maldade de sua natureza são revelados. Expõe sua vida na casa paterna
como um ciclo de serviço não reconhecido, e então contrasta de modo ingrato o
favor mostrado ao filho que acabava de voltar. Demonstra que seu serviço era
antes o de servo e não de filho. Ao passo que devia ter constante alegria
na presença do pai, seus pensamentos estavam dirigidos aos lucros a serem
acumulados por sua vida circunspeta. Suas palavras mostram que por essa razão
se privou dos prazeres do pecado. Agora esse irmão deve partilhar das dádivas
do pai, o filho mais velho julga que lhe fazem injustiça. Inveja a boa acolhida
proporcionada ao irmão. Mostra claramente que se estivesse na posição do pai
não receberia o pródigo. Nem mesmo o reconhece como irmão, porém dele fala
friamente como teu filho. Lucas 15: 30.
Contudo, o pai tratou-o com brandura. Filho, diz ele tu sempre estás comigo, e todas as minhas
coisas são tuas. Lucas 15: 31. Durante todos esses anos da vida
dissoluta de teu irmão, não tiveste o privilégio de minha companhia?
Tudo que podia favorecer a felicidade de seus
filhos, estava-lhes à disposição. O filho não precisa esperar uma recompensa ou
dádiva. Todas as minhas coisas são
tuas. Só deves confiar em meu amor, e tomar o dom que é oferecido
gratuitamente.
Um filho rompera algum tempo com a família por
não discernir o amor do pai. Mas agora voltara, e a onda de alegria varre todo
pensamento perturbante. Este teu irmão
estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado. Lucas 15: 32.
Foi levado o irmão mais velho a ver seu
espírito mesquinho e ingrato? Chegou a reconhecer, que embora o irmão tivesse
agido impiamente, era, ainda e sempre, seu irmão? Arrependeu-se o irmão mais
velho de seu amor-próprio e dureza de coração? Com referência a isso, Jesus
guardou silêncio. A parábola ainda não terminara, e restava que os ouvintes
determinassem qual seria o epílogo.
Pelo irmão mais velho foram representados os
impenitentes judeus contemporâneos de Cristo, como também os fariseus de todas
as épocas, que olhavam com desprezo àqueles que consideravam publicanos e
pecadores. Porque eles mesmos não caíram no mais degradante vício, enchiam-se
de justiça própria. Jesus enfrentou essa gente ardilosa em seu próprio terreno.
Como o filho mais velho da parábola, desfrutavam de especiais privilégios de
Deus. Diziam-se filhos na casa de Deus, mas tinham o espírito de mercenários. Não
trabalhavam movidos por amor, mas pela esperança de recompensa. A seus olhos,
Deus era um feitor severo. Viam como Cristo convidava os publicanos e pecadores
para receber livremente as dádivas de Sua graça - dádivas que os rabinos
pensavam assegurar-se somente por trabalho e penitência, e ofenderam-se. A
volta do filho pródigo, que encheu o coração paterno de alegria, provocava-lhes
o ciúme.
Na parábola, a intercessão do pai junto do
primogênito era o terno apelo do Céu aos fariseus. Todas as Minhas coisas são tuas - não como salário mas como
dádiva. Como o pródigo, somente podeis recebê-las como concessões imerecidas do
amor paterno.
A justiça própria conduz os homens não somente
a representar a Deus falsamente, como os torna impiedosos e críticos para com
seus irmãos. O filho mais velho, em seu egoísmo e inveja, estava pronto a
observar o irmão, criticar todas as suas ações, e culpá-lo da menor falta.
Acusaria todo engano e exageraria quanto possível todo ato errado. Desse modo
pretendia justificar seu espírito irreconciliável.
Muitos fazem hoje o mesmo. Enquanto a pessoa
enfrenta a primeira luta contra um turbilhão de tentações, estão ao lado de
zombeteiros, obstinados, reclamando e acusando. Podem professar ser filhos de
Deus, mas manifestam o espírito de Satanás. Por seu procedimento para com os
irmãos, estes acusadores se colocam onde Deus não pode fazer brilhar a luz de
Seu semblante.
Quantos não perguntam constantemente: Com que me apresentarei ao Senhor e me
inclinarei ante o Deus altíssimo? Virei perante Ele com holocaustos, com
bezerros de um ano? Agradar-Se-á o Senhor de milhares de carneiros? De dez mil
ribeiros de azeite? Miquéias 6: 6 e 7. Mas Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de
ti, senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente
com o teu Deus? Miquéias 6: 8.
Esse é o culto que o Senhor escolheu: Que soltes as ligaduras da impiedade, que
desfaças as ataduras do jugo, e que deixes livres os quebrantados, e que
despedaces todo o jugo... e não te escondas daquele que é da tua carne. Isaias
58: 6 e 7. Quando vos considerardes pecadores salvos unicamente pelo
amor do Pai celestial, então tereis amor e compaixão por outros que sofrem no
pecado. Então não mais defrontareis a miséria e o arrependimento com ciúme e
censura. Quando o gelo do amor-próprio se derreter de vosso coração,
estareis
Verdade é que professas ser filho de Deus;
porém, se esta declaração for verdade, é teu
irmão, que estava morto e
reviveu; tinha-se perdido e foi achado. Lucas 15: 32. Ele se acha
ligado a ti pelos vínculos mais íntimos; porque Deus o reconhece como filho.
Nega teu parentesco com ele, e mostrarás que és apenas mais um empregado na
casa paterna, não um filho da família de Deus.
Embora não te associes à recepção ao pródigo,
a alegria prosseguirá, o restaurado tomará seu lugar ao lado do Pai e
Sentimentos Bondosos
E, retirando-se deles, chorou. Gênesis
42:24.
Lágrimas de José! Quantas e quantas vezes esse
moço chorou! Chorou enquanto suplicava aos irmãos para que não lhe fizessem
mal. Chorou quando se transformou em escravo e contemplou pela última vez as
colinas onde vivia seu amado pai e onde passara dias felizes. Chorou ao ser
lançado numa prisão. E agora chorou ao se encontrar com seus irmãos.
A Bíblia relata que Jesus também chorou
Há pessoas que derramam lágrimas falsas, à
semelhança dos crocodilos. Jesus declarou que o importante é o que está no
coração. Comentando acerca de pessoas falsas, Ele as comparou com túmulos
caiados por fora, mas que estão cheios de ossos. São como lobos em pele de
ovelhas.
Conta-se a história de um pastor que notou que
algumas de suas ovelhas estavam desaparecendo inexplicavelmente. Ele redobrou
seus cuidados, mas mesmo assim elas continuavam desaparecendo. Chegou à
conclusão de que o inimigo estava no meio do rebanho. Devia haver um lobo entre
as ovelhas. Então ele usou um método interessante para descobrir quem era o
lobo.
Certa manhã, ele ficou junto à porta do curral.
Enquanto as ovelhas passavam, ele batia com seu cajado nelas. As ovelhas
abaixavam a cabeça e continuavam caminhando. Mas a certa altura, ao bater numa
“ovelha”, o pastor recebeu uma mordida. Na verdade, ali estava o lobo que
vestira a pele de ovelha para ficar no meio do rebanho.
Mais cedo ou mais tarde, aqueles que fingem ser
o que não são revelarão o que vai no íntimo do seu coração. Ao receberem algum
golpe na vida, reagirão ferozmente.
Procurem ser bondosos e sinceros. Não tentem
aparentar ser aquilo que vocês não são, para que ninguém os chame de lobos
vestidos de ovelhas. Mesmo que às vezes tenham que derramar algumas
lágrimas, lembrem-se de que é melhor ser sinceros do que ser hipócritas[59].
Leitura Adicional
Os que Choram Serão
Consolados
O pranto aqui apresentado é a sincera tristeza
de coração pelo pecado... Ao contemplarmos Jesus levantado sobre a cruz,
discerniremos o estado pecaminoso da humanidade. Vemos que foi o pecado que
açoitou e crucificou o Senhor da glória. Vemos que, ao passo que somos amados
com indizível ternura, nossa vida tem sido uma contínua cena de ingratidão e
rebelião.
Esquecemos nosso melhor Amigo, e desprezamos o
mais precioso dom deparado pelo Céu. Crucificamos de novo, em nós mesmos, o
Filho de Deus e de novo traspassamos aquele sangrento e ferido coração.
Separamo-nos de Deus por um abismo de pecado, extenso, negro e profundo, e
choramos com coração quebrantado.
Esse pranto será consolado. Deus nos revela a culpa a fim de que nos possamos
dirigir a Cristo, e por meio Dele sejamos libertados da servidão do pecado e
nos regozijemos na liberdade dos filhos de Deus. Em verdadeira contrição
podemos lançar-nos aos pés da cruz, e ali depor o nosso fardo.
As palavras do Salvador contêm também uma
mensagem de conforto para os que sofrem aflição ou privação. Nossas tristezas
não brotam da terra. Deus não aflige nem entristece de bom grado os
filhos dos homens. Lamentações 3: 33. Quando permite que nos
sobrevenham provações e aflições é para nosso aproveitamento, a
fim
de sermos participantes da Sua santidade. Hebreus 12: 10.
Se recebida, com fé, a provação que parece tão
amarga e difícil de suportar provar-se-á uma bênção. O golpe cruel que desfaz
as alegrias tornar-se-á o meio de fazer-nos volver os olhos para o Céu. Quantos
há que nunca teriam conhecido Jesus se a tristeza os não houvesse levado a
buscar Dele conforto!
As provações da vida são
obreiras de Deus, para remover de nosso caráter impurezas e arestas. Penoso é o
processo de cortar, desbastar, aparelhar, lustrar, polir; é molesto estar, por
força, sob a ação da pedra de polimento. Mas a pedra é depois apresentada
pronta para ocupar seu lugar no templo celestial. O Mestre não efetua trabalho
assim cuidadoso e completo com material imprestável. Só as Suas pedras
preciosas são polidas, como colunas de um palácio.
O Senhor trabalhará por todos os que nEle
puseram sua confiança. Preciosas vitórias serão alcançadas pelos fiéis,
inestimáveis lições aprendidas e realizadas valiosas experiências.
Nosso Pai celestial nunca Se esquece daqueles a quem a tristeza
alcançou. Quando Davi seguia pelo monte das Oliveiras, subindo e chorando, e com a
cabeça coberta; e caminhava com os pés descalços II Samuel 15: 30, o
Senhor, apiedado, observava-o. Davi vestira-se de saco e sua consciência o
acusava. Os sinais exteriores de humilhação testificavam de quão contrito se
achava.
Em sentidas expressões, vindas de um coração quebrantado, apresentou seu
caso a Deus, e o Senhor não desamparou Seu servo. Nunca foi Davi mais caro ao
coração do Infinito Amor do que quando, com consciência abatida, para salvar a
vida fugiu dos inimigos que haviam sido instigados à rebelião por seu próprio
filho. Diz o Senhor: Eu repreendo e castigo a todos quantos amo;
sê, pois, zeloso e arrepende-te. Apocalipse 3: 19. Cristo ampara o
coração contrito e purifica a alma pesarosa, até que se torne Sua morada.
Mas quando nos sobrevém à tribulação, quantos de nós são como Jacó!
Julgamos ser a mão de um inimigo; e na escuridão lutamos cegamente até ter
gasto as forças, sem encontrarmos conforto nem libertação. O toque divino em
Jacó ao raiar do dia, revelou Aquele com quem estivera lutando: O Anjo do concerto;
e pranteando, deixou-se cair impotente nos braços do Infinito Amor, para
receber as bênçãos que sua alma anelava. Também nós precisamos aprender que as
provações significam benefício, e não desprezar o castigo do Senhor, nem
desfalecer quando somos por Ele repreendidos.
Eis que bem-aventurado é o homem a quem Deus castiga. ... Porque Ele faz
a chaga, e Ele mesmo a liga; Ele fere, e as Suas mãos curam. Em seis angústias,
te livrará; e, na sétima, o mal te não tocará. Jó 5:
Não é vontade de Deus que nos mantenhamos subjugados pela muda tristeza,
coração ferido e quebrantado. Ele quer que olhemos para cima e Lhe contemplemos
a serena face de amor.
Pensai nisto, filhos do sofrimento e da dor, e regozijai-vos
Bem-aventurados são também os que choram com Jesus, em simpatia com os
entristecidos do mundo, e em tristeza pelo pecado. Desse pranto não participa
nenhum pensamento egoísta. Jesus foi o Varão de dores, suportando angústia de
coração tal que nenhuma linguagem poderá retratar. Seu espírito foi ferido e
moído pelas transgressões do homem. Afadigou-Se em zelo consumidor para aliviar
as necessidades e infortúnios da humanidade, e o Seu coração pesava de tristeza
ao ver multidões recusarem ir a Ele para que vivessem.
Todos os que são seguidores de Cristo terão parte nesta experiência. Ao
participarem de Seu amor, entrarão para o Seu serviço a fim de salvar os
perdidos. Participam dos sofrimentos de Cristo e também participarão da glória
que há de ser revelada. Unidos com Ele em Sua obra, com Ele sorvendo o cálice
da amargura, são também participantes de Sua alegria.
Foi por meio de sofrimento que Jesus alcançou o ministério da
consolação. Em toda a angústia da humanidade foi angustiado Isaias 63: 9; e
naquilo
que Ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados.
Hebreus 2: 18. Toda alma que entra
O Senhor tem graça especial para outorgar ao que pranteia, graça cujo
poder é abrandar corações e ganhar almas. Seu amor abre caminho na alma ferida
e quebrantada, e torna-se bálsamo curativo para os que choram. O Pai
das misericórdias e o Deus de toda consolação, ... nos consola em toda a nossa
tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma
tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados de Deus. II
Corintios 1: 3 e 4 [60].
[1] ONTIVV, Russell Norman Champlin, Ph. D. Vol. 1, p. 304.
[2] Bíblia, Edições Paulinas, tradução Padre Matos
Soares, p.1064.
[3] Desejado de Todas as Nações, pp. 283 e 284.
[4] CBASD, vol. 5,
p. 316.
[5] Mateus, Introdução e
Comentário, R. V. G. Tasker, Mundo Cristão, p. 49.
[6] Comentário
ao Novo Testamento, Mateus, vol. 1, William Barclay. Editora Clie, pp.
[7] ONTIVV, Russell Norman Champlin, Ph. D. Vol. 1, p. 304.
[8] CBASD, vol. 5,
p. 316.
[9] ONTIVV, Russell Norman Champlin, Ph. D. Vol. 1, p. 304.
[10] CBASD, vol. 3,, p. 629.
[11] CBASD, vol. 3,, p. 764.
[12] Salmos
[13] Salmos
[14] BJ, p. 1.003.
[15] Salmos
[16] CBASD, vol. 3,
p. 764.
[17] Salmos
[18] CBASD, vol. 3, p. 764.
[19] CBASD, vol. 3, p. 764.
[20] CBASD, vol. 3, pp. 727 e 728.
[21] CBASD, vol. 3, p. 764.
[22] CBASD, vol. 3, p. 764.
[23] CBASD, vol. 3, p. 764.
[24] CBASD, vol. 3, p. 764.
[25] Janelas para a Vida, mm 2007, Alejandro
Bullón, CPB, p. 133.
[26] CBASD, vol. 3, pp. 764 e 765.
[27] BJ, p. 1.003.
[28] CBASD, vol. 3, p. 765.
[29] CBASD, vol. 3, p. 765.
[30] BJ, p. 1.103.
[31] CBASD, vol. 3, p. 765.
[32] CBASD, vol. 3, p. 765.
[33] BJ, p. 1.103.
[34] CBASD, vol. 3, p. 765.
[35] Salmos
[36] CBASD, vol. 3, p. 765.
[37] CBASD, vol. 3, p. 765.
[38] CBASD, vol. 3, p. 765.
[39] EGW, RH 18-12-1913.
[40] CBASD, vol. 3,
p. 765.
[41] O Maior Discurso
de Cristo, EGW, CPB, p. 96.
[42] Patriarcas e
Profetas, p. 491.
[43] CBASD, vol. 3,
p. 765.
[44] CBASD, vol. 3, p. 765.
[45] CBASD, vol. 3, p. 765.
[46] CBASD, vol. 3, p. 765.
[47] CBASD, vol. 3, p. 765.
[48] CBASD, vol. 3, p. 765.
[49] CBASD, vol. 3, p. 765.
[50] CBASD, vol. 3, p. 765.
[51] CBASD, vol. 3, p. 765.
[52] CBASD, vol. 3,
p. 767.
[53] Profetas e Reis,
EGW, CPB, p. 57.
[54] Patriarcas e
Profetas, pp. 784 e 785.
[55] CBASD, vol. 3, p. 767.
[56] CBASD, vol. 3, p. 767.
[57] CBASD, vol. 3,
p. 767.
[58] Parábolas de
Jesus, pp.
[59] Histórias
Inesquecíveis, IJ 2007, CPB, Ani Köller Bravo.
[60] O Maior Discurso de Cristo, pp.