Anastácio II (496-498) e os Merovíngios

Clóvis, o Merovíngio, sacramentaliza a ideologia do poder político-eclesiástico de Roma

 

 

 

Embora o império fosse ainda unido, ao menos nominalmente, na realidade era dividido em Oriente e Ocidente. Do ponto de vista moral, os historiadores não sabem qual desses dois era mais corrupto. E o pior era que padres e bispos compartilhavam da corrupção de ambos.

 

O imperador Zenão, por exemplo, “dizia abertamente que os reis tinham o direito de se servirem de todos os homens para as suas vontades e de todas as mulheres para seus deboches. Entregues às mais revoltantes orgias, esqueciam os deveres do Estado e deixavam os bárbaros assolarem o império (...) e a sua corte tornou-se uma escola em que a corrupção era ensinada pelas

próprias princesas. (...) No Ocidente o império enfraquecia; as paixões e os ódios dos eclesiásticos enchiam as províncias de desordens sob o pretexto da religião" (M. Lachatre; op. cit.; pág. 179 ss).

 

O que estava acontecendo na política da Europa do Norte era o seguinte: o general romano Aécio estava combatendo contra os Galos na França, quando Clóvis, o Cabeludo, seu chefe, estando para morrer (449) confiou a tutela de seus netos a Meroveo, que alguns historiadores dizem que era seu parente próximo.

 

Meroveo conseguiu ser nomeado chefe dos francos e estava para começar a guerra contra Aécio e os romanos, quando apareceu Átila com seu poderoso exército. O medo foi tanto que Aécio e Meroveo se tornaram aliados.

 

A luta contra Átila aconteceu em Méry-sur-la-Senne. O historiador Gregório de Tours nos relata que entre romanos, galos e unos morreram 300 mil guerreiros e que Aécio e Meroveo gastaram mais de um mês para enterrar seus mortos.

 

Antes de morrer, Meroveo nomeou seu sucessor Childerico, que foi expulso de suas terras porque abusava das mulheres de seus guerreiros. Refugiou-se junto ao rei da Turíngia, que tinha uma esposa chamada Basínia.

 

Basínia engravidou de Childerico. Ao menino que nasceu .foi dado o nome de Clóvis: Clóvis, o Merovíngio, que teria um papel extremamente importante junto ao bispo de Roma Anastácio II.

 

De acordo com a crônica do frade São Dinís, Clóvis era feroz, intrépido e sobretudo ambicioso. Foi trabalhando esta ambição que o bispo São Rémy conseguiu convertê-lo ao catolicismo romano com a promessa de ser coroado rei dos francos.

 

Quem o teria coroado rei dos francos e (quem sabe?) até rei do "sagrado-romano-império-cristão"? Era o "grande" bispo de Roma, Anastácio II, que através do bispo São Rémy começou a elogiar Clóvis por suas qualidades morais...

 

Até que Clóvis se converteu ao catolicismo romano - o único, no meio de tantos reis e príncipes que professavam a fé ariana.

 

Voltemos um pouco atrás na História. Depois que a partir do ano de 384 o bispo de Roma, Dámaso, começou a assinar suas cartas com as siglas "pa.pa.", o bispo Sirício (384-399) queria que esse título fosse oficial para o bispo de Roma.

 

Mas ninguém lhe dava importância porque ninguém, nem em sonho, pensava que ele fosse o chefe da cristantade; era apenas um bispo de uma velha cidade que vivia da memória das grandezas passadas...

 

Um bispo que tentava sobreviver no meio de uma variedade enorme de cismas e de pontos de vista teológicos diferentes e conflitantes. Com efeito, não possuía maior autoridade que a Igreja Celta ou as demais igrejas arianas ou eutiquianas da Europa.

 

Com efeito, sabemos que durante o século V nove sobre 10 príncipes e bispos da Europa Ocidental eram arianos, isto é, acreditavam que Jesus era, sim, divino, mas não o próprio Deus.

 

Ora, para que a Igreja romana pudesse sobreviver nesta confusão política e religiosa era necessário que fosse sustentada por um poder militar muito forte.

 

E Clóvis preenchia todos os requisitos, já que acabava de conquistar quase toda a Gallia e continuava a dar impulso às artes como havia feito seu pai Childerico, que construiu anfiteatros de estilo romano em Paris e em Soisson; que havia dado grande impulso à agricultura e ao comércio marítimo acumulando uma riqueza enorme para os padrões da época.

 

O bispo de Roma sabia que grande parte da riqueza de Clóvis consistia em moedas de ouro de grandíssima qualidade produzidas por casas reais localizadas nos pontos mais estratégicos da França.

 

Mas o bispo de Roma também sabia que os merovíngios eram reis por simples proclamação: não havia cerimônia pública de unção sagrada com coroação – algo extremamente importante para a sensibilidade da época.

 

Mas havia um problema: os reis merovíngios eram polígamos... Mas isso não vinha ao caso, agora que Roma precisava de um rei forte para dar amparo e apoio aos seus planos eclesiásticos e sobretudo aos seus planos político-religiosos!

 

Parece que a conversão ao catolicismo romano e o batismo de Clóvis foi algo de súbito e inesperado. Sem dúvida houve um grande trabalho de sua esposa Clotilde, que era uma fervorosa católica romana.

Clotilde teria sido aconselhada e dirigida pelo bispo gaulês São Rémy, que então vinha assumindo a condição de porta-voz de Roma.

 

Com efeito, no ano 496 houve várias reuniões secretas entre Clóvis e São Rémy, que tiveram como desfecho a seguinte conclusão: Clóvis recebe o título de "Novus Constantinus" chefiando o novo "Sagrado Romano Império".

 

Novo, porque é diferente do velho: agora é cristão; sagrado, porque é criação religiosa do bispo de Roma. Em contrapartida, Clóvis e seus sucessores se comprometem formalmente em dar ao bispo de Roma toda a segurança política e militar; sobretudo militar, para acabar com todas as heresias e, em modo particular, com o arianismo.

 

(Parêntese: por que a luta contra o arianismo? Porque era de fundamental importância dizer que o cristianismo foi fundado

por Deus e não por um homem divino! Sendo fundado por Deus; o bispo de Roma se tornava vice-Deus...).

 

Mas o que é mais importante é o fato que Clóvis e seus sucessores, os merovíngios, garantirão ao bispo de Roma total hegemonia religiosa e independência política.

 

Nasce o império romano "sagrado", cujo centro de referência é o bispo de Roma. A Igreja, romana ligando-se aos merovíngios numa forma política e sagrada terá agora condições de impor a sua fé religiosa, o seu cristianismo, pela espada dos exércitos merovíngios e, mais tarde, carolíngios, pois os carolíngios serão considerados oficialmente os sucessores testamentários de Clóvis, enquanto francos.

 

A primeira e mais difícil fase da ideologia política dos bispos de Roma, já está concretizada! (Cfv.: S. Dill; "Roman Society in Gaul in the Merovingian Age"; London, 1926; pg. 88, ss. Cfr. também: Wallace - Hadrill; "The long-haired Kings; London; 1926; pg. 171 ss.).

Continua na próxima postagem desta seção...

 

 

Autor: Carlo Bússola, professor de Filosofia na UFES

 

 

Fonte: Publicado originalmente no jornal “A Tribuna” – Vitória-ES, numa série sob o título “Os Bispos de Roma e a Ideologia do Poder”.

 

 

Comentários do IASD Em Foco

 

 

O Prof. Carlo Bússola apropriadamente menciona:

 

(Parêntese: por que a luta contra o arianismo? Porque era de fundamental importância dizer que o cristianismo foi fundado

por Deus e não por um homem divino! Sendo fundado por Deus; o bispo de Roma se tornava vice-Deus...).

 

É um tiro na mosca; pois, no livro do Papa João Paulo II, “Cruzando o Limiar da Esperança”, como acontece em muitas outras publicações católicas, nós encontramos a seguinte descrição do Bispo Romano:

 

“Portanto, desde o início do diálogo seria necessário dar o devido destaque ao enigma ‘escandaloso’ que o Papa, como tal, representa; não, em primeiro lugar, um Grande entre os Grandes da Terra, mas o único homem no qual os outros vêem um vínculo direto com Deus, percebem o próprio ‘vice’ de Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da SS. Trindade”.Cruzando o Limiar da Esperança, 1994, pág. 15.

 

Junto com a erudição do Dr. Carlo Bússola, enfatizamos a sua total isenção e honestidade intelectual [tão carente, diga-se de passagem, entre historiadores, teólogos, proclamados apologetas, pastores e outros líderes religiosos da atualidade].

 

Quanto a isso, veja-se a nota de advertência que com freqüência aparece na maioria dos artigos da série. No entanto, ressalte-se que os fatos falam por si mesmo sobre a origem insidiosa deste sistema da falsa religião, como predita pelo profeta Daniel, apóstolo Paulo, João e outros (Daniel 7:8-10; Atos 20: 28-30; II Tessalonicenses 2:3-4 e 7-12; Apocalipse 13:1-10).

 

O Apocalipse Apresenta a Localização Geográfica da Sede Deste Poder: “Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças e, sobre as cabeças, nomes de blasfêmia” (Apocalipse 13:1).

 

Mar = Povos, Nações, Lugar Densamente Povoado: “O anjo continuou a me explicar: ‘Você viu aquela prostituta que está sentada perto de muitas águas. Essas águas são povos, multidões, nações e línguas diversas” (Apocalipse 17:15, texto da Bíblia Católica “Bíblia Sagrada, Edição Pastoral).

 

Sete Cabeças = Sete Montes ou Sete Colinas: “Aqui está o sentido, que tem sabedoria: As sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada” (Apocalipse 17:9).

 

Freqüentemente, escritores clássicos tais como Horácio, Virgílio, Gregório, Marcial, Cícero tem identificado Roma como a cidade das sete colinas. Os comentários católicos das Bíblias do Pontifício Instituto Bíblico de Roma e da Bíblia de Jerusalém sobre Apocalipse 13:1-2 e 17:1-3 informam que os sete montes identificam a cidade de Roma.

 

A Bíblia Católica “Bíblia Sagrada, Edição Pastoral” é taxativa em seu comentário do texto de Apocalipse 17:9-11: “As sete cabeças são as sete colinas de Roma”. Nota: Os próprios teólogos católicos reconhecem esta verdade insofismável e inapelável!!!

 

“Todos sabem que Roma é a cidade das sete colinas, chamadas Quirinal, Viminal, Esquilino, Célio, Aventino, Palatino e Capitolino. Seria muita coincidência se o texto não se referisse especificamente ao catolicismo romano”. – Alcides Conejeiro Peres, O Catolicismo Romano Através dos Tempos, pág. 90.

 

A Bíblia Católica “Bíblia Sagrada, Edição Pastoral” apresenta o seguinte comentário para o texto de Apocalipse 17:1-6: Explicação do Mistério do Mal: “A prostituta é símbolo de uma cidade idolátrica. Na época, trata-se de Roma, aqui apresentada como Babilônia, a capital da idolatria e do vício. Ela está assentada sobre a Besta escarlate, a cor do triunfo para os romanos. … Seu crime supremo é perseguir e matar todos aqueles que não aceitam adorar o poder político absoluto, nem se enganam com as propagandas ideológicas”.

 

Amigos, dada a sua importância crucial, os assuntos aqui abordados dizem respeito a todos os cristãos – católicos, evangélicos, ortodoxos, renovados, protestantes, etc. – independente da coloração ideológica ou denominacional; pois, a Bíblia afirma taxativamente que este sistema da falsa religião, erigido em cima da “ideologia do poder”, contaminou praticamente todas as religiões cristãs:

 

“Seguiu-se outro anjo, o segundo, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição (Apocalipse 14:6).  “... pois todas as nações têm bebido do vinho do furor da sua prostituição...” (Apocalipse 18:3, p.p.).

 

Fazendo, em tempo, uma correção no “endereço” desta solene mensagem de advertência, nós verificamos que ela se destina a todos os habitantes da Terra; afinal, agora nos derradeiros momentos da História o complexo babilônico da falsa religião abarcará toda a Terra e, portanto, todo habitante deste planeta terá que tomar a sua decisão de um lado ou do outro, a favor da Verdade (Apocalipse 14:12) ou do lado do erro (Apocalipse 14:9-11).

 

Repetimos: o domínio da falsa religião será planetário!!! É a globalização do erro: “Foi-lhe dado, também, que pelejasse contra os santos e os vencesse. Deu-se-lhe ainda autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação; e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a Terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:7-8).

 

Em tempo, “vinho” em linguagem profética significa “doutrina” e, por conseguinte, a Bíblia afirma que, embora repudiem a idolatria e outras práticas abomináveis de Babilônia, suas “filhas”, praticamente todas as religiões ditas cristãs, beberam – assimilaram em seu corpo doutrinário – as principais doutrinas do “cardápio” de Babilônia.

 

A ordem solene de Deus para todos os sinceros e fiéis espalhados por todos os credos, denominações e, inclusive, ligados diretamente à Babilônia mística é esta: “Ouvi outra voz do Céu, dizendo: Retirai-vos dela, povo Meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos” (Apocalipse 18:4).

 

Amigos, é hora de cortar definitivamente os laços com a Babilônia mística, profética!!! É hora de cortar os laços e cadeias que nos prendem ao erro (vinho de Babilônia) e abraçar totalmente a verdade!!! Para tanto, é bom lembrar sempre:

 

- O importante não é o que o presbítero diz!

- O importante não é o que o missionário diz!

- O importante não é o que o evangelista diz!

- O importante não é o que o bispo diz!

- O importante não é o que o obreiro diz!

- O importante não é o que o “apóstolo” diz!

- O importante não é o que o padre diz!

- O importante não é o que o pastor diz!

- O importante não é o que o teólogo diz!

 

O importante é o que Deus diz!!! O importante, e nisto está a nossa segurança eterna, é o que a Palavra de Deus diz!!! E ela nos ordena:

 

“Retirai-vos dela, povo Meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos” (Apocalipse 18:4).

 

Ela nos indica para onde devemos ir e que caminho devemos seguir, em meio aos enganos finais dos últimos dias:

 

“Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os Mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Apocalipse 14:12).

 

       

Para Quem Quiser Saber Mais Sobre o Assunto:

 

 

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