As Aventuras do Bispo Vigílio (538-555)
A história do papa Vigílio revela a incerteza da sua doutrina e a certeza da busca do poder pessoal
Vigílio era romano de nascimento; portanto o que se podia esperar dele era a ânsia de colocar a Igreja de Roma na liderança da cristandade. A sua eleição é mais um exemplo de como os historiadores eclesiásticos disfarçam fatos e situações. Lemos na enciclopédia Mirador: "eleito irregularmente, mas reconhecido universalmente".
Ora, a história ó um pouco diferente! Esse Vigílio havia acompanhado o papa Agapito (veja artigo precedente) a Constantinopla, na qualidade de diácono. A imperatriz Teodora gostou dele.
Tendo-o procurado secretamente, indagou dele se queria ser bispo de Roma. Claro que sim!!! Então, se ele jurasse obedecer em tudo a imperatriz, revogando os decretos de Agapito, restabelecendo e reconhecendo os bispos heréticos Antimo, Severo, Timóteo, e renunciando aos decretos do Concilio de Calcedônia e à famosa carta de São Leão I, certamente ele seria bispo de Roma.
Vigílio jurou fazer tudo aquilo que a imperatriz lhe propusera. Então recebeu 700 peças de ouro para comprar o bispado romano, em troca de um bilhete em que se obrigava a restituir esta soma quando eleito bispo. Em seguida, a imperatriz Teodora deu-lhe cartas para Belisário exigindo que tudo fizesse para que Vigílio fosse eleito bispo de Roma.
Vigílio, ainda diácono, voltou para a Itália muito alegre. Mas quando chegou no porto de Nápoli soube que Teodato havia imposto aos romanos um novo bispo. Mas Vigílio sabia que por ser Teodato um godo, era considerado inimigo pelo clero de Roma e pelo imperador do Oriente.
Foi então que interveio a imperatriz Teodora junto à mulher de Belisário e Belisário teve que obedecer às ordens das duas damas depondo Silvério, criatura de Teodato, e mandando eleger Vigílio.
Mas Silvério, desterrado de Roma, conseguiu chegar a Constantinopla e defender-se junto ao imperador Justiniano que, não conhecendo as tramas da imperatriz, ordenou que Silvério voltasse a Roma e houvesse um ajuizamento.
Vigílio, muito calmamente, mandou dizer a Belisário que estava perdendo as 700 moedas de ouro, a menos que fizesse desaparecer Silvério, Num breve prazo de tempo, Silvério foi executado por carrascos que mais tarde Vigílio chamará de "defensores da Santa Igreja".
Tão logo Vigílio foi empossado, Teodora mandou-lhe dizer que exigia a realização das promessas feitas, mas Vigílio era pressionado, pelo clero de Roma para que condenasse os heréticos.
Então tentou uma jogada. Mandou chamar Antonina, mulher de Belisário e amiga de Teodora, e entregou-lhe cartas para três bispos: Teodósío, de Alexandria; Antimo, de Constantinopla; e Severo, de Antioquia, onde ele, Vigílio, dizia que professava a mesma fé que esses três; mas pedia, ao mesmo tempo, que conservassem secretas essas cartas até que ele tivesse a sua autoridade confirmada; e, se alguém mostrasse dúvidas, eles deviam dizer abertamente que o bispo de Roma lhes era suspeito...
Mas nessas três cartas havia escrito que ele, Vigílio, rejeitava as duas naturezas de Jesus Cristo; rejeitava a carta de São Leão I e excomungava todos aqueles que não aceitassem uma só pessoa, em Cristo, e uma só natureza.
Mas isso ele havia escrito nas cartas... Pois na sua Igreja de Roma e junto ao clero romano, ele fazia profissão contrária, dizendo que aceitava o Concilio de Calcedônia do ano de 451.
Como o imperador Justiniano não havia sido informado da eleição de Vigílio para a igreja patriarcal de Roma, começou a suspeitar quanto à sua fé. Então mandou a Roma um embaixador para certificar-se dos fatos.
Vigílio, muito astutamente, elogiou a pureza da fé de Justiniano e declarou que a sua crença era a mesma dos bispos seus antecessores: Celestino, Leão, Hormisdas, João, Agapito...
Jurou que reconhecia duas naturezas em Cristo, numa única pessoa, tudo como mandava o Concilio de Calcedônia. Por fim, pedia que o imperador conservasse para a sé de Roma todos os privilégios dados por imperadores e reis, até então... (Isto era o mais importante!!! E muito inteligentemente não especificou quais eram estes privilégios!).
Parecia que finalmente havia voltado a paz para Vigílio. Recebeu cartas dos bispos da Lusitânia (parêntese: esta e a primeira vez que encontrei, nas pesquisas, a indicação de "bispos da Lusitânia") querendo receber instruções sobre vários pontos de disciplina: o que ele faz, porque Roma era sede patriarcal e embora não tivesse jurisdição (conceito muito difícil para aquelas épocas, em assuntos eclesiásticos), tinha, todavia, uma certa preeminência sobre todas as Igrejas da Europa.
Também, pelos mesmos motivos, orientou Teodoberto, rei da Austrásia.
Enquanto isso, Justiniano, com o avançar da idade, se tornava sempre mais fanático quanto à religião e escrevia panfletos e mais panfletos teológicos que enviava aos bispos do Oriente. Somente Vigílio não dava importância a estas fantasiosas obras, muitas das quais eram contra as definições dos concílios anteriores.
Este silêncio de Vigílio irritou o imperador, que convocou um concilio do qual deviam participar todos os bispos, inclusive o de Roma. O concilio devia ser em Constantinopla.
A saída de Vigílio de Roma foi trágica porque o clero, começando a duvidar de sua fé, perseguiu-o a pedradas, enchendo-o de injúrias e maldições.
Quando Vigílio chegou a Constantinopla, o imperador abriu logo o concilio. (Observe o leitor como tudo é feito pelo imperador, não pelo bispo de Roma... Logo: onde estava o "primado"?).
Quando veio a sua vez de falar, Vigílio declarou que Mennas e Teodoro estavam fora da sua comunhão. Houve tumulto. Por ordem do imperador, Vigílio foi logo arrancado do seu lugar, apesar da insistência da imperatriz Teodora, que pensava sempre em afastar Mennas para restituir o cargo a Antimo.
Então Vigílio chegou a um compromisso: reconciliou-se com o patriarca Mennas na condição de ele assinar tudo quanto os bispos latinos resolvessem.
O mesmo aconteceu entre Vigílio e Teodoro, que era bispo de Cesaréia, mas para evitar que a paz que estava fazendo com Mennas e Teodoro fosse interpretada como uma declaração a favor dos que não aceitavam o Concilio de Calcedônia, excomungou solenemente todos os sectários de qualquer heresia.
Conclusão: lá em Constantinopla Vigílio não contentou ninguém:
nem os heréticos, nem os católicos. Todos, partindo do seu próprio ponto de vista, passaram a considerá-lo como um apóstata.
O bispo de Milão, Décio, mais dois diáconos, Rústico e Sebastião, que o haviam acompanhado, o abandonaram e espalharam nas províncias a notícia de que o papa havia condenado o Concilio de Calcedônia.
Na verdade, Vigílio ora dava razão aos heréticos, ora dava razão aos católicos - sempre de acordo com as suas conveniências.
No ano seguinte os bispos africanos do patriarcado de Alexandria excomungaram o pobre papa Vigílio como traidor e apóstata. Eles sustentavam as teses do Concilio de Calcedônia e mandaram cartas ao imperador Justiniano por intermédio de Olympio Magistriano.
Foi quando Vigílio convenceu-se que não havia conseguido enganar ninguém. Então propôs um concilio ecumênico. Mas nin¬guém lhe deu atenção. Apelou para o imperador, mas este recusou-se a recebê-lo.
A cólera de Vigílio estourou em mil injúrias e convocou todos os bispos que se achavam em Constantinopla para uma reunião no Palácio de Placídia, onde lançou terríveis anátemas contra todos aqueles que não aceitassem as decisões dos bispos do Ocidente.
Mas como não se julgava seguro no Palácio de Placídia, correu a refugiar-se na igreja de São Pedro, onde redigiu a famosa excomunhão de Teodoro, de Mennas e seus partidários.
Mas o imperador mandou os soldados invadirem a igreja e prendarem Vigílio, que estava escondido atrás do altar. Mas o povo se revoltou contra os soldados, que foram expulsos da igreja com paus e pedras e manteve Vigílio escondido atrás do altar.
Houve dias e mais dias de tratativas entre Vigílio e o impera dor. Até que este conseguiu enganar o imperador fingindo-se gravemente doente, e fugiu.
Apesar da ausência de Vigílio, o segundo Concilio de Constantinopla continuou as suas sessões, pois para os bispos lá reunidos a ausência do titular do Patriarcado de Roma não fazia nenhuma falta.
Não obstante isto, Vigílio, mais tarde, aprovou as decisões do Concílio de Constantinopla para obter permissão de voltar a Roma e ser bispo e patriarca daquela Sé.
Justiniano, que já era velho, confirmou em carta a Vigílio todas as doações feitas à Igreja de Roma por Atalarico, Amalassan e por Teodato.
Mas Vigílio, durante a sua viagem de volta a Roma, foi envenenado e morreu em Siracusa no ano de 555.
Quis delongar-me nesta história enjoada para que o leitor tenha uma idéia de como eram os tempos do V e do VI século e de como procediam os bispos de Roma nessas épocas escuras, quando eram reis e os imperadores que vigiavam a doutrina cristã e não os papas, pois os papas eram mui mais interessados no seu poder pessoal e político.
Continua na próxima postagem desta seção...
Autor: Carlo Bússola, professor de Filosofia na UFES
Fonte: Publicado originalmente no jornal “A Tribuna” – Vitória-ES, numa série sob o título “Os Bispos de Roma e a Ideologia do Poder”.
Comentários do IASD Em Foco
Ao discorrer sobre a ideologia do poder do Bispo de Roma, o Prof. Carlo Bússola apropriadamente afirma no artigo 18 desta série, intitulado “Anastácio II (496-498) e os Merovíngios”:
(Parêntese: por que a luta contra o arianismo? Porque era de fundamental importância dizer que o cristianismo foi fundado
por Deus e não por um homem divino! Sendo fundado por Deus, o bispo de Roma se tornava vice-Deus...).
É um tiro na mosca; pois, no livro do Papa João Paulo II, “Cruzando o Limiar da Esperança”, como acontece em muitas outras publicações católicas, nós encontramos a seguinte descrição do Bispo Romano:
“Portanto, desde o início do diálogo seria necessário dar o devido destaque ao enigma ‘escandaloso’ que o Papa, como tal, representa; não, em primeiro lugar, um Grande entre os Grandes da Terra, mas o único homem no qual os outros vêem um vínculo direto com Deus, percebem o próprio ‘vice’ de Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da SS. Trindade”. – Cruzando o Limiar da Esperança, 1994, pág. 15.
Junto com a erudição do Dr. Carlo Bússola, enfatizamos a sua total isenção e honestidade intelectual [tão carente, diga-se de passagem, entre historiadores, teólogos, proclamados apologetas, pastores e outros líderes religiosos da atualidade].
Quanto a isso, veja-se a nota de advertência que com freqüência aparece na maioria dos artigos da série. No entanto, ressalte-se que os fatos falam por si mesmo sobre a origem insidiosa deste sistema da falsa religião, como predita pelo profeta Daniel, apóstolo Paulo, João e outros (Daniel 7:8-10; Atos 20: 28-30; II Tessalonicenses 2:3-4 e 7-12; Apocalipse 13:1-10).
O Apocalipse Apresenta a Localização Geográfica da Sede Deste Poder: “Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças e, sobre as cabeças, nomes de blasfêmia” (Apocalipse 13:1).
Mar = Povos, Nações, Lugar Densamente Povoado: “O anjo continuou a me explicar: ‘Você viu aquela prostituta que está sentada perto de muitas águas. Essas águas são povos, multidões, nações e línguas diversas” (Apocalipse 17:15, texto da Bíblia Católica “Bíblia Sagrada, Edição Pastoral).
Sete Cabeças = Sete Montes ou Sete Colinas: “Aqui está o sentido, que tem sabedoria: As sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada” (Apocalipse 17:9).
Freqüentemente, escritores clássicos tais como Horácio, Virgílio, Gregório, Marcial, Cícero tem identificado Roma como a cidade das sete colinas. Os comentários católicos das Bíblias do Pontifício Instituto Bíblico de Roma e da Bíblia de Jerusalém sobre Apocalipse 13:1-2 e 17:1-3 informam que os sete montes identificam a cidade de Roma.
A Bíblia Católica “Bíblia Sagrada, Edição Pastoral” é taxativa em seu comentário do texto de Apocalipse 17:9-11: “As sete cabeças são as sete colinas de Roma”. Nota: Os próprios teólogos católicos reconhecem esta verdade insofismável e inapelável!!!
“Todos sabem que Roma é a cidade das sete colinas, chamadas Quirinal, Viminal, Esquilino, Célio, Aventino, Palatino e Capitolino. Seria muita coincidência se o texto não se referisse especificamente ao catolicismo romano”. – Alcides Conejeiro Peres, O Catolicismo Romano Através dos Tempos, pág. 90.
A Bíblia Católica “Bíblia Sagrada, Edição Pastoral” apresenta o seguinte comentário para o texto de Apocalipse 17:1-6: Explicação do Mistério do Mal: “A prostituta é símbolo de uma cidade idolátrica. Na época, trata-se de Roma, aqui apresentada como Babilônia, a capital da idolatria e do vício. Ela está assentada sobre a Besta escarlate, a cor do triunfo para os romanos. … Seu crime supremo é perseguir e matar todos aqueles que não aceitam adorar o poder político absoluto, nem se enganam com as propagandas ideológicas”.
Amigos, dada a sua importância crucial, os assuntos aqui abordados dizem respeito a todos os cristãos – católicos, evangélicos, ortodoxos, renovados, protestantes, etc. – independente da coloração ideológica ou denominacional; pois, a Bíblia afirma taxativamente que este sistema da falsa religião, erigido em cima da “ideologia do poder”, contaminou praticamente todas as religiões cristãs:
“Seguiu-se outro anjo, o segundo, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição” (Apocalipse 14:6). “... pois todas as nações têm bebido do vinho do furor da sua prostituição...” (Apocalipse 18:3, p.p.).
Fazendo, em tempo, uma correção no “endereço” desta solene mensagem de advertência, nós verificamos que ela se destina a todos os habitantes da Terra; afinal, agora nos derradeiros momentos da História o complexo babilônico da falsa religião abarcará toda a Terra e, portanto, todo habitante deste planeta terá que tomar a sua decisão de um lado ou do outro, a favor da Verdade (Apocalipse 14:12) ou do lado do erro (Apocalipse 14:9-11).
Repetimos: o domínio da falsa religião será planetário!!! É a globalização do erro: “Foi-lhe dado, também, que pelejasse contra os santos e os vencesse. Deu-se-lhe ainda autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação; e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a Terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:7-8).
Em tempo, “vinho” em linguagem profética significa “doutrina” e, por conseguinte, a Bíblia afirma que, embora repudiem a idolatria e outras práticas abomináveis de Babilônia, suas “filhas”, praticamente todas as religiões ditas cristãs, beberam – assimilaram em seu corpo doutrinário – as principais doutrinas do “cardápio” de Babilônia.
A ordem solene de Deus para todos os sinceros e fiéis espalhados por todos os credos, denominações e, inclusive, ligados diretamente à Babilônia mística é esta: “Ouvi outra voz do Céu, dizendo: Retirai-vos dela, povo Meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos” (Apocalipse 18:4).
Amigos, é hora de cortar definitivamente os laços com a Babilônia mística, profética!!! É hora de cortar os laços e cadeias que nos prendem ao erro (vinho de Babilônia) e abraçar totalmente a verdade!!! Para tanto, é bom lembrar sempre:
- O importante não é o que o presbítero diz!
- O importante não é o que o missionário diz!
- O importante não é o que o evangelista diz!
- O importante não é o que o bispo diz!
- O importante não é o que o obreiro diz!
- O importante não é o que o “apóstolo” diz!
- O importante não é o que o padre diz!
- O importante não é o que o pastor diz!
- O importante não é o que o teólogo diz!
O importante é o que Deus diz!!! O importante, e nisto está a nossa segurança eterna, é o que a Palavra de Deus diz!!! E ela nos ordena:
“Retirai-vos dela, povo Meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos” (Apocalipse 18:4).
Ela nos indica para onde devemos ir e que caminho devemos seguir, em meio aos enganos finais dos últimos dias:
“Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os Mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Apocalipse 14:12).
Para Quem Quiser Saber Mais Sobre o Assunto:
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