De Agatão (678-681) até Sisínio (708)
Com a doação de um pedaço dos Alpes Ocidentais, nasce o tal de "Patrimônio de São Pedro"
Ninguém deve estranhar a extrema ignorância dos eclesiásticos romanos - como escrevi no último artigo. Com efeito, nenhum bispo de Roma jamais pensou em fundar, até esta época, uma Escola de Teologia.
A ignorância, entre os eclesiásticos, era tamanha, que o bispo de Roma, Agatão, foi obrigado a confessar ao clero de Constantinopla que, infelizmente, não era entre o clero romano que se devia encontrar o sentido exato das Sagradas Escrituras, porque este clero romano, devendo ganhar o seu sustento com o trabalho manual, não tinha tempo para a tarefa, e o máximo que podia fazer era memorizar os decretos dos concílios ecumênicos. (Veja o jesuíta Jean Hardouin, que em 1715 publicou "Conciliorum Decreta").
Cerca de 50 anos mais tarde, Gregório II repetirá a mesma observação. O mesmo nos deixou escrito Othon de Vercelli, e também Gerbert no século X. (H. Pertz; "Monumento, etc"; III; 675) e, no século XI, Hildebrando Bonizo (que mais tarde será o famoso Gregório VII) escreveu que "in tanta ecclesia vix unus posset reperiri qivin vel illiteratus, vel simoniacus, vel esset concubinarius", isto é: numa tão grande Igreja romana é difícil encontrar um só que não seja ignorante, ou simoníaco, ou concubinatório" ("Nova Collectio"; VI; II; pág. 60).
Mas todos nós sabemos que para dominar despoticamente, nada melhor que ter um povo ignorante!...
A ideologia eclesiástica do poder romano deixará ainda por muitos anos o estudo da Teologia à longínqua Paris. Roma nunca terá escolas! Naquelas épocas quem quisesse estudar não ia a Roma.
Somente Bolonha terá, bem mais tarde, uma Escola de Direito por obra de Graciano, o autor da coleção de Direito Canônico mais conhecida, na Idade Média, pelo nome de "Decretum Gratiani".
Reumont em "História da cidade de Roma". (II; 678) nota que em Roma não existem intelectuais. Decoram-se os decretos dos concílios ecumênicos: o que lhes parece suficiente.
Depois de Agatão foram eleitos Leão II (682-683); Benedito II (684 685); João V (685-686); Cônon(686-687); Sérgio I (687-701).
Em 692 houve o V Concilio de Toledo, que proibia aos clérigos possuírem tabernas ou hospedarias; proibiu-lhes também assistirem a teatros e corridas de cavalos e deixarem os cabelos crescerem como os leigos.
Também confirmou a decisão do Concilio de Calcedônia (451) de dar prerrogativas iguais aos bispos de Constantinopla e de Roma negando, porém, a Roma qualquer superioridade.
Outrossim, proibiu trazer cavalos dentro da igreja e aos clérigos casarem pela segunda vez. E muitas outras proibições, como a dança a Baco e os bacanais durante a colheita das uvas
O imperador Justiniano aprovou solenemente todos os decretos do Concilio de Toledo, mostrando mais uma vez que era o imperador quem tomava conta do cristianismo e quem mandava na Igreja.
Em 705 foi eleito bispo de Roma João VII, do qual sabemos bem pouca coisa, ou melhor, quase nada, a não ser aquilo que Paulo Warnefried, conhecido como Paulo Diácono, historiador que morreu monge em Monte Cassino, no ano de 799, nos deixou escrito no seu "De Gestis Longobardorum" (Crônica dos Longobardos).
Isto é, que Ariberto II (cujo pai tinha usurpado o trono dos lombardos), querendo atrair o bispo de Roma ao seu partido, "aumentou o seu domínio temporal doando-lhe toda a
pes Cottiennes", isto é, os Alpes Ocidentais entre os montes Cenísio e Viso, na fronteira entre a França e a Itália e que o auto desta doação foi escrito em letras de ouro e entregue ao João VII pelos embaixadores do monarca.
Esta notícia, vinda de um historiador sério como o monge Paulo Diácono, nos interessa muito porque nos torna cientes de que acrescentavam-se terras a terras que eram já possuídas, ou se acreditava que fossem realmente possuídas pelo bispo de Roma.
Isto significa que já se sabia que a Sé de Roma era dona de territórios; e o que importa é que a partir deste tempo, isto é, desta doação, começa o tal de "Patrimônio de São Pedro".
Em 708 foi eleito bispo Sisínio, natural da Síria e filho de um padre grego, mas reinou somente 20 dias. Aconteceu que durante estes 20 dias, o bispo de Clermont, S. Bonnet, foi em peregrinação a Roma para visitar o túmulo dos apóstolos Pedro e Paulo e ter a confirmação de seu título de bispo que lhe era contestado pelos clérigos de sua diocese.
O que nos interessa aqui é que começa nesta época a indústria das peregrinações ao túmulo dos apóstolos por parte dos bispos europeus, superando assim a devocional peregrinação simples dos fiéis.
Trata-se de uma nova organização da ideologia do poder romano, agora em nível episcopal, e sua importância está no fato de que quem ia até o túmulo de São Pedro, não podia esquecer de seu sucessor instalado na Sé de Roma. Aliás, a partir do século VIII as peregrinações eram consideradas como a obra mais meritória perante Deus (M. Lachatre; op. cit.; VI; pg. 302).
Os homens cuja vida tivesse sido manchada de grandes crimes podiam purificar-se peregrinando ao túmulo de São Pedro. E assim partindo da hipótese de que os ossos de São Pedro realmente estivessem lá, nasceu uma tradição que dará fundamentação à ideologia do poder romano.
Nobres e até reis vinham "purificar-se" no túmulo de São Pedro implorando o perdão e oferecendo ricos presentes ao sucessor do apóstolo.
Em 708 foi eleito bispo de Roma Constantino. Aconteceu que, por uma revolta do exército, foi proclamado imperador, em Constantinopla, o general Bardanez, que tomou o nome de Felípico e se declarou monotelista e perseguiu todos aqueles que não aceitassem o monotelismo, repudiando o sexto concilio ecumênico de Constantinopla (680 a 681), que afirmava ter Jesus duas vontades, uma humana e outra divina.
Recomeçavam as velhas guerras religiosas entre os cristãos. O bispo de Roma, Constantino, em carta a todos os bispos europeus, proibiu que pronunciassem o nome de Felípico e que o anatematizassem.
Parece algo sem nenhum valor... Não fosse o fato parecia ter chegado tão desejada de Roma romper os frágeis laços que a ligavam ao imperador do Oriente e (por que não?) à igreja grega, de onde surgiram sempre novas heresias, porque os gregos gostavam muito de dominar, criticar, enfim pensar com a própria cabeça!
Autor: Carlo Bússola, professor aposentado de Filosofia da UFES
Fonte: Publicado originalmente no jornal “A Tribuna” – Vitória-ES, numa série sob o título “Os Bispos de Roma e a Ideologia do Poder”.
Nota e Comentários do IASD Em Foco
Temos aqui, na postagem destes excelentes artigos, enfatizado reiteradamente a erudição, imparcialidade e honestidade intelectual do Dr. Carlo Bússola. Tudo o que ele escreve aqui em termos de História e a “ideologia de poder dos bispos” é fidedigno...
“[...] o bispo de Roma, Agatão, foi obrigado a confessar ao clero de Constantinopla que, infelizmente, não era entre o clero romano que se devia encontrar o sentido exato das Sagradas Escrituras [...]”
Infelizmente, isso continua verdade hoje ainda; aliás, estas palavras nunca tiveram um caráter tão grande de atualidade como hoje. Tirando os grandes teólogos católicos, gente como o Dr. Hans Küng (por sinal totalmente contrário à posição assumida pelo papa, ver: http://www.dw-world.de/dw/article/0,,707400,00.html), o resto, com raríssimas exceções, e formado por padres, bispos e cardeais que conhecem quase tudo sobre filosofia e praticamente nada de Bíblia.
Por mais que doa esta verdade aos católicos sinceros – e eles existem aos milhões – isso não se aplica ao Cristianismo como um todo, mas, sim, à Igreja Católica Apostólica Romana. Este poder que – como estava profetizado centenas de anos antes – nas suas duas fases (imperial e papal) substituiria a Verdade da Palavra de Deus pelas mentiras das tradições humanas.
Vejamos, de forma sucinta, o que diz a Bíblia sobre isso:
“De um dos chifres saiu um chifre pequeno e se tornou muito forte para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa. Cresceu até atingir o exército dos céus; a alguns do exército e das estrelas lançou por terra e os pisou. Sim, engrandeceu-se até ao príncipe do exército; dele tirou o sacrifício diário e o lugar do seu santuário foi deitado abaixo. O exército lhe foi entregue, com o sacrifício diário, por causa das transgressões; e deitou por terra a verdade; e o que fez prosperou” (Daniel 8:9-12).
Foi Roma, repetimos e provamos bíblica e profeticamente, que nas suas duas fases – imperial e papal – atacou todo o conjunto de verdades bíblicas e o jogou por terra. É o quarto animal de Daniel 7 (ler: Daniel 7:7) exatamente o quarto Império Mundial e, das suas cinzas, surge um poder (Roma papal) simbolizado pelo “chifre pequeno” ou “ponta pequena” (ler: Daniel 7:8, Apocalipse 13:1-10).
Nosso Senhor Jesus e profetas e escritores bíblicos já haviam advertido sobre o gravíssimo perigo de substituir a Palavra de Deus pelas tradições humanas:
“Ele, porém, lhes respondeu: Por que transgredis vós o Mandamento de Deus, por causa da vossa tradição? [...] E, assim, invalidastes a Palavra de Deus, por causa da vossa tradição” (Mateus 15:3 e 6).
“Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens” (Mateus 15:8-9).
“E em vão Me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens. E disse-lhes ainda: Jeitosamente [com astúcia, falsificações da verdade, embustes, enganos de toda sorte] rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição” (Marcos 7:7-9).
“Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia [os padres dão show de filosofia: Tenho amigos que estudaram em seminários católicos e, hoje, são padres. Com eles é assim: Filosofia 10 X Bíblia 0] e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Colossenses 2:8).
Quando entram em campo questões religiosas, espirituais, questões de salvação: das quais dependem o nosso destino terno, é bom lembrar sempre que:
- O importante não é o que o presbítero diz!
- O importante não é o que o missionário diz!
- O importante não é o que o evangelista diz!
- O importante não é o que o bispo diz!
- O importante não é o que o obreiro diz!
- O importante não é o que o “apóstolo” diz!
- O importante não é o que o padre diz!
- O importante não é o que o pastor diz!*
- O importante não é o que o teólogo diz!
O importante é o que Deus diz!!! O importante, e nisto está a nossa segurança eterna, é o que a Palavra de Deus diz!!! E ela nos ordena:
“Retirai-vos dela, povo Meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos” (Apocalipse 18:4).
Ela nos indica para onde devemos ir e que caminho devemos seguir, em meio aos enganos finais dos últimos dias:
“Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os Mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Apocalipse 14:12).
* Digo isso na condição acadêmica e espiritual de quem cursou 3 faculdades (reconhecidas pelo MEC, incluindo Teologia) e uma Pós-Graduação em Ciências da Religião. Nesse caso não importa títulos ou formação acadêmica: o que importa é o conhecimento da Palavra de Deus – deixar Deus falar e o Espírito Santo agir...
Para Quem Quiser Saber Mais Sobre o Assunto:
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